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Choques fronteiriços Índia-China ilustram tendências para a guerra

Há alguns meses, a NOVACULTURA.info tem sustentado a posição segundo a qual a crise capitalista mundial, catalisada pela pandemia da Covid-19, terá, como um de seus desdobramentos, tendências para as guerras imperialistas de agressão e guerras fratricidas, não somente entre diferentes países como também no seio destes próprios, sob forma de guerras civis – não só intensificando guerras que já existiam, como também gerando novas guerras a partir de condições já existentes para tal.

Estas guerras em prosseguimento no mundo ganharam um novo palco durante os últimos dias. No dia 15 de junho, segundo informações pouco claras, ainda muito nebulosas e controversas, tropas dos exércitos chinês e indiano entraram em um confronto motivado por disputas fronteiriças, com o governo indiano clamando a morte de cerca de vinte soldados seus. Dado que diversos acordos anteriores firmados entre China e Índia proíbem que as tropas de ambos os países portem armas de fogo nas regiões próximas à fronteira, curiosamente, os confrontos entre as tropas dos exércitos de ambos os países foram feitos às mãos vazias, ou com pedaços de paus e estacas. Tratou-se do primeiro confronto entre tropas dos dois países a deixar mortos desde o ano de 1975. Porém, para compreendermos melhor o ocorrido, há que se fazer uma breve recapitulação às origens dos problemas fronteiriços entre a Índia e a China.

Possivelmente, ao menos em termos quantitativos, a disputa territorial Índia-China é a mais grave do mundo. Ambos os países, com mais de 3,5 mil quilômetros de fronteira comum, reivindicam mutuamente uma área que, ao todo, soma aproximadamente 130 mil quilômetros quadrados a leste e oeste do Himalaia. A despeito das palavras por nós utilizadas, não se trata de uma mera “disputa territorial” por divergências históricas, mas de uma chaga deixada por séculos de dominação imperialista na região. Conforme se sabe, data do século XVIII o início da dominação do capitalismo britânico sobre a Índia, que subjugou as centenas de povos deste país e retalhou seu território conforme as conveniências de sua tirania colonial. Coerentemente, no ano de 1914, a Inglaterra compeliu a Índia britânica a fabricar um tratado desigual que seria assinado com o Tibete (algo absurdo, não se tratando o Tibete de um Estado independente, mas parte da República da China que fora fundada no ano de 1911). Este tratado “sacramentou” a chamada “Linha McMahon” (em homenagem ao responsável pela assinatura deste tratado em nome da Índia britânica), jamais reconhecida pela China, que anexou para o território da Índia britânica dezenas de milhares de quilômetros quadrados de um território que sempre pertencera à China. Mesmo com a pretensa descolonização da Índia no ano de 1947, com a saída formal do imperialismo britânico de seu território, o território “sacramentado” a partir da pretensa “Linha McMahon” seguiu sendo clamado pelas classes reacionárias indianas como parte da Índia, em ressonância com as políticas do imperialismo britânico. [1] Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a ascensão do imperialismo ianque como superpotência hegemônica, este “expansionismo indiano” (ler nota) seria utilizado em prol da política de contenção anticomunista e dominação mundial dos Estados Unidos. [2] A partir de outubro de 1949, quando foi fundada a República Popular da China, o expansionismo indiano seria um meio ainda mais necessário para a política de “contenção anticomunista” do imperialismo norte-americano, e o problema fronteiriço não-resolvido entre a Índia e a China seria, também, habilmente manobrado.

Estas disputas fronteiriças, verdadeiras chagas do colonialismo britânico, atingiriam seu auge no final do ano de 1962, com a eclosão da chamada Guerra Sino-Indiana. Em 20 de outubro deste ano, as tropas hindus conduziriam uma ofensiva geral contra o território chinês que clamava a partir da perspectiva da “Linha McMahon”, reivindicando absurdamente que as tropas do Exército Popular de Libertação (EPL) chinês abandonassem seu próprio território. Em poucos dias, as tropas hindus foram simplesmente depenadas pelo EPL. Apesar da humilhante derrota da reação indiana, a questão fronteiriça jamais seria resolvida, apenas estabelecendo-se uma trégua e mantendo como linha fronteiriça de facto, embora fragilíssima, a chamada “Linha de Controle Atual” (LCA), que também não resolveu o problema dos territórios em disputa. Nos anos seguintes, a região seria palco de diversos outros choques armados entre a reação hindu e o EPL, ao ponto de o próprio revisionismo soviético ter utilizado o expansionismo indiano como instrumento de agressão contra a então China socialista. Porém, salvo em 1962, os choques armados jamais eclodiram em uma guerra geral.

Sem sombra de dúvidas, uma guerra entre os dois maiores povos do mundo, com um histórico formidável de lutas em defesa da independência nacional e contra o imperialismo, nada interessa às massas amantes da paz do mundo. Uma guerra entre China e Índia apenas serviria para semear o caos, a desordem e encher os bolsos já obesos dos conglomerados industrial-militares a nível mundial. Em que pese, até então, os aparentes esforços dos governos chinês e indiano para conter a escalada de hostilidades na fronteira, não restam dúvidas que há forças interessadas na eclosão de uma guerra nesta região, conforme podemos assim especular: a) nos últimos anos, Israel sionista se tornou o principal fornecedor de armamentos do regime reacionário indiano, ultrapassando até mesmo Rússia e França. Além de haver, aqui, uma clara unidade de interesses, em se tratando de dois regimes racistas, a la apartheid, que objetivam o extermínio da população muçulmana, não há dúvidas que a indústria bélica israelense lucraria muitos bilhões de dólares com uma guerra sino-indiana; b) indiretamente, o imperialismo ianque seria também uma força interessada na eclosão de uma guerra. Em um momento no qual o imperialismo ianque abre contra a China diversos fronts não-declarados de guerra em Hong Kong e no Mar Sul da China, a eclosão de uma guerra fronteiriça sino-indiana abriria mais um front, prejudicaria seriamente a recuperação econômica chinesa em virtude da pandemia, e fortaleceria as posições dos Estados Unidos na Ásia, ao entravar o prosseguimento do projeto da “Nova Rota da Seda” pela China.

Contudo, tratando-se a Índia de uma verdadeira “prisão dos povos”, onde numerosas nacionalidades permanecem oprimidas pela aliança entre o imperialismo ianque e o fascismo hindu, os planos expansionistas e belicistas podem ser mais seriamente entravados pela ação dos numerosos movimentos de libertação nacional deste país, que têm à sua frente, como destacamento mais avançado, o Partido Comunista da Índia (Maoísta), que desde 1967 conduz uma grande Guerra Popular revolucionária para a derrubada do velho Estado indiano e a construção do socialismo. Diante da nova situação de aprofundamento da crise capitalista, certamente recairá sobre o PCI (Maoísta) e os diversos movimentos de libertação nacional indianos uma responsabilidade ainda maior.

NOTAS

[1] Ademais, dado que o lema “dividir para conquistar” é um mote do imperialismo para dominar os povos, é muito claro que o atual expansionismo indiano tenha sido, na prática, uma fabricação do imperialismo britânico. O atual expansionismo indiano tem como fundamento ideológico o supremacismo hindu, que exalta não apenas o medievalismo e o anticomunismo, como também a discriminação e o extermínio contra os povos muçulmanos, budistas e cristãos que historicamente habitavam e habitam o território atual e passado da Índia. O presente Primeiro-Ministro Narendra Modi é um fanático supremacista hindu, que internamente conduz uma política de extermínio e apartheid contra os muçulmanos e demais povos não-hindus, política esta que encontra sua maior expressão na ocupação militar contra a Caxemira. https://rebelion.org/cachemira-a-la-sombra-de-kali/

[2] A “Doutrina Truman”, anunciada no ano de 1947 – assim chamada por conta do então presidente estadunidense, Harry Truman –, marcou uma “abertura de asas” da política externa imperialista dos Estados Unidos. Este país, que anteriormente cooperou a contragosto com a União Soviética e as forças revolucionárias mundiais para a derrota do fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, iniciou a partir da “Doutrina Truman” a política de “guerra fria” e “contenção” contra o “comunismo”.

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