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"Nigéria, terror contra terror"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • há 2 dias
  • 6 min de leitura
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A Nigéria tem problemas muito mais graves para atender do que as recentes ameaças do presidente norte-americano Donald Trump, que declarou esse país “de especial preocupação”, um preâmbulo para uma remota intervenção militar em razão da perseguição sofrida ali pelos cristãos.

 

Embora, se quisesse, Trump também poderia fazê-lo pelos muçulmanos, os animistas e qualquer outra religião que seja, e até mesmo ateus e agnósticos. Porque os 238 milhões de nigerianos estão em constante perigo de vida. A não ser que em seus planos figure a possibilidade de converter a Nigéria em cabeça de ponte para intervir com mais comodidade nos países membros da Aliança dos Estados do Sahel, ou AES (Mali, Burkina Faso e Níger), para interromper seus processos anticolonialistas. É importante recordar, neste ponto, que em 2023, após o golpe nacionalista e anticolonialista no Níger, foi justamente o presidente nigeriano Bola Tinubu quem encabeçou a reação, ameaçando invadir esse país com as forças da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, ou CEDEAO.

 

De passagem, seria bom recordar a Trump que, na Síria, seu grande amigo, o emir Abu Mohammad al-Golani, faz o mesmo contra alauítas, xiitas, drusos e cristãos, e nem falar dos sionistas em Gaza, onde cristãos também são martirizados.

 

Ainda que seja improvável que o mais loiro dos nova-iorquinos o faça, seria bom que de uma vez por todas ele abandonasse sua vocação de comadre de bairro e deixasse de percorrer o mundo remexendo o lixo alheio, para assumir a responsabilidade de cumprir as promessas que, com estrondo de metralha, dispara diariamente contra: Rússia, China, Irã, Índia, Venezuela, Coreia do Norte, Nicarágua, Cuba, Afeganistão, México, Califórnia, Nova York e um etecétera que tende a crescer a cada dia — e que ele se atreva, de uma vez, a declarar guerra ao mundo.

 

Enquanto isso, os nigerianos vivem assolados pela brutal corrupção do governo do presidente Bola Tinubu; padecem as consequências da degradação ambiental produto do saque de seus recursos naturais, particularmente do petróleo, por empresas multinacionais que exterminaram a fauna e a flora ao longo do delta do rio Níger. E entre outros perigos iminentes, também se poderiam incluir o crime comum, que se estruturou em verdadeiras milícias, e as milícias de fato tributárias do Daesh e da al-Qaeda. Desde que o conflito iniciou, em 2009, ele já gerou pelo menos sessenta mil mortos, além de provocar o deslocamento de dois milhões e meio de pessoas.

 

Talvez sejam essas khatibas as que colocaram o país no mapa como nunca desde a guerra de Biafra (1967–1970). Particularmente o grupo Boko Haram, que saltou ao estrelato internacional pelo sequestro, em 2014, de 276 alunas de uma escola em Chibok, estado de Borno, no nordeste do país, das quais ainda seguem desaparecidas 219.

 

Desde então, embora o grupo tenha sido fundado em 2002, ele protagonizou verdadeiras carnificinas desde que, em 2009, Abubakar Shekau se converteu em emir da organização após o desaparecimento de seu fundador, Mohammed Yusuf.

 

A marca vesânica que Shekau imprimiu ao Boko Haram continuou além de sua morte, em 2021, e inclusive impregnou os grupos que se desprenderam dele. Em 2015 surgiu o ISWAP (Estado Islâmico Província da África Ocidental), liderado por Abu Musab al-Barnawi, filho de Mohammed Yusuf. Mais tarde, ambas as khatibas sofreram cisões, como o Jama'atu Ansarul Muslimina fi Biladis Sudan ou Ansaru (Vanguarda para a proteção dos muçulmanos nas terras negras) em 2012, ainda que esses grupos mal consigam diferenciar-se das quadrilhas de crime comum. Ainda mais quando, em agosto passado, seus dois principais líderes, Mahmud Muhammad Usman e Mahmud al-Nigeri, foram detidos.

 

A guerra entre esses dois grandes braços do terrorismo na Nigéria, embora ambos sejam tributários do Daesh, não tardou em estourar com batalhas que deixaram centenas de mortos, entre eles os seus dois principais emires: como já apontamos, o de Shekau em março de 2021 e, em agosto desse mesmo ano, o de al-Barnawi — ambos em consequência de sua própria guerra. Além das operações do Exército da Nigéria, que golpeou quase mortalmente ambas as organizações, obrigando-as a se refugiar por meses para reconstruir-se e voltar à batalha.

 

Soube-se que no domingo, dia 9, um novo episódio da guerra entre ambos os grupos se travou às margens do lago Chade, deixando ao menos duzentos mortos.

 

Os combates estouraram nas cercanias da aldeia de Dogon Chiku, uma zona que historicamente tem sido utilizada pelos mujahidines para golpear tanto na Nigéria quanto no Chade.

 

Aproveitando a segurança que lhes proporcionam os entrelaçados corredores fluviais do lago, eles costumam usar algumas ilhas como quartéis de inverno, de onde, além de controlar o movimento das aldeias, cobram impostos de comerciantes, pescadores, lenhadores e pastores.

 

A batalha do domingo, na qual, segundo informantes locais, o ISWAP teria sofrido numerosas baixas, assim como a perda de um importante número de embarcações — que caíram nas mãos do Boko Haram — foi o último grande enfrentamento, embora não se descarte que, na dinâmica territorial que esta guerra adquiriu, novos confrontos voltem a estourar muito em breve. Especialmente se levarmos em conta a nova perspectiva gerada pelo recrudescimento da guerra em todo o arco ocupado pela Aliança dos Estados do Sahel, onde tanto o Jama'at Nasr al-Islām wal Muslimin ou JNIM (Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos), adscrito à al-Qaeda, quanto o Estado Islâmico para o Grande Saara combatem em vários fronts os exércitos da AES.

 

Esta última batalha talvez tenha sido a mais mortífera entre ambas as khatibas desde 2016, quando essa guerra começou. O antecedente mais similar ocorreu em maio de 2021, quando o ISWAP lançou uma ofensiva na floresta de Sambisa, durante anos um santuário impenetrável do Boko Haram. Foi durante essa campanha que Shekau, cercado e sem possibilidades de escapar, escolheu imolar-se com um explosivo antes de cair nas mãos dos milicianos do ISWAP. A partir de dezembro de 2022, a nova direção do Boko Haram recuperou a iniciativa, lançando operações contra duas bases do ISWAP no estado de Borno. Com essas ações, conseguiu apoderar-se de grande quantidade de armamento, além de assassinar mais de uma centena de efetivos do ISWAP.

 

Embora aos poucos o ISWAP tenha alcançado maior potência de fogo e logística graças aos aportes de seus financiadores do Golfo Pérsico, aos serviços de inteligência ocidentais e às suas operações de contrabando de ouro e sequestros extorsivos, com o tempo o Boko Haram conseguiu reverter a tendência, alcançando maior presença no lago Chade e equilibrando a situação.

 

Um novo jogador se consolida

 

Desde dezembro do ano passado sabe-se que milicianos do Jama'at Nasr al-Islām wal Muslimin (JNIM) haviam ingressado em território nigeriano pela fronteira com Benin, embora ainda não se tenham reportado ações.

 

Enquanto se expande pelo Sahel — hoje o principal centro do terrorismo mundial — cuja população total chega a setenta e cinco milhões de pessoas, além dos quase doze mil mortos, o avanço terrorista obrigou ao deslocamento de outros três milhões de pessoas. Enquanto isso, os terroristas avançaram também rumo às nações ribeirinhas ao Golfo da Guiné (Benin, Togo, Gana e Costa do Marfim).

 

Com esse impulso, o JNIM busca expandir-se também na Nigéria, onde nenhuma khatiba da al-Qaeda teve presença desde 2014, quando o Boko Haram fez seu baya’t (juramento de lealdade) ao Daesh.

 

No final de outubro último registrou-se o primeiro ataque do JNIM em território nigeriano, contra uma patrulha militar no estado de Kwara, no centro-norte do país, próximo à fronteira com Benin, por onde se infiltraram em dezembro passado.

 

Segundo especialistas locais, o JNIM escolheu o estado de Kwara por sua localização no centro do país, próximo à cidade de Abuja, a capital federal.

 

Assim como praticamente todas as fronteiras da África, a Nigéria tem um alto déficit de segurança, por onde historicamente se filtraram contrabandistas e traficantes de todo tipo. E há mais de uma década, também os mujahideens atravessam de um país a outro sem maiores dificuldades, exceto pela vigilância satelital do Africom (Comando dos Estados Unidos para a África), que, junto a seus aliados europeus, está deixando o terrorismo agir no continente.

 

A partir de Kwara, o JNIM espera expandir-se para outras regiões nigerianas, ainda que tenha de enfrentar o Exército Nacional, o Boko Haram e o ISWAP. Isso deixa o estado de Osun particularmente vulnerável por sua proximidade a Kwara. Onde, na guerra de terror contra terror, espera-se que alcance seu máximo esplendor.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

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