Diminuição do desemprego à custa do aumento da exploração
- NOVACULTURA.info
- há 28 minutos
- 4 min de leitura

Recentemente muito se disse da diminuição do desemprego no Brasil e, mais recentemente ainda, da queda do número de pessoas em miséria absoluta.
Sem dúvida são notícias que deveriam ser comemoradas e, com certeza, para quem, ainda que super explorado, encontra-se trabalhando, existe o que comemorar?
É preciso observarmos não o que os números apontam, mas o que eles não dizem, o que está velado e não aparece no noticiário.
Matéria publicada, em 25 de fevereiro, no jornal O Globo, insuspeito órgão a favor da burguesia e, recentemente, aliado do Governo Lula (PT), informa que foram criadas 1.693.673 vagas de trabalho durante o ano de 2024, sendo que 98,87% das pessoas que se empregaram tinham cadastro ativo no Cadastro Único, e que destas, 75.5%, continuaram a receber o auxílio do Bolsa Família, ainda que empregadas.
O que estes números nos revelam?
Que, apesar de serem criadas muitas vagas de trabalho e de muitas pessoas terem se empregado no período, a precarização destas vagas, em especial no valor pago pelo trabalho, indicam que, mesmo empregados, 1.278.765 trabalhadores ainda precisam ser assistidos por medidas paliativas como o Bolsa Família, pois, do contrário, estariam, ainda que trabalhando com carteira assinada, passando necessidades tantas que o salário não seria suficiente para manter a si e as suas famílias.
Difícil de acreditar, mas é a mais pura realidade: mesmo empregados, dados os baixos salários e o alto custo de vida, milhões de brasileiros precisam ser assistidos por remendos de medidas tidas como “sociais” para não passarem necessidade.
Mas não é por caridade ou justiça social que os governos de plantão a serviço da burguesia concedem as migalhas aos trabalhadores. A razão para isso é bem mais sórdida: o fazem porque, se na situação de fome extrema, na iminência de perderem o pouco que tem, a massa trabalhadora rapidamente perceberia o que fazer e a rebelião bateria a porta dos governos e dos seus patrões, a burguesia.
Se existe Bolsa Família, ou qualquer outro “benefício social” não é por caridade ou justiça social, mas por estratégia política.
Em se tratando de média salarial, os dados publicados em matéria do jornal Folha de S. Paulo em 29 de março, dizem muito sobre precarização do trabalho.
Com 1,24 milhões de novos trabalhadores, a área de transporte, armazenamento e correio, que inclui motoristas de Uber e motoboys, registrou queda de renda, ou seja, profissões que já são precarizadas em si, já que exigem dos trabalhadores extensas jornadas de trabalho e em condições extremas, registraram queda na renda entre os períodos de 2012 e 2024, em linhas mais compreensíveis: no período estudado estes trabalhadores passaram a ganhar menos, sim, por que a inflação corroeu os seus salários, mas, principalmente, porque, de fato, passaram a ganhar menos, inclusive pela desvalorização do dinheiro, enfim, pela perda do valor monetário da moeda.
No caso dos vendedores do comércio, área que mais contratou no período de 2012 e 2024, 2,39 milhões de contratações, o salário não apresentou variação registrável, justamente porque os salários pagos já são desastrosos, uma vez que parcela considerável da remuneração destes trabalhadores são pagos através de percentuais nas vendas ou comissões.
Há quem possa dizer que só existe precarização na parte de baixo, mas não.
Na faixa de empregos técnicos e científicos também ocorreu uma queda significativa na remuneração dos salários.
Matéria publicada no jornal Valor Econômico em 06 de dezembro do ano passado, indica que 60% dos trabalhadores no Brasil ganham até um salário-mínimo, já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) afirma, em 2022, que 70% dos trabalhadores no Brasil recebem, no máximo, dois salários-mínimos.
Estes números indicam que, destes 70% de trabalhadores, apenas 10% ganham até dois salários-mínimos (o “até” não significa que ganham dois salários-mínimos, significa que ganham qualquer valor acima do salário-mínimo entre R$ 1 e o dobro do salário-mínimo), já os outros 60% ganham qualquer coisa entre R$ 1 e o valor do salário-mínimo.
Não à toa 75,5% dos trabalhadores que entraram no mercado de trabalho em 2024, precisam, ainda que trabalhando com carteira assinada, ser assistidos por programas assistenciais.
Enfim, essa é a parte que tem nos cabido, empregos precarizados e salários baixos a ponto de mantermos a maior parte dos trabalhadores atrelados ao recebimento do Bolsa Família e não, como já dissemos, por caridade ou justiça social, mas para os manter “mansos”, afastando-os de qualquer ideia revolucionária, afinal, precisamos eleger este ou aquele porque somente assim será mantido aquele auxílio.
Acreditamos que o principal ponto aqui é que não se trata apenas de uma questão de geração de empregos, mas de qual tipo de emprego, não se trata apenas de salário, mas quais são as condições que este salário nos permite viver com dignidade, o que não nos parece ser o caso.
Precisamos entender o que se apresenta para podermos compreender o que se passa ao nosso redor.
Compreender essa situação para enfrentá-la é isso o que precisamos fazer, não basta aceitarmos os números, precisamos entendê-los, pois por trás deles é que se escondem as armadilhas que estão nos prendendo.
