"Audácia revolucionária e tenacidade feminina"
- NOVACULTURA.info
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Sob o sol do Oriente que a viu nascer, em 7 de abril de 1930, o nome de Vilma Espín Guillois ressoa hoje como um hino de rebeldia e conquista.
Desde a infância, ela fundiu intelecto e ousadia: devorava problemas matemáticos com a mesma destreza com que escalava as copas das árvores santiagueiras, alternando tardes entre a seiva dos troncos familiares e os verbos franceses que ensinava aos vizinhos em sua casa solarenga.
Já na universidade de Santiago nos anos 1950, seu olhar desafiador tornou-se símbolo de resistência. Sob pseudônimos como Alicia, Mónica e Débora, tecia redes clandestinas enquanto liderava com mão firme a equipe de vôlei estudantil “Las Mambisas”.
Seus gestos desafiavam a opressão: escondia panfletos sob as saias durante batidas militares e escrevia versos hexassílabos de protesto contra Batista, inserindo-os em poemas de José María Heredia.
Sua voz ressoava no coral universitário, mas nada a eletrizava tanto quanto se perder na conga oriental. Como lembraria seu companheiro Luis A. Clergé, chamava a atenção “por seu carisma, sua estatura e um sorriso que transmitia pura e feminina doçura”; qualidades potencializadas por sua insólita independência ao volante, em uma época em que isso simbolizava modernidade feminina.
Como “Mariela”, subiu à Sierra Maestra, após viver intensamente a resistência urbana: participou do levante de 30 de novembro de 1956, abasteceu a guerrilha, fez a ligação entre a Sierra e a Direção Nacional do Movimento 26 de Julho, e foi motorista e confidente de Frank País, até que seu assassinato, em julho de 1957, marcou um luto eterno.
Acostumada ao risco urbano de ser “caçada”, descobriu nas montanhas uma liberdade radical: enfrentar o inimigo frente a frente.
Após o assalto ao quartel de Moncada, sua casa, próxima ao quartel, transformou-se em centro operativo, e após a morte de Frank, ela assumiu a coordenação do Movimento no Oriente.
Com o triunfo de 1959, mergulhou em outra dura batalha: derrubar os muros do patriarcado. Em uma Cuba onde 90% das mulheres eram donas de casa, fundou a Federação de Mulheres Cubanas (FMC), criou os círculos infantis para mães trabalhadoras e capacitou profissionalmente milhares de camponesas em Havana.
Como recordaria Eusebio Leal Spengler, ela chegou “intacta em sua beleza humana e espiritual”. Seus combates incluíram a denúncia de administradores que exigiam “mulheres jovens e bonitas” e a eliminação do humilhante “certificado de moral”, aplicado apenas às mulheres, sob a convicção de que “o imoral para elas deve sê-lo também para eles”.
Hoje, seus restos repousam no Mausoléu da Segunda Frente Oriental, mas seu verdadeiro monumento são as cubanas que, para citar apenas um único e ilustrativo exemplo, representam 55,74% do Parlamento Cubano.
Entretanto, o mais enraizado na alma popular são seus gestos cotidianos: aquela maneira de tecer conversas sinceras, zelar pelas famílias dos companheiros ou guardar balas na bolsa para os netos alheios.
Defendeu a cubanidade não apenas nos discursos, mas na elegância ao vestir e no respeito no trato.
Dezoito anos após sua morte – ocorrida em 18 de junho de 2007 – Cuba evoca a eterna guerrilheira que fundiu em sua personalidade e caráter a audácia revolucionária e a tenacidade feminina.
Do Granma
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