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"Síria ou como evitar a 'síndrome de Iraque'"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 19 de mar.
  • 6 min de leitura

 

Em um Oriente Médio abandonado pelo mundo nas mãos do regime sionista, ao qual só resta escriturar os territórios usurpados após a brutal investida iniciada em 8 de outubro de 2023. Os mais de 18 meses de ataques contínuos contra a população civil, que aniquilaram os últimos dois enclaves palestinos, Gaza e Cisjordânia, e a vida de mais de 200 mil palestinos, ao mesmo tempo em que invadiram o Líbano, desarticulando a resistência, após terem conseguido infiltrá-la após longos anos de espionagem constante, quebrando vontades com torturas, extorsão ou milhões de dólares.

 

Finalmente, permitiu-se concentrar seus últimos esforços para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad, após 14 anos de guerra e devastação junto à OTAN, os Estados Unidos, as monarquias do Golfo e a Turquia, além da invasão de entre 250 mil e 300 mil mujahideens, trazidos de todos os esgotos do mundo muçulmano ao ritmo de bilhões de dólares aportados pela Arábia Saudita e principalmente pelo Catar. Tanto que, para salvar a coroa, o emir catari, o xeque Hamad bin Khalifa al-Thani, teve que abdicar em favor de seu filho Tamim bin Hamad al-Thani, em junho de 2013. Só conseguiram derrubar o presidente al-Assad em dezembro passado.

 

A entente antissíria colocou no poder um homem de palha, o agente sionista Ahmed Hussein al-Sharaa, também conhecido em seus anos de mujahideen como Abu Mohammed al-Golani, que recebeu armas, logística, informações e um pagamento de 75 dólares mensais para cada “lutador da liberdade” por parte de Tel Aviv. Como declarou em dezembro de 2019, pouco antes de sua aposentadoria, o próprio chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, o general Gadi Eisenkot, que, em janeiro de 2024, desmascarou publicamente o triunfalismo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que ocultava a verdadeira situação de suas forças em Gaza, que sofriam com a ardente resistência palestina.

 

Diante da crítica situação de segurança na Síria, e tentando evitar que os militares que ainda permanecem leais ao presidente al-Assad possam se rearmar e iniciar uma nova guerra civil no país, como aconteceu no Iraque após a queda de Saddam Hussein, o ex-jihadista e hoje moderado amigo do Ocidente, o ex-takfirista Ahmed al-Sharaa, continua com o extermínio de qualquer forma de resistência.

 

As antigas bandas terroristas de Hayat Tahrir al-Sham ou HTS (Comitê de Liberação do Levante), reconvertidas em comandos do novo “Ministério da Defesa e do Interior”, desde sua entrada em Damasco em 7 de dezembro passado, já executaram sumariamente cerca de 40 mil pessoas, em sua maioria da minoria alauita, que representa apenas 10% dos 25 milhões de sírios e à qual pertence a família al-Assad.

 

Desses quatro mil mortos, mais de 1.200 foram assassinados desde a última quinta-feira, 6 de março, embora seja um número aleatório, já que a caça e os massacres de opositores na cidade de Latakia não pararam. Há inúmeras denúncias, inclusive recebidas pela imprensa ocidental, que falam de centenas de famílias inteiras de origem alauita que foram literalmente executadas dentro de suas próprias casas.

 

As denúncias indicam que corpos com sinais de tortura e executados com armas de fogo aparecem constantemente em estradas, ruas e terrenos baldios. Os sicários de al-Sharaa estão deixando os corpos apodrecerem ao relento, impedindo que familiares de desaparecidos possam acessá-los, identificá-los e enterrá-los. Enquanto isso, são constantes as denúncias de saques de propriedades e bens por parte dos ex-jihadistas, que parecem ter tomado o país inteiro de assalto.

 

O recrudescimento da escalada repressiva na última quinta-feira, particularmente na cidade portuária de Latakia, ocorreu após o ataque de uma incipiente resistência formada por ex-militares do exército do presidente al-Assad, que emboscaram as forças de segurança em Jableh, na província de Latakia, causando cerca de 150 mortos, o que teria desencadeado uma onda de vingança contra a minoria alauita.

 

“Como se estivesse coordenado”, rapidamente milhares de milicianos do governo chegaram ao local de todo o país, iniciando mais operações de perseguição, resultando em dezenas de novas execuções. Além desses últimos mortos, sabe-se que há numerosos feridos, desaparecidos e detidos, por isso muitos cidadãos, aterrorizados pelos capangas de al-Sharaa, fugiram para as montanhas e florestas, abandonando tudo, enquanto suas propriedades são rigorosamente saqueadas.

 

Após esses eventos, o ex-terrorista e atual presidente da transição da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse que os fatos estão dentro dos desafios previstos e reiterou “que é preciso preservar a unidade nacional e a paz interna”.

 

Além de suas declarações, sua maneira de governar o país lembra o tempo em que, após a tomada da cidade de Idlib, estabeleceu a sharia e a repressão de qualquer dissidência, as detenções arbitrárias, as execuções sumárias e um profundo sistema de segurança a cargo da polícia religiosa, que perseguia e punia qualquer um que violasse as normas. Nesse contexto, dezenas de jornalistas, ativistas sociais e líderes locais que ousaram questionar a vontade do emir al-Golani (al-Sharaa) foram detidos, torturados ou desapareceram.

 

A Agência de Segurança Geral, nestes dias, impediu que organizações de defesa dos direitos humanos estrangeiras pudessem entrar na cidade de Demsarkho, na província de Latakia, onde a repressão está descontrolada.

 

Os crimes de al-Sharaa obrigaram que, no mesmo domingo, Estados Unidos e Rússia pedissem ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que se reunisse a portas fechadas na segunda-feira para analisar a situação. Neste ponto, é bom lembrar que as Nações Unidas, entre outras entidades internacionais, são fundamentalmente responsáveis por essa realidade que a Síria está vivendo.

 

No momento em que ainda continuavam os massacres de centenas de civis, o governo anunciou um acordo com as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos, que se integrariam ao governo.

 

Rumo a uma nova guerra civil

 

Sabe-se que, no contexto de perseguição e morte desencadeado pelo governo de al-Sharaa, centenas de ex-militares que pertenciam ao Exército Árabe Sírio (EAS), que fugiram para as montanhas, estão se rearmando para combater. Conhecendo a violência com que operam, não esperam nada além de lutar por suas vidas, em uma batalha totalmente assimétrica, já que os recursos de que dispõem são escassos e mal podem receber apoio dos grupos sobreviventes do Hezbollah libanês. Enquanto isso, as milícias governamentais contam com o apoio total de Israel, para quem é vital esmagar qualquer possibilidade de surgimento de uma força pró-al-Assad.

 

A tentativa de esmagar qualquer foco de resistência aos ex-jihadistas, que a inteligência do regime pró-Israel acredita que ocorrerá em breve, enquanto setores alauitas se uniram ao Conselho Militar para a Liberação da Síria, outros grupos étnico-religiosos como curdos, drusos, xiitas e sunitas não fundamentalistas estão se unindo para formar uma frente de resistência à ocupação sionista, que visa exterminar totalmente uma nação milenar como a Síria.

 

Vizinhos denunciaram que, nos recentes massacres, participaram milicianos chechenos, que, além de assassinar civis, saquearam propriedades tanto dos mortos quanto de muitos sobreviventes, por não serem alauitas, que sofreram ameaças de terem suas casas incendiadas se não entregassem ouro e dinheiro.

 

Neste ponto, é bom lembrar que, das centenas de milhares de terroristas que chegaram à Síria a partir de 2011, os contingentes provenientes da Ásia Central, do Cáucaso e do Mar Cáspio foram particularmente violentos.

 

A violência da repressão responde ao fato de que, desde janeiro, em diferentes lugares do país, começaram a se estruturar diversos grupos de muqawama (resistência), alguns pró-al-Assad, e até mesmo outros que foram opositores ao seu governo, mas que se unem na recusa em aceitar a presença sionista em seu país. Embora tudo seja muito recente, sabe-se que grupos como a Frente de Resistência Islâmica na Síria - Possuidores de Poder (Uli al-Baas, ou UAB) estão se organizando.

 

Apenas dez dias após a queda do governo de Bashar al-Assad, o Partido Social Nacionalista Sírio (SSNP) lançou um apelo para a criação de uma frente para liberar o sul da Síria da “agressão israelense” e trabalhar para liberar o resto dos territórios ocupados na Síria. O SSNP afirma estar ativo na Síria e no Líbano, com vínculos com o histórico Partido Baath da família al-Assad e núcleos do Hezbollah.

 

Outra organização que está se formando é o Jabhat al-Muqawama al-Islamiya fi Suria - Uli al-Baaes, ou UAB (Frente de Resistência Islâmica na Síria).

 

Em fevereiro, surgiu outro grupo chamado Liwa Dir al-Saḥel (Brigada Escudo Costeiro), liderado por um oficial do Exército Árabe Sírio, leal ao presidente al-Assad, que anunciou sua coordenação com a Frente de Resistência Islâmica - Uli al-Baas na região sul. Uma terceira organização conhecida como Quwwat Ashbah Rouh al-Muqawama (Os Fantasmas do Espírito das Forças de Resistência) no leste do país também anunciou plena cooperação e coordenação na luta contra as organizações terroristas takfiristas [apóstatas] e o governo de fato em Damasco até que se alcance a vitória da República Árabe Síria.

 

No dia 6 de março, quando começaram os massacres de alauitas em Latakia, a UAB fez sua primeira declaração, anunciando uma operação conjunta contra a resistência de Latakia, afirmando que lançou uma série de ataques contra as forças israelenses na cidade de Quneitra, no sudoeste da Síria, em um vale das Colinas do Golã. Isso mostra que, até agora, a “síndrome de Iraque” não está sendo contida.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

 

 

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