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70 anos da Revolta de Porecatu: quando o PCB foi às armas



No mês de outubro deste ano, saudaremos os setenta anos de um grande episódio da luta do nosso povo pela reforma agrária: a Revolta de Porecatu.

A revolta camponesa, que também é conhecida como Revolta do Quebra-Milho, ocorreu no norte do estado do Paraná, no vale do Rio Paranapanema, e se insere no contexto das lutas contra o latifúndio feudal nas décadas de 1940 e 1950. Nesta esteira, também tivemos a Revolta de Trombas e Formoso, em Goiás, dirigida pelo líder camponês José Porfírio, em que os camponeses armados se revoltaram contra o pagamento dos arrendamentos (nos quais os grileiros chegavam a cobrar por metade das safras pelo direito dos camponeses de seguirem morando e cultivando suas terras) e contra a grilagem, ou seja, contra os meios de exploração semifeudal.

No final dos anos 1930 e início dos anos 1940, Vargas implementou, durante o seu governo, a “Marcha para o Oeste”, associada a uma nova política de terras que permitiu que camponeses pobres vindos do interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais e da região Nordeste se instalassem no município de Porecatu (adjacente à região de Londrina) – região de terra roxa, onde predominava o cultivo do café – em busca de melhores condições de vida. Os camponeses se assentaram em pequenas propriedades circundadas de latifúndios, e costumavam cultivar café entre outros alimentos. Não tardou para que estes fossem expulsos de suas terras pela ação dos jagunços e da Polícia a mando dos poderosos grileiros e fazendeiros locais sedentos por ampliar as suas posses.

Como efeito colateral às agressões sofridas, os camponeses se organizaram, inclusive empunhando armas, para reivindicar os seus direitos frente à imensa concentração de terras, principalmente das famílias Lupion e Lunardelli, sendo o patriarca dessa última, Geremia, conhecido como Rei do Café. O conflito começou no final de 1948 e se estendeu pelos anos seguintes, colocando, de um lado, camponeses armados, e, de outro, pistoleiros, Polícia Militar, agentes do DOPS dos estados de São Paulo e Paraná e, em certa altura, o Exército.

Nos anos 1940, atuando na clandestinidade, o Partido Comunista do Brasil (PCB) compôs as lutas camponesas na região e colaborou para a organização do movimento no sentido ideológico, logístico e de treinamento militar, além das contribuições com alimentos, dinheiro, armas etc. Dentre os quadros destacados pelo PCB, estava o lendário João Saldanha, conhecido como “João Sem-Medo”, técnico do Botafogo e da seleção brasileira, comentarista, cronista esportivo e militante comunista. A luta armada já estava posta antes mesmo da chegada dos militantes do PCB, cuja leitura da realidade oriunda do “Manifesto de Agosto” possibilitou maior eficácia nesta empreitada. Devemos rememorar que as lutas no campo por parte do PCB foram reflexo do temporário avanço das posições revolucionárias sobre as posições reformistas no seio do Partido, o que culmina, em 1950, com o lançamento do “Manifesto de Agosto”, um documento que caracteriza a sociedade brasileira como semicolonial e semifeudal e o Estado brasileiro como uma ditadura conjunta de grandes capitalistas e latifundiários serviçais do imperialismo, apontando para a luta armada como único caminho para a tomada do poder pela classe operária, com o apoio fundamental do campo, responsável por cercar as cidades. O Manifesto de Agosto de 1950 sistematizou o avanço na prática revolucionária do Partido Comunista do Brasil durante os anos 1940-1950 e apontou, ainda que com limitações, o correto caminho a ser seguido pela luta revolucionária.

De forma geral, por mais que o envolvimento do PCB no conflito tenha sido de vital importância, houve alguns erros por parte de figuras oportunistas, como é o caso de Celso Cabral, o “capitão Carlos”. O militante chegou à região sob ordens do Comitê Central, encabeçado por Luiz Carlos Prestes, para fazer um estudo da situação, ou seja, das possibilidades de se levar a cabo a luta na região. No fim desse processo, é encarregado de organizar os camponeses e assumir a liderança do conflito, fato que gerou insatisfação. Manoel Jacinto Corrêa, liderança camponesa e membro do PCB na região, fez críticas severas à atuação do “capitão Carlos”, dizendo que o enviado de Prestes não conquistou a confiança dos camponeses, pois não respeitava a opinião dos lutadores locais, além de não conhecer o campo de luta e as suas particularidades. A capitulação de Celso Cabral foi escancarada quando este foi preso e no interrogatório delatou as lideranças do movimento, as estratégias de luta etc. O inimigo do povo fugiu misteriosamente da prisão e nunca mais foi visto, sacramentando o seu ato de traição às lutas do povo brasileiro.

No quesito da luta, os camponeses em Porecatu travaram confrontos contra os jagunços que, por sua vez, conheciam a região e as táticas camponesas. O combate contra estes foi mais custoso do que contra a polícia, que era extremamente despreparada para lidar com guerrilhas rurais. Devido a isso, coube à polícia o encargo de vasculhar as estradas e as cidades próximas em busca dos posseiros.

A tática dos camponeses em luta consistia em invadir fazendas, roubar armas, fechar estradas e sequestrar os fazendeiros locais. Mas a repressão escalou e até o Exército passou a cerrar fileiras com as outras forças reacionárias já mencionadas. Houve prisões e assassinatos em massa, tanto dos camponeses, quanto dos militantes do PCB e seus respectivos dirigentes, e a exploração da área fez com que os agentes do estado burguês-latifundiário encontrassem os acampamentos, destruindo as bases de luta. Aqueles que não acabaram mortos ou presos foram expulsos das terras. Centenas de famílias seriam reassentadas tempos após o conflito em outras regiões do Paraná.

Contudo, a despeito da derrota, a Revolta de Porecatu mostrou o grande potencial de mobilização do homem do campo, caso orientado de forma correta por um destacamento militante e combativo. Durante seu auge, o PCB chegou a organizar um pequeno exército de cerca de trezentos camponeses armados, que libertaram uma área de cerca de quarenta quilômetros quadrados que resistiu por anos à investida dos grileiros, da polícia e do Exército reacionário.

Conforme dissemos, desde meados da década de 1940, os camponeses da região de Porecatu se encontravam em estado completo ou parcial de revolta. Todavia, utilizamos o ano de 1950 como marco da entrada mais efetiva dos comunistas na revolta, principalmente depois do lançamento do famoso Manifesto de Agosto.

Setenta anos depois, a região de Londrina, Porecatu e municípios adjacentes é ainda marcada pela luta antifeudal, com os trabalhadores rurais lutando, desta vez, contra o inimigo materializado nas grandes usinas de açúcar, açambarcadoras de dezenas de milhares de hectares de terras. No norte do Paraná, persistem algumas dezenas de acampamentos organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), sendo o mais expressivo dentre eles o acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, que organiza entre 400 e 500 famílias camponesas na luta pela terra.

Sugerimos também aos leitores do NOVACULTURA.info que, caso estejam interessados pelo tema, leiam o livro “Porecatu: A Guerrilha que os Comunistas Esqueceram”, do autor Marcelo Oikawa.

Todas as lutas do povo brasileiro devem ser assimiladas, relembradas e comemoradas, servindo de inspiração para nós, comunistas, desde o primeiro indígena morto até aqueles que perdem suas vidas no campo na luta antifeudal dos tempos atuais. Por isso, saudamos os combatentes de Porecatu, que seu legado nos mantenha no horizonte iluminado da luta pelo socialismo.

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