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"A Internacional Comunista e a Internacional Sindical Vermelha"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info


I


A burguesia mantém a classe operária na escravidão não só pela força bruta, mas também por suas mentiras refinadas. A escola, a igreja, o parlamento, as artes, a literatura, a imprensa cotidiana, são poderosos instrumentos dos quais se serve a burguesia para embrutecer as massas operárias e fazer penetrarem as ideias burguesas entre o proletariado.


Entre essas ideias burguesas que a classe dominante conseguiu insinuar entre as massas trabalhadoras, se encontra a ideia da neutralidade dos Sindicatos, de seu caráter apolítico, estranho a todo partido.


Desde as últimas décadas da história contemporânea e, em particular, desde o fim da guerra imperialista, em toda a Europa e na América, os sindicatos são as organizações mais numerosas do proletariado: em certos países eles envolvem toda a classe operária sem exceção. A burguesia compreende perfeitamente que o destino do regime capitalista depende hoje da atitude desses sindicatos com relação à influência burguesa universal e seus criados social-democratas para manter, custe o que custar, os sindicatos cativos das ideias burguesas.


A burguesia não pode convidar abertamente os sindicatos operários para sustentarem os partidos burgueses. Eis porque ela os convida a não sustentar nenhum partido, inclusive o partido do comunismo revolucionário.


A divisa da “neutralidade” ou do “apoliticismo” dos sindicatos já tem atrás de si um longo passado. Ao longo de uma dezena de anos esta ideia burguesa foi inculcada nos sindicatos da Inglaterra, Alemanha, América e outros países, tanto pelos líderes dos sindicatos burgueses à la Hirsch—Dunker, quanto pelos dirigentes dos sindicatos clericais e cristãos, como pelos dirigentes dos sindicatos pretensamente livres da Alemanha, como pelos líderes das velhas e pacíficas trade-unions inglesas, e muitos outros partidários do sindicalismo. Leghien, Gompers, Jouhaux, Sidney Webb, durante dezenas de anos, pregaram a neutralidade dos sindicatos.


Na realidade, os sindicatos jamais foram neutros, jamais puderam sê-lo e nunca o serão. A neutralidade dos sindicatos só pode ser nociva à classe operária, mas ela é irrealizável. No dualismo entre o trabalho e o capital, nenhuma grande organização pode ficar neutra. Em consequência, os sindicatos não podem ser neutros entre os partidos burgueses e o Partido do proletariado. Os partidos burgueses percebem isso claramente. Mas assim como a burguesia tem necessidade que as massas acreditem na vida eterna, ela tem também necessidade que se creia, igualmente, que os sindicatos podem ser apolíticos e podem conservar a neutralidade em relação ao Partido Comunista operário. Para que a burguesia possa continuar a dominar e a pressionar os operários para tirar deles a mais-valia, ela não tem necessidade apenas do padre, do policial, do general, ela precisa também da burocracia sindical, do “líder operário” que prega nos sindicatos operários a neutralidade e a indiferença à luta política.


Mesmo antes da guerra imperialista, a falsidade dessa ideia de neutralidade se tornava cada vez mais evidente para os proletários conscientes da Europa e da América. Na medida em que os antagonismos sociais se exasperam, a mentira se torna mais gritante. Quando começou a carnificina imperialista, os antigos chefes sindicais foram obrigados a tirar a máscara da neutralidade e caminhar ao lado da “sua” burguesia.


Durante a guerra imperialista, todos os social-democratas e sindicalistas, que tinham passado anos a pregar a indiferença política, colocaram esses sindicatos a serviço da mais sangrenta e mais vil política dos partidos burgueses. Eles, ontem campeões da neutralidade, são vistos agora como os agentes declarados de tal partido político, salvo apenas o partido da classe operária.


Depois do fim da guerra imperialista, esses mesmos chefes social-democratas e sindicalistas tentam novamente impor aos sindicatos a máscara da neutralidade e do apoliticismo. Passado o perigo militar, esses agentes da burguesia se adaptam às circunstâncias novas e tentam ainda desviar os operários da via revoluciona ria, colocando-os em uma via mais vantajosa para a burguesia.


O econômico e o político estão sempre indissoluvelmente ligados. Esse laço é particularmente indissolúvel em épocas como a que atravessamos. Não existe uma única questão da vida política que não deva interessar ao partido e ao sindicato operário. Inversamente, não há uma questão econômica importante que possa interessar ao sindicato sem interessar ao partido operário.


Quando, na França, o governo imperialista decreta a mobilização de algumas classes para ocupar a bacia do Ruhr e para oprimir a Alemanha, um sindicato francês realmente proletário pode dizer que essa é uma questão estritamente política, que não deve interessar aos sindicatos? Um sindicato francês verdadeiramente revolucionário pode se declarar “neutro” ou “apolítico” nessa questão?


Ou então, inversamente, quando na Inglaterra, se produz um movimento puramente econômico como a última greve dos mineiros, o Partido Comunista tem o direito de dizer que esta questão não lhe diz respeito e que interessa unicamente aos sindicatos? Quando a luta contra miséria e a pobreza é engrossada por milhões de desempregados, quando se é obrigado a colocar politicamente a questão da requisição dos alojamentos burgueses para aliviar as necessidades do proletariado, quando as massas cada vez mais numerosas de operários são obrigadas, pela própria vida, a colocar na ordem do dia o armamento do proletariado, quando num ou noutro país os operários organizam a ocupação de fábricas e usinas, - dizer que os sindicatos não devem se envolver na luta política, ou devem se manter “neutros” entre todos os partidos, é na realidade servir à burguesia.


Apesar de toda a diversidade de suas denominações, os partidos políticos da Europa e da América podem ser divididos em três grandes grupos: 1) partidos da burguesia; 2) partidos da pequena burguesia; 3) partido do proletariado (os comunistas). Os sindicatos que se proclamam “apolíticos” e “neutros” não fazem senão ajudar os partidos da pequena burguesia e da burguesia.

II


A associação sindical de Amsterdã é uma organização onde se encontram e se dão as mãos as Internacionais dois e dois e meio. Esta organização é considerada com esperança e solicitude por toda a burguesia mundial. A grande ideia da Internacional Sindical de Amsterdã é no momento a neutralidade dos sindicatos. Não é por acaso que essa divisa serve à burguesia e seus criados social-democratas ou sindicalistas de direita como meio para tentar reunir novamente as massas operárias do Ocidente e da América, Enquanto a Segunda Internacional, passando abertamente para o lado da burguesia, praticamente falida, a Internacional de Amsterdã, tentando novamente defender a ideia da neutralidade, tem ainda algum sucesso.


Sob a bandeira da “neutralidade”, a Internacional Sindical de Amsterdã assume os encargos mais difíceis e mais sujos da burguesia: estrangular a greve dos mineiros na Inglaterra (como aceitou fazê-lo J.H. Thomas que é a