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A Copa América no Brasil da pandemia



Depois de ver a Copa América ficar sem país sede após a desistência de Colômbia e Argentina, e receber a negação de outros países como o Chile, restou a entidade que domina o futebol sul-americano apelar para o seu sócio menor, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e se apoiar no negacionismo do governo Bolsonaro para realizar o supérfluo torneio em terras brasileiras.


Uma das justificativas para trazer a Copa América ao Brasil, além da permissividade das autoridades, foi o fato de o país possuir vários estádios de Copa do Mundo ociosos, como o Mané Garrincha, em Brasília, Arena da Amazônia, Arena Pernambuco e Arena das Dunas, em Natal. A consulta da Conmebol foi recebida positivamente pelo governo e assim foi confirmada a realização.


Após a negação de alguns Estados de receber o torneio, o ministro-chefe da Casa Civil do presidente Jair Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos, informou pelo Twitter que a Copa América será realizada em Cuiabá, no Mato Grosso; Goiânia, em Goiás; Brasília, no Distrito Federal; e Rio de Janeiro, capital.


Enquanto se confirma o torneio no país, foram contabilizados 469.784 óbitos e 16.801.102 casos de COVID-19, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa com informações das secretarias de Saúde. Nas últimas 24 horas, 2.082 mortes foram registradas.


Com o atraso do processo de vacinação diante da atuação deliberada do Ministério da Saúde e do presidente, como demonstra os fatos e as discussões em andamento na CPI da Covid no Senado, até aqui, menos de ¼ dos brasileiros receberam a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus; e ainda a segunda dose foi aplicada em somente 10% da população.


Além do absurdo político em torno do Brasil sediar o torneio, a “exigência” do governo de todo o processo seguir todos os tais “protocolos sanitários” é risível. O futebol brasileiro voltou a ter suas atividades no ano passado, depois de alguns meses de paralisação no começo da pandemia. Mesmo sob justificativa de seguir tais protocolos, o noticiário demonstrou a falta de segurança para as atividades. Não foram poucos os surtos em clubes, que ainda assim tiveram que realizar os jogos, mesmo com desfalques de vários jogadores contaminados.


Um levantamento de pesquisadores da UFPB sobre os casos de COVID-19 durante o Campeonato Brasileiro de 2020 demonstra o quão ineficazes são os protocolos da CBF: 48% dos jogadores da Série A foram infectados pela doença. A pesquisa foi realizada com 625 jogadores de 20 clubes, com idade média de 25 anos. No total, 302 atletas testaram positivo no exame RT-PCR feito pelos clubes.


Segundo o virologista Marcelo Moreno, pesquisador do Departamento de Fisiologia e Patologia da UFPB, o estudo mostra que o risco de se contaminar com o vírus é 13 vezes maior para jogadores de futebol comparados à população geral.


Fica claro que a realização da Copa América cumpre somente dois interesses: a garantia dos contratos e dos lucros da Conmebol e da CBF, que acaba de ter seu presidente acusado de assédio sexual e moral, além do uso pelo governo Bolsonaro para tentar distrair dos problemas fundamentais da crise política, sanitária e social no qual o país está mergulhado e salvar sua popularidade cada vez mais em baixa.


Por isso a Copa América no Brasil é completamente inaceitável e devemos lutar contra isto.


Não é e nem será a última vez que o povo brasileiro deve se levantar contra os eventos esportivos realizados contra seus interesses. Na época do anúncio da realização da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas em nosso país, foram articulados comitês populares para articular as lutas contra a realização e denunciar todas as violações de direitos para atender as exigências da FIFA e do COI.


Em 2013, durante a realização da Copa das Confederações no Brasil, torneio preparatório para a Copa, inúmeros protestos foram realizados nas cidades que receberam os jogos, no embalo das grandes manifestações que tiveram lugar em junho de 2013.


No último sábado, 29 de maio, vimos mais uma vez se iniciar uma onda de grandes manifestações contra o governo Bolsonaro, em defesa da saúde pública e a necessidade da vacinação para todo o povo, além da crise econômica que afeta milhares de brasileiros e brasileiras.


É nosso dever somar-se aos protestos e também mirar o combate a essa realização de um torneio de futebol em meio a crise geral que vive nosso país.


E não é só no Brasil que as lutas populares se misturam no combate do uso do esporte como uma distração para o povo. O continente sul-americano nos dá muitos bons exemplos.


A rejeição à realização da Copa América se tornou uma das palavras de ordem durante os protestos que tomaram conta da Colômbia desde maio. As torcidas dos principais times do país se juntaram aos protestos e defenderam que não deveria haver futebol durante a greve geral. O jogo entre América de Cali e Atlético-MG, levado para a cidade de Barranquilla, teve o estádio cercado por manifestantes, que foram duramente reprimidos pela polícia com bombas e gás lacrimogênio, que atingiu até mesmo o campo de jogo, com jogadores tendo que se retirar. Diante da postura dos colombianos, a Conmebol teve que levar os demais jogos da Libertadores e da Sul-americana para fora do país.


Em 2019, no Chile durante o que ficou conhecido como “Estallido social”, as torcidas em diferentes regiões se juntaram as manifestações populares. O movimento foi protagonizado pelos seguidores de Colo-Colo, Universidad de Chile e Universidad Católica – as três maiores barras do país, que participaram marcadamente dos protestos em Santiago desde os primeiros dias. Os protestos obtiveram efeitos imediatos, obrigando a Conmebol a retirar a final da Libertadores que seria sediada na capital chilena e depois de mais de um mês paralisado, o Campeonato Chileno teve que ser encerrado.



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