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"O que é uma Nação Livre?"



Somos levados a fazer essa pergunta devido à extraordinária confusão de pensamento sobre o assunto que prevalece neste país, graças principalmente ao pernicioso e enganoso lixo de jornal com que o público irlandês tem sido alimentado durante os últimos vinte e cinco anos.


Nossos jornais diários irlandeses têm feito tudo que as capacidades humanas permitem fazer para confundir a mente pública sobre a questão de quais são os fundamentos de uma nação livre, o que uma nação livre deve ser e a que uma nação não pode se submeter a perder sem perder seu título de ser livre.


É por causa dessa extraordinária ignorância criada pelos jornais que encontramos tantas pessoas alistadas no exército britânico sob a crença de que a Irlanda finalmente alcançou o status de nação livre e que, portanto, as relações entre a Irlanda e a Inglaterra foram finalmente colocadas sobre a base satisfatória da liberdade. A Irlanda e a Inglaterra, segundo lhes foi dito, são agora nações irmãs, unidas pelo vínculo do Império, mas cada uma desfrutando de liberdades iguais - as liberdades iguais das nações igualmente livres. Quantos recrutas esta idéia enviou ao exército britânico na primeira onda da guerra seria difícil de estimar, mas certamente foram contados aos milhares.


O Partido Parlamentar Irlandês, que em todos os estágios da jogada do Home Rule [autogoverno autônomo] foi enganado e esmagado por Carson e os Unionistas, que se rendeu em todos os pontos e cedeu todas as vantagens à hábil campanha da aristocrática camarilha militar Orange em tempos de paz, se comportou de maneira igualmente covarde e traiçoeira na crise da guerra.


São poucos os homens em que o toque dos clarins da guerra não desperta o instinto de luta, não excita alguns impulsos cavalheirescos, mesmo que por um momento. Mas o Partido Parlamentar irlandês deve ser contado entre esses poucos. Neles, os clarins da guerra apenas despertaram o impulso de vender os corpos de seus compatriotas como bucha de canhão em troca dos sorrisos graciosos dos governantes da Inglaterra. Neles, o apelo à guerra soou apenas como um apelo a reproduzir a prostituição. Eles ouviram o chamado de guerra - e começaram a provar que os nacionalistas da Irlanda eram mais escravos do que os Orangemen da Irlanda, mais prontamente matariam e seriam mortos a pedido de um Império que desprezava a ambos.


Os Orangemen tiveram ao menos a satisfação de serem chamados a lutar no exterior para salvar um Império que estavam dispostos a lutar para conservarem-se inalterados em casa; mas os nacionalistas foram chamados a lutar no exterior para salvar um Império cujos governantes, em seus momentos mais generosos, se recusaram a conceder ao seu país o essencial da liberdade na nacionalidade.


Lutando no exterior, o Orangeman sabe que luta para preservar o poder dos governantes aristocráticos que ele seguiu em casa; lutando no exterior, o soldado nacionalista luta para manter intacto o poder daqueles que conspiraram para abatê-lo em casa quando ele pediu uma pequena parcela de liberdade.


O Orangeman diz: "Lutaremos pelo Império no exterior se seus governantes prometerem não nos obrigar à submissão ao Home Rule". E os governantes dizem de coração: "É impensável que devamos coagir o Ulster para qualquer propósito deste tipo".


O Partido Parlamentar Irlandês e sua imprensa disseram: "Provaremos que estamos aptos a estar no Império Britânico ao lutar por ele, na esperança de que, depois que a guerra acabar, consigamos o Home Rule". E os governantes do Império Britânico dizem: "Bem, vocês sabem o que prometemos a Carson, mas enviem a ralé irlandesa para lutar por nós, e nós iremos, hmmm, considerar seu pedido após a guerra". Sobre o que todos os líderes parlamentares e sua imprensa convocam o mundo a testemunhar que eles ganharam uma vitória maravilhosa!


James Fintan Lalor falou e concebeu a Irlanda como uma "rainha sem coroa, tomando-a de volta com uma mão armada". Nossos Parlamentares tratam a Irlanda, seu país, como uma velha prostituta vendendo sua alma pela promessa de favores futuros, é no espírito dessa concepção do seu próprio país que eles estão conduzindo sua campanha política.


Que eles pudessem fazer isso mesmo com o sucesso parcial que por um tempo acompanhou suas renúncias, só foi possível porque tão poucos na Irlanda realmente entenderam a resposta à pergunta que dá início a este artigo.


O que é uma nação livre? Uma nação livre é aquela que possui controle absoluto sobre todos os seus próprios recursos e poderes internos, e que não tem nenhuma restrição sobre suas relações com todas as outras nações em circunstâncias semelhantes, exceto as restrições que lhe são impostas pela natureza. É esse o caso da Irlanda? Se o Home Rule Bill estivesse em vigor, seria esse o caso da Irlanda? Para ambas as perguntas a resposta é: não, mais enfaticamente, NÃO!


Uma nação livre deve ter total controle sobre seus próprios portos, de abri-los ou fechá-los à vontade, de impedir a entrada de qualquer mercadoria, ou permitir que ela entre, assim como parecesse melhor para o bem-estar de seu próprio povo, e em obediência a seus desejos, e inteiramente livre da interferência de qualquer outra nação, e em completa desconsideração aos desejos de qualquer outra nação. Sem esse poder, nenhuma nação possui os primeiros elementos essenciais de liberdade.


A Irlanda possui tal controle? Não. O Home Rule Bill dará tal controle sobre os portos irlandeses na Irlanda? Não dará. A Irlanda é obrigada a abrir seus portos quando convém aos interesses de outra nação, a Inglaterra, e é obrigada a fechar seus portos quando convém aos interesses de outra nação, a Inglaterra; e o Home Rule Bill pactua a Irlanda a aceitar esta perda de controle nacional para sempre.


Você gostaria de morar em uma casa se as chaves de todas as portas dessa casa estivessem nos bolsos de seu rival que já te roubou muitas vezes no passado? Você ficaria satisfeito se ele lhe dissesse que ele e você seriam amigos para sempre, mas insistisse para que você assinasse um acordo deixando a ele o controle de todas as suas portas, e a custódia de todas as suas chaves? Esta é a condição da Irlanda de hoje, e será a condição da Irlanda sob o precioso Home Rule Bill de Redmond e Devlin.


Vale a pena morrer por isso nos Flandres, nos Bálcãs, no Egito ou na Índia, não é mesmo?


Uma nação livre deve ter plenos poderes para alimentar indústrias saudáveis, seja por incentivo governamental ou pela proibição governamental da venda de bens de rivais estrangeiros. Pode ser insensato fazer qualquer um dos dois, mas uma nação não é livre a menos que tenha esse poder, como todas as nações livres do mundo hoje têm. A Irlanda não tem tal poder, não terá tal poder sob o Home Rule. O fortalecimento das indústrias na Irlanda prejudica os capitalistas na Inglaterra, portanto, este poder é expressamente negado à Irlanda.


Uma nação livre deve ter pleno poder para alterar, emendar, abolir ou modificar as leis sob as quais a propriedade de seus cidadãos é mantida, em obediência à demanda de seus próprios cidadãos por qualquer alteração, emenda, abolição ou modificação desse tipo. Toda nação livre tem esse poder; a Irlanda não o tem, e não é permitido pelo Home Rule Bill.


É reconhecido hoje que é do sábio tratamento do poder e dos recursos econômicos, e da sábia ordenação das atividades sociais que depende o futuro das nações. Será a mais rica e feliz aquela nação que tiver a visão de administrar com mais cuidado seus recursos naturais para fins nacionais. Mas à Irlanda é negado este poder, e será negado sob o Home Rule. Os ricos recursos naturais da Irlanda e o gentil gênio de seus filhos não poderão ser combinados para a satisfação dos desejos irlandeses, exceto na medida em que sua combinação possa operar em linhas aprovadas pelos governantes da Inglaterra.


Seu serviço postal, seus telégrafos, seus telégrafos, seus costumes e impostos, sua moeda, suas forças de combate, suas relações com outras nações, seu comércio mercantil, suas relações de propriedade, suas atividades nacionais, sua soberania legislativa - tudo o que é essencial para a liberdade de uma nação é negado à Irlanda agora, e lhe é negado sob as disposições do Home Rule Bill. E os soldados irlandeses no Exército Inglês estão lutando nos Flandres para vencer para a Bélgica, dizem-nos, todas aquelas coisas que o Império Britânico, agora como no passado, nega à Irlanda.


Não há um patriota belga que não preferiria ver seu país devastado pela guerra cem vezes em vez de aceitar como acordo para a Bélgica o que Redmond e Devlin aceitaram para a Irlanda. Será que nós, irlandeses, fomos moldados em argila mais fraca do que os belgas?


Não há um pacifista na Inglaterra que deseje acabar com a guerra sem que a Bélgica seja restaurada à plena posse de todos aqueles direitos e poderes nacionais que a Irlanda não possui, e que o Home Rule Bill lhe nega. Mas esses mesmos pacifistas nunca mencionam a Irlanda quando discutem ou sugerem termos de acordo. Por que deveriam? A Bélgica está lutando por sua independência, mas os irlandeses estão lutando pelo Império que nega à Irlanda todos os direitos pelos quais os belgas pensam que vale a pena lutar.


E ainda assim a Bélgica como nação é, por assim dizer, apenas uma criação de ontem - um produto artificial dos esquemas dos estadistas. Ao passo que as fronteiras da Irlanda, as marcas inefáveis da existência separada da Irlanda, são tão antigas quanto a própria Europa, o trabalho manual do Todo-Poderoso, não de políticos. E como as marcas da nacionalidade separada da Irlanda não foram feitas por políticos, elas não podem ser desfeitas por eles.


Assim como o indivíduo separado está para a família, a nação separada está para a humanidade. A família perfeita é aquela que melhor extrai os poderes internos do indivíduo, o mundo mais próximo da perfeição é aquele no qual a existência separada das nações é considerada a mais sagrada. Não pode haver uma Europa perfeita na qual à Irlanda seja negada até mesmo o menor de seus direitos nacionais; não pode haver uma Irlanda digna cujos filhos tolerem mansamente tal negação. Se tal negação foi aceita por escravos sem alma de políticos, então ela deve ser repudiada por homens e mulheres irlandeses cujas almas ainda são suas próprias.


O progresso pacífico do futuro exige a posse pela Irlanda de todos os direitos nacionais agora negados a ela. Somente em tal posse os trabalhadores da Irlanda podem enxergar estabilidade e segurança para os frutos de seu trabalho e organização. Um destino que não confeccionamos escolheu esta geração como aquela convocada para o ato supremo de auto-sacrifício - morrer se necessário para que nossa raça possa viver em liberdade.


Seremos nós dignos da escolha? Somente através da nossa resposta ao chamado é que essa pergunta pode ser respondida.



James Connolly, “O que é uma nação livre?” Da República dos Trabalhadores, 12 de fevereiro de 1916. Transcrito por The James Connolly Society em 1997.


Traduzido para o português pela Equipe de Traduções Nova Cultura.


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