Pela natureza e por sua cultura, os Guarani seguem resistindo no Jaraguá

Desde o dia 30 de janeiro, indígenas Guarani Mbya ocupam o terreno da construtora TENDA no Jaraguá em protesto (e em luto) pela derrubada de árvores e pelo descumprimento de diversas leis no âmbito nacional e internacional (das quais o Brasil é signatário), que regulamentam construções próximas às aldeias indígenas e de preservação da área, sendo reconhecida pela UNESCO como parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo.
A construtora pretende construir condomínios de luxo para cerca de 800 moradores e, para isto, derrubou pelo menos 500 árvores no local no último dia 30, sendo imediatamente ocupado pelos indígenas, que declararam luto pelos irmãos e irmãs da natureza que foram ceifados pela ganância.
No dia seguinte após a ocupação (31), a Secretaria Municipal do Meio Ambiente embargou a construção no local por irregularidades, mesmo tendo autorizado a construção, com a “devida compensação ambiental” por parte da construtora.
Representantes da Tenda estiveram no último dia 5 com oficial de justiça e soldados da Guarda Civil Municipal para entregar o requerimento de reintegração de posse, expedido pela juíza Maria Cláudia Bedotti, no entanto, na ocasião, além das famílias, estavam presentes na ocupação técnicos da FUNAI e repórteres de agências internacionais o que provavelmente impediu qualquer ação truculenta possível.
Os indígenas no Jaraguá já vivem em um espaço limitado, de apenas 1,7ha demarcados, onde se abriga a aldeia Tekoa Ytu, mas há outras cinco aldeias que compõem o território Guarani reconhecido no Jaraguá. Apesar do reconhecimento, a área total está em processo de demarcação há anos, tendo sido alvo de reintegrações de posse, nas quais os indígenas resistiram bravamente.
Parte da economia dos indígenas advém da criação de abelhas nativas e extração do mel. Com a derrubada das árvores nativas da Mata Atlântica no terreno, diversas colmeias que participavam do processo de polinização do ecossistema local foram destruídas, prejudicando, inclusive, a economia local.
Nossa interlocutora, a jovem liderança indígena Araju, 22, afirma que: "Esta luta não é só nossa. Estamos lutando para proteger a natureza, por isso propusemos à prefeitura que a área se torne uma área de proteção ambiental e um memorial do povo Guarani".
Neste sentido, em 7 de fevereiro, um vereador enviou à câmara municipal o PL 29/2020 que transforma a área em disputa no parque ecológico Tary ty, que abrigará o Memorial de Cultura Guarani, com gestão compartilhada entre a prefeitura e as aldeias.
Recentemente a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente despachou uma ordem de paralisação da obra por tempo indeterminado, entretanto, não publicou no Diário Oficial, o que não dá validade ao documento.
Aos camaradas que quiserem prestar solidariedade à ocupação, neste final de semana, dias 15 e 16 de fevereiro, os Guarani promoverão atividades culturais aberta ao público na própria ocupação, localizada na Rua Comendador José de Matos, 139, próxima à estação Vila Clarice da CPTM.
"Sabemos que se sairmos daqui, sem o embargo definitivo desta obra, o restante das árvores que sobraram em pé, serão derrubadas pela construtora"
O povo Guarani segue resistindo na cidade de São Paulo contra a especulação imobiliária, pela preservação da natureza e de sua cultura.
por Rodrigo Ortega