"O cinquentenário da Primeira Revolução Russa"
Este ano (1955) os povos da União Soviética e toda a humanidade progressista celebram o glorioso cinquentenário da primeira revolução russa.
A revolução de 1905-1907 na Rússia foi a primeira revolução popular da época do imperialismo. Constituindo todo um período histórico na vida dos povos de nosso país e do Partido Comunista da União Soviética, a revolução de 1905-1907 foi importante etapa da luta dos operários e camponeses da Rússia pela sua emancipação social e nacional. No decorrer de toda a revolução, os operários e os camponeses da Ucrânia, Bielo-Rússia, Polônia, países bálticos, Transcaucásia, Ásia Central e outros territórios periféricos da Rússia czarista lutaram heroicamente, ombro a ombro com o proletariado e o campesinato russo, contra seus inimigos comuns: o czarismo e os latifundiários.
O proletariado foi o dirigente e a principal força motriz da revolução. Unindo em torno de si as massas camponesas, a classe operária da Rússia foi assentando nos combates revolucionários de 1905-1907 as bases de sua aliança com o campesinato, criando a força social que em 1917 haveria de derrubar o poder dos latifundiários e capitalistas e abrir aos povos de nosso país o caminho do socialismo.
À frente do povo revolucionário atuava a vanguarda de combate da classe operária da Rússia: o Partido Comunista, partido de novo tipo, o partido autenticamente marxista criado pelo grande Lenin.
A revolução de 1905-1907 foi uma séria escola de educação política das massas; despertou para a vida e a luta políticas milhões de operários e camponeses e forneceu exemplos heróicos de abnegada luta revolucionária, os quais serviram para educar as massas trabalhadoras e foram seguidos por estas não só na Rússia, como também em muitos outros países do mundo. A primeira revolução russa inaugurou uma nova página da História universal: uma época de profundíssimas comoções políticas e tempestades revolucionárias, deu início a um ascenso do movimento operário na Europa e do movimento de libertação nacional dos povos oprimidos da Ásia.
A primeira revolução russa sacudiu o regime da autocracia czarista até aos alicerces e assestou duro golpe sobre a dominação dos latifundiários e capitalistas. Apesar da derrota da revolução de 1905-1907, a experiência adquirida nessa revolução ajudou a classe operária e os camponeses pobres de nosso país a assegurarem a vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro. "Sem o ensaio geral" de 1905 — escreveu V. I. Lenin — a vitória da Revolução de Outubro em 1917 teria sido impossível". ("Obras", t. 31, pág. 11, ed. russa).
I
1. Em fins do Século XIX e princípios do Século XX, o velho capitalismo, o capitalismo pré-monopolista, foi substituído pelo capitalismo monopolista, pelo imperialismo, cujo desenvolvimento se caracteriza pela putrefação e a crescente decadência do sistema capitalista e pelo agravamento das contradições sociais e políticas.
Em princípios do Século XX a Rússia czarista era o ponto crucial de todas as contradições do imperialismo, o país onde estavam mais maduras as premissas para uma revolução democrático-burguesa, uma revolução popular que deveria transformar-se mais tarde em revolução socialista. Isto era determinado por toda a marcha do desenvolvimento social, econômico e político da Rússia.
O capitalismo monopolista se entrelaçava na Rússia com fortíssimas sobrevivências da servidão na economia e no regime político.
As principais eram a autocracia czarista e a propriedade latifundiária.
As sobrevivências do regime de servidão imprimiam seu selo a todo o regime social da Rússia. Provocavam as mais cruéis e desumanas formas de exploração capitalista do proletariado, condenavam à penúria, à ruína e à miséria constantes os camponeses, que constituíam a maioria da população do país. A opressão dos latifundiários e capitalistas era agravada pela arbitrariedade da autocracia czarista que sufocava tudo o que era vivo e progressista. Os operários e camponeses estavam desprovidos por completo de direitos políticos.
As relações de produção semifeudais, a onipotência dos latifundiários reacionários, que atuavam em aliança com os magnatas do capital financeiro, freavam o crescimento das forças produtivas do país, o progresso da ciência, da técnica e da cultura e intensificavam a dependência da Rússia ao capital estrangeiro, o qual se havia apoderado de posições decisivas nos mais importantes ramos da indústria.
O czarismo seguia uma política de brutal opressão dos povos não russos da Rússia, uma política de russificação forçada desses povos e de sufocação de sua cultura nacional. O governo czarista insuflava a discórdia e o ressentimento nacionais entre os povos, atiçava uns contra os outros. As massas trabalhadoras dos povos não russos sofriam duplo jugo: o de seus próprios latifundiários e capitalistas e o dos latifundiários e capitalistas russos.
A combinação de todas essas formas de opressão — opressão dos latifundiários, opressão dos capitalistas e opressão nacional — com o despotismo policial da autocracia tornava insuportável a situação das massas populares e infundia especial virulência e profundidade às contradições sociais. As necessidades primordiais do desenvolvimento social do país, os interesses mais prementes dos povos da Rússia exigiam imperiosamente a destruição do regime existente e, antes de tudo, a liquidação da propriedade latifundiária e a derrubada da monarquia czarista. Somente uma revolução democrático-burguesa, popular, poderia resolver estas históricas tarefas.
2. Diferentemente das revoluções burguesas do Século XVII ao XIX no Ocidente, a força dirigente da revolução democrático-burguesa na Rússia era o proletariado, a classe mais revolucionária da sociedade contemporânea. A classe operária estava vitalmente interessada na vitória dessa revolução, posto que somente assim poderia obter liberdades democráticas, fortalecer suas organizações, adquirir experiência e hábitos de direção das massas trabalhadoras e sustentar a luta pela conquista do Poder político.
As peculiaridades inerentes à formação e desenvolvimento do proletariado da Rússia condicionavam suas elevadas qualidades revolucionárias. A concentração de grandes massas de operários em grandes empresas contribuía para elevar o grau de consciência e de organização do proletariado. A sua força residia também em que contava com um amplo apoio entre os setores semiproletários da população da cidade e do campo. Nos territórios nacionais da periferia da Rússia (Ucrânia, países bálticos, Cáucaso, etc.) haviam-se formado consideráveis destacamentos do proletariado.
Desde o fim do Século XIX, já o movimento operário constituía fator de importância na vida política do país. No decorrer das lutas grevistas e das ações políticas de massas, a classe operária da Rússia ia adquirindo experiência de luta revolucionária contra o czarismo e o capitalismo.
Nas massas de milhões e milhões de camponeses tinha o proletariado da Rússia, seu aliado natural na revolução. A base econômica de todas as sobrevivências do regime de servidão era a propriedade latifundiária; por isso o problema agrário-camponês era o central na revolução democrático-burguesa na Rússia. Os interesses principais dos camponeses convertiam-nos em aliados do proletariado e em partidários de uma decisiva transformação democrática. Destruir a propriedade latifundiária e conquistar as liberdades democráticas só era possível pela via revolucionária. A revolução russa era uma revolução camponesa mas só poderia triunfar no caso de o proletariado colocar-se à frente dos camponeses e de dirigi-los.
A burguesia russa, atemorizada pelo ascenso do movimento operário e ligada por múltiplos laços aos latifundiários reacionários e ao czarismo, não queria a vitória da revolução democrática, não queria a liquidação do czarismo e de todas as sobrevivências do regime de servidão.
O papel dirigente (a hegemonia) do proletariado, a transformação dos camponeses de reserva da burguesia em reserva do proletariado: tal é a diferença principal entre as revoluções democráticas da nova época, da época imperialista, e as revoluções da época do capitalismo pré-monopolista.
A derrubada do czarismo cujos interesses se achavam indissouvelmente entrelaçados com os do imperialismo ocidental, deveria sacudir inevitavelmente os alicerces do sistema imperialista.
3. No princípio do século, amadureceu rapidamente na Rússia uma situação revolucionária. A crise industrial, o desemprego nas cidades e a fome no campo haviam tornado muito pior a situação das massas trabalhadoras.
O proletariado passava das greves econômicas às greves políticas e às manifestações de rua que transcorriam sob a palavra de ordem de "Abaixo a autocracia czarista!". O movimento operário exercia uma influência revolucionária sobre os camponeses. Em 1902 registraram-se ações de massas dos camponeses contra os latifundiários nas províncias de Poltava e Karkov e na zona do Volga.
A iminência da revolução fazia com que se apresentasse com singular agudeza o problema da direção da luta das massas. Teve imensa importância para os destinos do movimento operário a fundação do Partido revolucionário do proletariado sobre a base dos princípios ideológicos e de organização elaborada por V. I. Lenin e aprovado pelo II Congresso dos P.O.S.D.R. (1903). Os bolcheviques iam ao encontro das gigantescas lutas de classe munidos com um programa marxista que refletia tanto as tarefas imediatas do proletariado na revolução democrático-burguesa como suas tarefas principais tendo em vista a vitória da revolução socialista e a instauração da ditadura da classe operária.
Em luta contra os oportunistas mencheviques, Lenin e os bolcheviques por ele dirigidos, organizaram um Partido revolucionário forte por sua unidade, por sua férrea disciplina, por sua intransigência frente aos inimigos da classe operária, um Partido capaz de unir os milhões de trabalhadores em um poderoso exército revolucionário.
Todo o decorrer do desenvolvimento histórico colocava na vanguarda do movimento operário internacional o proletariado da Rússia, dirigido por um Partido revolucionário marxista. O centro do movimento revolucionário mundial se deslocava para a Rússia.
4. O desencadeamento da revolução na Rússia foi acelerado pela guerra russo-japonêsa de 1904-1905, uma das primeiras guerras da época do imperialismo. Essa guerra resultou do agravamento das contradições imperialistas e do choque entre os interesses das grandes potências que aspiravam a apoderar-se da Coréia, repartir a China e implantar seu domínio na região do Pacífico. A guerra pôs a nu a podridão da organização militar e de todo o regime estatal da Rússia czarista e provocou profundo descontentamento e indignação entre as massas.
O ascenso constante do movimento operário, a crescente impopularidade da guerra no país, a divisão no campo governamental patenteavam que a Rússia havia entrado em um período de profunda crise revolucionária.
Deram começo à revolução os acontecimentos de 9 (22) de janeiro de 1905. Nesse dia foi metralhada em Petersburgo uma manifestação pacífica de operários que se dirigiam ao czar para fazer-lhe entrega de uma petição em que expunham suas necessidades.
Resultaram mais de mil mortos e milhares de feridos. O governo czarista confiava em poder intimidar com essa sangrenta repressão as massas operárias e camponesas e deter o ascenso do movimento revolucionário no país. Mas com essa medida cruel não fez mais que matar a ingênua fé do povo no "paizinho czar". O proletariado recebeu uma lição de guerra civil. As camadas mais atrasadas dos operários começaram a compreender que só poderiam conquistar seus direitos através da luta revolucionária. "A educação revolucionária do proletariado — escreveu V. I. Lenin — progrediu num dia mais que em meses e até em anos inteiros de uma vida monótona, acabrunhada e submissa". ("Obras", t. 8, pág. 77, ed. russa).
O "Domingo sangrento" — o 9 de janeiro de 1905 — foi o ponto de partida de um poderoso ascenso do movimento revolucionário. Em todo o país estalaram greves de protesto. A palavra de ordem do proletariado de Petersburgo "Liberdade ou morte!" foi adotada pela classe operária de toda a Rússia. Durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1905 declararam-se em greve, somente na indústria, 810.000 operários, isto é, duas vezes mais do que nos dez anos anteriores.
Seguindo a classe operária ergueram-se os camponeses. O espírito revolucionário conquistou a juventude estudantil e a intelectualidade democrática. A revolução adquiriu desde o primeiro momento um caráter popular geral.
O proletariado internacional e as personalidades progressistas dos países capitalistas do Ocidente manifestaram seu apoio ao povo russo e seu protesto contra as sangrentas ferocidades do czarismo.
5. O surto cada vez maior da revolução popular exigia do Partido proletário uma acertada e firme direção da luta revolucionária das massas. Mas em conseqüência da atividade divisionista dos mencheviques, não havia unidade nas fileiras do P.O.S.D.R., o Partido estava dividido em duas frações: bolcheviques e mencheviques. Os bolcheviques e os mencheviques concebiam de maneira diversa o caráter, as forças motrizes da revolução e as tarefas do proletariado na mesma, eram diferentes suas concepções sobre os problemas da estratégia e da tática do Partido.
Lenin e os bolcheviques viam a saída da situação interna do P.O.S.D.R na convocação imediata do III Congresso ordinário do Partido. O Congresso deveria terminar com o oportunismo dos mencheviques nas questões de organização e táticas e estabelecer uma tática única do proletariado na revolução democrática.
O III Congresso do P.O.S.D.R., celebrado em abril de 1905 em Londres, determinou as tarefas do proletariado como chefe da revolução e traçou o plano estratégico do Partido na primeira etapa da revolução: o proletariado, em aliança com todos os camponeses e isolando a burguesia, devia lutar pela vitória da revolução democrático-burguesa.
O Congresso elaborou a tática marxista revolucionária do Partido, definiu como tarefa principal deste e da classe operária a passagem das greves políticas de massas à insurreição armada, assinalou a necessidade de preparar praticamente a insurreição. O Congresso chamou as organizações do Partido a apoiar o movimento camponês e a criar comitês camponeses revolucionários. As decisões do III Congresso foram consideradas pela maioria das organizações do Partido um combativo programa de luta pela vitória da revolução democrática e serviram de base a todo o trabalho prático do Partido.
6. Em seu livro "Duas táticas da socialdemocracia na revolução democrática", publicado em julho de 1905, V. I. Lenin fez uma genial fundamentação teórica das decisões do III Congresso, do plano estratégico e da linha tática dos bolcheviques na revolução.
Pela primeira vez na história do marxismo, V. I. Lenin analisou o problema das particularidades da revolução democrático-burguesa na época do imperialismo, de suas forças motrizes e de suas perspectivas. Apoiando-se na análise científica do desenvolvimento social, econômico e político da Rússia e na experiência do movimento revolucionário mundial, V. I Lenin fundamentou teoricamente a ideia da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa, ideia que passou a ser a base da estratégia e da tática do Partido Comunista. Ao mesmo tempo, V. I. Lenin submeteu a uma crítica demolidora os postulados, oportunistas dos mencheviques, que pressupunham a hegemonia da burguesia liberal na revolução a substituição da revolução por pequenas reformas, o retrocesso da revolução e a manutenção do regime autocrático-latifundiário. Lenin pôs em relevo o papel contrarrevolucionário da burguesia liberal e mostrou que esta procurava um acordo com as forças mais reacionárias, um conluio com o czarismo.
V. I. Lenin analisou em todos os seus aspectos a ideia da aliança entre a classe operária e os camponeses sob a direção do proletariado demonstrando que a aliança dessas classes é condição indispensável para o triunfo da revolução popular.
A ideia leninista da aliança da classe operária com os camponeses estabeleceu a divisão entre a tática revolucionária dos bolcheviques e a tática oportunista dos mencheviques.
Na obra de V. I. Lenin foram profundamente estudados os caminhos e os meios de luta dos trabalhadores pela vitória da revolução. Lenin mostrou que a greve política de massas é um poderoso meio para a mobilização revolucionária das massas e para incorporá-las à luta aberta contra o czarismo. Baseando-se na experiência da Comuna de Paris, V. I. Lenin chegou à conclusão de que o meio mais importante para derrubar o czarismo e conquistar a República democrática era a insurreição armada do povo. Depois da morte de Marx e Engels, Lenin colocou pela primeira vez o problema da organização da insurreição armada como tarefa prática, a cuja solução se subordinava toda a atividade do Partido durante a revolução.
Lenin demonstrou que uma revolução democrático-burguesa vitoriosa, em que o proletariado fosse o dirigente e a principal força motriz, não deveria conduzir à ditadura da burguesia, como as revoluções burguesas do passado, mas à ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses. Assim se resolvia de modo novo a questão fundamental da revolução, a questão do Poder estatal. Segundo V. I. Lenin, o órgão político da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses deveria ser um governo provisório revolucionário, que se apoiasse no povo armado.
O extraordinário mérito de Lenin ante o Partido e a classe operária consiste em que, partindo das conhecidas teses de Marx acerca da revolução ininterrupta, acerca da necessidade de conjugar o movimento revolucionário camponês com a revolução proletária, elaborou, na base de uma profunda análise do desenvolvimento econômico e político da Rússia, a teoria da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista. No artigo intitulado "A atitude da social-democracia ante o movimento camponês", Lenin assinalava: "...Da revolução democrática começaremos a passar imediatamente e justamente na medida de nossas forças, das forças do proletariado consciente e organizado, à revolução socialista. Nós somos partidários da revolução ininterrupta. Não ficaremos na metade do caminho." ("Obras" t. 9, pág. 213, ed. russa).
A imensa importância da obra de Lenin "Duas táticas da social-democracia na revolução democrática" consiste também em que, ao fundamentar e explicar as decisões do III Congresso do Partido, a estratégia e a tática revolucionária dos bolcheviques, Lenin derrotou ideologicamente em toda a linha os postulados mencheviques, contrários ao marxismo, sobre as questões da teoria e a tática do Partido na revolução. Ao mesmo tempo, V. I. Lenin desmascarou as concepções reformistas dos dirigentes oportunistas da II Internacional, que apoiavam os mencheviques russos. Desenvolvendo com espírito criador nas novas condições históricas a doutrina de K. Marx e F. Engels, V. I. Lenin deu ao proletariado russo e internacional uma poderosa arma ideológica para a luta pela transformação revolucionária da sociedade.
Ao elaborar a doutrina da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa e na revolução socialista, da aliança da classe operária e dos camponeses e da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses, Lenin impulsionou a teoria marxista, lançou os alicerces políticos (táticos) do Partido Comunista. Lenin enriqueceu o marxismo com a nova teoria da revolução socialista, que foi uma formidável arma ideológica do Partido Comunista na luta pela vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro.
II
7. A marcha da revolução confirmou a justeza e a vitalidade da estratégia e da tática dos bolcheviques. Foi plenamente confirmada a tese leninista de que o proletariado pode e deve desempenhar o papel dirigente no movimento revolucionário. A luta da classe operária determinou todo o desenvolvimento da revolução, seu alcance e suas formas. V. I. Lenin escrevia que "a humanidade ainda não sabia, até 1905, em que proporções enormes, grandiosas, podem crescer e crescem efetivamente as forças do proletariado, quando se trata de lutar por objetivos realmente grandes, de lutar de maneira realmente revolucionária". ("Obras", t. 23, pág. 232, ed. russa).
Nas condições de um país camponês atrasado, a classe operária da Rússia mostrou que a verdadeira força e o papel do proletariado na sociedade não são determinados pelo fato de constituir ou não a maioria da população do país, mas por sua energia revolucionária, por sua consciência política, por sua capacidade para pôr-se à frente da luta revolucionária do povo, por sua aptidão para ganhar as massas camponesas como aliados da revolução.
O proletariado da Rússia desenvolveu poderoso movimento grevista que ia crescendo sem cessar com o ascenso da revolução. A cifra total de operários industriais que participaram de greves chegou em 1905 a quase três milhões. A característica do movimento grevista era a combinação das greves políticas e econômicas. A estreita e indissolúvel conjugação de ambos os tipos de greve dava singular força ao movimento operário.
Um dos acontecimentos revolucionários mais importantes do verão de 1905 foi a famosa greve de Ivanovo-Vosnessensk, dirigida pelos bolcheviques. Desde os primeiros dias da greve, os operários instituíram seu organismo revolucionário, um Soviet de delegados que foi, de fato, um dos primeiros Soviets de deputados operários da Rússia.
Os operários têxteis de Lodz, importante centro industrial da Polônia, deram exemplo de luta política de massas. A greve geral, declarada pelos operários de Lodz, em junho de 1905, como réplica à sangrenta repressão desencadeada contra os participantes de uma assembléia operária, transformou-se em combates de barricadas nas ruas contra as tropas czaristas. Esta foi a primeira ação armada do proletariado na Rússia. Também tiveram lugar choques armados em Varsóvia, Odessa, Riga, Livaba e outras cidades.
8. No outono de 1905, o movimento revolucionário se estendeu a todo o país. Por iniciativa dos operários de Moscou e de Petersburgo, em outubro de 1905 começou uma greve política geral que se propagou a todos os centros industriais fundamentais. A greve de outubro converteu-se em poderosa ação política dp proletariado.
Transcorreu sob as palavras de ordem de "Abaixo a autocracia!", "Viva a República democrática!". O número de participantes da greve geral passou de dois milhões. Sob a pressão das massas, o governo czarista viu-se obrigado a publicar o manifesto de 17 de outubro em que prometia hipocritamente conceder a população as liberdades cívicas e convocar uma Duma legislativa. Com a heróica luta grevista, o proletariado conquistou para si e para todo o povo, ainda que por pouco tempo a liberdade de palavra, de imprensa, de associação em sindicatos e outras organizações, liberdades até então desconhecidas na Rússia; pela primeira vez na história da Rússia apareceram legalmente jornais revolucionários.
Na luta contra o czarismo, a iniciativa revolucionária das massas proletárias da Rússia criou uma nova organização política de massas, sem precedentes na história universal: os Soviets de deputados operários. Surgiram em Moscou, Petersburgo, Tver, Kostromã, Lugansk, Ekaterinoslav, Sarátov, Róstov-sobre-o-Don, Kiev, Odessa, Nikolaev, Novorrossisk, Baku, Kransnoiarsk, Tchitá e em outras cidades e centros operários. Nascidos como órgãos dirigentes da luta grevista, os Soviets de deputados operários converteram-se em órgãos embrionários do novo Poder, o Poder revolucionário.