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"A decomposição da Síria"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 30 de jul.
  • 5 min de leitura
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A Síria, desde a queda do presidente Bashar al-Assad, em dezembro último, é um Estado em decomposição permanente, que só produz mortes.

 

O antigo terrorista, emir do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) ou Comitê de Libertação do Levante, que em outra época foi militante da al-Qaeda, Abu Mohamad al-Golani, hoje convertido em homem de Estado sacramentado por Donald Trump e vários de seus súditos europeus, cujo nome civil é Ahmed Hussein al-Shar’a, parece não poder ou não querer conter os crimes de seus seguidores.

 

Os massacres perpetrados contra as minorias religiosas são um ruído constante. A perseguição e o extermínio por comandos fundamentalistas contra minorias religiosas como os alauítas — comunidade à qual pertence a família al-Assad —, os drusos, que além de serem suspeitos de conivência com o regime sionista, assim como os alauítas, são uma cisão do Islã xiita. Isso é condição suficiente para que sejam considerados apóstatas. A Síria também conta com cristãos e curdos, embora setores deste último grupo tenham feito acordos com o regime de al-Golani, obtendo alguma estabilidade no turbilhão.

 

Após o sequestro de um comerciante druso no último dia 11, na estrada para Damasco, por uma milícia de beduínos sunitas, vários homens da comunidade beduína que vivem nas proximidades da cidade de Sweida — cidade majoritariamente drusa, no sudoeste do país, próxima da fronteira com a Jordânia e das Colinas de Golã anexadas por Israel em 1967, de onde provém a família do atual presidente sírio — foram sequestrados.

 

Já no dia 13, após diferentes incursões de intimidação por comandos beduínos e drusos contra populações civis de ambas as comunidades, iniciou-se uma batalha que se estendeu até o dia 21 e deixou cerca de mil mortos. Embora o epicentro tenha sido registrado em Sweida, capital da província, os combates se estenderam a várias localidades, onde também se enfrentaram, como na capital, bandos pró-governo e combatentes drusos do Movimento dos Homens Dignos.

 

Testemunhos de moradores indicam que os bandos beduínos que penetraram na capital assassinaram famílias inteiras que estavam refugiadas em suas casas, saquearam e destruíram tudo o que encontraram, e que, após sua retirada, as ruas ficaram cobertas de cadáveres, veículos incendiados e barricadas destruídas pelo fogo inimigo.

 

Após os confrontos que deixaram ao menos mil mortos, na maioria civis, o que só anuncia que as fissuras no interior da sociedade síria continuarão se aprofundando, foi estabelecido no domingo, dia 20, um cessar-fogo respaldado pelos Estados Unidos, que têm particular interesse em estabilizar o país, ainda que Turquia e Israel — os dois únicos atores regionais na Síria — desejem o contrário.

 

Como parte da trégua, além da libertação de prisioneiros de ambos os grupos, centenas de famílias beduínas residentes em Sweida tiveram que ser realocadas com urgência para longe da cidade, a fim de evitar represálias da comunidade drusa, majoritária na região. Os combates já haviam forçado o deslocamento de cerca de 90 mil pessoas, a maioria das quais hesita em retornar. O conflito entre as tribos beduínas e a comunidade drusa remonta a séculos, mas desta vez os primeiros, por serem sunitas, sentem-se mais respaldados do que nunca para retomar o conflito que esteve congelado durante os períodos de Hafez e Bashar al-Assad.

 

As Nações Unidas enviaram no domingo um comboio humanitário com suprimentos médicos, mas dois dias após a chegada a Sweida, não lhes foi permitido o ingresso. O cinturão de segurança estabelecido pelas forças enviadas pelo governo permitiu a entrada apenas de veículos do Crescente Vermelho Árabe Sírio.

 

Essas últimas ações são um teste para medir a capacidade de resistência do governo do ex-emir Ahmed al-Shar’a, que responsabilizou grupos marginais pela violência sectária. Além disso, comprometeu-se a defender o direito dos drusos, sem se responsabilizar pelos fatos.

 

O governo não está apenas operando contra as minorias por posicionamento territorial, mas também precisa demonstrar, internamente, que o discurso fanático com o qual doutrinaram milhares de combatentes desde 2011 não se atenuou apesar da “vitória”. Para os fundamentalistas sunitas, tanto os drusos quanto os alauítas ou qualquer outra crença religiosa que não siga sua observância são hereges e devem ser aniquilados.

 

As quadrilhas que respondem de forma não orgânica ao governo do ex-terrorista, o que fizeram em Sweida em fevereiro passado, já haviam feito em Latakia e outras áreas costeiras, onde assassinaram cerca de dois mil alauítas, no que já pode ser considerado uma tentativa de limpeza étnico-religiosa.

 

O bom amigo Netanyahu

Embora os ataques aéreos sionistas contra posições do novo governo sírio sejam frequentes, o do passado dia 16, que teve como alvo o quartel-general do exército sírio em Damasco e outros objetivos no sul do país, nos quais morreram ao menos quinze milicianos do governo, foi justificado por Israel alegando que visava proteger a comunidade drusa e que considerava perigosa a presença de tropas sírias próximas de sua fronteira. Importa assinalar que, a partir da queda de al-Assad, Israel voltou a invadir a Síria, como fez em 1967, quando roubou as Colinas de Golã, e nesta oportunidade apropriou-se ilegitimamente de 400 quilômetros quadrados, o que deixa aberta uma nova possibilidade para mais conflitos.

 

O múltiplo genocida Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, declarou ter ordenado os ataques contra os depósitos de armas porque o governo sírio “tinha a intenção de usá-las contra os drusos”. Já no início do ano, Netanyahu havia advertido o governo terrorista da Síria de que não toleraria qualquer ameaça contra essa coletividade.

 

A comunidade drusa, composta por aproximadamente um milhão e meio de fiéis, dos quais cerca de 700 mil vivem na Síria, denomina-se a si mesma al-Muwahhidun (“povo da unidade”).

 

Fazem do secretismo parte de sua fé, com normas estritas de observância, já que ninguém pode se converter ao drusismo, e seus fiéis têm proibido casar-se com pessoas de fora da religião. Quem renuncia à sua crença está proibido para sempre de retornar. Seus livros sagrados são reservados apenas aos iniciados; somente os considerados espiritualmente mais elevados participam de seus rituais. Seus membros são proibidos de falar sobre suas crenças e práticas rituais.

 

Em Israel, onde residem cerca de 150 mil, é a única comunidade árabe que cumpre o serviço militar obrigatório. No Líbano, onde vive a segunda maior população drusa, com cerca de 300 mil pessoas, são oficialmente reconhecidos como uma seita religiosa, e têm assegurado um número determinado de cadeiras no Parlamento.

 

A região onde se encontra Sweida foi historicamente conhecida como Jabal al-Druze (“a montanha dos drusos”), razão pela qual até hoje é considerada o epicentro da identidade drusa. Embora em 1923 um acordo entre França e Reino Unido tenha dividido a região, deixando o sul de Sweida do lado jordaniano. Ali, cerca de 30 mil drusos continuam vivendo nas áreas rurais próximas a Amã, capital da Jordânia.

 

Na Síria, o grosso da comunidade sempre permaneceu na província de Sweida, no sul do país, que foi uma das menos afetadas pelo longo conflito iniciado em 2010 e que terminou com o derrubamento do presidente al-Assad no ano passado. Seus líderes conseguiram estabelecer um equilíbrio vantajoso com os governantes de Damasco, mantendo o controle das forças de segurança.

 

Sweida contou, durante os governos dos al-Assad (1971–2024), com uma forma semiautônoma, o que lhe permitiu manter-se à margem de muitos conflitos e, particularmente, daquele iniciado com a Primavera Árabe. Isso a converteu em um enclave de relativa tranquilidade ao longo de tantos anos, algo que atualmente entrou em colapso para se tornar uma das frentes mais ativas da “nova” Síria.

 

Alon Pinkas, ex-embaixador e cônsul-geral de Israel em New York, denunciou que os recentes bombardeios de Netanyahu à Síria têm, na verdade, como motivação reforçar a imagem de seu primeiro-ministro, para continuar adiando seu julgamento por corrupção e dar seguimento ao plano de remodelar o Oriente Médio de acordo com as necessidades sionistas — para o qual, um passo determinante é a decomposição da Síria.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

 

 

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