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"Instruções para sujar um chiqueiro, ou o mundo segundo Trump"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 4 de ago.
  • 5 min de leitura
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Convenhamos: o mundo que Joe Biden deixou para Donald Trump não era lá grande coisa. Por isso, o chefão se vê obrigado a aplicar todas as técnicas de vendedor de carros usados, para parecer o que não é.

 

Chegou alardeando que resolveria o conflito entre Ucrânia e Rússia antes mesmo de assumir — algo de que, ao que parece, o presidente Vladimir Putin não foi informado, já que, passados mais de seis meses desde 20 de janeiro, a situação segue fora de controle — ou melhor dizendo, prestes a ser completamente controlada pelos russos, o que ainda divide os analistas da Casa Branca sobre se isso é bom ou ruim.

 

Quanto a Gaza, acontece o de sempre, desde que Israel deixou de ser um simples barco-patrulha dos EUA no Oriente Médio para transformar os Estados Unidos em seu porta-aviões no meio do mundo. Isso lhe permite, sem nenhum pudor, recriar em Gaza um parque temático para que a humanidade não se esqueça de Auschwitz.

 

Nestes tempos em que, com um simples celular, qualquer um pode aspirar ao momento decisivo de Robert Capa, e prestes a se completarem dois anos desde o início do que alguns hipócritas chamaram de guerra contra o Hamas — e que nós, desde sempre, sabemos que nada mais é do que a solução final para a questão palestina —, milhares de fotos que vazaram nas redes sociais obrigaram, há poucos dias, a grande imprensa internacional a “descobrir” a verdade.

 

Transmitido em horário nobre, um genocídio explodiu na cara do mundo, e os líderes europeus (aqui, risadas pelo divertido oximoro) — para não desagradar ainda mais seus eleitorados/financiadores — fingem escândalo e dizem “já chega”. Algo que Netanyahu acaba de acatar, como sempre, por um instante. Tempo suficiente para lubrificar os trilhos das armas.

 

Mas os verdadeiros problemas de cabeça de Trump não são nem a Ucrânia nem Gaza. É um só, e bem grande: a China. E lá vai ele…

 

Com precisão suíça, o Departamento de Estado vem minando, há cerca de quatro anos, a extensa fronteira sul da China — onde Pequim mantém investimentos multimilionários e vitais, especialmente em recursos estratégicos para sua economia, como petróleo e gás — transportados agora não apenas por oleodutos, mas também por rotas e ferrovias que os próprios chineses financiaram.

 

O golpe de Estado em Myanmar, em fevereiro de 2021, e a guerra civil iniciada poucos meses depois — na qual cerca de vinte grupos armados etno-regionais declararam guerra à junta militar — não apenas destroem Mianmar, mas também as multimilionárias apostas chinesas. Assim, Washington começa a incendiar as fronteiras chinesas.

 

Logo em seguida, em abril de 2022, caiu o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, principal líder político do país, que preferiu se afastar dos Estados Unidos para aprofundar as relações com China e Rússia. Hoje, Khan está condenado por corrupção, em prisão domiciliar e proibido de ocupar cargos públicos para o resto da vida. Qualquer semelhança com o que acontece com outra líder da resistência do Sul Global — a presidenta argentina Cristina Fernández Kirchner — não é coincidência.

 

A Khan, seguiu-se, pelos mesmos “pecados”, em agosto do ano passado, a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, com a instauração de um governo dedicado a desmontar a influência de Pequim em Daca, abrindo-se mais uma vez a Washington.

 

O próximo passo para seguir com o incêndio foi a guerra estourada entre Tailândia (pró-norte-americana) e Camboja (certamente influenciada pela China). Embora já em combate, ambas as nações reagiram ao pedido de Trump por um cessar-fogo — o que provavelmente tem muito a ver com as mudanças de planos que os EUA se veem obrigados a fazer após garantir o acordo de submissão e vassalagem que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acaba de consumar com Trump.

 

A Pax americana

Depois que o presidente Trump ligou, durante o fim de semana, para os líderes da Tailândia e Camboja exigindo que resolvessem suas disputas sob ameaça de bloqueio de acordos comerciais, as partes rapidamente acordaram, em uma cúpula na Malásia, um cessar-fogo a partir da meia-noite da segunda-feira, dia 28, encerrando cinco dias de combates que não chegaram a matar 50 pessoas, mas causaram o deslocamento de cerca de 200 mil, devido à intensificação do fogo de artilharia e ataques aéreos da aviação tailandesa ao longo dos mais de 800 quilômetros de fronteira.

 

Combates que estiveram perto de escalar para uma guerra total regional. Agora, as partes se comprometeram com “um cessar-fogo imediato e incondicional a partir da meia-noite de segunda-feira e a encaminhar negociações diretas”. A questão ficou apenas entre parênteses, podendo ser reativada segundo as necessidades políticas de Washington.

 

Esse rápido “êxito” de Trump no Sudeste Asiático, sem dúvida, conecta-se à necessidade de reformular suas políticas contra China e Rússia, após o gigantesco feito que acaba de alcançar: a possibilidade de converter a União Europeia em algo como um Estado Livre Associado — com não muito mais direitos que Porto Rico — a partir dos acordos comerciais que von der Leyen aceitou na segunda-feira.

 

Entre outras coisas, o acordo obriga a Europa a comprar 750 bilhões de dólares em exportações energéticas norte-americanas, além de investir outros 600 bilhões em diversos setores da economia dos EUA — embora a maior parte vá para compra de armamentos. Em troca, Trump “cede” em não aplicar suas draconianas tarifas prometidas para antes de 1º de agosto.

 

O estado crítico da economia da União Europeia é consequência direta das desastrosas políticas belicistas que, a mando do Pentágono, a Europa adotou após a operação especial russa na Ucrânia em fevereiro de 2022. Políticas que apenas ganharam tempo antes da rendição de Kiev — e da constatação, pelos europeus, de que seus recursos foram literalmente para o esgoto, junto com o Estado de bem-estar social.

 

Além disso, fortaleceram a economia russa e reconfirmaram o presidente Vladimir Putin como czar de todas as Rússias.

 

A Europa mantinha intensa atividade comercial com a Rússia, que lhe fornecia gás e petróleo, até que, a mando de Washington, começou a flertar com a entrada da Ucrânia na OTAN — o que todos sabiam ser a linha vermelha para Moscou.

 

Uma vez conquistada a Europa, Trump precisará reafirmar sua preeminência sobre Canadá e México, chantageando ambos com o vai-e-volta das tarifas — transformadas em arma dissuasória todo-terreno.

 

Esse mesmo modelo já está sendo aplicado de forma mais agressiva com o Brasil, em uma escalada diplomática que levou à revogação dos vistos de juízes que investigam Jair Bolsonaro por sua tentativa de golpe.

 

No Brasil, Trump travará sua grande batalha para expulsar a influência comercial chinesa e reabrir um ciclo de domínio absoluto, obrigando o restante dos países latino-americanos à subordinação.

 

Quanto à Argentina, já praticamente derrotada, o que pareceu ser uma mensagem subliminar ao “presuntinho” Milei, Trump ordena: “Lambe-os”.

 

O cubano-norte-americano que será seu embaixador chega para organizar uma ofensiva contra a oposição, encarcerar a presidenta Kirchner em prisão comum e controlar os governadores peronistas.

 

Uma vez colocados em ordem os quintais da América e da Europa, Trump terá as mãos livres para atacar os BRICS, que não param de se expandir e representam uma ameaça comercial realmente temível.

 

Se fracassar em sua investida contra os BRICS, Washington ainda tem recursos para continuar sujando o chiqueiro:

 

Mais sanções contra a Rússia; incentivar o Paquistão a reacender a disputa pela Caxemira (apesar das afinidades “filosóficas” com Narendra Modi); impor tarifas de 100% à China; reativar os conflitos Tailândia-Camboja, além das tensões em Taiwan e no Mar do Sul da China, onde nunca faltam provocações da marinha norte-americana e da filipina.

 

Nunca há garantias de êxito para um plano tão insano quanto esse — mas, sem dúvida, Trump já está tentando criar o mundo segundo ele.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

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