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"A crueldade como espetáculo"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 16 de jun.
  • 5 min de leitura

 

Ver a forma hollywoodiana com que governos fascistas como o de Trump reprimem na Califórnia; Netanyahu apaga à força de bombardeios o povo palestino de sua terra; os massacres e perseguições contra os muçulmanos da Índia pelo extremismo Hindutva, ordenados pelo primeiro-ministro Narendra Modi; até um ser menor, descartável, como o presidente argentino Javier Milei, que agride e joga gás em aposentados famintos pontualmente a cada quarta-feira, leva a perguntar-se: por que eles, sem nenhum pudor, incentivam a exibição de tamanho espetáculo?

 

Seria apenas porque hoje seria inútil ocultá-lo, já que qualquer transeunte com seu celular se transforma em correspondente de guerra de um momento para o outro? Seria por estarem seguros de que sua couraça de impunidade jamais se romperá? Talvez porque sabem que já não são minoria e milhões desfrutam do espetáculo, exigindo nas urnas mais e mais espancamentos, cortes de direitos e bombas de fósforo? Ou talvez para precaver-se dos mornos, advertindo-os de que também terão sua porção de abuso, caso se atrevam a levantar seu fofo traseiro do sofá diante da televisão?

 

Cidadanias inteiras, entorpecidas por brutais operações midiáticas, observam impassíveis e sem reação como líderes de estatura histórica, como o presidente Lula do Brasil, o primeiro-ministro paquistanês Imran Khan ou a figura política mais importante dos últimos 50 anos da Argentina, a presidenta Cristina Fernández de Kirchner, por meio de processos obviamente kafkianos e acusações de corrupção, são condenados à prisão, utilizando os mesmos formatos, com causas inventadas de corrupção, roubo, peculato e, se couber, até abigeato, tráfico de mulheres e falsificação de obras de arte.

 

Essas ações pornográficas, tão bem publicitadas e transmitidas em horário nobre para toda a família, nos levam a perguntar se Hitler, caso tivesse contado com os recursos técnicos necessários, teria instalado câmeras para transmitir ao vivo as contorções de suas vítimas dentro das câmaras de gás. Isso enquanto o ar lhes faltava e o Zyklon B começava a queimar meticulosamente seus pulmões. Ou se Charles De Gaulle teria se atrevido a transmitir ao vivo, desde as salas de tortura da Villa Susini em Argel, o momento em que seus homens fritavam à base de choque elétrico os patriotas argelinos.

 

Agora que já não há vietcongues à vista, nem subversivos, vermelhos, agentes da KGB, “ragheads” ou guerrilheiros, os inimigos são a senhora da casa ao lado, o porteiro da esquina ou o primo do vizinho da minha tia. Ou seja, todos — o que torna o combate para eles mais simples.

 

Talvez algum doutor em alguma coisa possa responder por que antes os nazistas não e agora os nazistas sim. Explicar para qual subúrbio infame se mudou a humanidade, que tornou possível encurralar bilhões de pessoas ao desespero, à vista de todos. Sem provocar mais reações no resto das pessoas além de um bocejo, acompanhado de um espreguiçar à beira do deslocamento de ombro, enquanto se espera pelo jogo de alguma taça ad hoc de futebol ou outra distração qualquer.

 

Esse doutor — em algo que disponha da resposta — talvez possa também articular uma explicação sobre o que levou nazistas e sionistas a esquecerem aquela mínima rusga entre eles, e entenderem-se para marchar unidos e a passo crepitante rumo a um mundo melhor. Esvaziado de palestinos, pardos, árabes, negros, migrantes, refugiados e necessitados de toda sorte.

 

California Dreamin

 

É nesse contexto que Donald Trump, o grande bruxo desses novos tempos exacerbado de ódio, decidiu agora invadir a Califórnia — talvez ignorando que não se trata de um país do Oriente Médio, mas sim do estado com o maior PIB da União Americana, superando os da Índia, Reino Unido, Itália, Brasil, França ou Canadá — imaginemos isso em comparação com nações africanas, asiáticas ou latino-americanas.

 

Os protestos que Trump tenta sufocar eclodiram na sexta-feira passada, dia seis, após uma série de batidas massivas realizadas pelo Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE), em busca de imigrantes ilegais no subúrbio de Paramount, em Los Angeles, onde 82% da população é de origem hispânica.

 

Nesse processo, não importaram detalhes como o fato de que os "ilegais" tinham seus documentos em ordem e viviam nos Estados Unidos há 30, 40 ou até 50 anos, com suas casas, suas famílias, seus amigos, jogando softball no parque todos os domingos — e até com um cachorro chamado Charlie.

 

A pele, o sotaque, os traços e até mesmo seu deus os delatam — eles estão ali para tornar a América pequena, como já declarou Donald “Capitão América” Trump: “a cidade de Los Angeles está sendo invadida e conquistada por um inimigo estrangeiro”, e ele voltou para impedi-lo.

 

Os agentes do ICE haviam se instalado nas proximidades de shoppings, clubes e até igrejas de Paramount para “caçá-los” e a resposta foi imediata: pedras e coquetéis molotovs, destruição de veículos policiais, saques realizados por mexicanos, hondurenhos, guatemaltecos e outras “tribos selvagens” que agitavam com desfaçatez suas respectivas bandeiras. Diante disso, as autoridades tentaram dissuadir com gás de pimenta, balas de borracha e bombas de fumaça — com pouco sucesso, mas conseguiram capturar algumas centenas que possivelmente serão expulsas sem sequer poder se despedir de Charlie.

 

A reação dos cidadãos de Paramount se espalhou para outras regiões de Los Angeles, onde cenas semelhantes se repetiram — o que deu a Trump o pretexto, já no dia seguinte, para ordenar o envio de mais tropas da Guarda Nacional, algo que normalmente depende da decisão do governador do estado.

 

Isso gerou uma forte controvérsia entre Trump e o governador da Califórnia, Gavin Newsom — um possível candidato presidencial para as eleições de 2028 pelo Partido Democrata —, que diante do envio intempestivo, por parte do governo federal, de 4 mil homens da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais sem sua autorização, qualificou a medida como “intervenção ilegal” e uma “violação da soberania do Estado”, pelo que ingressou com uma ação judicial de emergência para bloquear a ordem presidencial. Além disso, criticou o presidente por suas medidas e declarações que teriam provocado a adesão de mais pessoas aos protestos.

 

Após as ameaças de Trump de perseguir e expulsar residentes estrangeiros, o governo californiano declarou-se “Estado santuário” e advertiu que seu Departamento de Polícia não participaria das operações de controle migratório. Isso provocou tensões entre as forças locais e federais — algo que pode escalar para um conflito inédito na história moderna dos Estados Unidos.

 

Esse remendo de Trump remete à medida similar que ele tentou em 2020, para reprimir os protestos após o assassinato de George Floyd em Minneapolis, no estado de Minnesota — embora, naquela ocasião, a medida tenha sido descartada por recomendação de seu Secretário de Defesa, Mark Esper.

 

Como em qualquer rua de Bagdá ou Cabul — e com o mesmo resultado —, bloqueios com Humvees impediram a passagem de manifestantes de Paramount tentando evitar a propagação dos protestos, o que, no entanto, continua a ocorrer, e para o próximo sábado, dia 14, eram esperadas pelo menos 1800 marchas de protesto em todo o país, setenta apenas programadas no sul da Califórnia, sob o lema “No Kings” (sem reis), um movimento que se opõe às políticas racistas de Trump e que, à velocidade da luz, está se articulando por todos os Estados Unidos.

 

As mobilizações do dia catorze coincidem com o desfile militar a ser realizado em Washington D.C., pelo 250º aniversário do Exército dos Estados Unidos — dia em que, além disso, Trump celebra seu 79º aniversário — e, pelo que se vê, está disposto a jogar o país pela janela, sem ter muita clareza de onde ele pode cair.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

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