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Objetividade como baluarte do materialismo filosófico



“Aqueles que afirmavam a originalidade do espírito face à Natureza, que admitiam, portanto, em última instância, uma criação do mundo, de qualquer espécie que fosse..., formavam o campo do idealismo. Os outros, que viam a Natureza como o originário, pertencem às diversas escolas do materialismo.” (Friedrich Engels, em Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã)


[...] “o mundo material, sensivelmente perceptível, a que nós próprios pertencemos, é o único real e de que a nossa consciência e pensar, por muito suprassensíveis que pareçam, são o produto de um órgão material, corpóreo, do cérebro. A matéria não é um produto do espírito, mas o espírito é ele próprio apenas o produto supremo da matéria.” (Friedrich Engels, em Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã)



A categoria filosófica de objetividade é um dos aspectos fundantes da nova concepção de mundo. Todo elemento interessado pela compreensão científica da realidade nacional deve estar ciente do que significa ser objetivo na apreensão desta realidade, dirigindo esforços em preencher as lacunas que envolvem seu conhecimento – isso é processo incessante, tendo ciência da própria mutabilidade do mundo que o envolve. Ser adepto do materialismo filosófico é ser objetivo; a consciência dotada de objetividade é aquela que se submete a realidade objetiva.


A consciência que assume a nova concepção de mundo, detém a certeza de que ela em si é representação do processo real, material, que deriva deste e não ao contrário. Possui entendimento de que o mundo exterior que a circunda movimenta-se de maneira independente de sua vontade e que cabe ao ser envolver-se em investigação científica para devidamente abstraí-lo, desenvolvendo meios concretos necessários para que esteja em condições de modifica-lo. A objetividade deste estágio avançado de consciência não reside somente na compreensão de que “o espírito é ele próprio apenas o produto supremo da matéria”, mas também na rejeição da tese de débil grau de consciência de que o mundo material seria um mero fornecedor de dados para o desenvolvimento do conhecimento humano, onde o fundamental são as “representações diversas” e não a compreensão genuína deste mundo material complexo. A realidade, nesta abordagem, é relegada ao plano secundário em relação à consciência, onde a primeira é mero instrumento de comparação com o mundo ideal: o ser é entendido não como fato social e histórico, mas como idealmente deveria constituir-se. A realidade, para esta consciência, encontra-se num estágio incompleto, de permanente imperfeição, pois ela a priori ressalta o ideal, aquilo que “deveria ser”. Tal apreensão do real como algo que “deveria ser” tendo como paradigma um ser ideal pleno, ignorando a primazia das determinações materiais, é a manifestação mais corriqueira desta forma débil de compreensão da realidade, expondo totalmente a ausência de objetividade. Os adeptos da nova concepção filosófica ressaltam também que a realidade possui contradições a serem solucionadas, é sabido. Mas não operam partindo de um estado ideal de coisas, e sim, da própria realidade: realizam a “análise concreta da realidade concreta”. Então, tornam-se aptos a elaborar um programa político justo, identificando no interior da própria matéria, as tarefas necessárias para a superação de suas contradições historicamente determinadas. Na análise envolvida de objetividade, nas palavras do Mestre Brasileiro, as circunstâncias atuais “não são como deverão ser”, reconhecendo no real seu processo de mutabilidade ininterrupta.


A operação de submeter-se ao processo real da consciência avançada, norteada pela nova concepção de mundo, não ignora as questões particulares da subjetividade humana, mas compreende que esta só é possível devido à preexistência do meio natural e social. O estar ciente de sua determinação pela realidade faz deste estágio de consciência inevitavelmente o mais “aberto” e disposto a conhecer a realidade e seu dinamismo próprio, e por isso não teme a crítica, ao contrário, a abraça com força, pois é perseguidora daquilo que é verdadeiro, ou seja, daquilo que justamente corresponde à realidade. O entendimento de que a consciência humana é objetivamente determinada pelo mundo material, sendo este a única coisa que realmente existe, atribui aos adeptos da nova concepção de mundo a possiblidade de, não somente conhecer o meio material, como também a própria consciência humana em geral, dos graus inferiores e atrasados, aos graus superiores e avançados, onde cada um destes graus possui em seu seio uma concepção de mundo que o orienta sobre um caminho em particular. Todavia, não se tratam de graus de consciência separados por uma grande muralha; a consciência genuinamente crítica só pode avançar, desenvolver-se, na medida em que luta tenazmente contra a velha e atrasada consciência. E mesmo a consciência das mais avançadas acerca da realidade nacional carregará consigo, por longo período, sobrevivências da velha consciência, que não hesitará em combatê-la.


A velha concepção de mundo, idealista, e que norteia o estágio atrasado de consciência, ignora o caráter objetivo da realidade, buscando submetê-la às suas ideias. Para esta consciência, a realidade é um produto do espírito e das ideias. Esta forma arcaica de compreensão da existência do mundo circundante e do ser social, que submete o objetivo ao subjetivo, perniciosamente induz determinados setores sociais a nutrir ilusões acerca da possibilidade de modificação da realidade mediante processos puramente subjetivos (subjetivismo), rejeitando em sua prática toda a tese, cientificamente fundamentada, da necessidade histórica da revolução social em qualquer realidade nacional, encerrada, objetivamente, por contradições de classe, entendendo tal tese como “dogmática”. A título de exemplo: o caráter revolucionário das massas trabalhadoras. Compreendendo que objetivamente este setor é a base de toda existência social, e que por serem necessariamente progressivas, revolucionárias, do ponto de vista histórico, possuem como única missão eliminar as classes que lhes submetem a brutal exploração e humilhação cotidianas. Classes reacionárias, burguesas e latifundiárias[1], dependem de trabalho alheio, do proletariado e do campesinato, respectivamente, para assegurar sua existência enquanto tal; as massas trabalhadoras, que se encontram em processo permanente de empobrecimento – dentro da decadente ordem vigente –, não necessitam destas classes para assegurar a sua sobrevivência e reprodução. Os burgueses e os latifundiários, por isso, cumprem papel parasitário, que empecilha o desenvolvimento progressivo de toda a formação social em nome de seus interesses de classe. A única coisa que tais classes merecem, historicamente, é serem eliminadas.


Os idealistas podem alegar o que quiserem: em última instância, são adeptos de concepção de mundo caduca, correspondente às classes dominantes da formação social que lutam pela manutenção do status quo miserável, e por isso temem a crítica “na raiz”. Ojerizam a realidade, e, por tal fator, limitam-se a criar “novas” representações acerca de fatos.


A nova concepção de mundo, materialista por excelência, correspondente às classes sociais historicamente em ascensão e, por isso, interessadas pelo conhecimento da realidade objetiva, conduz à compreensão de que, para transformar tal realidade, se faz necessária uma consciência constituída como objetiva, destacando que o mundo material só pode ser transformado pela ação dialeticamente crítica e reflexiva, portanto, revolucionária. A objetividade é o baluarte do materialismo filosófico.


Escrito por Horácio Paoli


NOTA

[1] O autor não possui pretensões, neste breve texto, de tratar sobre a distinção das burguesias compradora e burocrática, da burguesia nacional (média burguesia, em outras palavras), na condição semicolonial em que se encontra o Brasil atual. Trata-se da classe burguesa em geral, nos termos mais abstratos.

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