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"A Guerra Civil Espanhola"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 23 de jul.
  • 4 min de leitura
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Aqueles de nós que defenderam a causa da República, se temos algo de que nos arrepender, se temos que nos sentir culpados de algo, é de não tê-la defendido melhor, é de nossas fraquezas, de não termos feito as coisas de forma mais eficaz para conquistar a vitória que tanto merecia o povo. Empunhar as armas para defender a República era um dever de todo verdadeiro democrata, de todo patriota, não apenas porque se tratava de defender o regime que o povo havia escolhido democraticamente, mas, fundamentalmente, porque se tratava de defender as conquistas democráticas desse povo e a vida de seus melhores filhos, ameaçada pelos fascistas.

 

Aos que pensam que, se os partidários da República não tivessem empunhado as armas em defesa do povo e do regime legal que o povo havia livremente estabelecido, teria sido evitado esse terrível derramamento de sangue em nosso país, eu digo que observem o que aconteceu nos lugares da Espanha onde os fascistas tomaram o poder sem encontrar resistência.

 

Mesmo os dirigentes políticos, governadores civis e outras autoridades republicanas que, em muitos locais, se opuseram à resistência popular ou não a lideraram como era seu dever, foram, em geral, as primeiras vítimas da sublevação – e essas vítimas eram exclusivamente do campo democrático –, enquanto a resistência popular, onde houve, também fazia cair membros do campo inimigo. Estou absolutamente convencido de que a não resistência não teria representado menos vítimas para o povo; a única diferença é que essas vítimas pertenceriam única e exclusivamente aos partidários da República e da democracia.

 

Sim, não seria justo esquecer que nos planos dos sublevados estava prevista a liquidação de algumas centenas de milhares de espanhóis, e que isso foi declarado por eles próprios. O que fizeram nas zonas que ocuparam desde os primeiros dias – assassinar tudo que cheirasse a esquerda ou simplesmente a liberalismo, e que, ao final da guerra, repetiram em escala ainda maior nas zonas republicanas – não foi senão a execução de um plano estabelecido antes da sublevação. Mas o que o plano fascista não previa era a resistência popular, nem os três anos de guerra...

 

É claro que, no campo republicano, há responsáveis por a guerra entre espanhóis ter estourado. São os chefes e responsáveis de partidos, assim como governantes, que não cumpriram seu dever, que não tomaram as medidas adequadas frente aos que preparavam a sublevação. E claro que, no campo republicano, houve delinquentes. Mas o que temos nós a ver com isso, os que lutávamos nas frentes de batalha ou os que trabalhavam honestamente nas duas retaguardas?...

 

A luta do nosso lado foi uma luta justa, uma guerra nacional revolucionária. Uma guerra progressista e de libertação que, apesar da derrota, permanecerá como uma página gloriosa das lutas heroicas do povo espanhol. Como a maior epopeia da história moderna espanhola.

 

A agressão armada das forças militares de Hitler e Mussolini e das unidades regulares portuguesas, e o uso contra o povo das unidades marroquinas e da Legião Estrangeira, conferiram à luta popular o caráter de guerra de libertação nacional em defesa da independência, gravemente ameaçada por essa intervenção armada de forças estrangeiras.

 

Por esse mesmo caráter de combate contra a tirania fascista, e em defesa de valores e direitos tão essenciais para um povo como a sua independência e liberdade, essa guerra tinha – simultaneamente – o caráter de guerra revolucionária. O povo compreendia que, ao lutar contra a agressão fascista e reacionária, lutava para destruir as bases materiais do fascismo e da reação na Espanha, razão pela qual se lançou à tarefa com imenso entusiasmo e decisão.

 

A História terá que valorizar o esforço e a capacidade de um povo que, bloqueado pela reação “não intervencionista”, desarmado, atacado por boa parte das próprias forças armadas e pelos exércitos do hitlerismo e do fascismo italiano e português, em meio à luta contra o inimigo declarado e contra as incompreensões, insuficiências, erros e traições, conseguiu criar um Exército dotado de extraordinária fortaleza moral, capaz de manter durante três anos uma resistência eficaz e até de obter, em muitas ocasiões, importantes vitórias sobre seus poderosos inimigos.

 

O povo, que havia esmagado a sublevação em mais da metade do país, enfrentava o problema de criar e armar um exército com mais de um milhão de homens; de organizar uma economia de guerra em um país onde a técnica ainda estava bastante atrasada e em meio a um bloqueio marítimo bastante sério, exercido por navios de superfície e submarinos da frota de guerra da Alemanha e da Itália. Os “técnicos” consideravam essa empreitada fantástica e irrealizável. Mas o povo espanhol, que lutava por uma causa justa, “voltada para o progresso social”, realizou uma série de “milagres”. Em pouco tempo, foram criadas em Madri toda uma série de oficinas que fabricavam munições, bombas e peças de reposição. Em janeiro de 1937, Madri fornecia diariamente ao Exército centenas de milhares de cartuchos. Milhares de operários, sobretudo operárias, tornaram-se, em curtíssimo prazo, mestres nesta arte.

 

As fontes desse heroísmo de massas na guerra da Espanha foram econômico-históricas e políticas. Um fator político essencial interveio na guerra, fator que deu ao heroísmo e ao patriotismo espanhóis profundidade e elevação extraordinárias, que fez com que, nessa guerra, “o patriotismo adquirisse seu verdadeiro sentido”; esse fator foi o proletariado industrial espanhol. O proletariado desempenhou um papel muito importante na organização do Exército e aportou à defesa nacional suas qualidades de iniciativa, de disciplina voluntária, de espírito revolucionário consequente.

 

O heroísmo de massas na guerra foi o resultado lógico das novas condições surgidas após a sublevação. A abnegação e o espírito combativo do novo Exército, assim como os do povo espanhol, seu criador, eram o reflexo ideológico de um novo regime; das novas relações econômicas e sociais que surgiam ao esmagar a reação fascista. Eram a expressão do inquebrantável vínculo entre o heroísmo guerreiro e popular e o caráter político da guerra. A imensa maioria do povo da zona republicana combatia e trabalhava animada pelo entusiasmo revolucionário, considerava que a guerra que travava era justa, que era uma guerra em defesa de sua liberdade e da independência da pátria, contra a reação interna e internacional que, por meio da guerra, pretendia acabar com as conquistas democráticas alcançadas e eliminar o exemplo que a luta espanhola inspirava aos povos de outros países.

 

Do livro “Nuestra guerra: Memorias de un luchador” de Enrique Líster, dirigente do Partido Comunista da Espanha

 

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