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"A Revolução entrelaçou as vidas de duas mulheres extraordinárias"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 4 de jul.
  • 6 min de leitura

 

Muitas histórias já foram contadas sobre Elma “Dalama” Villaron como uma binukot que se transformou em guerreira revolucionária. Mas é pelos olhos de uma companheira de luta vermelha, uma pensadora marxista e amiga de confiança, Luisa “Luing” Posa Dominado, que sua transformação é plenamente compreendida. Essa história nem mesmo terminou com a morte da binukot, já que a própria narradora trilhou uma jornada revolucionária notável. Várias décadas depois, Luing, como era chamada por seus amigos e camaradas, tornar-se-ia vítima do desaparecimento forçado perpetrado pelo Estado.

 

Foi o pai de Dalama, Mal-am Sardin, quem decidiu que ela se tornaria uma binukot. Segundo a tradição Tumandok de Panay, a filha mais bonita é escolhida para ser a binukot da família — isolada desde a infância, isenta de trabalho manual e escondida do mundo exterior. Ela é ensinada a bordar e a cantar o sugidanon — uma forma de literatura oral — e se torna um receptáculo da memória da comunidade. Dalama foi um desses receptáculos, mantida separada, com o papel de preservar a tradição, de permanecer imóvel e de encarnar a graça.

 

Manter uma binukot era símbolo de status e relativa riqueza familiar, pois significava não apenas afastar uma mão de obra útil do trabalho no campo, como também retirar outras mãos da produção para cuidar das exigências da binukot, como buscar água para seu banho e auxiliá-la em suas necessidades básicas.

 

Assim, ela teria um dote de noiva mais elevado, pois qualquer família que desejasse sua mão em casamento teria de provar que possuía meios para manter seu status. Ter uma esposa binukot também era um indicativo de riqueza para a família envolvida.

 

Mas o mundo lá fora não é imóvel.

 

Binukot como uma tradição em extinção

 

Segundo Luing, mais do que qualquer outra coisa, foi a crescente crise econômica dos anos 1960 que empurrou a tradição de manter uma binukot entre os Tumandok à beira da extinção. Tornou-se impraticável para as famílias manterem uma binukot quando já não dispunham de colheitas excedentes no kaingin (área de cultivo por derrubada e queima), e a pobreza exigia que todas as mãos disponíveis participassem da produção.

 

Para Dalama, isso foi agravado pelo aprisionamento de seu pai, após ele liderar uma guerra de clãs, panambi, contra os Akeanon (povos indígenas de Aklan que compartilhavam fronteiras montanhosas). Com menos mãos para trabalhar no kaingin, a família de Dalama aceitou sua decisão de deixar de ser uma binukot. Ela tinha então 15 anos de idade.

 

O encontro de duas mulheres guerreiras

 

Luing contou que, aos 17 anos, em 1971, Dalama frequentou uma escola organizada pelo Novo Exército Popular próxima de sua residência em Aglupacan, Tapaz, Capiz. Lá, aprendeu matemática básica, leitura e escrita. Junto com essas habilidades, também eram discutidas questões sociopolíticas na escola – plantando as sementes de sua consciência política.

 

No ano seguinte, em 1972, o ditador Ferdinand E. Marcos declarou a Lei Marcial. Luing foi uma das muitas ativistas que foram para a clandestinidade. Enquanto isso, Dalama já ajudava a unidade do Novo Exército Popular em sua comunidade. Em 1977, Luing e Dalama se encontraram, ambas como membros do Novo Exército Popular. Foram designadas para a mesma unidade, composta por quatro mulheres — Luing era a única de origem urbana. Ambas tinham 22 anos.

 

Luing viu em Dalama uma compaixão pelas pessoas, mesmo aquelas diferentes dela. Naquela época, as mulheres do Novo Exército Popular eram destinadas a funções no acampamento. Mas elas insistiram em se juntar às unidades móveis junto com os companheiros homens. De acordo com os métodos de trabalho, que visavam fundir suas vidas com as das massas, elas evitavam usar chinelos, já que os povos indígenas andavam descalços. Luing, vinda da cidade, reclamava da dor nas solas dos pés por causa das pedras afiadas e espinhos ao longo das trilhas. Ela insistia em usar chinelos. Suas duas companheiras a desencorajavam, mas Dalama explicava a elas que as solas dos pés de Luing não tinham os mesmos calos grossos que as delas, e que deveriam ter mais compaixão.

 

Mas não foi apenas a compaixão que a tornou uma “destemida combatente vermelha”, como era comumente descrita por seus companheiros homens. Ela também era habilidosa no trabalho militar e se tornaria Ka Randa, uma das primeiras comandantes mulheres a liderar uma unidade do Novo Exército Popular. Tornou-se perita em conduzir ofensivas táticas. Como comandante, carregava um fuzil automático Browning (BAR) — geralmente atribuído a combatentes homens devido ao seu peso de 30 quilos — o que lhe rendeu o apelido de “mulher-BAR”.

 

A abertura de Dalama também a levou a melhorar suas habilidades de leitura e escrita, com a ajuda de Luing. Luing descreveu Dalama como uma estudante diligente e entusiasmada. Dalama copiou incansavelmente todo o Livro Vermelho de Mao em seu caderno para praticar a escrita. Mais tarde, tornou-se instrutora dos cursos do Partido, conduzindo discussões educacionais marxista-leninista-maoistas. Luing recorda que elas faziam uma boa dupla ao ensinar materialismo dialético. Luing apresentava a teoria e Dalama a ilustrava com exemplos. Para explicar o conceito de universalidade e particularidade, Dalama usava a analogia do rio Pan-ay e seus afluentes.

 

Executando a linha do Partido na organização entre os povos indígenas, Dalama negociou acordos de paz entre as comunidades Pan-ayanon e Akeanon para pôr fim à longa história de guerras de clãs. Convenceu-as a se unirem contra um inimigo comum e maior – o monstro de três cabeças: feudalismo, capitalismo burocrático e imperialismo.

 

Foi uma época em que a campanha antifeudal teve êxito ao elevar os salários dos trabalhadores agrícolas sazonais. De 1/10 da colheita de grãos de café e 1/8 da colheita de arroz, os camponeses organizados, com a ajuda do Novo Exército Popular de Panay, conseguiram aumentar suas partes para 1/8 da produção de café e 1/6 do palay (grãos de arroz com casca).

 

Com determinação revolucionária de aprender mais e compartilhar as experiências acumuladas com outras forças revolucionárias, Dalama aceitou corajosamente a tarefa de liderar uma unidade do Novo Exército Popular em uma frente guerrilheira recém-aberta do outro lado da província, longe da família e do lar, com uma cultura totalmente diferente da sua e sem outros povos indígenas além dela.

 

Mãe guerreira

 

Dalama sofria com o dilema da maternidade — o de frequentemente sentir saudade dos filhos enquanto vivia em tempo integral na frente guerrilheira. Mas, com o sucesso crescente do movimento no recrutamento e na acumulação de armas e munições, a moral dos camaradas era alta, o que ajudava a aliviar sua saudade materna.

 

Mas Dalama contava com frequência a Luing sobre seus problemas com o marido, os filhos e os sogros. Queria passar mais tempo com os filhos, mas não conseguia retirá-los da guarda dos sogros, que viviam na cidade e eram de classe média. Além de ser pobre, a família de Dalama vinha das áreas mais remotas das montanhas, inacessíveis até para os povos indígenas das partes mais baixas. Os sogros também desaprovavam as visitas das crianças a ela no interior, temendo por sua segurança. Sugeriram que ela escolhesse entre estar com os filhos ou continuar na revolução armada. E, claro, seu caminho estava decidido.

 

Seu relacionamento com o marido, Baran, também não era fácil por conta das diferenças culturais e de criação. Luing precisava mediar entre os dois sempre que havia conflitos. Luing dizia que Dalama reclamava que Baran aceitava mais facilmente uma explicação vinda de Luing, mesmo que fosse a mesma ideia que ela mesma tentava comunicar.

 

Diante do inimigo

 

Dalama tinha apenas 32 anos quando foi morta em um tiroteio em Maayon, Capiz. Foi em 1987, um período em que o Novo Exército Popular havia iniciado uma linha errada de aventureirismo militar — e os combatentes estavam sobrecarregados, indo de uma ofensiva tática à outra — resultando em muitas baixas.

 

“Se Dalama estivesse viva hoje, teria dado uma contribuição significativa ao Segundo Movimento de Retificação”, foi a conclusão do relato de Luing.

 

Se Dalama era a mulher-BAR, Luing era Kumander Pusa. Ganhou esse apelido por sua habilidade de escapar da prisão. Aos 17 anos, foi presa com um grupo de ativistas estudantis em Capiz, seis meses após a declaração da Lei Marcial, mas escapou da prisão dois dias depois.

 

Quatro anos depois, em 1977, foi capturada em um tiroteio em Hamtic, Antique. E, pela segunda vez, Luing escapou da prisão — desta vez junto com Tomas Dominado, com quem se casou na prisão cinco meses depois. Após isso, juntou-se a Dalama em uma unidade do Novo Exército Popular. Dois meses depois, foi capturada novamente, e participou com outros oito presos políticos de uma fuga bem planejada em 1980.

 

A Lei Marcial já havia sido oficialmente encerrada quando Luing foi presa pela quarta e última vez, durante o regime de Corazon Aquino. Foi libertada em 1993 após dois anos de detenção. Sem poder retornar à luta armada por complicações de saúde adquiridas durante os anos de prisão, tornou-se líder da organização legal Kapatid para defender os direitos dos presos políticos.

 

Em 12 de abril de 2007, sob o regime de Arroyo, Luing e o também ativista Nilo Arado foram sequestrados por homens armados em Oton, Iloilo. O motorista foi baleado no pescoço e deixado para morrer, mas Luing e Nilo foram levados e estão desaparecidos desde então. O seu caso está entre os numerosos casos de desaparecimentos forçados no país.

 

Apesar da passagem do tempo, os legados de Luing e Dalama perduram como símbolos do compromisso inabalável das mulheres com a justiça social e a revolução.

 

(Os detalhes da história de Binukot Elma “Dalama” Villaron foram extraídos principalmente da documentação da professora M.A. Bañez, da UP-Mindanao, publicada na década de 1990, conforme relatado por Luisa Posa Dominado. Tanto Dalama quanto Dominado foram combatentes vermelhas do Novo Exército Popular durante a Lei Marcial)

 

Do Liberation

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