"Alguns aspectos de Louis-Auguste Blanqui"

O exame da atividade de um grande revolucionário como Auguste Blanqui é sempre útil. De tudo que esta tenha de positivo e de tudo que tenha de negativo, se pode e se deve extrair ensinamentos úteis. É lógico que para isso, deve-se sempre considerar as circunstâncias da época e a profunda diferença entre o momento no qual lutava Blanqui e as circunstâncias atuais.
Blanqui foi na França o maior lutador do período que vai de 1827 a 1881. Foi a época do desenvolvimento do regime capitalista na França e da formação do proletariado como classe, na luta e no Choque de todas as ideias socialistas, marxistas, proudhonianas e utópicas.
Nós lutamos, ao contrário, numa época em que o capitalismo vive sua última fase, a fase imperialista, a fase do apodrecimento deste sistema. O proletariado, formado, enriquecido com uma enorme experiência, armado com a ciência do desenvolvimento histórico, o marxismo-leninismo, constata hoje que o socialismo científico de Marx e de Engels, enriquecido e desenvolvido por Lenin e Stalin, passou Por várias provas no decurso de meio século de lutas, atingindo depois o poder numa sexta parte do globo, na União Soviética.
Assim sendo, não é possível comparar-se mecanicamente os aspectos da atividade de Blanqui e dos blanquistas no século passado com o período atual.
Após estas observações, é possível e necessário destacar-se um certo número de ensinamentos da luta de Blanqui.
O Proletário Revolucionário
De 1827 até 1.° de janeiro de 1881, dia de sua morte, Blanqui jamais deixou de lutar.
Ao todo esteve na prisão 37 anos e meio, foi condenado à morte três vezes, recebendo então comutação para prisão perpétua.
Entre os numerosos locais em que esteve encarcerado se destaca o castelo de Belle-isle de onde evadiu-se em 1853. (A evasão para voltar à luta era sempre sua ideia essencial).
Viveu suas. horas mais terríveis no Mont Saint-Michel; no Fort du Taureau em mar alto, perto do litoral de Morlaix, após a Comuna; e, finalmente, em Clairvaux, onde sua cela solitária, forrada com lascas de madeira era um verdadeiro esquife; o silêncio era total, de tal forma que o prisioneiro se sentia como enterrado vivo.
Nem estes longos anos de prisão, nem as condenações à morte jamais conseguiram abalar a firmeza de Blanqui, revolucionário indomável.
Um de seus lemas principais era: "paciência sempre, resignação nunca".
Foi a este homem que Paul Lafargue escreveu de Londres, em 12 de junho de 1879, por ocasião de sua saída de Clairvaux, em seu nome e no de Marx:
"Não existe outro homem em nosso século contra quem a burguesia pudesse desencadear todas as tempestades de suas calunias e de suas perseguições durante mais de 40 anos sem o abalar."
A Luta de Classes
Por que tal firmeza? E por que tanta obstinação do Poder do Estado contra Blanqui?
Este poder de Estado foi o de Luis Filipe, o da aristocracia financeira no poder; foi o da República burguesa conservadora de 1848; foi o do pequeno Bonaparte e enfim o da 3.a República, a dos Versalheses nascida no sangue dos trabalhadores parisienses.
Esta violência do poder do Estado — quer se tratasse de monarquia, império ou "republica" — expressava muito bem os interesses permanentes de um mesmo e único regime social: o capitalismo. E, entretanto, o capitalismo estava em plena ascensão durante toda a vida de Blanqui. Blanqui surgiu no momento da revolução industrial, no momento em que a propagação prodigiosa da máquina a vapor desencadeava o desenvolvimento da grande indústria na França, o desenvolvimento do capitalismo.
Por outro lado, se formava rapidamente a classe operária, a classe dos proletários cuja vida depende unicamente da vontade do explorador.
Contra a classe dominante, a burguesia, esta "classe sem entranhas", ergue-se Blanqui, que se intitula, a si mesmo "comunista. Ele exprime a recusa dos proletários, estes novos escravos, de se submeterem, perpetuamente, a exploração capitalista e à opressão do poder do Estado.
Paul Lafargue define este admirável papel de Blanqui quando lhe escreve na carta citada acima:
— "Já antes de 1848, enquanto estávamos ainda imersos nos sonhos utópicos dos primeiros comunistas, vós tivestes a honra de proclamar a luta de classes".
Este é o primeiro mérito' eminente de Blanqui que consiste em ter constatado e salientado a necessidade da luta de classes.
Em 2 de fevereiro de 1832, na "Sociedade dos Amigos do Povo", republicanos de tradição jacobina cujo chefe era Buonarotti, companheiro de Babeuf, o jovem Blanqui expõe as relações entre as classes na França antes e depois da revolução de 1830.
"Não se deve dissimular que existe guerra de morte entre as classes que compõem a nação".
Tal é o ponto de partida.
Evocando a violenta luta entre os homens da monarquia absoluta de Carlos X e a burguesia cujo poder aumentava rapidamente no período de 1825 a 1830, Blanqui observa no mesmo discurso, após ter relembrado a situação e a ação dos 221: