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"A explosão na construção civil de Pyongyang"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

O texto a seguir é uma tradução de um artigo rico em dados do site 38 North, que se dedica à análises e agrupamento de dados sobre a Coreia Popular, porém ao passo que busca ser o mais técnico possível também acaba tentando se mostrar neutro ideologicamente segundo o próprio, o que nós comunistas entendemos ser uma manifestação de oportunismo ou leviandade.


Recomendamos cautela ao ler o artigo em questão, visto que quando alguém se propõe a ser “neutro” sobre determinado assunto, inevitavelmente vai ceder em favor das ideias das classes dominantes, neste caso, colocando em dúvida a capacidade avançada do espírito criativo, característica indispensável numa sociedade socialista, do povo coreano plenamente consciente de seu papel como dono do Estado e da sociedade, portanto o maior interessado no seu desenvolvimento e o protagonista das mudanças.


Temos consciência de que os avanços que são vistos na Coreia Popular são fruto da ação criadora das massas guiadas e unidas pelo partido da classe operária, classe essa que “encarna no mais alto nível as exigências intrínsecas do ser humano a viver e progredir de maneira independente e criadora”* e tem suas demandas refletidas na Ideia Juche. Para um aprofundamento maior na questão coreana recomendamos também que acompanhem as tags no fim do texto que direcionam para outros artigos no nosso site.


Boa leitura.

A Explosão na Construção Civil de Pyongyang: A Coreia do Norte Está Derrotando as Sanções?

A explosão na construção civil em Pyongyang, junto com outros indicadores de melhora na performance econômica como produção de alimentos e comércio internacional, fornecem mais evidências da ineficácia das sanções econômicas em vigor. A economia norte-coreana parece estar derrotando as sanções graças à ajuda chinesa e o comércio, bem como a realocação dos gastos convencionais com a defesa para a economia civil.


A casca de 105 andares do Hotel Ryugyong tem assomado por décadas no centro de Pyongyang como um lembrete dos infortúnios econômicos da Coreia do Norte pós-URSS.[1] Hoje essa narrativa de destituição parece desmentida pela extrema velocidade do desenvolvimento arquitetônico no resto da cidade, como a prestigiada Rua Ryomyong. Existem tantos prédios magníficos em Pyongyang que a cidade está irreconhecível em comparação com o que era há dez anos atrás.[2] Essa explosão na construção civil parece contradizer a afirmação de que as sanções contra a Coreia do Norte enfraqueceriam sua economia até o ponto da desnuclearização. Mas os novos arranha-céus de Pyongyang são meras fachadas escondendo os últimos espasmos de uma república moribunda, como os críticos afirmam? Ou eles são o símbolo de um novo “amanhecer” e de triunfo sobre o cerco econômico, como o governo argumenta? A política byungjin de Kim Jong Un teve êxito no seu objetivo de liberar recursos convencionais para defesa para realocação na habitação popular? Ou tudo isso é só propaganda elaborada?


Quando 18 torres de 48 andares apareceram no coração da cidade em 2012, diplomatas estrangeiros apelidaram de “Pyonghattan” mas no geral assumiram que seria uma única manobra de publicidade. E tal como as coisas aconteceram, Kim Jong Un tem inaugurado um grandioso, novo complexo de apartamentos quase todo ano desde que assumiu o poder. Em 2013 e 2014, ele viu a conclusão de projetos habitacionais dedicados aos desenvolvedores dos veículos de lançamento espacial Unha (Rua dos Cientistas Unha) e dos satélites Kwangmyongsong (Rua dos Cientistas Wisong). Em 2015 ele honrou os “cientistas do futuro” com 2.500 apartamentos novos na Rua dos Cientistas Mirae, na ocasião do 65º aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coréia (PTC). Finalmente, em 2017, ele celebrou o 105º aniversário do fundador da nação Kim Il Sung com mais de 3.000 unidades do novo complexo na Rua Ryomyong. Prédios funcionais também tem se erguido, como o Teatro Popular Mansudae (2012), o Parque Aquático Munsu (2013), o Aeroporto Sunan (2015) e o Centro de Ciência e Tecnologia (2015), para listar alguns. Até mesmo os grandes projetos residenciais são supostamente finalizados em menos de um ano, e os slogans de propaganda se vangloriam da “velocidade Mallima” (velocidade do cavalo de 10.000 milhas), retomando as campanhas “Chollima” (cavalo de 1.000 milhas) que incentivaram a reconstrução de Pyongyang depois da Guerra da Coreia.


Os observadores da Coreia do Norte estão perplexos com a forma como o Estado pode suportar tais custos de construção, dada a amplitude das sanções econômicas impostas contra o Estado. O Estado não pode recuperar tais custos com vendas imobiliárias, se por lei ele detém toda propriedade, simplesmente entregando imóveis gratuitamente a entidades ou indivíduos que precisam deles. É claro que a noção de custo na economia planificada do país difere consideravelmente daqueles de economia de mercado. Que custos trabalhistas reais existem se a maior parte do trabalho é realizado pelo Exército Popular Coreano? E quais são os custos reais de material se os materiais de construção são majoritariamente fornecidos por empresas estatais? Por exemplo, a Coreia do Norte aparenta ser essencialmente autossuficiente em cimento graças as abundantes reservas de calcário e fábricas estatais como o Complexo de Cimento Sunchon, o qual alegadamente produz entre seis e sete milhões de toneladas anualmente.[3]


Mesmo que, no entanto, a noção de custo seja diferente numa economia planificada, o Estado não pode simplesmente criar algo do nada. Deve haver um custo a se suportar em algum lugar, para além do custo oportuno de se direcionar recursos e mão de obra para o rejuvenescimento arquitetônico de Pyongyang. No mínimo, deve-se ter em conta o desgaste dos equipamentos de construção, pela energia humana e mecânica gasta e pelos materiais de construções importados.


Essa construção foi possível economizando, pelo capital privado, pelo gasto de deficit ou simplesmente por uma economia melhorada? É possível que as fachadas polidas escondam interiores decepcionantes. O Daily NK alegou, por exemplo, que quatro quintos dos apartamentos da Rua dos Cientistas Mirae permaneceram vazios por pelo menos três meses após a inauguração devido à construção inacabada.[4] Mais preocupante, os edifícios podem não ter integridade estrutural. Em 2014, a Agência Central Coreana de Notícias, a agência estatal de notícias do país, noticiou que um edifício de apartamentos de 23 andares colapsou durante a construção devido a “construção descuidada” e “supervisão e controle irresponsável”. [5] Métodos e materiais inseguros podem continuar sendo usados em outras locais de construção, como alguns experts ocidentais suspeitam.[6] No entanto, o governo central tem incentivos fortes para assegurar que a tragédia de 2014 continue como um incidente isolado, dada a importância do rejuvenescimento arquitetônico de Pyongyang para a propaganda estatal. Isso talvez explique porque é tão claramente reconheceu sua responsabilidade em 2014, com desculpas dos oficiais envolvidos e visitas hospitalares pelo próprio Kim Jong Un.[7] Então o argumento de que a festa da construção é costeável pelos cortes de custos é no máximo uma explicação parcial.


É possível também que o rejuvenescimento arquetetônico de Pyongyang seja patrocinado por contribuições do capital privado norte-coreano. A Reuters, por exemplo, noticiou que, “Investidores locais conhecidos como ‘donju’, ou ‘mestres do dinheiro,’ que ficaram ricos na crescente economia de mercado na Coreia do Norte, investem conjuntamente com o governo na construção de apartamentos.” [8] Os donjus supostamente contrubuem com as ditas doações de lealdade. [9] Dependendo da relação do donju com o governo e da legalidade do seu negócio, suas contribuições podem assegurar favores como um bom apartamento, direitos comerciais ampliados ou permissão para continuar operando ilegalmente.


Infelizmente não existem dados confiáveis sobre o peso dos donjus na economia norte-coreana, e nenhuma maneira de avaliar seu papel no abastecimento da explosão da construção em Pyongyang. Uma avaliação objetiva é ainda mais complicada por conta da tendência de muitos relatórios de fora à sensacionalizar a proliferação dos donjus como um prenúncio do colapso norte-coreano, o que leva ao risco de uma superestimação do peso dos donjus e uma