Solidariedade aos professores Nuriye Gulmen e Semih Ozakca em sua greve de fome

Nuriye Gulmen é uma acadêmica turca com uma grande história resistência. Por sua campanha por justiça pelo assassinato de Berkin Elvan [1], foi demitida de seu emprego em 2015, mas, depois de um julgamento, conseguiu-o de volta em 2016. Entretanto foi demitida novamente após a tentativa fracassada de golpe [2], quando Erdogan impôs um estado de exceção e começou a eliminar adversários políticos em todos os níveis do estado.
Para combater esta injustiça ela começou a protestar em Yuksel, uma rua central em Ancara. Ela foi presa diversas vezes, dia após dia, mas nunca desistiu de sua resistência. Um mês após o início do seu protesto, um professor que também fora demitido de seu trabalho por sua oposição ao AKP [3], Semih Ozakca, decidiu se juntar à Nuriye.
Sua luta têm gerado um grande apoio por todos os setores democráticos do país. Porém o governo não se moveu. Então, Nuriye e Semih decidiram começar a greve de fome. Para aguentarem mais tempo resistindo e evitar danos permanentes ao seu sistema nervoso, estão tomando apenas água com açúcar e vitamina B. Apesar disso, os primeiros sintomas de Wernicke-Korskakoff [4] têm aparecido. Além disso problemas de mobilidade e demais problemas de saúde aumentam dia após dia.
A greve de fome gerou apoio maciço não só nas ruas de Ancara e Istambul, mas também no exterior. Diariamente o Estado turco tenta impedir manifestações em várias cidades e bairros, onde dezenas de pessoas são detidas. As prisões decorrem da brutalidade policial e, por consequência, o apoio à luta de Nuriye e Semih está crescendo.
Após uma reunião inicial o governo Turco parecia estar preparado para chegar a um compromisso. Mas no dia seguinte, os dois ativistas foram presos e levados ao tribunal. Sob acusações ridículas mesmo para os padrões turcos, são acusados de serem militantes do DHKP-C [5]. O procurador pede por 20 anos de prisão para ambos. O governo turco teme que Nuriye e Semih possam produzir novos Gezi [6], como em junho de 2013.
Forças democráticas turcas reconhecem que a luta de Nuriye e Semih não é apenas uma luta por seus empregos, mas uma luta para restaurar os direitos básicos de todos os cidadãos.
Nesta luta devemos adicionar outras resistências paralelas a esta, mas que não tiveram a mesma visibilidade. Na província de Dersim, onde o governo assassinou 11 militantes do DHKP-C, Kemal Gun, pai de um deles, exigiu do governo permissão para enterrar seu filho de forma digna. O governo se negou, utilizando várias desculpas, o que fez Kemal iniciar uma greve de fome. A greve durou 80 dias e terminou com a vitória.
Gradualmente, esses exemplos de resistência por meio de greves de fome vão gerando mais seguidores. Nuriye, Kemal e Semih têm obtido solidariedade de pessoas que iniciaram greves de fome de um ou dois dias, dentro e fora de seus países.
Notas:
[1] Berkin Elvan foi um garoto turco de 15 anos que morreu atingido por uma bomba de gás lacrimogênio na cabeça, atirada por policiais durante os protestos contra o governo em 2013.
[2] Refere-se à última tentativa de golpe de Estado feita em 15 de Julho de 2016 por uma parte dos militares das Forças Armadas na Turquia. O governo acusa o religioso Fethullah Gulen como mentor do golpe.
[3] AKP (Adalet ve Kalkinma Partisi) significa Partido da Justiça e Desenvolvimento. É o Partido de Erdogan e governa a Turquia desde 2003.
[4] Grave síndrome neuropsiquiátrica associada à carência de vitamina B1 (tiamina).
[5] DHKP-C (Devrimci Halk Kurtuluş Partisi-Cephesi) significa Partido da Frente de Libertação Popular Revolucionária e é uma organização marxista-leninista atuante na Turquia desde 1978. Possuem forte inserção nos bairros periféricos de Istambul e Ankara.
[6] Refere-se aos protestos da Praça Taksim Gezi em 2013. Inicialmente para protestar contra a demolição de uma Praça, as manifestações logo se tornaram protestos de massa contra o governo.
Do Odio de Clase
Traduzido por Guilherme Nogueira