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"Paquistão: a guerra por outros meios"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • há 2 horas
  • 5 min de leitura
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O Departamento de Estado norte-americano voltou a transformar o Paquistão em um laboratório, aprofundando as relações sempre tensas entre Islamabad e Nova Delhi. Isto se deve à derrota na aproximação que, a partir da criação dos BRICS (2009), a Índia teve com a Rússia e a China. Onde também é incentivada uma aliança militar entre estas três nações.

 

Enquanto Washington trabalha em um tripé de contenção conhecido como Crescente de Contenção Asiático (Filipinas, Japão, Taiwan), ao qual de alguma forma poderão se juntar o Paquistão e Bangladesh, depois que em ambas as nações foram perpetrados golpes contra os governos independentes do paquistanês Imran Khan em 2022 e da bengalesa Sheikh Hasina em 2024.

 

Washington incentivou conflitos na fronteira afegã, já que hoje os mulás, por força da realpolitik, enfrentam o governo do primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif – em última instância, um país muçulmano com cerca de 240 milhões de "irmãos" – e se aproximam de Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano, conhecido ao longo de toda sua história política por seu anti-islamismo ferrenho e seu fundamentalismo hinduísta.

 

Neste contexto, vimos em várias ocasiões Islamabad atacando dentro do Afeganistão posições do grupo terrorista Tehrik-e-Talibán Paquistão (TTP), que atua junto à Linha Durand, como é conhecida a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. Grupo que, segundo Islamabad, contaria com o apoio dos mulás afegãos.

 

Além da militarização da fronteira norte, com cerca de três mil quilômetros, dos quais mil estão cercados e monitorados por câmeras e sensores, os militantes continuam atravessando-a para atacar alvos paquistaneses e voltar ao Afeganistão, pelos mesmos milenares e árduos caminhos que parecem existir apenas para eles.

 

Ancorado neste contexto, os Estados Unidos incentivam Islamabad a enfrentar o fundamentalismo islâmico em todas as frentes em que ele atua, apesar de ter sido um aliado do establishment durante décadas.

 

Em meados de outubro passado, o Paquistão não apenas continuou com sua operação antiterrorista em seu território, como também se atreveu a bombardear a cidade de Cabul, visando eliminar um dos principais líderes do TTP, o emir Noor Wali Mehsud, que teria conseguido sobreviver. Além disso, drones e aviões paquistaneses operaram sobre posições terroristas em outros pontos do interior afegão.

 

Isto provocou a resposta imediata dos mulás, dando início a uma escalada que deixou cerca de trinta mortos e centenas de feridos, que mal foi interrompida pela rápida intervenção diplomática do Catar e da Turquia, continuando a disputa em uma mesa de negociações em Istambul, onde, um mês após o início, ainda permanecem no ponto zero.

 

Portanto, seria previsível que a qualquer momento as hostilidades fossem retomadas. Apesar das promessas públicas de ambos os lados sobre manter o cessar-fogo. Apesar disso, os choques, embora de intensidade muito menor, continuaram até hoje, gerando algumas mortes e feridos civis.

 

Neste contexto, Shehbaz Sharif também pretende controlar o fundamentalismo "não armado" de organizações políticas como o Tehreek-e-Labbaik Pakistan ou TLP (Movimento Aqui Estou Paquistão), o partido que deu grande parte do sustento filosófico e, acredita-se, também suporte financeiro a vários movimentos terroristas.

 

O governo, argumentando as leis antiterroristas, não poupou recursos nem pessoal para reprimir a Marcha do Milhão de al-Aqsa, organizada pelo TLP, no último 7 de outubro, em protesto contra o genocídio em curso que, apesar do falso cessar-fogo, a entidade judaica continua perpetrando em Gaza. Que começou em 2023, sob a desculpa da operação Tempestade de al-Aqsa, que o Hamas realizou em territórios palestinos ocupados ilegitimamente pela entidade sionista.

 

Por todo o país, a Marcha do Milhão de al-Aqsa, que convocou centenas de milhares, foi reprimida com extrema violência pelas autoridades federais, deixando pelo menos uma dúzia de mortos, cinquenta feridos e centenas de detidos. Uma das maiores ocorreu na cidade de Muridke, na província de Punjab, fronteiriça com a Índia, a mais populosa e de maior peso político do Paquistão.

 

Os protestos contra o genocídio em Gaza, que haviam começado na quinta-feira, nove de outubro, se intensificaram no sábado seguinte, quando a polícia iniciou a etapa mais violenta da repressão, atacando os manifestantes com cassetetes e gases de pimenta e lacrimogêneos. Isto levou os militantes islamistas a chamarem a polícia e os rangers que os reprimiram de "capangas a serviço de Israel".

 

Também foram registrados protestos em outras cidades do país, incluindo Lahore, com quatorze milhões de habitantes, capital de Punjab e berço do Tehreek-e-Labbaik Pakistan.

 

As grandes marchas obrigaram o governo federal a fechar milhares de escolas e bancos, suspender atividades comerciais em muitas das cidades onde eram esperados esses grandes protestos e, além disso, interromper o acesso à telefonia móvel e ao serviço de internet, numa tentativa de deixar os manifestantes incomunicáveis e sem difusão.

 

Estes atos políticos, que são verdadeiras marchas, como é comum tanto no Paquistão quanto na Índia, muitas vezes percorrem centenas de quilômetros com longas caravanas levando multidões de uma cidade a outra.

 

Na repressão à Marcha do Milhão, muitas rotas foram bloqueadas para impedir o reforço das polícias. Enquanto isso, no interior das cidades, as principais avenidas e rodovias, como foi o caso de Islamabad, foram as autoridades que bloquearam com caminhões e contêineres para evitar a chegada de mais manifestantes.

 

Em Islamabad, que foi militarizada, os choques entre manifestantes e policiais foram particularmente violentos quando os primeiros tentaram chegar ao edifício da embaixada norte-americana. Na maioria desses confrontos, os manifestantes responderam com pedras, chegando a incendiar meia dúzia de viaturas policiais.

 

A proscrição do TLP

 

Em consequência dos distúrbios, o governo de Punjab, amparado pela lei antiterrorista, solicitou à Autoridade Nacional contra o Terrorismo (NACTA), que controla tanto pessoas quanto organizações suspeitas de serem terroristas, que incluísse o Tehreek-e-Labbaik Pakistan. O que mais tarde seria referendado por Shehbaz Sharif.

 

O TLP tem um extenso histórico de protestos massivos e violentos, a maioria deles em defesa de leis para punir a blasfêmia, inclusive com penas de morte. Além de todo tipo de normas e decisões governamentais que de uma forma ou de outra afetem ou digam respeito ao Islã.

 

Em 2020, sob o governo de Imran Khan, o TLP foi ilegalizado devido aos violentos levantes que seus militantes protagonizaram por causa das novas charges do profeta Maomé com as quais o semanário francês Charlie Hebdo voltou a desafiar os integristas, após o trágico episódio de sete de janeiro de 2015.

 

A postura anti-israelense do TLP, que é apoiada por centenas de organizações menores dentro do Paquistão. Como de praxe, funcionários do governo foram pressionados pelo Departamento de Estado e pela embaixada norte-americana, que atuam como porta-voz de Tel Aviv, já que Israel não tem representação diplomática neste país; responsabilizaram o TLP por incitação ao ódio e instigação à desordem pública.

 

Enquanto a Índia, o principal receptor da oscilante política externa do Paquistão após a queda de Khan, mantém-se cada vez mais atenta às jogadas de Islamabad. Cujas posições agressivas em relação a Cabul apenas tentam pressionar os mulás, para enfraquecê-los e fazê-los abandonar sua crescente aliança com a Índia.

 

Hoje, o Paquistão e a Índia não poderiam ter mais pontos de divergência. De um e outro lado da Linha Radcliffe que separa ambas as nações, vai além da sempiterna tensão por Caxemira. Enquanto Islamabad afunda na instabilidade econômica e de segurança, que o levou a ser o quarto maior devedor do FMI, depois de Argentina, Ucrânia e Egito, Nova Delhi está prestes a se tornar uma potência de ordem mundial.

 

Enquanto Islamabad se subordina às ordens de Washington, Nova Delhi trata de igual para igual com China e Rússia, ambas nações que disputam a primazia mundial na economia e no potencial militar com os Estados Unidos.

 

Neste jogo de pressões que a Casa Branca aplica ao Paquistão, parece estar tentando provocar uma guerra por outros meios.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

 

Nota dos editores: nem todas as posições expressas neste texto ou pelo autor condizem necessariamente e/ou integralmente com a linha política de nosso site ou da União Reconstrução Comunista.

 

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