"Intensificação da intervenção militar dos EUA e a submissão do regime Marcos nas Filipinas"
- NOVACULTURA.info

- 7 de out.
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Introdução
No início de 2024, o imperialismo estadunidense descreveu suas relações militares com as Filipinas como estando “em hipervelocidade”. As bases militares dos EUA se proliferaram, a presença de tropas norte-americanas se multiplicou, e novos acordos políticos, econômicos e militares foram firmados entre os EUA e as Filipinas. Tudo isso esteve em conformidade com a “estratégia de dissuasão” de Donald Trump e o Plano Estratégico Indo-Pacífico do regime de Joseph Biden. Essa política dá continuidade à estratégia de “pivô para a Ásia”, declarada desde 2009 pelo regime de Barack Obama. Essa estratégia visa bloquear a expansão do poder da China na Ásia e impor a hegemonia dos EUA — isto é, sua dominação imperialista — na região.
“Hipervelocidade” também descreve a forma como Marcos e as Forças Armadas das Filipinas (AFP) se apressam em seguir as ordens dos EUA e em desempenhar o papel de marionete designado pelo plano estratégico mencionado. Os EUA recompensam a servilidade de Marcos com apoio político e militar. Entre 2022 e 2024, Marcos recebeu 1,14 bilhão de dólares (₱64,98 bilhões) por meio do programa de Financiamento Militar Estrangeiro dos EUA, além de 332,3 milhões de dólares (₱18,94 bilhões) em outros tipos de ajuda militar. Essa assistência militar foi a maior de toda a Ásia.
Desde que Marcos assumiu o cargo, altos funcionários do governo e das forças armadas dos EUA visitaram as Filipinas pelo menos 14 vezes, começando com a então vice-presidente Kamala Harris em 2022. Secretários e representantes dos departamentos de Estado, Defesa e Comércio do regime Biden vieram em sucessão. Quando Donald Trump retornou ao poder nos EUA em 2025, as Filipinas se tornaram o primeiro país asiático visitado por seu secretário de defesa, Pete Hegseth.
A Casa Branca convocou Marcos cinco vezes para assinar acordos e “roteiros” sobre as relações militares entre os dois países. Em 2023, Marcos assinou as Diretrizes de Defesa Bilateral, que ampliaram o escopo e os objetivos do Tratado de Defesa Mútua e estabeleceram as bases para novos acordos militares desiguais. Esses acordos abriram bases militares para tropas estadunidenses e para o armazenamento de material e combustível destinados aos veículos de guerra dos EUA.
Conceito Abrangente de Defesa Arquipelágica
Em 2024, as AFP declararam que realizariam uma “mudança estratégica” no plano de segurança filipino. Chamaram isso de Conceito Abrangente de Defesa Arquipelágica (CADC, na sigla em inglês). As Forças Armadas das Filipinas afirmaram que o CADC tem como objetivo “garantir às corporações filipinas, e a entidades estrangeiras autorizadas pelas Filipinas, a condução pacífica da exploração e aproveitamento de todos os recursos naturais dentro da zona econômica exclusiva e outras áreas sob jurisdição filipina”.
O CADC não tem nada a ver com a defesa dos interesses econômicos das Filipinas. Trata-se de uma mera cópia do documento militar dos EUA intitulado “Estratégia de Defesa Arquipelágica”, que contém conceitos operacionais referentes ao “Teatro de Operações do Pacífico Ocidental”. Este enfatiza a chamada “Primeira Cadeia de Ilhas” — formada pelos países mais próximos da China, incluindo as Filipinas.
O CADC das Forças Armadas das Filipinas implementa o conceito estadunidense de “negação de acesso/negação de área”, cujo objetivo é privar o “inimigo” (China) de áreas operacionais e da capacidade de lançar “agressões” na região. Sob este plano, os EUA estabelecem uma rede de bases e instalações, abertas e secretas, para montar um sistema de radares, estações de tropas, plataformas de lançamento de mísseis e depósitos de armas (incluindo armas nucleares), além de outros equipamentos, combustíveis e suprimentos de guerra.
Para garantir o fluxo contínuo de comando estadunidense, as AFP criarão ainda este ano o Comando de Defesa Estratégica, que transformará o atual Comando de Educação, Treinamento e Doutrina das Forças Armadas das Filipinas — órgão que há muito tempo atua como difusor da doutrina militar dos EUA.
“Modernização” das Forças Armadas das Filipinas
A modernização das Forças Armadas das Filipinas está sendo implementada dentro do marco da estratégia de Defesa Arquipelágica. As Forças Armadas das Filipinas supostamente visam combater eficazmente a China. Para isso, os EUA prometeram 2 trilhões de dólares para a compra de armas, veículos e outros materiais bélicos fabricados nos EUA. Muitas dessas aquisições foram assinadas ainda durante o regime de Duterte.
Por meio do Roteiro de Assistência ao Setor de Segurança, os EUA ditaram os tipos e as quantidades de armas que entregarão às Filipinas nos próximos 5 a 10 anos. A maioria consiste em equipamentos obsoletos — como caças F-16, grandes navios e radares do Japão — e outras “armas de grande valor” incluídas no programa ReHorizoned 3 das Forças Armadas das Filipinas.
Apesar de suas promessas, os EUA não têm qualquer intenção de fortalecer as Forças Armadas das Filipinas como uma força de defesa nacional independente. O verdadeiro objetivo dos EUA é manter as Forças Armadas das Filipinas e outros aliados asiáticos dependentes e fracos. Os EUA apenas vendem armamentos limitados e inferiores às Forças Armadas das Filipinas. Não permitem que operem armas poderosas como os sistemas de mísseis HIMARS, NMESIS e Typhon, que foram previamente posicionados dentro e ao redor das Filipinas. As Forças Armadas apenas abrigam e protegem essas armas.
Construção de bases militares
Os EUA querem que as Filipinas acreditem que a construção de suas bases e instalações militares serve à “modernização” das Forças Armadas das Filipinas. Em conformidade com isso, os EUA obrigam as Filipinas a arcar com os custos de construção ou reparo de infraestruturas militares e civis em acampamentos e locais escolhidos pelos EUA sob o acordo EDCA.
Em fevereiro de 2023, Marcos ampliou formalmente as cinco “localizações acordadas” de bases militares estadunidenses para nove. O chefe das Forças Armadas das Filipinas afirmou, em seguida, que os EUA pretendem abrir de 10 a 15 novos locais para tropas e material bélico. Os EUA planejam concluir a reforma desses locais até 2026.
Além dos nove locais oficiais do EDCA — em Cagayan (Lal-lo, Sta. Ana), Isabela, Pampanga, Nueva Ecija, Palawan (Puerto Princesa, Ilha Balabac), Cebu e Cagayan de Oro —, os EUA utilizam pelo menos mais oito outras áreas, sob a forma de acampamentos, depósitos, oficinas, portos e bases avançadas em Batanes (Mavulis), Aurora (Casiguran), Ilocos Norte (Burgos) e Zambales (Subic e Baía de Subic). Os EUA expandiram também sua presença em Cagayan (ilhas Calayan e Fuga) e Palawan (Baía de Ulugan e costa de Quezon). Todos esses locais ultrapassam as áreas designadas pelo EDCA. Em 2026, os EUA planejam construir um depósito de reabastecimento de combustível no Golfo de Davao, estendendo-se da costa da Cidade de Davao até a Baía de Malalag.
Os EUA também anunciaram planos para construir uma fábrica de munições na Zona Franca de Subic Bay e uma fábrica de drones na Zona Econômica e Franca do Pacífico de Aurora. Outras empresas militares estadunidenses foram identificadas para se instalar no país sob a Declaração de Visão Conjunta sobre Cooperação Industrial de Defesa EUA–Filipinas, assinada por Marcos em março de 2025.
Grandes e integrados jogos de guerra
Os EUA continuam realizando exercícios militares e jogos de guerra sucessivos e sobrepostos nas Filipinas e em países próximos à China. Isso aumenta a necessidade de mais bases e instalações militares nas Filipinas para estacionar tropas e armazenar equipamentos estadunidenses.
Os “engajamentos” militares planejados sob o Conselho de Defesa Mútua–Conselho de Engajamento de Segurança aumentaram de 300 em 2020 para mais de 500 por ano entre 2024 e 2026. Cerca de 70% a 80% desses são exercícios conjuntos, patrulhas e outras atividades, enquanto 10% a 20% são grandes jogos de guerra envolvendo milhares de soldados.
Nos três maiores exercícios — Balikatan, Salaknib e Kamandag — o número de participantes aumentou de 5.000 a 7.000 em 2020 para 12.000 a 15.000 em 2022, e para 25.000 a 29.000 em 2025. A escala e o escopo desses jogos, como o Salaknib e Balikatan combinados (SaBak), se estenderam de março a junho de 2025.
Sob Marcos, os EUA ampliaram e elevaram ainda mais o nível de seus exercícios militares, posicionando sistemas avançados como HIMARS em 2024 e Typhon e NMESIS entre 2024 e 2025. Os EUA também ampliaram a participação de seus aliados no Pacífico (Japão e Austrália) e na OTAN (França, Canadá, Reino Unido e Alemanha).
Controle dos mares
Em setembro de 2022, os EUA anunciaram a criação da Força-Tarefa 76/3, uma unidade de suas forças navais no Comando Indo-Pacífico permanentemente estacionada no Mar do Sul da China. Essa força-tarefa visa reforçar o controle estadunidense sobre instalações, bases e forças navais no Sul, Leste e Sudeste da Ásia, sob o pretexto de “integração” e “interoperabilidade”.
Trata-se de um novo mecanismo da Iniciativa de Dissuasão do Pacífico, iniciada pelo regime Biden, com um orçamento de 5,1 bilhões de dólares. O programa busca instalar bases nos países ao longo da “primeira cadeia de ilhas” para cercar permanentemente a China com mísseis terrestres de longo alcance.
O Balikatan 2025 iniciou formalmente as operações da Força Rotacional Litorânea (LRF)–Luzon, uma unidade da 3ª Força Expedicionária dos Fuzileiros Navais dos EUA e parte da Força-Tarefa 76/3. A LRF–Luzon foca suas operações no Canal de Bashi, um estreito entre a Ilha Menor de Orquídeas, no sul de Taiwan, e a Ilha Mavulis, no extremo norte das Filipinas, em Batanes. Os EUA chamam esse estreito de “ponto de estrangulamento” das operações submarinas, considerando-o crucial para a entrada de navios estadunidenses no Mar do Sul da China. Sob esse mar passam importantes cabos de telecomunicação que conectam toda a Ásia Meridional. Os EUA agora utilizam Mavulis como “campo de treinamento” para suas forças especiais.
Os EUA formaram a Força-Tarefa Ayungin em 2024 para provocar confrontos marítimos entre a China e as Filipinas no Mar Ocidental das Filipinas. A mando dos EUA, as AFP ampliaram as instalações militares na Baía de Ulugan (Ostra), que serve como porto e estação de reparo para grandes embarcações estadunidenses. Esse local também funciona como ponto de lançamento para as contínuas incursões de navios de guerra dos EUA no Mar do Sul da China, com o objetivo de provocar confrontos armados com a China. As tropas estadunidenses da TF-Ayungin estão baseadas no Comando Ocidental das AFP, em Puerto Princesa, Palawan.
Acordos sobrepostos e cooperação militar
A intervenção estadunidense no país se acelerou desde que Marcos assumiu o poder. Mesmo antes de sua posse, o Comando Indo-Pacífico dos EUA e as Forças Armadas das Filipinas assinaram, em maio de 2022, o Marco de Segurança Marítima. Poucos meses depois, a então vice-presidente Kamala Harris visitou o país para pressionar pela abertura de mais bases e instalações estadunidenses sob o EDCA.
No ano seguinte, Marcos viajou aos EUA para assinar as Diretrizes de Defesa Bilateral, um dos acordos de defesa mais abrangentes entre os dois países. Esse acordo ratificou e alterou o Tratado de Defesa Mútua de 1951 sem o consentimento do Senado filipino. Ele abrangeu várias formas de guerra, incluindo a cibernética, bem como supostos “ataques” no Mar do Sul da China em áreas “cinzentas” designadas pelos EUA.
Isso se tornou a base para a criação do Grupo de Trabalho de Funções, Missões e Capacidades, além de outros acordos, como o Roteiro de Assistência ao Setor de Segurança, o Acordo Geral de Segurança de Informações Militares e a Declaração de Visão Conjunta sobre Cooperação Industrial de Defesa EUA–Filipinas.
Compelido pelos EUA, Marcos abriu progressivamente o país a tropas estrangeiras em 2025. Ratificou o Acordo de Acesso Recíproco com o Japão, permitindo a entrada e saída irrestrita de tropas japonesas. Assinou também um Acordo sobre o Estatuto das Forças Visitantes com a Nova Zelândia, concedendo-lhes direitos extraterritoriais. Planeja assinar acordos semelhantes com o Canadá e a França, além de permitir a instalação de tropas e equipamentos japoneses e australianos por meio de acordos como o EDCA.
Corredor Econômico de Luzon
Diferente de países que promovem soberania econômica, o governo fantoche de Marcos apressa-se em submeter as Filipinas não apenas a programas militares, mas também econômicos e políticos. Ele se alinha à política de “porta escancarada” do regime, favorável aos saqueadores estrangeiros da economia local, em troca de pequenos investimentos e de uma ínfima participação no mercado estadunidense.
Em 2022, os EUA estabeleceram um escritório da Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA (USTDA) na Metrópole de Manila, a fim de fortalecer seu controle sobre políticas e projetos econômicos no Indo-Pacífico. Essa agência facilitará o domínio das empresas estadunidenses sobre setores recém-abertos, como utilidades públicas, telecomunicações, infraestrutura, energia, mineração e expansão de plantações comerciais. Também foi assinado, naquele ano, o Acordo 123, que abriu caminho para a instalação de usinas nucleares no país.
Recentemente, Marcos assinou com a USTDA um acordo para estudos preliminares sobre o projeto ferroviário Subic-Clark-Manila-Batangas (SCMB). A ferrovia SCMB e suas pontes e rodovias conectadas ligarão grandes bases militares estadunidenses (locais do EDCA) em Luzon, facilitando a transferência de armas, pessoal e veículos militares entre elas. O projeto faz parte do Corredor Econômico de Luzon (LEC), um programa trilateral entre os EUA, as Filipinas e o Japão, voltado para acelerar o despejo de capital imperialista, pessoal e equipamentos através de projetos de infraestrutura em energia renovável, portos, aeroportos, pontes e estradas.
Devastação e ruína para o povo
Sempre que os militares estadunidenses realizam jogos de guerra nas Filipinas, dezenas de milhares de pescadores enfrentam proibições de navegação, perdendo seus meios de subsistência. Em 2024 e 2025, os EUA e as Forças Armadas das Filipinas impuseram políticas de proibição de navegação nas províncias de Zambales, Ilocos Norte e Palawan para dar lugar a exercícios com fogo real de lançadores de mísseis HIMARS ao longo da costa. Pescadores e agricultores de Aurora também foram impedidos de trabalhar durante os exercícios de atracação de navios de guerra dos EUA na região. Em Aparri, Cagayan, pescadores foram proibidos de sair ao mar em maio de 2025 para ceder espaço aos exercícios militares dos EUA chamados Counter Landing Live Fire, afetando 15 mil pescadores registrados na área.
As atividades marítimas multilaterais conduzidas pelos EUA junto com Japão, Canadá e Austrália devastam e colocam em risco as águas municipais usadas como área de pesca pelos pequenos pescadores. Esses exercícios incluem disparos navais e o afundamento de navios, que danificam áreas de pesca e ecossistemas marinhos.
Voos noturnos de drones e aeronaves, bem como exercícios com artilharia perto das residências, trazem barulho ensurdecedor e ansiedade às comunidades civis.
Oposição e resistência anti-imperialista
O povo tem consciência de que a expansão da presença militar dos Estados Unidos e a aceleração de sua intervenção nas Filipinas servem ao objetivo estratégico de conter a influência da potência imperialista rival, a China, e manter sua hegemonia na Ásia.
Moradores afetados em Ilocos, Zambales e Cagayán denunciam e se opõem aos danos causados pelas tropas norte-americanas em suas regiões. Suas manifestações expressam claramente a rejeição à presença e às atividades militares dos Estados Unidos e de seus aliados.
Protestos enfrentam as visitas de altos funcionários norte-americanos, as aberturas dos jogos de guerra Balikatan e até mesmo as viagens de Marcos aos Estados Unidos. Grupos nacionais democráticos expressam sua oposição à intervenção militar diante da embaixada dos EUA, do Palácio de Malacañang e do quartel-general das Forças Armadas das Filipinas. Eles condenam o descarado atropelo da soberania filipina pelos EUA e o fato de arrastarem o país para guerras imperialistas que, certamente, devastarão amplamente o povo e a nação filipina.
Nos próprios Estados Unidos, filipinos migrantes se opõem ativamente aos exercícios de guerra — não apenas nas Filipinas, mas em toda a região da Ásia-Pacífico — que colocam em risco populações de vários países e territórios. Eles exigem que o governo norte-americano cesse o financiamento e a assistência militar às forças fascistas das Forças Armadas das Filipinas.
Do Ang Bayan




















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