"O cartel USA"
- NOVACULTURA.info 
- 17 de set.
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Dizia, com sobrada razão, o escritor uruguaio Eduardo Galeano que, quando os Estados Unidos invadem um país, o convertem em um cemitério ou em um manicômio. Talvez tenha faltado especificar que, em muitos casos, também o consolidam como um território em que prospera a produção e o tráfico de drogas — ocasião em que o manicômio e o cemitério se unem.
Essa observação vem a propósito da encenação contra a Venezuela, acusando-a de abrigar um cartel, ao qual chamam de “Dos Soles”.
Seu objetivo é envolver uma das colunas de sustentação da Revolução Bolivariana, a Força Armada Nacional, cuja doutrina patriótica é criação 100% do comandante Hugo Chávez, e tentar derrubar o governo legítimo de Nicolás Maduro, mediante a ameaça.
O pretexto de enfrentar o narcotráfico para invadir não é novidade e tem sido empregado por vários governos estadunidenses a fim de justificar sua intromissão imperial em praticamente todo o mundo. Paradoxalmente, a realidade é outra, e na verdade, neste momento, os EUA são, sem dúvida, o maior narcoestado do mundo. Suas invasões, longe de resolver o trágico problema do narcotráfico, na realidade o têm incentivado.
COMO CONVERTER UM PAÍS EM UM TERRITÓRIO NARCOTRAFICANTE
Já se sabe que os EUA são o principal consumidor de drogas do mundo, e também o maior fornecedor das armas que o crime organizado utiliza para expandir esse tráfico. Com suas numerosas intervenções, não fizeram outra coisa senão expandir o narcotráfico — provavelmente para garantir a colossal oferta de que necessitam dentro das próprias fronteiras do país.
Como incidir para converter um país em um território narcotraficante parece ser um dos axiomas ou propósitos que estão nos manuais de agressão militar do Pentágono. Seja porque o propõem de forma taxativa, seja como fruto do caos que a agressão gera e, de passagem, incluindo certa dose de tolerância por parte das forças conquistadoras ocupantes.
Um dos casos mais emblemáticos, em que se observa a conjunção de todos esses fatores, foi a guerra de agressão ao Vietnã. Evidências reveladas indicam que se incentivava o uso de drogas entre os próprios invasores, que sofriam crescente desmoralização, até chegar a rendosos negócios em cadeias de oficiais e estruturas logísticas dos marines e outros, para traficar drogas até as comunidades estadunidenses.
Durante essa guerra, adquiriu alto perfil midiático o envolvimento da CIA no tráfico de ópio no chamado Triângulo Dourado, cujo nome revela o quanto prosperavam nesse negócio os espiões estadunidenses. O referido Triângulo abrangia parte do Laos, Tailândia e Myanmar, e envolveu diretamente a tribo Hmong, como dano colateral no afã de exterminar não só as vítimas da agressão, mas também suas formas de organização e suas culturas.
Recorda-se, desses anos, Richard Nixon, que foi o primeiro presidente estadunidense a se comprometer publicamente a combater o narcotráfico, em 1971; chamou isso de “Guerra contra as drogas” (War on Drugs). Em paralelo, seus subordinados faziam das suas.
Anos depois, a própria CIA desenvolveu um programa que pode ser classificado de maquiavélico — ou seja, o fim justificava os meios — em virtude do qual venderam armas ao Irã, então submetido a sanções. Portanto, era uma venda proibida, e com os ganhos financiaram outro tipo de invasão — chamadas encobertas — com os chamados “contras” na Nicarágua. No esquema, tanto os oficiais da CIA como os mercenários nicaraguenses participaram do tráfico de cocaína para os EUA.
No Oriente Médio, as evidências da participação de agentes e membros do exército ou instituições como a CIA no negócio da droga estão diretamente associadas às guerras desenvolvidas ali. Sempre se exemplifica com o ocorrido no Afeganistão, onde, após a invasão de 2001, a produção e o comércio de ópio aumentaram significativamente, passando de 185 toneladas naquele ano para 9.000 em 2017.
Por sua vez, na Líbia, também convenientemente invadida, prosperou o tráfico de drogas proibidas, entre as quais estão a papoula ou haxixe e, mais recentemente, a cocaína. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), depois da invasão de 2011 e da queda de Kadafi, observou-se um aumento do fluxo desta última, proveniente da América do Sul, redirecionada para a Europa, o segundo maior mercado global de opioides.
Da mesma forma, o conhecido Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, EUA) afirmou que a Líbia se converteu em um centro logístico internacional do crime organizado.
TAMBÉM SEM INTERVENÇÃO DIRETA
Não é necessário intervir — com toda a parafernália bélica — para que, de toda forma, o cartel EUA atue, com particular perigosidade em Nossa América. Dois casos são representativos no pior sentido: Colômbia e México.
No mal chamado quintal dos EUA, sua participação no enfrentamento ao comércio de drogas ilícitas provocou exatamente o contrário dos resultados prometidos; como ocorreu com o Plano Colômbia, concebido para abater os cartéis colombianos e as guerrilhas, e que supôs gastos multimilionários ao orçamento estadunidense.
Implementado desde 2000, o Plano Colômbia provocou o chamado “efeito balão”, em virtude do qual a produção de cocaína se realocou territorialmente e se multiplicou, deixando outros danos como os causados ao meio ambiente e à saúde. Aproveitando as circunstâncias, com o Plano, o Pentágono deslocou tropas estadunidenses, e soube-se que onde se instalaram, prosperou sem entraves a produção e a comercialização de cocaína.
Por certo, a tarefa foi obviamente assumida pelo Comando Sul (Southcom), o mesmo que está envolvido na “operação antidrogas” contra a Venezuela.
Em relação ao México, como alguém disse — tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos —, várias instituições ianques também acumulam um histórico de fracassos, intervencionismo e não poucos casos de envolvimento de seus oficiais e altos mandos no tráfico de substâncias proibidas.
De grande destaque midiático foi a operação “Rápido e Furioso”, do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) dos EUA, desenvolvida entre 2009 e 2011, que, sob esse título cinematográfico, patrocinou vendas de armamento aos cartéis mexicanos.
Em geral, a farsa do enfrentamento ao narcotráfico é uma velha estratagema imperial para justificar sua intromissão nos assuntos internos latino-americanos. Em razão da torpeza ou do aberto intervencionismo com que fizeram isso, mais de uma vez a DEA e outras instituições estadunidenses foram expulsas por governos latino-americanos com uma dose de dignidade e suficiente valentia.
Conclusão
O tema merece atualizações permanentes, mas pode-se reiterar uma consideração de economia elementar: se não há demanda, não há oferta.
Francamente, as autoridades estadunidenses bem que deveriam destinar todos os seus recursos, de verdade, contra o negócio da droga em seu próprio país e, em paralelo, implementar uma política social que enfrente as causas da dependência e da alienação de milhões de consumidores. Assim não haveria necessidade de invadir a Venezuela nem qualquer outra nação.
Convém recordar aos estrategistas estadunidenses, caso lhes sirva em sua análise sobre o que fazer na Venezuela, o que disse o líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, por ocasião do 5º aniversário da fundação da ALBA, em 2009: “A união entre Cuba e Venezuela é uma união de irmãos, de povos que se reconhecem na mesma luta”.
Do Granma



















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