"Um novo olhar sobre a China de Mao"

Jan Myrdal e sua esposa retornam da China com relatório sobre as mudanças causadas pela Revolução Cultural.
Liu Ling é uma vila enterrada entre as colinas ao norte da Província Shensi. É pequena - 37 famílias moram ali. É a sede da Brigada Liu Ling da Comuna Popular de Liu Ling. A brigada consiste em 161 famílias.
Economicamente, a região norte de Shensi é uma parte pobre e atrasada da China. Politicamente, foi o centro revolucionário durante a década de 1930 e na guerra contra o Japão. Yenan, onde a Revolução Chinesa foi nutrida, é próxima de Liu Ling, e o espírito de Yenan de trabalho duro e vida simples é um modelo para toda a China agora, após a Revolução Cultural. Mas a própria Liu Ling não é um modelo. Liu Ling não é uma das melhores brigadas na área de Yenan. Nem é uma das piores. É considerada ligeiramente acima da média.
Até a menor vila, a China está claramente em um período de rápido desenvolvimento econômico baseado na autossuficiência e recursos internos. A China não aceita qualquer auxílio estrangeiro. Os empréstimos para desenvolvimento da União Soviética foram pagos. A China pagou até mesmo por todos os materiais de guerra que a União Soviética entregou aos Chineses durante a Guerra da Coreia.
Minha esposa Gun e eu estivemos na China de abril de 1962 até janeiro de 1963, e acabamos de retornar após outra visita. Ficamos por mais de seis semanas desta vez. Já que visitamos cidades grandes e indústrias, universidades e instituições científicas, talvez aparentasse normal se nós descrevêssemos - por exemplo - a nova estação de rastreamento de satélites fora de Nanquim, onde jovens cientistas Chineses analisam os movimentos dos satélites Estadunidenses e Soviéticos sobre a China.
Isto é importante. Mas dada a história da China, mais a laboridade industrial e as conquistas científicas dos Chineses, não tenho dúvidas de que as palavras frequentemente citadas de Mao Tsé-Tung - que a China irá conquistar tudo o que os países estrangeiros conquistaram e que a China com certeza irá conquistar coisas que os países estrangeiros ainda não conquistaram - são corretas. Afinal, os Chineses compõem um quarto da humanidade.
Porém, o que é decisivo para o desenvolvimento da China é o que está ocorrendo no grande interior. Como moramos na vila Liu Ling em 1962, pedimos permissão para retornar após sete ano. Nós ficamos por duas semanas – 13 dias para ser exato – em Liu Ling.
Não tem nada de muito espetacular sobre o que está acontecendo nas vilas, tais como os fatos que estavam sendo relatados nas grandes cidades durante a Revolução Cultural; mas a revolução está arando muito fundo. Os desenvolvimentos no campo, a revolução entre as centenas de milhões de camponeses Chineses, são de suma importância não apenas para a China, e nem apenas para a Ásia, mas para o mundo.
A família Liu em Liu Ling
Pai: Liu Chen-Yung, 37
Mãe: Li Yang-ching, 36
Crianças:
Liu Lan-shuan, garota, 16, sétima classe
Liu Lan-fang, garota, 11, quarta classe
Liu Lu-wa, garoto, 9, segunda classe
Liu Shao-lu, garoto, 7 - ainda não está na escola.
Liu Lian-hong, garoto, 2 - também na pré-escola.
Liu Chen-yung e Li Yang-ching ainda não mudaram muito durante esses sete anos. Ele ainda é um homem quieto e pensativo. Ela é falante e brincalhona. Eles têm cinco crianças agora. Os quatro filhos mais velhos tomam conta dos mais novos. O lar é bem cuidado. Ambos os pais trabalham duro. Eles não têm postos oficiais (Ele foi um membro do Partido desde 1955, mas nunca teve nenhuma função governamental ou dentro do partido). Eles são respeitados pelo povo e são considerados uma família feliz.
Eles são ordinários. Ordinários como Petterson em Estocolmo ou Smith em Des Moines. Eu não quero insinuar nada depreciativo por “ordinário”: é, afinal, apenas pessoas ordinárias como Petterson, Smith e Liu que fizeram toda a história humana. Quando eles movem, o mundo muda.
Ele é um pastor agora. Ele toma conta das ovelhas e dos bodes da brigada. Ele foi eleito para este trabalho em 1966. Em uma reunião, eles discutiram sobre as diferentes funções. Pessoas disseram que ele tinha jeito com animais, que ele era um trabalhador cuidadoso, que nunca tinha feito nada de maneira precipitada. Assim, ele foi eleito.
Ele leva seu rebanho para as montanhas cedo de manhã e retorna quando o sol se põe. Em casa, é ele quem busca água da nova fonte, que corta lenha, que varre o quintal. Nas tardes, ele tricota. Os homens tricotam nesta região.
Ela toma conta do lar e trabalha na brigada, trabalha 220 dias por ano. Quando ela está no trabalho e as crianças mais velhas estão na escola, o garoto de dezessete anos cuida de seu pequeno irmão. Agora, pelo fato do garoto de dezessete está para iniciar seus estudos, os vizinhos tomarão conta do pequeno irmão. “Não há problema nisso. As pessoas se ajudam”.
Eles têm discutido sobre e decidiram que cinco filhos é o suficiente, agora, eles usam métodos contraceptivos.
No último ano, a família começou a construir duas cavernas de pedra. Eles têm esperado um ano para elas secarem. A moradia irá custar 600 yuan (1 yuan equivale a aproximadamente 42 centavos de dólar), que pode ser um preço alto, porém, tudo está incluso – instalações elétricas, carpintaria –, tudo.
Dezesseis das 37 famílias da vila (59 das 161 famílias da brigada) construíram novas cavernas de pedra. Duas cavernas para uma família (“Caverna” é um nome impreciso. As “cavernas” do Norte de Shensi não são realmente cavernas, são casas de pedra muito bem construídas).
A velha, porém, não tão velha caverna, construída em 1961, será mantida e usada como uma despensa. A família tem economizado para poder construir a caverna, e também, eles têm vendido porcos para o estado. Por ano, eles compram dois porcos da brigada por 4 yuan. Eles abateram um no final do ano e o comeram, e venderam o outro para o estado por 50 a 60 yuan.
“Sim,” diz Liu Chen-yung, “isso é um desenvolvimento importante durante a Revolução Cultural. Nós temos construído muito. E não é apenas o povo que têm recebido novas casas; os animais, também, ganharam casas de pedra reais. Ainda há muito mais construção capital”.
Eles têm participado em grandes discussões durante a Revolução Cultural. Li Yang-ching criticou Feng Chang-yeh, o antigo presidente da brigada e secretário do partido: os quadros políticos tem ficado apenas sentados em escritórios, evitando trabalho manual. Eles começaram a tomar decisões por eles mesmos, dão ordens. Os quadros não estudaram Presidente Mao.
Mas, após a crítica, eles ficaram melhores e, portanto, Feng Chang-yeh pode depois ser eleito presidente do novo Comitê Revolucionário.
Como membro do partido, Liu Chen-yung tomou parte na organização de muitas reuniões durante estes anos. “No começo da Revolução Cultural, a filial do partido não fez nenhuma reunião fechada. As massas tinham de ser mobilizadas. Elas devem ser ajudadas para começar uma discussão crítica real. Assim, as massas se educam”.
Nem ele ou ela podiam ler sete anos atrás. Agora, a filha deles, Liu Lan-shuan, os ensinou a ler no pequeno tesouro vermelho, Citações do Presidente Mao Tsé-Tung. Na primavera de 1967, a filha voltou da escola e disse que todos deveriam estudar e que ela mesma ensinaria os pais a ler. Isso foi feito por toda a vila. Em quase todas as famílias, os estudantes tomaram parte no movimento para ensinar os mais velhos a ler.
Duas vezes por semana, toda a família agora estuda as palavras do Presidente Mao. A filha ensina o que ela aprendeu na escola e explica os caracteres um por um e ensina seus pais a ler. Então, todos discutem juntos a citação e como ela pode ser aplicada.
Nós devemos aplicar o que aprendemos”, diz Liu Lan-shuan. “Se nós não aplicarmos os ensinamentos do Presidente Mao de forma concreta, não aprendemos nada”.
Em 1962, Liu Chen-yung ajudou sua esposa na casa. Eles eram um casal jovem, e isso sempre foi considerado bom e progressivo. Agora, ele fica em casa e toma conta das crianças á tarde quando ela participa da reunião da brigada.
Durante a Revolução Cultural, as mulheres tinham exigido que fosse dada a elas a oportunidade de irem ás reuniões. Em teoria, eles eram iguais, mas na prática, os homens deixavam para elas todos os cuidados dos filhos e iam sozinhos para as reuniões. Houve algumas discussões sobre essa demanda. Muitas pessoas disseram que homens não serviam para cuidar de crianças: “Eles não podem amamentá-los”, diziam. Mas, durante a primavera de 1967, as mulheres conseguiram que a brigada tomasse uma decisão que deram às mulheres o mesmo direito dos homens de ir ás reuniões e que os homens tivessem o dever de ficar em casa e tomar conta das crianças enquanto as mulheres atendem a reunião.
“É bom para os homens aprenderem a tomar conta das crianças”, ela diz, “e é bom para as crianças também. Antes, era quase apenas homens que frequentavam e falavam nas reuniões, enquanto as mulheres frequentemente tinham de ficar em casa e cuidar dos filhos. Agora, as mulheres também discutem e decidem, porque os homens aprenderam como cuidar dos filhos”.
Viver ficou melhor
Nós chegamos em Liu Ling cedo de manhã quando a geada da noite ainda se encontrava nas sombras. A vila mudou após estes sete anos. Tinha uma aparência diferente.
A vila Liu Ling estava sendo reconstruída de uma forma planejada. O plano foi discutido e decidido por toda a brigada. Durante os próximos cinco a dez anos, todas as famílias na brigada se mudarão para novas cavernas de pedra, que se espera que fiquem em pé por 500 anos sem grandes reparos.
O grande alto-falante do lado de fora das sedes da brigada foram movidos para as escolas. A maioria das famílias agora tem rádios individuais, incluindo pequenos conjuntos de transistores. O número de bicicletas e carrinhos de duas rodas nos lares aumentou (como também aumentou o número de cães, agora há dez grandes e amigáveis cães pastores na vila. Eles não são cães que trabalham; eles são de estimação. Mas eles não são vira-latas de rua, entretanto).
O padrão de vida aumentou. A Revolução Cultural não significou uma diminuição dos padrões para a maioria. Em Liu Ling, a “luta entre as duas linhas” não foi uma luta entre aqueles que apoiam “uma vida melhor” (baseada em consumo privado) e aqueles que apoiam a “diminuição dos padrões de vida” (investimentos coletivos).
Pegue o caso da debulhadora. Eles sempre debulharam com malhos ou bois. Na reunião geral do inverno passado, Mau Pei-hsin, o eletricista, apontou que como eles tinham eletricidade, eles poderiam usar uma debulhadora. Para comprar uma custaria á cada membro da brigada três yuan, porém, isso iria aumentar a produtividade. Após uma longa discussão, foi decidido na reunião comprar a máquina.
Isso não pode ser interpretado como uma luta entre “consumo privado” e “investimentos coletivos”. A reunião compreendeu que investimentos coletivos foram necessários para uma maior produtividade e, portanto, uma vida melhor.
O mesmo vale para o moinho. Antes, Li Yang-ching tinha que moer os 3000 jin (um jin equivale a 1.3 libras, aprox 590 gramas) de grãos para que sua família consumia por ano, e ela tinha que fazer isso no moinho puxado por um asno ou manualmente. Agora, a brigada faz isso (por aproximadamente dez yuans por ano). Isso permite á ela gastar mais dias no trabalho produtivo - portanto, contribuindo mais na renda familiar.
As mulheres desempenharam um grande papel na luta para fazer a vida na vila melhor
Em 1961, a brigada Liu Ling produziu 326,000 jin de grãos; em 1965, 480,000 jin; em 1969, 650,000 jin. A produção de vegetais agora é 600,000 jin; maçãs para venda, 100,000 jin. Os fundos coletivos totais são de 160,000 yuan, e a brigada tem um estoque reserva de grãos amontoando 150,000 jin. A reserva é mantida para estar pronta para uso em caso de guerra e desastres naturais. Esse estoque irá aumentar.
As cinco garantias
O desenvolvimento econômico da vila é interessante. Ainda mais interessante é a direção deste desenvolvimento.
Li Hai-yuan tem 55 anos agora. Ele não esteve muito bem nestes últimos anos. Ele diz: “Quando você começa a ficar velho, e sua esposa está doente e você não tem filhos para cuidar de você, então é bom saber que 'as cinco garantias' existem”.
As cinco garantias foram dadas quando a comuna foi fundada em 1958. Pais e crianças têm responsabilidade econômica para cada um, mas as cinco garantias asseguram que cada membro tenha comida, roupa e lenha o suficiente, uma educação para as crianças e um funeral honroso.
Para que essas garantias sejam possíveis, os indícios de uma burocracia de bem estar social começou a se formar em 1962 dentro de uma complicada estrutura administrativa. Grãos foram dados para famílias necessitadas pelos grupos de trabalho. O comitê da brigada discutiram os casos, e todos foram cuidadosos para não dar muito “para não minar o valor do trabalho”.
Agora, toda a estrutura administrativa foi grandemente simplificada. Todas as questões são manuseadas pelo Comitê Revolucionário da brigada e em grandes reuniões. Welfare social tais como este foi virtualmente abolido.
Fora do consumo médio de grãos de 430 jin por pessoa ao ano, 344 jin agora são dados diretamente da brigada para cada indivíduo, independentemente do trabalho. Isso é uma garantia fundamental. Há apenas dois lares na brigada que necessitam de ajuda extra, e isso é organizado através do Comitê Revolucionário.
“Tem algo de errado na minha garganta”, disse Li Hai-yuan. “Eu vou para o médico. Ano passado, eu fiquei em casa por três meses. Minha esposa está doente e não consegue trabalhar, então nós não ganhamos muito no ano passado. Porém, apesar de eu ficar muito em casa, eu recebi meus grãos, assim como minha esposa, mesmo ela não tendo trabalhado. Isso é novo. Isso é bom. Antigamente, você recebia menos do que os outros se você estivesse doente, agora, não há nem discussão. Você apenas recebe seus grãos. Isso é muito bom”.
Houve uma luta sobre essa reforma em Liu Ling. O argumento contra - a linha de Liu Shao-chi (nomeada com o nome do antigo presidente da China) - era que as pessoas ficariam preguiçosas se elas recebessem essa garantia. O fato de que campesinos como Li Hai-yuan apoiaram a linha de Mao Tsé-Tung nessa questão não é nada anormal.
O sistema de pontos de trabalho anterior significava na realidade que a renda da brigada estava sendo dividida de acordo com trabalho por peça A ideia era que isso aumentaria a produtividade.
“Mas eu fiquei mais e mais preocupado nestes dias”, diz Mau Ke-yeh. “O trabalho veio ser avaliado por um pequeno grupo de quadros dirigentes. Eles também decidiram quem ia fazer cada trabalho. Isso significava na realidade que eles poderiam decidir quem ia ganhar muito e quem ia ganhar pouco. Muitas pessoas boas e leais foram atingidas, e os oportunistas lucraram. A produção começou a ser deformada. Eles produziram para o mercado, tentaram fazer dinheiro fácil, especialmente com vegetais.
“Todo o planejamento estava errado. Quando o plano era ultrapassado, você tinha renda extra. Portanto, eles começaram a colocar o plano em níveis baixos: 100 jin por mu (1 mu equivale a um décimo de um acre, ou 666 2/3 metros quadrados). Eu estava muito preocupado. Esse sistema estava demolindo nossa economia”.
Mau Ke-yeh, que foi um velho revolucionário, foi um dos primeiros a criticar quando os Guardas Vermelhos vieram à vila. Ele mesmo fora criticado porque ele não levantou essas questões antes. Ele foi capaz de provar que ele fomentou essas questões com os quadros da brigada em 1964 e 1965, mas suas críticas foram suprimidas.
Após três anos de Revolução Cultural e centenas de reuniões que discutiram cada aspecto do trabalho em Liu Ling, os quadros mudaram. Não foi uma questão de, por exemplo, Mau Pei-hsin suplantando Feng Chang-yeh, mas Mau e Feng chegando num acordo.
Como resultado da nova situação após a Revolução Cultural, o sistema de distribuição foi reformado. Os 344 jin de grãos por ano foram dados para todos. Além disso, vem a renda do trabalho. Isso era dividido de acordo com os dias úteis apenas. Os guarda-livros foram transferidos, e apenas foi anotado quem trabalhou cada dia. O dia útil era valorizado o mesmo para todos, para alguém que trabalhava nos campos, levava maçãs para a cidade ou cavava buracos para o grupo de construção.
Mas as pessoas trabalhavam de forma diferente, e isso tinha que ser levado em conta. Foi feito durante a reunião anual. Na reunião, todos discutiram, não apenas sua força física, mas também suas experiências, seus cuidados, suas atitudes em relação à propriedade coletiva, seus níveis políticos.
Cada um levantou e afirmou quanto valia seu dia de trabalho dele (ou dela). Então, todos os membros discutiram isso até eles chegarem em uma decisão unânime. Normalmente, a discussão era curta. Na média, os homens tinham entre sete e nove pontos de trabalho por dia útil; mulheres, entre seis e sete. Haviam alguns homens que tinham seis pontos de trabalho e mulheres que tinham nove (é dito que a diferença entre homens e mulheres refletem no dia útil mais curto para os homens, eles vão para casa mais cedo dos campos para poder fazer o trabalho doméstico).
Na prática, isso significava que um homem mais velho - como Ma Hai-hsiu, que agora cuida dos porcos - conseguiu uma renda maior que ele receberia se apenas sua força física fosse mensurada.
Após outras longas discussões, a “Brigada de Liu Ling de Medicina Cooperativa” foi fundada em 13 de janeiro do último ano. Todos os 709 membros da brigada são membros da medicina cooperativa. Cada membro paga 1,50 yuan por ano, e a brigada dá 2.000 yuan.
Os trabalhadores da área da saúde são pagos pela brigada, de acordo com os dias úteis e independentemente de se eles trabalham com os pacientes ou nos campos. Os membros recebem todos os tratamentos médicos e medicamentos gratuitamente. Em caso de necessidade, eles são enviados para o hospital na cidade, e a medicina cooperativa paga a conta do hospital até 30 yuan (três semanas no hospital). Se a conta do hospital for maior (tal caso ainda não ocorreu), a brigada auxilia sobre as “cinco garantias”.
Houve argumentos contra este programa médico. Yang Kou-shen disse que, no geral, ele achou o plano bom, porém “muitas pessoas iriam pedir medicação. Nós iremos perder todos os fundos e iremos falir. É melhor então se as pessoas tivessem que pagar algo pela medicação”. O argumento também foi usado em 1958 quando a seguridade social foi formalmente estabelecida na fundação da comuna popular. Mas após longas discussões, a unanimidade foi alcançada para o programa médico.
Através dessas reformas, os aldeões Chineses alcançaram um nível maior de segurança social baseado em uma economia coletiva e autossuficiência com uma administração mínima (a situação é diferente em diferentes brigadas, porém, a tendência geral é a mesma).
É claro, a vida é difícil e o trabalho é pesado em Liu Ling. Mas houve ganhos reais para o povo, e isso foi um tremendo impacto, não apenas na Ásia.
As reformas foram realizadas durante a Revolução Cultural na forma de um afiado conflito entre “as duas linhas”; contra a “linha obscura de Liu Shao-chi” que foi combatida por aqueles que lutavam pela linha proletária revolucionária de Mao Tsé-Tung. Essas não são apenas palavras, é possível ver na raiz que há uma base política muito sólida para o Pensamento de Mao Tsé-Tung.
O coração da luta
“No outono de 1966, eu fiz parte da crítica geral contra Feng, secretário do partido”, diz Tung Yang-chen. “Ele não estudou o Pensamento de Mao Tsé-Tung e se esqueceu a necessidade para a construção de capital.
“Na primavera de 1967, o grupo de trabalho para a construção de capital foi fundado. Éramos 24. Nós poderíamos fazer o trabalho mais pesado. Eu fui eleito porque eles disseram que eu trabalho duro”.
Desde então, este grupo nivelou os campos, construíram barragens de erosão nas voçorocas, terracearam as encostas e cavaram poços para irrigar os campos. Isso aumentou a produção. Durante a estação de férias, o grupo aumentou, e os principais trabalhos foram realizados, e aí está a chave.
Qual era a situação décadas atrás? Injustiça social, oficiais corruptos, impostos esmagadores, fomes – contra tudo isso, os camponeses lutaram. Mas eles lutaram contra essas coisas muitas vezes na história. Porém, desta vez eles venceram; eles fizeram a reforma agrária. Isso, também, aconteceu antes.
E como era a situação após a reforma agrária? Erosão do solo severa e quase uma completa falta de capital, subemprego e falta de força de trabalho durante a colheita, desastres naturais recorrentes periodicamente assumindo proporções de fome e falta de estoques de reservas, baixo excedente e força de compra baixa.
Houve duas respostas distintas formuladas para isso em toda a China:
“Alguns camaradas acreditam que a coletivização da agricultura pode ser introduzida para as áreas rurais dependendo dos times de auxílio mútuo e grupos de cooperativas e serviço rural. Isso é impossível pois esse pensamento desejoso sobre o socialismo agrícola, é absolutamente impossível para a agricultura alcançar a coletivização sem a expansão industrial e sem a realização da industrialização.
A estrutura de poder da vila: Feng Chang-yeh é o maior líder político, e acima na direita, o eletricista Mau Pei-hsin.
“De acordo com o antigo secretário de Estado dos EUA, Dean Acheson, a China não tem saída. Uma população de 475 milhões constituí uma pressão insuportável e, com ou sem revolução, o caso não tem esperança... De todas as coisas do mundo, o povo é a mais preciosa. Sobre a liderança do Partido Comunista, enquanto há pessoas, todo tipo de milagre pode ser feito. Nós somos refutadores da teoria contrarrevolucionária de Acheson. Nós acreditamos que a revolução pode mudar qualquer coisa, e que em breve uma nova China com uma grande população e grande riqueza de produtos, onde a vida será abundante e a cultura irá florescer...” - Mao Tsé-Tung. E contra Liu Shao-chi: “Na agricultura, sobre as condições prevalecentes em nosso país, a cooperação deve preceder o uso de grande maquinaria...”
Isso não foi um conflito entre um “sonhador” (Mao) e um “realista” (Liu). Dada a situação concreta na China, a vitória de Liu Shao-chi teria as consequências mais sérias para a China. O tempo de espera até a “realização da industrialização” seria muito grande. Enquanto isso, as pressões sociais estariam crescendo na área rural; camponeses iriam para as cidades, produção de alimentos continuaria baixa, ainda teria falta de capital. A China teria que depender do auxílio estrangeiro para a industrialização e afundar mais fundo em dívidas.
A questão não pôde ser decidida por um voto no Comitê Central. Era uma luta longa e prolongada em cada nível da sociedade Chinesa. Desde o começo, houve um grande apoio ao Liu Shao-chi.
Tung Yang-chen era o filho de um mártir revolucionário e recebeu terra na reforma agrária. Porém, falando em 1962 sobre a fundação da cooperativa, ele disse: “Concordo plenamente em tornar o grupo de auxílio mútuo em uma cooperativa agrícola; mas, eu achei que eu teria os animais e a terra, e eu poderia administrá-las eu mesmo, e se eu precisasse de trabalho, eu poderia muito bem contratar pessoas”. Nesse tipo de desenvolvimento espontâneo de uma atitude de um camponês rico após a reforma agrária, Lau Shao-chi perdeu sua base. A linha de Mao Tsé-Tung na necessidade de organização e esforços coletivos foi vitoriosa só após uma luta política nas vilas.
A ascensão de uma camada social privilegiada na China - administradores, experts e burocratas do partido - deu a Liu Shao-chi novo apoio, até mesmo após sua derrota na questão da coletivização. Mas a luta política nas vilas levou a uma mudança social. E na Revolução Cultural, Tung Yang-chen – e milhões como ele – agora apoiaram a linha de Mao Tsé-Tung. Eles tomaram parte na destruição da linha de Liu Shao-chi por meio de executar essas reformas na vila, o que fortaleceu o coletivo e deu aos membros segurança enquanto eles aumentavam a produtividade e acumulavam capital para promover ainda mais a industrialização da China.
“Mais necessário de tudo”, diz Yung Yang-chen, “é estudar o Pensamento Mao Tsé-Tung. Eu irei agir de acordo com as instruções do Presidente Mao. Estudarei Mao até mesmo sem poder ler”.
O que mantém a China unida não é mais uma burocracia tradicional ou uma nova administração, um “aparato”, onde as ordens e comandos fluem organizacionalmente estruturada nas correntes de comando. É o estudo vivo e aplicação do Pensamento Mao Tsé-Tung”. Isso mantém a China unida e molda o desenvolvimento econômico.
O leitor pode dizer que eu sou parcial. Eu definitivamente sou. Eu tenho motivos para ser parcial. Eu vivi na Índia, e vivi na China. Na China, a “situação impossível” está mudando, e a China está se desenvolvendo. É um caminho difícil. Isso não é uma reflexão tardia. Eu escrevi sobre a necessidade da Revolução Cultural antes dela começar e ter um nome. Escrevendo sobre a China para leitores nos Estados Unidos, eu quero reafirmar o que eu disse em Chicago em fevereiro de 1966: “Falar sobre a China atual nos Estados Unidos hoje não é, e não pode ser interpretado como algo fora do trabalho acadêmico. Há um perigo muito real de guerra entre os Estados Unidos e a China, e tal guerra seria uma grande loucura. Ela pode ser prevenida - e eu não tenho total certeza se ela pode - Eu creio que um dos fatores para impedi-la seria um melhor entendimento dos Estados Unidos da realidade social na China hoje”.
1967
Escrito por Jan Myrdal, autor de “Relatório de uma Vila Chinesa”.
Fotografias por Gun Kessle
Tradução de Ukyo