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"A Construção Orgânica do Partido Bolchevique no Período de Ilegalidade"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info
Gravura de Lenin e Stalin organizando os bolcheviques

A Formação do partido marxista da classe operária teve lugar na Rússia em condições particulares e difíceis, que se distinguem das condições em que se organizaram os partidos operários no Ocidente.


Em que consistiam estas condições particulares de surgimento do partido marxista na Rússia?


Em primeiro lugar na Rússia imperava um cruel absolutismo que com ferocidade nunca vista perseguia cada passo do movimento operário revolucionário no país, enquanto que na maioria dos países da Europa Ocidental esses partidos surgiram como organizações legais.


Não havia na Rússia qualquer espécie de organização da classe operária, como sejam organizações corporativistas, sindicais, cooperativas, educativas e outras organizações de massa nos quais o partido do proletariado pudesse se apoiar.


Se se considerar, porém, outros países, se verificará que antes do partido surgir já havia ali numerosas organizações de massa do proletariado.


O partido da classe operária na Rússia se formou na nova época — a época do imperialismo. E a circunstância de que no país que havia penetrado na etapa de desenvolvimento imperialista, a Rússia, se conservavam as sobrevivências da servidão, apresentava à classe operária e a seu partido a tarefa de organização da luta não somente contra o capitalismo, mas antes de tudo contra o domínio dos latifundiários, contra as sobrevivências da servidão, contra o czarismo. Somente depois de se ter derrubado o czarismo seria possível limpar o caminho para a revolução socialista, para o aniquilamento do poder do capital e para o estabelecimento da ditadura do proletariado.


Nessas condições, o partido marxista da classe operária só podia surgir como partido de luta, como partido de ação revolucionária com uma organização forte e flexível.


— Lenin escreveu em 1904:


“O proletariado não possui outra arma na luta pelo poder além da organização. O proletariado, disseminado pelo domínio da concorrência anárquica no mundo burguês, sufocado pelo trabalho forçado para o capital, constantemente reduzido “a zero” pela miséria integral, pelo embrutecimento e pela degeneração, o proletariado só pode se tornar e se tornará inevitavelmente uma força invencível graças ao fato de que a sua união ideológica segundo os princípios do marxismo se fortalece pela unidade material da organização que une estreitamente as fileiras de milhões de trabalhadores no exército da classe operária. Perante esse exército não prevalecerá nem o poder senil da autocracia russa nem o poder senil do capital internacional”.(1)


O partido da classe operária na Rússia se edificou sobre a base granítica do marxismo-leninismo e dos princípios de organização esboçados em seus traços gerais por Marx e Engels e posteriormente desenvolvidos e concretizados por Lenin e Stalin.


O grupo “Libertação do Trabalho”, organizado por Plekhanov em Genebra, foi o precursor direto do Partido Social-Democrata na Rússia. Não Se pode falar dos princípios orgânicos dessa organização uma vez que era um grupo puramente literário, não possuía ligação com o movimento operário e se achava muito fracamente ligado aos grupos e círculos marxistas então existentes na Rússia. Lenin afirmou que o grupo “Libertação do Trabalho” fundara a social-democracia apenas teoricamente e dera um passo ao encontro do movimento operário.


Na Rússia surgiam, em grande parte independentemente do grupo “Libertação do Trabalho”, pequenos círculos e grupos marxistas, desligados entre si; o grupo de Blagoiev em Petersburgo, do qual faziam parte Totchisski e Brusniev; em Karkov, luvenali Melnikov dirigia um grupo; em Kazan, existia um círculo, dirigido por Fedossiev; no círculo de Samara trabalhavam Lenin, Skliarenko, Shlirter e outros.


Em 1895, Lenin, tendo unificado os círculos marxistas de Petersburgo, organizou a “União de Luta pela Libertação da Classe Operária”. Também em outras cidades fundaram-se outras organizações segundo o modelo da “União de Luta” de Petersburgo.


Lenin se esforça por conseguir, nessa ocasião, a passagem do estreito trabalho de propaganda nos círculos para a ampla agitação política entre as massas, a criação de uma organização ligada ao movimento operário.


Na organização “Messame-dassi”, da Transcaucásia, formou-se, em fins da década de 90, um grupo marxista, à cuja frente se achava o camarada Stalin, que também lutava pela passagem à agitação.


Na brochura “As Tarefas dos Sociais-Democratas Russos” escrita no exílio em 1897, Lenin, ao fazer um balanço da atividade da “União de Luta” de Petersburgo, assinalou o importante lugar que ela ocupou na história do movimento operário russo.


Lenin escreveu que os social-democratas revolucionários:


“... nunca separaram as tarefas da luta pelo socialismo das tarefas da luta pela liberdade política... que esse trabalho devia ser realizado não por conspiradores, mas por um partido revolucionário que se apoiasse no movimento operário... a luta contra o absolutismo deve consistir não na realização de complôs, mas na educação, na disciplina e na organização do proletariado, na agitação política entre os operários que estigmatize toda manifestação de absolutismo e que coloque no pelourinho todos os cavalheiros do governo policial e que arranque concessões desse governo. Será que não é precisamente essa a atividade da “União de Luta pela Libertação da Classe Operária” de São Petersburgo? Será que essa organização não representa precisamente um embrião do partido revolucionário, que se apóia no movimento operário, dirige a luta de classe do proletariado, luta contra o capital e contra o governo absolutista, não organizando nenhum complô e extraindo as suas forças precisamente da ligação da luta socialista com a luta democrática numa indissolúvel luta de classe do proletariado de São Petersburgo?”(2)


A “União de Luta pela Libertação da Classe Operária” leninista demonstrou a força que a classe operária adquire se ela dispõe de uma vanguarda organizada. A “União de Luta” demonstrou a possibilidade da criação, em condições arqui conspirativas ante as perseguições policiais, de uma organização partidária ligada às massas que rejeitava inteiramente o método dos atentados e capaz de chefiar o movimento operário e dirigir a luta do proletariado pela liberdade e pelo socialismo.


A “União de Luta pela Libertação da Classe Operária” leninista era um embrião do partido revolucionário do proletariado, construído sobre os princípios leninistas de organização.


Enquanto se encontrava no exílio e particularmente após a sua volta do exílio em 1899, Lenin trabalha incansavelmente para a criação de um único e centralizado Partido Operário Social-Democrata Russo.


Lenin apresentou, já na sua brochura “As Tarefas dos Sociais-Democratas Russos”, um esboço das tarefas orgânicas fundamentais do partido operário. Lenin escreveu:


“A organização de círculos entre os operários, o estabelecimento de relações regulares e conspirativas entre eles e o grupo central dos social-democratas, a publicação e a divulgação de literatura operária, a organização de correspondências oriundas de todos os centros do movimento operário, a publicação de volantes e proclamações agitativos e a sua divulgação, a preparação de um contingente de agitadores experimentados — tais são, em traços gerais, as manifestações da atividade socialista da social-democracia russa”.(3)


Lenin responde à questão importantíssima para a época: em que camadas da população deve o Partido se apoiar na sua atividade de agitação? Lenin demonstrou que o Partido se apoia, em primeiro lugar, na classe operaria. Mas esse apoio na classe operária de modo algum exclui a influência sobre outras classes da população. Ao contrário, a circunstância de que os marxistas dediquem atenção especial à classe operária lhes empresta uma influência mais forte sobre as outras camadas. Lenin estava convencido de que depois de termos criado uma sólida organização revolucionária entre os operários urbanos das fábricas e usinas, realizaríamos um trabalho entre todas as camadas trabalhadoras da população as educaríamos, elevaríamos a sua consciência, preparando-as para a luta contra o czarismo e o capitalismo, pela liberdade, pela ditadura do proletariado, pelo socialismo.


Lenin armou os marxistas russos com um plano científico de organização da construção de um partido revolucionário, plano que correspondia integralmente à realidade russa e que assegurava a unificação de todos os círculos marxistas dispersos em um único partido centralizado.


Ao determinar os princípios de organização do partido marxista, Lenin generalizou genialmente a experiência prática dos revolucionários russos e utilizou a experiência da atividade da “Liga dos Comunistas” e da I Internacional, organizados por Marx e Engels.


Os pontos de vista de Marx e Engels sobre a organização se refletiram nos estatutos da “Liga dos Comunistas”.


Os estatutos da “Liga dos Comunistas” determinam claramente as condições que os membros da “Liga” devem satisfazer, a fim de assegurar a unificação do proletariado numa poderosa força para a libertação dos trabalhadores e para a edificação do comunismo.


Essas condições são as seguintes:


· gênero de vida e atividade que correspondam a esse objetivo;

· energia revolucionária e ardor na propaganda;

· fazer profissão de fé comunista;

· não participar de qualquer sociedade política ou nacional anticomunista e obrigatoriedade de comunicar à instância dirigente a que esteja subordinado a sua participação em qualquer sociedade;

· submeter-se às decisões da Liga;

· manter em segredo todas as questões que digam respeito à Liga;

· ser admitido por unanimidade em uma das comunas.


Todo aquele que deixar de satisfazer essas condições será excluído”.(4)


Essas teses orgânicas foram desenvolvidas de maneira criadora nos trabalhos de Lenin.


O plano leninista de construção do Partido consistia em se criar nos fortes quadros do Partido e reuni-los num Partido combativo de toda a Rússia, com um programa claro, uma tática firme e uma única vontade. Para se cumprir essa tarefa, Lenin propunha que se organizasse um jornal político para toda a Rússia e que se o colocasse como centro de atração das forças do Partido no sentido de um único Partido Operário Social-Democrata Russo.


Lenin emprestava grande significação ao papel organizador do jornal.


“O jornal não é apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo, mas também um organizador coletivo — ensinou Lenin. Neste sentido, pode-se compará-lo aos andaimes que se erigem em torno de um edifício em construção os quais indicam os contornos da construção, facilitam as relações entre os que realizam o trabalho da construção, ajudam-nos a distribuir o trabalho e observar os resultados gerais alcançados pelo trabalho organizado”.(5)


Lenin projetou a criação de uma completa rede de agentes do jornal político de massas, de organizadores das forças do Partido em todo o país:


“Já somente a tarefa técnica — assegurar ao jornal o suprimento normal de materiais e a sua divulgação acertada — obriga a criação de uma rede de agentes locais de um único partido, agentes que se encontram em relações vivas entre si, que conhecem a situação geral dos problemas, habituados a executar regularmente funções detalhadas de um trabalho que abrange toda a Rússia e que provam as suas forças na organização destas ou daquelas ações revolucionárias. Essa rede de agentes será precisamente o esqueleto do tipo de organização que nos é necessária: suficientemente ampla, para abranger todo o país; suficientemente vasta e variada, para pôr em prática uma severa e detalhada distribuição do trabalho; suficientemente resistente para saber continuar inflexivelmente, o seu trabalho, em quaisquer circunstâncias, ante qualquer viragem brusca dos acontecimentos e ante qualquer surpresa; suficientemente flexível, para saber, por um lado, evitar a luta em campo raso com um inimigo que possua forças muito mais numerosas, quando este tenha reunido num só ponto todas as suas forças e, por outro lado, para saber se aproveitar da inabilidade desse inimigo e atacá-lo onde e quando menos espere o ataque”(6)


O plano leninista de organização da construção do Partido vibrou um golpe esmagador no oportunismo dos “economistas” que defendiam o espírito de clã imperante nos círculos, o trabalho a maneira artesã e o autonomismo. Lenin demonstrou que as ideias dos círculos e do tradeunionismo pregadas pelos oportunistas e a negação pelos mesmos da necessidade da criação de uma organização ilegal centralizada conduz à destruição das organizações operárias e à derrota do movimento revolucionário.


Ao desmascarar o oportunismo dos “economistas”, Lenin defendia a criação de uma harmoniosa organização dos revolucionários profissionais.


Lenin considerava que o Partido deve ser constituído de duas partes: de um estreito círculo de quadros regulares, de revolucionários profissionais e de uma ampla rede de organizações do Partido situadas na periferia.


Lenin escreveu em seu livro “Que Fazer?”:


“... afirmo: 1) Que não pode haver um movimento revolucionário sólido sem uma organização de dirigentes estável e que assegure a continuidade; 2) que, quanto mais extensa for a massa que se sentir espontaneamente arrastada à luta, massa que constitui a base do movimento e participa do mesmo, mais premente será a necessidade de semelhante organização e mais sólida terá de ser esta, (de vez que tanto mais facilmente poderão os demagogos de toda classe arrastar as camadas mais atrasadas da massa); 3) que essa organização deverá estar formada, fundamentalmente, por homens dedicados profissionalmente às atividades revolucionárias; 4) que, no país da autocracia, quanto mais restringirmos o contingente dos membros de uma organização deste tipo, até não incluir nela senão os filiados que se ocupem profissionalmente de atividades revolucionárias e tenham uma preparação profissional na arte de lutar com a polícia política, mais difícil será “caçar' esta organização, e 5) tanto maior será o contingente de indivíduos da classe operária e das demais classes da sociedade que poderão participar do movimento e colaborar ativamente nele”.(7)


Lenin escreveu:


“Com os nossos métodos primitivos de trabalho comprometemos consideravelmente o prestígio dos revolucionários na Rússia. Nisto reside nossa falta capital em matéria de organização. Um revolucionário fraco, vacilante nas questões teóricas, com a visão estreita, que justifica a sua inércia com a espontaneidade do movimento de massas, mais parecido a um secretário de trade-union do que a um tribuno do povo, sem um plano amplo e audaz, que imponha respeito a seus adversários, um revolucionário inexperiente e inábil em seu ofício — a luta contra a polícia política — com os diabos, isto não é um revolucionário, mas um borra-botas qualquer.


Que nenhum militante prático se ofenda com este epíteto, pois, no que se refere à falta de preparação, aplico-o a mim mesmo em primeiro lugar. Trabalhei num círculo que a si mesmo designava tarefas vastas e universais e, como todos os meus camaradas, sofria incrivelmente ao ver que não éramos senão uns artesãos num momento histórico em que, parafraseando o antigo aforisma se poderia dizer: “Dai-nos uma organização de revolucionários e deslocaremos a Rússia de seus alicerces!” E, quando me lembro do agudo sentimento de vergonha que experimentávamos então, sinto crescer em mim a animosidade contra estes pseudos social-democratas, cuja propaganda “desonra o nome de revolucionário” e que não compreendem que nossa obra não consiste em advogar que o revolucionário seja rebaixado ao nível do artesão, mas, sim, em elevar este ao nível do revolucionário”.


Para acabar com a maneira artesã no trabalho e construir o Partido marxista da classe operária Lenin criou um jornal político para toda a Rússia, a “Iskra”. A “Iskra” leninista representou um grande papel na criação do partido operário na Rússia e na elaboração dos fundamentos programáticos, orgânicos e táticos desse partido.


Graças à atividade desenvolvida pela “Iskra” foi vibrado um golpe mortal no trabalho artesanal. A “Iskra” lutou decididamente contra a subestimação do valor das tarefas da construção do Partido, contra a mistura das tarefas sindicais com as tarefas do partido. A “Iskra” educou milhares de organizadores que souberam, nas difíceis condições da ilegalidade, organizar o Partido e criar as organizações do Partido segundo o plano leninista.


A “Iskra”, igualmente, tirou o partido do doloroso período da dispersão, da falta de unidade dos círculos isolados e estabeleceu as bases de um autêntico partido centralizado.,


A Doutrina de Lenin e Stalin Sobre o Partido


O II Congresso do Partido consolidou a vitória do marxismo revolucionário sobre o oportunismo aberto. O Congresso aprovou os estatutos e o programa do Partido e, com isso, criou o Partido Social-Democrata. Para falar de uma maneira mais precisa, o Congresso criou apenas o arcabouço para um partido operário único porque já no II Congresso constatou-se a existência dos mais variados grupos que, no fundamental, se dividiam em dois campos: os marxistas revolucionários à cuja frente se encontrava Lenin e os oportunistas à cuja frente se encontravam Martov e Axelrod.


Como lemos na “História do PC (b) da URSS”, o II Congresso não esteve à altura de sua posição quanto às questões de organização revelando vacilações, permitindo até às vezes a supremacia dos mencheviques e, embora se tenha corrigido no final, não soube, porém, nem só desmascarar o oportunismo dos mencheviques nas questões de organização e isolá-los no Partido, mas até mesmo apresentar ao Partido uma tarefa semelhante.


O II Congresso do Partido constituiu um passo à frente em comparação com o período de dispersão orgânica. Depois do Congresso, porém, os mencheviques arrastaram o Partido para trás, levando-o à dispersão orgânica anterior e dando, assim, dois passos atrás. Os mencheviques negavam a necessidade de uma disciplina partidária única e defendiam o relaxamento na organização, lutavam contra o centralismo no Partido, e defendiam o autonomismo que dava origem à formação de círculos.


O livro de Lenin “Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás” é importantíssimo para a compreensão dos princípios orgânicos do bolchevismo.


Nesse livro Lenin apresentou uma completa e harmoniosa doutrina sobre o Partido. Lenin demonstrou que o Partido se distingue, em primeiro lugar, dos demais destacamentos da classe operária pel