top of page
GIF NC10ANOS (campanha) (5000 x 1932 px).gif

"Nigéria, o terror renovado"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 29 de abr.
  • 4 min de leitura

 

Nos últimos anos, no nordeste da Nigéria, particularmente no Estado de Borno e na região do Lago Chade — epicentro, desde 2009, de uma intensa atividade terrorista que provocou mais de sessenta mil mortes e cerca de três milhões de deslocados — parecia haver uma diminuição da violência.

 

Esse fenômeno talvez se deva a um necessário reordenamento do grupo Boko Haram após o cisma de 2016, que resultou na criação do Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP). Isso levou a uma guerra interna que causou muitas baixas, incluindo as mortes dos dois principais líderes: o histórico emir Abubakar Shekau, em abril de 2021, e Abu Musab al-Barnawi, em agosto do mesmo ano, líder e promotor do ISWAP. Soma-se a isso os sucessos do exército do Chade na operação Cólera de Bohoma, que conteve a presença do grupo em seu território, além das operações do exército nigeriano Lafiya Dole (em haúça, “Paz pela Força”), substituída em 2021 pela operação Hadin Kai (“Cooperação Conjunta”).

 

Essa situação, no entanto, se reverteu a partir da metade do ano passado. No início deste ano, ocorreu o ataque à base militar de Sabon Gari, uma aldeia próxima a Damboa (Borno). O ataque teria sido uma resposta a uma operação do exército que neutralizou um importante emir do ISWAP.

 

Damboa, a cerca de 90 quilômetros da cidade de Maiduguri, capital do estado, é um dos locais onde mais deslocados foram reassentados e onde a presença terrorista é mais registrada. Há um ano, a estrada que liga essas duas cidades está fechada e sob constante vigilância das forças de segurança. Apenas militares e membros da Força-Tarefa Conjunta Civil (FTCC) — um grupo de autodefesa local formado por cerca de 24 mil voluntários — podem utilizá-la. Veículos civis só podem transitar por ela dois dias por semana e sob rigorosa escolta militar. Essas estradas são frequentemente armadilhadas com os mortais artefatos explosivos improvisados (AEI), característicos desse tipo de grupo.

 

As organizações takfiristas utilizam ataques a populações, acampamentos de refugiados e caravanas comerciais como método para obter suprimentos, fundos por meio de sequestros extorsivos e, em alguns casos, para recrutamento forçado.

 

Em março passado, uma comunidade de pastores deslocados na área de Abadam, Estado de Borno, foi obrigada a pagar seis milhões de nairas (cerca de cinco mil dólares americanos) para libertar sete crianças e dois adultos sequestrados — uma quantia assustadora para as vítimas.

 

Em dezembro do ano passado, em uma operação malsucedida, o exército interceptou três homens, presumivelmente da liderança do ISWAP, na estrada Maiduguri-Damboa. Apenas um foi morto; os outros dois conseguiram escapar.

 

Após a emboscada frustrada, soldados amarraram o corpo do combatente morto no capô de um jipe, exibindo-o como troféu diante da população — um ato que, acredita-se, tenha sido o estopim para a atual campanha insurgente. Na mesma semana, membros da FTCC foram emboscados, e uma caravana militar também foi atacada.

 

As ações contínuas desde janeiro, afetando aldeias, áreas agrícolas e bases militares próximas a Damboa, deixam claro que uma nova ofensiva terrorista está em curso.


O ataque à base militar perto de Damboa ocorreu quando insurgentes romperam o perímetro de segurança, resultando em intensos combates. Segundo o porta-voz do exército, seis soldados morreram e vários veículos foram destruídos. Trinta e quatro atacantes também teriam sido mortos, e munições e armas dos insurgentes, recuperadas.

 

O porta-voz, porém, não comentou se os terroristas conseguiram capturar armamentos, equipamentos médicos, de comunicação ou veículos — prática comum em ações como essa.

 

É suspeito que, após um ataque de pequena escala, o presidente Bola Tinubu tenha demonstrado tanto apoio às forças armadas e às famílias dos soldados mortos — o que não é usual. Tinubu também convocou os meios de comunicação e a população a se solidarizarem com as famílias das vítimas, levantando suspeitas de que o número de mortos seja maior que o informado.

 

Na região de Bassa, no Estado de Plateau (centro-norte do país), ataques do Boko Haram, tentando controlar jazidas minerais entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, mataram mais de 1300 civis, majoritariamente cristãos. Somam-se ainda 75 mortes ocorridas desde dezembro até agora.

 

Nesta semana, foi divulgado que o exército abortou mais planos do ISWAP, que, assim como o Boko Haram, busca estabelecer-se nos Estados de Plateau e Bauchi, na periferia do chamado “Cinturão Muçulmano” da Nigéria, onde falhas de segurança incentivam a expansão para áreas não tão majoritariamente islâmicas.

 

A partir de Sabon Gari

 

Desde o ataque à base de Sabon Gari no início do ano e os eventos subsequentes, ficou evidente que os terroristas incorporaram drones armados à sua já vasta e atualizada variedade de armas para realizar ataques em larga escala.

 

O ISWAP já utilizou quatro drones carregados com granadas de fabricação local no ataque à Base de Operações Avançadas em Wajikoro, Borno, ferindo cinco soldados.

A introdução desse tipo de armamento representa uma mudança significativa na insurgência. Como medida preventiva após o ataque em Wajikoro no último dia quinze, os militares proibiram o voo de drones civis.

 

Até agora, o ISWAP utilizava drones apenas para vigilância. Com essa nova aplicação, os terroristas poderão aprimorar suas capacidades ofensivas, minimizando perdas humanas.

A obtenção desses dispositivos de alta tecnologia é facilitada pelo controle de antigas rotas de contrabando, acordos com redes de tráfico de armas e a cumplicidade de setores corruptos das forças de segurança que vendem armas e informações aos insurgentes.

 

Sabe-se também que técnicos terroristas trabalham para adaptar drones civis para fins militares.

 

Essa transição para o uso de alta tecnologia já foi registrada entre grupos wahabitas no Sahel e, inevitavelmente, atingirá organizações “irmãs” em Moçambique, no leste da República Democrática do Congo (RDC) e na Somália, representando novos desafios para os governos que lutam contra o terrorismo.

 

Os exércitos africanos — especialmente aqueles que dispensaram assessores ocidentais, como Burkina Faso, Mali e Níger — enfrentam uma fase crítica da guerra, impulsionada pelo renovado fôlego dos takfiristas, evidentemente apoiados por inimigos dos governos nacionalistas surgidos no Sahel nos últimos anos.

 

Focando especificamente na Nigéria, a incorporação dessa tecnologia pelo ISWAP e pelo Boko Haram, se não for contida rapidamente (o que parece improvável), elevará o nível da guerra contra o terrorismo a uma dimensão até então desconhecida — uma guerra que parece sempre encontrar formas de se renovar.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

Comments


SORTEIOS DE LIVROS (1).png
  • TikTok
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • Telegram
  • Whatsapp
capa35 miniatura.jpg
PROMOÇÃO-MENSALmai25.png
JORNAL-BANNER.png
WHATSAPP-CANAL.png
TELEGRAM-CANAL.png
bottom of page