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"Sahel: a onipresença do terror"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • 12 de mai.
  • 5 min de leitura

 

Nada do que acontece no Sahel e em suas áreas vizinhas, no que diz respeito à violência, pode ser separado da complexa situação enfrentada pelos Estados Unidos e pela França, com o surgimento da Aliança dos Estados do Sahel (AES), formada em 2023 por Burkina Faso, Mali e Níger, com um viés profundamente anticolonialista.

 

A Aliança dos Estados do Sahel surgiu não apenas como uma forma de enfrentar o terror fundamentalista, que desde 2012 se expande pelo Sahel através das khatibas ligadas à al-Qaeda e ao Daesh, sob as bandeiras do Jamāʿat nuṣrat al-islām wal-muslimīn (Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos) e do Estado Islâmico do Grande Saara. Mas também para evitar o retorno das potências ocidentais, que em diferentes fases foram expulsas desses três países, por serem consideradas as principais responsáveis pela situação atual — não apenas no que diz respeito à violência extremista, mas também ao subdesenvolvimento, após mais de um século de exploração e saque.

 

Nesse contexto, chama a atenção a atitude da Argélia, que no fim de março derrubou um drone de Burkina Faso e, no início do mês, outro de Mali. Como resultado, os três países da aliança saheliana retiraram seus embaixadores de Argel.

 

Isso adiciona mais tensão à já delicada situação na fronteira entre a Argélia e o Mali, no que se refere à questão tuaregue. Bamako acusa os tuaregues – ou imuhag, como se autodenominam – de terem se aliado não apenas aos terroristas wahabitas, mas também de estarem recebendo apoio dos Estados Unidos, da França e da Ucrânia. Por sua vez, os argelinos, que apoiam os tuaregues por diferentes razões, acusam Mali de ter anulado o Acordo de Argel de 2015 em janeiro do ano passado, iniciando uma escalada de acusações que não beneficia nenhum dos dois países, nem os tuaregues – enquanto os takfiristas (extremistas islâmicos), Washington e Paris têm muito a ganhar.

 

Tanto a aliança saheliana quanto a Argélia podem ser consideradas aliadas da Rússia, que em diferentes proporções fornece armamento, logística e financiamento a ambos –em um caso para a guerra contra os terroristas, no outro para defesa territorial.

 

A situação atual provocou um incidente perigoso com a derrubada, no ano passado, de um drone malinês pela Argélia, que alegou violação de seu espaço aéreo. Já Bamako insiste que o equipamento estava dentro de seu próprio território quando foi abatido.

 

A Argélia apoia os tuaregues em suas reivindicações territoriais e de autonomia em relação a Bamako — origem das rebeliões de 2012 e da situação atual. No entanto, isso pode ser um tiro no pé para Argel, já que o genuíno pedido tuaregue pelo milenar reino perdido de Azawad inclui, entre outros países, regiões que pertencem à própria Argélia. Com essa posição, Argel pretende acalmar os pedidos tuaregues pelos territórios que hoje estão sob seu domínio.

 

Essa dinâmica coloca Moscou em uma encruzilhada, pois a Argélia sempre foi seu principal parceiro africano, com quem mantém um importante fluxo comercial – em meio à “Operação Especial” russa na Ucrânia, que torna essa relação ainda mais necessária.

 

Enquanto isso, a aliança saheliana está se tornando uma grande plataforma para a expansão dos interesses russos no coração do continente. Essa conjuntura obrigará o chanceler russo, Sergei Lavrov, a usar sua experiência diplomática para equilibrar os interesses entre seus parceiros. Para isso, no início de abril, ele se reuniu em Moscou com os ministros das Relações Exteriores da Aliança dos Estados do Sahel.

 

Por sua vez, a Argélia tenta reduzir sua dependência militar da Rússia, buscando os mercados da Índia e dos Estados Unidos, que certamente acolherão com entusiasmo o novo cliente. Já a França, apesar das relações tensas – especialmente com sua antiga colônia –, acredita-se que tenha oferecido apoio em inteligência, logística e, possivelmente, armamentos, caso a Argélia decida lançar uma operação militar contra o Mali.

 

Outra aparente provocação argelina ocorreu na fronteira com o Níger, quando devolveu mais de mil refugiados de vários países africanos que haviam entrado pelo território nigerino, utilizando a conhecida rota que parte de Assamaka (Níger) rumo à Tunísia e Líbia, e daí segue pelos portos até a Europa.

 

Se essa postura agressiva da Argélia em relação a seus vizinhos continuar, as tensões continuarão a escalar – algo que poderá ser explorado pela tríade Washington-Paris-Kiev para desestabilizar a presença russa na Argélia. Um conflito armado com a Aliança do Sahel poderia reacender as esperanças colonialistas de retornar às terras de onde foram expulsos.

 

Ataque ao Benin

 

Benin responsabilizou diretamente Burkina Faso e Níger pela falta de cooperação diante de um ataque terrorista que deixou cinquenta e quatro soldados benineses mortos. Embora já se soubesse, há anos, da presença cada vez mais ativa de terroristas no norte de Benin e também em Togo, a operação da franquia da al-Qaeda no Sahel não foi surpresa. Em janeiro, outros trinta soldados benineses já haviam sido mortos na área do Parque W, próximo à fronteira com o Níger.

 

Desde Porto-Novo, aponta-se diretamente para a ausência de planos de contenção do terrorismo por parte de Burkina Faso e Níger, o que teria permitido a infiltração dos mujahideens que mataram os soldados benineses, exatamente na mesma área atacada em janeiro.

 

A acusação do Benin abre uma nova fissura entre os países da região e o bloco saheliano, com o qual têm sido hostis desde que cada um dos países integrantes começou a se distanciar dos planos políticos da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Após o golpe anticolonialista no Níger, em julho de 2023, cogitou-se até mesmo uma intervenção militar para restaurar o governo pró-ocidental do ex-presidente Mohamed Bazoum, além do bloqueio e sanções econômicas.

 

Os ataques aos exércitos de Mali (desde 2020), Burkina Faso (2022) e Níger (2023), que adotaram um rumo nacionalista, têm sido constantes e cada vez mais letais.

 

É evidente que, nos últimos quatro anos, a atividade insurgente aumentou significativamente, com epicentro nos três países que formam a Aliança do Sahel, embora haja uma expansão para os países do Golfo da Guiné (Benim, Costa do Marfim e Togo). A magnitude do terrorismo em Burkina Faso, Mali e Níger não pode ser entendida sem considerar fatores extrarregionais – possivelmente Arábia Saudita, Catar e/ou Emirados Árabes Unidos –, que, por ordem e conta de Washington, estariam financiando as khatibas da al-Qaeda e do Daesh. Esses grupos aumentaram suas ações em duas vezes e meia em comparação com os anos anteriores a 2020, quando coincidentemente começou a onda de golpes nacionalistas.

 

Os terroristas parecem dispor de recursos praticamente ilimitados. Eles superam os exércitos nacionais tanto em quantidade quanto em qualidade de armamentos, além de possuírem melhores equipamentos de comunicação e mobilidade – o que lhes permite ganhar território e controlar rotas de abastecimento.

 

Essa disponibilidade, aliada ao bom pagamento de seus combatentes, lhes garante o necessário para realizar ataques quase simultâneos em áreas separadas por milhares de quilômetros. Eles destroem aldeias e vilarejos, queimam plantações, sequestram civis, executam militares, provocando um número crescente de deslocados e uma sensação constante de instabilidade entre as populações – que vivem com a impressão permanente de estar cercadas pela fantasmagórica onipresença do terror.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

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