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"Sobre as visões trotskistas contra o Partido Comunista das Filipinas"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

1. Críticos trotskistas dizem que a medida do sucesso, para o PCF, se assenta principalmente em desenvolvimentos quantitativos, como quantos rifles foram conquistados, e quantos novos membros foram recrutados para o Partido. Ademais, dizem que o Partido está entravando o desenvolvimento da revolução, ainda que as condições sejam cada vez piores para o povo filipino, fazendo da tomada do poder político um fator determinante no desenvolvimento político. Você considera que tais colocações são justas? O que pensa sobre elas?

José Maria Sison (JMS): São comentários injustos. Os trotskistas são cegos quanto a suas próprias atitudes. Negam e distorcem todo o escopo das forças revolucionárias e das massas trabalhadoras de operários e camponeses, que conduzem a revolução democrático-popular. O PCF jamais disse que o número de rifles do Novo Exército Popular (NEP) é o único determinante para o sucesso do movimento revolucionário do povo. Não é assim que o PCF pensa e age. A acusação de militarismo é bastante desmentida pela capacidade de liderança do PCF sobre as massas trabalhadoras de operários e camponeses nas lutas políticas revolucionárias, mesmo diante de todos os obstáculos colocados pelo imperialismo ianque e as classes exploradoras locais.

O PCF sempre levou em conta as condições de piora da crise do sistema dominante semicolonial e semifeudal, o desejo do povo pela mudança revolucionária e a realização da libertação nacional e social, a adoção e implementação da linha geral e programa da revolução democrático-popular, o desenvolvimento de forças revolucionárias como o partido proletário de vanguarda, as organizações de massas de operários, camponeses e outros trabalhadores, o exército popular e suas forças auxiliares, os órgãos do poder político democrático, as formações da frente única e o nível de audácia e militância das massas desorganizadas.

As forças revolucionárias do povo filipino têm declarado de tempos em tempos quais são seus respectivos níveis de força organizada, programas e demandas, e acima de tudo, suas atividades e campanhas contra as políticas neoliberais e questões afins. Tudo isso desmente as calúnias trotskistas. O amplo escopo de forças democráticas legais é incentivado pela força política organizada dos operários e camponeses. O PCF não teria sobrevivido e superado todas as campanhas de supressão militar (bancadas pelos Estados Unidos), desde o período de Ferdinand Marcos, se não fosse pelo trabalho político do PCF e o consequente apoio amplo e profundo das massas pela revolução.

O PCF começou a partir do nada em 1968, com alguns poucos membros partidários, apoiados por cerca de 10 mil ativistas juvenis, sindicalistas e alguns poucos veteranos do velho movimento revolucionário armado. Durante os últimos 51 anos, o PCF se tornou um partido de abrangência nacional e com raízes profundas nas massas trabalhadoras. Dirige um exército popular, vários tipos de organizações de massas e órgãos locais do poder político, que constituem o governo democrático-popular. Todas estas forças revolucionárias constituem uma base sólida para avançar para as áreas urbanas e finalmente derrotar o inimigo de classe.

Ao contrário das declarações do regime de Duterte, dos trotskistas e outros filisteus do movimento revolucionário, segundo as quais o movimento revolucionário é um fracasso até que seja capaz de tomar o poder na capital Manila, quero chamar atenção para o fato de que os órgãos revolucionários do poder político já estão governando milhares de aldeias, centenas de municípios e muitos distritos que se encontram sob abrangência dos mais de 110 fronts guerrilheiros. Conduzem a administração, reforma agrária e outros programas sociais, campanhas de produção, trabalho de saúde e sanitário, autodefesa, trabalho jurídico, auxílios contra desastres, proteção ambiental e demais. Não há qualquer outra união entre as forças revolucionárias e o povo nas Filipinas tão próxima à revolução socialista quanto aquela dirigida e inspirada pelo PCF. De acordo com a visão programática do PCF e todas as outras forças revolucionárias, o povo filipino e a revolução filipina devem, primeiramente, concluir a atual etapa de luta para realizar e conquistar os direitos democráticos e nacionais contra a dominação estrangeira e feudal, mediante a derrubada do Estado contrarrevolucionário de grandes capitalistas compradores e latifundiários. A partir da tomada do poder político durante a etapa da revolução democrática, o proletariado e o povo podem iniciar a revolução socialista, com a devida atenção às medidas transicionais a serem tomadas. Os trotskistas não aceitam a necessidade da etapa democrática durante as duas etapas da revolução filipina. Por conta de sua linha fatalmente errada, não podem crescer nas Filipinas. Tal como Trotsky, os trotskistas pensam que podem crescer por meio do ataque aos genuínos partidos comunistas, agora guiados pelo Marxismo-Leninismo-Maoísmo. Sua obsessão anti-PCF os coloca praticamente no lado da contrarrevolução.

2. De forma similar, estes caluniadores defendem o pluralismo no seio da esquerda. Por conta de a esquerda mundial ser considerada fraca, muito deve ser repensado em termos de estratégias e métodos. Para eles, os partidos de vanguarda devem atravessar um processo necessário de reaprendizagem, fusão e dissolução para congregar muitas respostas diferentes para seus desafios. De forma contrário, o PCF parece negar tal necessidade. O que você pode dizer sobre esta crítica à noção do PCF sobre um partido de vanguarda?

JMS: No contexto filipino, o que podemos considerar vagamente como Esquerda, no espectro político, consiste nas forças anti-imperialistas e democráticas, também chamadas de progressistas e patrióticas. Em termos classistas, tais forças são motivadas principalmente pela adesão aos direitos e interesses das massas laboriosas de operários e camponeses. O PCF sempre considera como sendo de importância política fundamental apelar e se apoiar nestas forças e nas massas da Esquerda. É uma grande mentira a caricatura do PCF como um partido que nega a necessidade destas diversas forças de Esquerda serem dirigidas de forma revolucionária, e encorajadas, organizadas e mobilizadas para este propósito.

É absurdo para qualquer um tentar dizer que a força do PCF venha da negação da necessidade de cooperar com os outros e da presunção de que conheça todas as respostas para todas as perguntas. O PCF ensina constantemente seus quadros e membros a aprender com as massas e cooperar com os aliados. Promove e leva a cabo a política de ampla frente única de construir a aliança básica operário-camponesa, conquistar os setores médios e aproveitar as divisões no seios dos reacionários para isolar, enfraquecer e derrotar o inimigo que é, atualmente, a tirania de Duterte.

O PCF possui alianças com liberais de esquerda nas organizações profissionais e ocupacionais, e com religiosos de mentalidade revolucionária, como os Cristãos pela Libertação Nacional, e muçulmanos, que compõem a Organização Revolucionária pela Libertação Moura. Todos eles são opositores honestos da tirania de Duterte, ao contrário dos obstinados trotskistas, que possuem um linguajar ultra-esquerdista, mas se especializam em atacar o PCF e em servir de fato à contrarrevolução.

O PCF ao princípio e linha Marxista-Leninistas de se construir como destacamento avançado da classe operária, ou partido revolucionário de vanguarda do proletariado. Tal como os bolcheviques, o PCF se tornou o partido de vanguarda revolucionário do proletariado ao se construir ideológica, política e organizacionalmente, e ao se engajar em uma luta revolucionária de vida ou morte e se fortalecer neste processo, aprendendo com as massas, pondo em prática a democracia como base para a tomada de decisões em todos os níveis, e utilizando a crítica, autocrítica e o movimento de retificação para corrigir erros e melhorar o trabalho e o estilo de trabalho.

Em contraste, há vários grupelhos trotskistas com várias origens conflituosas nas Filipinas. Eles se especializam em caluniar e atacar o PCF. Encontram-se sob influência de trotskistas dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Holanda, Japão e Austrália. Possuem o talento em se dividirem, como é de se esperar de pequeno-burgueses fracionistas que pretendem atingir o socialismo precocemente sob as condições semicoloniais e semifeudais. Atacando-se uns aos outros, enfraqueceram-se ao invés de se fortalecerem. Vejamos o exemplo conhecido do conflito entre Popoy Lagman e Sonny Melencio, financiados e influenciados por seus respectivos parceiros japoneses e australianos.

Todos estes grupos são afligidos por um certo tipo de esquizofrenia política. Podem guinar do liberalismo e fracionismo burgueses, em linha com a obsessão anti-stalinista, para a fraseologia ultra-esquerdista sobre socialismo enquanto questão mais urgente sob as condições semicoloniais e semifeudais. Opõem-se à atual linha geral da revolução democrático-popular sob direção do proletariado com a perspectiva socialista. Buscam ganhar importância e agradar os reacionários por meio do ataque ao PCF.

3. Escutei frases sobre a revolução do PCF “acontecer pelas costas do povo”, na qual as massas são mobilizadas a partir da luta democrática, ao passo que a consciência socialista se encontra ausente da equação. Segundo eles, o socialismo não deve ser algo a ser implementado somente pelo partido de vanguarda, portanto, haveria uma discrepância entre os métodos de mobilização do PCF e o programa socialista que defende. Como você responderia isso? Basicamente, eles pressupõem que o PCF não está desenvolvimento a consciência proletária entre as massas.

JMS: Não há nada de errado para o PCF em propagar e levar a cabo a linha geral e programa da revolução democrático-popular, com o proletariado enquanto classe dirigente e o socialismo enquanto perspectiva das atuais lutas democráticas contra o sistema dominante semicolonial e semifeudal. O socialismo é abertamente discutido como o futuro brilhante do povo filipino que se inicia a partir da derrubada do atual sistema social injusto. Não é algo que “acontece por trás das costas do povo.”

O PCF, o exército popular as formações revolucionárias de massas difundem e seguem a linha geral da revolução democrático-popular com uma perspectiva socialista. Eles jamais escondem a perspectiva socialista e o futuro da revolução democrático-popular. Explicam cabalmente as duas etapas da revolução filipina, democrática e socialista. Sempre respondem às perguntas sobre a revolução socialista nas reuniões de estudo, bem como em encontros públicos.

As massas de operários dirigidos pelo PCF, bem como aqueles que vêm a partir de outras origens de classe, que buscam se formar enquanto revolucionários proletários ou comunistas, são muito bem ensinados acerca do socialismo enquanto missão histórica da classe operária, diante da necessidade imediata da luta democrática contra o atual sistema dominante. As massas camponesas também compreendem que se beneficiarão da distribuição gratuita de terras na revolução agrária, e que atravessarão a cooperativização e mecanização na sociedade socialista.

Atualmente, tal como no período das lutas populares contra a emergência da ditadura fascista de Ferdinand Marcos, o PCF e o movimento de massas revolucionário estão mais uma vez chamando pela luta antifascista, anti-imperialista e antifeudal, como uma expressão enfaticamente combativa da revolução democrático-popular.

A linha antifascista condena o ataque e a violação dos direitos civis e políticos de indivíduos, grupos e classes não-exploradoras. A linha anti-imperialista condena o ataque e a violação contra a soberania e independência nacionais. E a linha antifeudal condena as formas de opressão e exploração feudais e semifeudais no campo, e leva a cabo a revolução agrária enquanto principal conteúdo da revolução democrática em favor do campesinato, a maioria do povo filipino.

Os trotskistas são anticomunistas ferozes, que fingem ser mais comunistas que os próprios comunistas. São mentirosos vulgares quando dizem que o PCF e o movimento revolucionário não apelam para os operários defenderem seus interesses de classe de operários contra o governo. Utilizam mentiras ultrajantes para construir suas caricaturas, que costumam vomitar com suas verborreias.

O próprio PCF e as organizações operárias clandestinas têm defendido e avançado de forma resoluta e militante os interesses de classe do proletariado contra o Estado contrarrevolucionário, os imperialistas e a grande burguesia nas Filipinas. O trabalho revolucionário e influência do PCF no movimento sindical são tão fortes que todos os regimes reacionários tentaram ilegalizar o movimento sindical legal com o propósito de terrorismo de Estado e supressão anticomunista.

4. Uma recomendação para a construção de um forte partido comunista, segundo a visão trotskista, é iniciar com uma base de massas já forte, e que tal partido deve emergir a partir de uma resistência ativa, forte e militante, que sejam expressões das contradições sociais, e não necessariamente de uma motivação ideológica. Durante seus muitos anos de construção partidária, o que você pode concluir a partir de sua experiência sobre uma construção vitoriosa de um Partido?

JMS: Já apontei que quando o PCF foi reorganizado em 1968, era pequeno e fraco, com apenas alguns poucos membros. Mas se baseava e se beneficiava do movimento de massas dos operários, camponeses e setores médios durante toda a década de 1960. O PCF expandiu suas forças não apenas em um processo de autoconstrução, em sessões de estudos exclusivas e a portas fechadas, mas se desenvolvendo e atraindo recrutas do movimento de massas revolucionário por meio de várias formas de luta.

O PCF, o Novo Exército Popular e a Frente Democrática Nacional se ajudaram muito durante a construção do movimento de massas revolucionário. Até onde sei, os trotskistas não são competentes ideológica, política e organizacionalmente para falar sobre a construção de um partido comunista, e não são qualificados para fornecer uma crítica séria à construção partidária e ao trabalho de massas feito pelo PCF. Se você examinar o histórico e as atividades dos trotskistas atuais, eles não têm experiência em organizar qualquer partido comunista para além de seus grupelhos, e em utilizar a Internet para atacar o PCF e outros partidos comunistas.

O PCF se tornou uma das forças mais formidáveis a partir do avanço das lutas anti-imperialistas e democráticas, e da ressurgência da revolução proletária mundial. Fortaleceu-se por possuir uma correta linha ideológica, política e organizacional, por meio da politização, organização e mobilização das massas, e por se engajar em várias formas de luta revolucionária que buscam a derrubada armada e a derrota do inimigo de classe. Durante o curso da luta revolucionária, o partido comunista recruta seus quadros e membros a partir do movimento de massas revolucionário.

5. Os trotskistas têm feito declarações periódicas de que o PCF possui uma política para atacá-los. Especificamente, haveria até mesmo ordens de assassinato no seio do PCF para alvejar outros membros da Esquerda. Isso seria supostamente feito para defender o “monopólio da verdade” do PCF. O que você pode dizer sobre isso? Por que você acha que fazem tais declarações?

JMS: As mentiras mais maliciosas e inacreditáveis dos trotskistas são suas declarações falsas segundo as quais o PCF teria uma verdadeira política para atacá-los e que, especificamente, haveria até mesmo ordens de assassinato no seio do NEP para alvejar outros membros da Esquerda. Eles deveriam apresentar os fatos para que o PCF e o NEP pudessem responder às acusações. Não é suficiente descrever uma falsa motivação como a “defesa do monopólio da verdade” pelo PCF.

Verdadeiros Marxista-Leninistas, como aqueles que se encontram no PCF, não acreditam em dogmas medievais, tampouco no monopólio e infalibilidade da verdade. O PCF possui uma filosofia materialista, científica, e métodos de conhecimento e prática. Engaja-se periodicamente na crítica e autocrítica, e em movimentos de retificação contra seus erros principais. No trabalho político entre as massas, possui a linha de aprender primeiramente com as massas sobre suas necessidades e demandas mediante a investigação social e a análise de classes, antes de tentar ensiná-las sobre qualquer coisa. Em sua vida organizacional, o PCF sustenta o princípio do centralismo democrático, e baseia sua tomada de decisões em discussões democráticas dos fatos e questões em vários níveis de liderança.

Nas Filipinas, os trotskistas que odeiam o PCF são tão poucos em se engajam em declarações maliciosas e falsas contra o partido. Eles têm sido ineficazes em suas atividades contrarrevolucionárias, e são assim, portanto, ignorados pelo PCF e as organizações de massas revolucionárias. Mesmo que sejam vorazes anticomunistas disfarçados de super-comunistas, não merecem qualquer tipo de punição física, pois apenas utilizam suas bocas e computadores contra o PCF.

Em minha experiência com a malícia trotskista, houve um trotskista filipino que utilizou suas declarações maliciosas contra o PCF para receber apoio de uma agência estrangeira de inteligência, e forneceu um testemunho escrito contra mim em conexão com as falsas acusações de assassinato feitas contra minha pessoa em 2007. E ele seguiu publicando uma série de artigos caluniosos contra o PCF. Fui feliz o suficiente em vencer os casos nos tribunais contra as falsas acusações de assassinato e terrorismo. Não penso sequer em qualquer retaliação física contra quaisquer de meus detratores. Para mim, desmentir as calúnias e acusações falsas é suficiente.

O maior serviço que o trotskismo atualmente cumpre em favor do Estado contrarrevolucionário nas Filipinas é falar e escrever contra o PCF. A este respeito, o PCF tem deixado que engulam a própria merda. Penso que a respeito de certos elementos que possuam uma visão trotskista, mas que tenham algum trabalho de massas e estejam dispostos a se unir à frente única formal ou informalmente, o PCF é conhecido por estar aberto à cooperação com eles na perspectiva de uma ampla frente única.

Entrevista de José Maria Sison concedida ao jornalista Michael Beltran