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Avançam as lutas do proletariado e do povo do Uruguai contra a crise a repressão


Por muitos anos, o Uruguai foi visto em diversos países latino-americanos, incluindo o Brasil, como sinônimo de progressismo e avanço social em uma América Latina marcada pelo conservadorismo e o atraso. Um presidente de esquerda “liberal” como Pepe Mujica, a legalização da maconha, etc., parecem ter fornecido ao Uruguai um verniz civilizacional que não corresponde à realidade. Observando os reais, o povo uruguaio padece de duras condições de existência, sob uma crise econômica e social, com a devida agravação da exploração do imperialismo ianque e dos reacionários locais, que tem piorado com o avanço da pandemia. Além disso, a reação uruguaia levou adiante, recentemente, uma violação fascista contra os direitos políticos democráticos elementares das massas do país.

Com uma população de cerca de 3,5 milhões – de acordo com números de 2018 –, há cerca de 800 mil desempregados e semi-desempregados, entre 400 mil trabalhadores dependentes da informalidade, 200 mil completamente desempregados, sem meio algum de existência, e 200 mil dependentes do seguro-desemprego, recebendo rendimentos equivalentes a metade de seus salários, já então insuficientes. Ademais, tal número não leva em conta as centenas de milhares de camponeses e pequenos e médios comerciantes que também se configuram, na prática, como desempregados parciais. Não há dúvidas que esta situação gritante de desemprego se agravará ainda mais até o final do ano, para o qual se prevê uma queda do produto interno bruto uruguaio entre 3,5% e 5%.

Ao contrário do que se pode pensar, não é apenas o reacionário governo de Bolsonaro que tem agido de forma conscientemente imprudente no que tange à pandemia da Covid-19. Sem ter decretado quarentena obrigatória, mas sim uma redução substancial da atividade econômica, desde junho o governo reacionário de Lacalle Pou decretou o retorno às atividades de construção civil, expondo mais de 100 mil operários ao risco de infecção, levando também ao retorno dos transportes, comércio, e a volta às aulas nas escolas do campo. Sem tocar um dedo sequer nos interesses dos grandes capitalistas e latifundiários uruguaios, e no pesado ônus da dívida externa uruguaia – que consome todos os anos bilhões de dólares dos cofres uruguaios que vão parar nos bolsos de grandes capitalistas europeus, constrangendo brutalmente o país e mantendo o Uruguai em uma situação de atraso no que diz respeito ao desenvolvimento capitalista –, o governo anuncia um fundo de 400 milhões de dólares de combate ao coronavírus com base em doações e empréstimos internacionais, isto é, um investimento de apenas 0,7% do PIB, um dos mais baixos do mundo e até mesmo para padrões sul-americanos, que tem investido em média 2,7% do PIB para a conformação de um fundo de combate ao coronavírus.

Em meio a esta situação de crise e pandemia, o parlamento uruguaio aprovou no início do mês de julho a “Lei de Urgente Consideração”, conhecida pela sigla LUC, que se trata, em uma palavra, de um pacote com aproximadamente quinhentos artigos que restringem duramente o direito à greve e organização sindical, demonstração e outras, além de tocar em uma série de questões de ordem econômica e ambiental, flexibilizando o arrendamento de terras em áreas protegidas para a condução de atividades predatórias como a produção capitalista de soja e eucalipto, tirando estas terras do controle do Instituto de Colonização e transferindo-as, na prática, para grandes conglomerados. Ademais, esta lei facilita também a privatização de empresas e educação públicas.

Tal é o pano de fundo atrás do qual, no Uruguai, irrompem importantes lutas do proletariado e do povo, que têm levado adiante seus instrumentos de luta como sindicatos e cooperativas para conduzir suas reivindicações contra os grandes capitalistas, latifundiários e o governo. Operários, camponeses, pequena burguesia urbana e demais têm se mobilizado no sentido econômico e político.

No Uruguai, o conglomerado brasileiro Minerva Foods, ligado à produção de carnes em escala industrial – frigoríficos – explora duramente o proletariado local, de forma não tão diferente como faz com o proletariado brasileiro. A Minerva Foods é dona de importantes plantas, dentre elas, os frigoríficos Canelones, Pul (localizado no departamento de Cerro Largo) e, sugestivamente, possui também o frigorífico Carrasco. Como parte de uma luta iniciada em novembro de 2019, os operários do Frigorífico Canelones (organizados pelo Sindicato dos Operários e Operárias do Frigorífico Canelones, SOOFRICA) realizaram uma marcha de mais quarenta quilômetros a partir da cidade de Canelones, chegando à capital Montevidéu, em 27 de julho, para reivindicar a reabertura da fábrica. Desde há meses, a empresa jogou mais de 600 operários para o seguro-desemprego, ainda que mantenha em funcionamento várias outras fábricas pelo país. Trata-se de uma forma de conter a ação unificada dos operários de todas as fábricas da Minerva Foods, dividir o movimento operário, e recontratá-los posteriormente por salários muito menores e com muito menos direitos. Também há alguns meses, com seus apenas 25 mil habitantes, mais 8 mil moradores de Canelones, entre operários, funcionários públicos e pequenos comerciantes, levaram a cabo uma importante luta pela reabertura do frigorífico Canelones, levando em conta a importância da manutenção dos empregos para a sobrevivência do comércio local.

A marcha dos operários do frigorífico Canelones foi apoiada por outros setores da classe operária e da pequena burguesia uruguaias. Em 29 de julho, motivados por esta ação, taxistas e demais trabalhadores das cooperativas de transporte realizaram uma paralisação em Montevidéu e outras cidades.

Os setores mais avançados do movimento operário e popular uruguaio têm defendido a palavra de ordem da greve geral de 24 horas enquanto forma de unificar as lutas populares, para se opor aos ataques anti-operários e anti-nação do governo, aos rebaixamentos salariais, demissões, pela ampliação do auxílio aos desempregados e àqueles recém-desempregados em virtude do fechamento das atividades econômicas, dentre várias outras reivindicações. Como forma de impedir a concretização da greve ge

ral de 24 horas, o governo reacionário uruguaio tem feito conluios e negociações a portas fechadas com a burocracia sindical oportunista que é hegemônica na PIT – CNT (Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores).

As lutas conduzidas pelo proletariado e o povo uruguaios fornecem exemplos e lições importantes para que possamos superar o duro momento vivido pelo campo democrático e progressista brasileiro e restaurar os instrumentos de luta de nosso povo trabalhador.

Com informações do periódico La Verdad, editado pelo Partido Comunista Revolucionário do Uruguai, edição 143 de junho de 2020, e do editorial da edição 144 do mesmo periódico

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