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"É a Rússia Imperialista?"



O que começou como uma pequena manifestação no final de 2013 na Praça Maidan (Praça da independência) em Kiev contra o governo do Presidente ucraniano Viktor Yanukovych agora escalou em uma crise, que na pior das hipóteses pode se desenvolver em uma guerra de grande escala entre a Rússia e o Império Mundial dos EUA-UE-OTAN- “o império” para encurtar. À medida em que mais fatos iam aparecendo, o caráter pró-imperialista, pro-Império desde o começo dos protestos se mostrava evidente. Além disso, agora é óbvio que o governo dos Estados Unidos tomou forte participação desde o início.


A cobertura unilateral da mídia dos EUA do "movimento pró-Maidan", como as forças pró-imperialistas na Ucrânia são chamadas; as atividades das ONGs financiadas pelos EUA; e o papel dos EUA na “Revolução Laranja” pró-imperialista de 2004 apontam na mesma direção. Ademais, com o desenvolvimento da crise, foi revelado na Internet que diplomatas dos EUA favoreceram o banqueiro neoliberal de direita Viktor Yatsenyuk, ou “Yats”, como os diplomatas carinhosamente o chamam. Sem nenhuma surpresa, logo após o golpe de Estado que derrubou Yanukovych, "Yats" foi nomeado primeiro-ministro do novo governo nomeado em Kiev. Mas existem mais coisas.


De acordo com a Wikipedia, em 18 de abril de 2014, Burisma Holdings, uma das principais empresas de petróleo e produção de gás natural na Ucrânia, anunciou a nomeação de Hunter Biden para seu conselho de administração. "Burisma detém licenças que cobrem as Bacias de Dnieper-Donetsk e bacias dos Cárpatos e Azov-Kuban e tem reservas consideráveis e capacidade de produção", a enciclopédia on-line declarou.


Hunter Biden, um advogado, é o filho do vice-presidente americano Joseph Biden. Segundo a Wikipedia, o currículo de Hunter Biden inclui várias conexões com o setor financeiro e do governo: "De 2001 a 2008, Biden foi um dos sócios fundadores da Oldaker, Biden, e Belair, LLP, uma firma de advocacia nacional com sede em Nova Iorque. Ele também serviu como um parceiro e membro do conselho da empresa de fusões e aquisições Eudora Global. Biden foi diretor executivo, presidente e mais tarde, do fundo de multimercado Paradigm Global Advisors. No MBNA, um grande banco dos EUA, Biden foi contratado como vice-presidente sênior".


Artigos posteriores da Wikipedia falam: Além de manter diretorias nos Conselhos da Coalizão US Global Leadership, The Truman National Secuirt e no “Center for National Policy”, ele possui cadeira no Conselho Consultivo para Presidente do Instituto Nacional por Democracia (NDI). O NDI é um projeto da National Endowment for Democracy (NED)". O NED é a organização que faz o que a CIA fez secretamente há 25 anos.


Viktor Yanukovych é um conciliador político burguês ucraniano que tentava se equilibrar entre o Império e a Rússia. Yanukovych havia derrotado os políticos abertamente pró-imperialistas associados com a chamada Revolução Laranja nas eleições de 2010. Yanukovych é bastante corrupto, mas isso é quase uma verdade universal de políticos capitalistas que operam nos antigos países socialistas da União Soviética e do Leste Europeu— e não apenas lá.


Os manifestantes anti-Yanukovych tentaram “retomar o espírito” da “Revolução Laranja”. Sob nenhum aspecto isso foi uma revolução, ao invés disso, foi um movimento apoiado pelo Imperialismo norte-americano. Seu objetivo era reverter uma eleição que havia sido vencida por Yanukovych contra seus oponentes laranjas pró-Império sobre o pretexto de que os resultados das eleições foram falsificados, uma afirmação um tanto questionável.


A Revolução Laranja foi parte de um conjunto de “revoluções coloridas” pro-Imperialismo—algumas com sucesso e outras não—que foram organizadas pelo Imperialismo e seus representantes locais, com o objetivo de substituir os governos que resistiam ao Imperialismo, de uma forma ou de outra. Outras “revoluções” do tipo foram a Revolução dos Cedros, no Líbano; o fracasso da Revolução Verde no Irã, que também tentou, sem sucesso, derrubar uma eleição presidencial; e a Revolução das Rosas na Geórgia.


Na Ucrânia, a Revolução Laranja foi inicialmente bem-sucedida. A clara vitória de Yanukovych na eleição de 2010, no entanto, indicou que o movimento carecia de amplo apoio popular entre o povo ucraniano. Durante seu governo, de 2004 a 2009, os líderes da Revolução Laranja glorificavam Stephan Bandera e outros "nacionalistas" ucranianos que haviam colaborado com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.


As pequenas manifestações inicialmente centradas na Praça Maidan, mas de forma constante iam aumentando o tamanho. Muitos dos manifestantes eram oriundos da Ucrânia Ocidental(1), onde os sentimentos de direita e até abertamente fascistas são historicamente fortes. Os manifestantes se queixavam que o Presidente Yanukovych havia assinado um acordo com os russos, ao invés da União Europeia. A Rússia, que busca impedir a Ucrânia de cair na órbita do Império, ofereceu aos ucranianos um melhor negócio. Em contrapartida, a União Europeia exigiu medidas pesadas de austeridade neoliberais em troca de empréstimos para socorrer o governo ucraniano praticamente falido.


Lado a lado com os direitistas "moderados" que constituíam o grosso dos manifestantes, apareceu um número crescente de forças fascistas abertamente como o partido Svoboda, que tinha começado como um partido neonazista antes de tornar sua imagem um pouco mais pragmática, e o ainda mais extremista, Pravy Sektor (Setor Direita). Esse último usa símbolos nazistas e dificilmente esconde a sua admiração não apenas aos ucranianos que lutaram ao lado da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, mas à própria Alemanha nazista.


Também não eram estes os únicos símbolos reacionários usados. Junto aos símbolos nazistas apareceu a bandeira da própria escravidão, bandeira dos rebeldes escravistas da Guerra de Secessão de 1861 a 1865 nos Estados Unidos. Quando alguns esquerdistas ucranianos, influenciados pelo “esquerdismo”(2) na Europa Ocidental, tentaram juntar-se aos manifestantes de extrema-direita no Maidan para expressar a sua solidariedade à luta contra Yanukovych—um enorme erro político, na minha opinião— eles eram expulsos pelos bate-pau do Pravy Sektor, que estavam se emergindo como os líderes do movimento ao menos nas ruas, se não nos corredores do poder. A massa de direita dos manifestantes não fazia nenhuma tentativa de detê-los. Na verdade, o Setor Direita é, aparentemente, muito admirado pelos "moderados" manifestantes de direita.


Em fevereiro, o Pravy Sektor liderou uma marcha até o Parlamento, o que forçou o presidente Yanukovych a fugir pela sua vida. Também ocuparam a sede do Partido Comunista da Ucrânia, em uma mobilização que lembra a infame marcha nazista sobre a casa de Karl Liebneckt—sede do Partido Comunista Alemão—em Berlin em 1933. Estes eventos foram ignorados ou mal mencionados nos meios de comunicação norte-americanos, que falsamente apresentavam o movimento EuroMaidan como um levante democrático contra o governo supostamente controlado pelos russos, e ditatorial de Victor Yanukovych.


Mais sobre a natureza reacionária do EuroMaidan

Já que eu não sou nenhum especialista sobre a Ucrânia, eu confio em observadores como Volodymyr Ishchenko, sociólogo Ucraniano anticapitalista e membro de um pequeno movimento influenciado pela “extrema esquerda” da Europa Ocidental. Como eles, Ishchenko foi bastante simpático ao movimento do EuroMaidan. Vamos ver o que ele tem a dizer sobre o caráter desse movimento e lembre-se, ele é simpático a ele.


Ischenko relata: "Os protestos do Maidan começaram mais como um protesto ideológico que foi, em certa medida, uma tentativa de alcançar o sonho europeu, vendo-o como uma espécie de utopia que resolveria muitos problemas ucranianos. E para outras pessoas, foi um protesto contra a Rússia. Acreditava-se que se Yanukovych não iria assinar o Acordo de Associação Europeu, ele iria se juntar à União Euroasiática com a Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão. Estes países foram descritos em tons bastante negativos como países pobres, autoritários que a Ucrânia não tinha que se orientar por eles.”.


Mesmo que não tivesse havido fascistas envolvidos, esta posição por si só é profundamente reacionária. Ela reflete uma atração pelos países exploradores do império mundial dos EUA-UE-OTAN, junto com a hostilidade para com os países pobres explorados como o Cazaquistão. Na minha cabeça, isso é razão suficiente para lutar contra tal movimento. Todas as proporções guardadas, isto é semelhante à mentalidade do "Tea Party". Por acaso os protestos do Tea Party são progressistas porque eles se opõem à administração de Barack Obama, e onde eles, nitidamente hipócritas, alegam ser simpáticos aos povos não-brancos do "Terceiro Mundo"? Dificilmente. Mas tem mais.


Ischenko continua: "Mas você tem que entender que a hegemonia política na Ucrânia é muito mais para a direita do que, por exemplo, na Europa Ocidental. Coisas que receberiam muito fortes críticas no Ocidente são mais ou menos toleráveis na Ucrânia. É mais ou menos ok falar sobre coisas como a ‘defesa dos povos europeus brancos’; esse tipo de coisa pode até ser dito por políticos tradicionais. Não há problema em ser homofóbico, não reconhecer qualquer necessidade de defender as pessoas LGBT. Nesta ideologia dominante mais à direita, a extrema-direita do Setor Direita ou do partido Svoboda não são realmente vistos como algo extremista".


Eu não sei o que Ischenko quer dizer com "políticos tradicionais", mas parece que ele tem em mente o processo que fez surgir o EuroMaidan— os partidários da Revolução Laranja. Isso explicaria não só a tolerância con o Pravy Sektor que ostenta abertamente símbolos nazistas, incluindo braçadeiras que contêm um símbolo que "lembra" uma suástica. Isso também poderia explicar o aparecimento da bandeira dos Confederados, a bandeira da própria escravidão, embora, pelo que eu saiba que há muito poucas pessoas de origem negra que vivem na Ucrânia.


Apoio de Ischenko ao EuroMaidan

Ischenko prossegue: “Mas com o tempo, após a insurreição maidanista, surgiram os problemas da repressão e violência policial, e as leis autoritárias aprovadas em janeiro, essas questões foram passadas para o primeiro plano. Tornaram-se mais importantes que a Associação Europeia.”


Muitos esquerdistas aqui no Ocidente fizeram argumentos semelhantes. Mesmo que o movimento do EuroMaidan tivesse certos aspectos reacionários, teria se convertido em um movimento progressista contra uma ditadura, quando o governo Yanukovych recorreu a ações repressivas e de legislação arbitrárias para acabar com o que estava se tornando uma insurreição em grande escala com o objetivo de derrubar seu governo eleito.


Aqui podemos apontar para o exemplo da própria Alemanha durante a ascensão de Hitler. O quase ditatorial chanceler Heinrich Bruening, que governou por decreto e foi chamado de "o chanceler da fome", às vezes tomou medidas ditatoriais na tentativa no final malsucedida de impedir os nazistas de chegar ao poder. Em um ponto, Bruening usou seu poder quase ditatorial para proibir as tropas nazistas, ou SA, de vestir seus uniformes marrons. Isso violava o direito democrático dos nazistas de se expressarem politicamente através do uso de uniformes de sua escolha.


Agora, é verdade que não devemos nos levar a apoiar leis antidemocráticas dos governos capitalistas, mesmo quando elas são destinadas a fascistas. Tais leis, mais cedo ou mais tarde serão usadas com força redobrada contra as organizações operárias. E, como o exemplo do próprio governo de Bruening mostra, suas medidas ditatoriais não impediram os nazistas de chegarem ao poder pouco depois, resultando na destruição de todos os restantes direitos democráticos.


Mas será que a resistência dos nazistas ao governo quase ditatorial de Bruening transformou o movimento nazista em um movimento democrático que a esquerda deveria ter apoiado? Claro que não! Da mesma forma, quaisquer leis repressivas e medidas ditatoriais tenham sido tomadas pelo governo burguês de Yanukovych contra a insurreição do EuroMaidan—sim, uma insurreição, não era em nenhum sentido, uma pacífica manifestação de massas do tipo que estamos familiarizados com no Ocidente—não transformaram a revolta reacionária Maidanista em um movimento democrático.


A ascensão do movimento 'anti-Maidan' no leste da Ucrânia

O movimento antiMaidan que surgiu na Ucrânia, em oposição ao governo golpista do EuroMaidan em Kiev é representado por entidades como a República Popular de Donetsk, que gozam de um apoio considerável no leste da Ucrânia. Ao contrário dos maidanistas, eles são tolerantes com figuras de esquerda e símbolos soviéticos, mas não com bandeiras e símbolos nazistas. Por exemplo, as bandeiras vermelhas soviéticas e fotos de Lenin se misturam com a bandeira tricolor da capitalista Federação Russa e as czaristas águias duplas dos nacionalistas russos. Enquanto os maidanistas destruíam estátuas de Lenin, os antiMaidan defendem estas estátuas.


Estes símbolos são decididamente misturados, é claro—por exemplo, bandeira da águia dupla de um lado e a foice e martelo vermelhos da União Soviética, do outro! Eles refletem claramente as forças políticas e de classe conflitantes que participam no movimento antiMaidan. Mas a relação das forças de classe entre os antiMaidans, que em grande parte consiste—não inteiramente, claro —de operários industriais, é bastante diferente do carater de classe do EuroMaidan.


Para ser justo com Ischenko e outros esquerdistas ocidentais que tiveram as mesmas posições acerca da Ucrânia, os mesmos também mostraram simpatia ao movimento antiMaidan, uma vez que também é um movimento de massas contra o Governo “pró-Imperialista”— governo, que por sua vez, foi estabelecido pelos maidanistas de classe média com ajuda das tropas de choque fascistas.


A posição de Ischenko e de outros que pensam da mesma forma no Ocidente, seria a mesma que alguém vivo à época da Guerra Civil Americana, simpatizar com os rebeldes Confederados e com os unionistas ao mesmo tempo porque ambos tinham apoios entusiásticos de setores populares! Esses fatos não impediram Marx e Engels, que viviam na Inglaterra, de saber desde o primeiro dia de que lado estavam.


Eleições do 25 de Maio

À medida que ia se encerrando meu prazo para entregar este post para meus editores, chegou a notícia dos resultados das eleições presidenciais de 25 de maio encenadas pelo governo golpista de Kiev em uma tentativa de estabelecer alguma legitimidade legal. Em primeiro lugar, parece que todos os candidatos anti-Maidan foram efetivamente banidos. Em segundo lugar, nenhum voto foi realizado em regiões onde o sentimento antiMaidan é mais forte, como Donetsk. Houve uma presença eleitoral muito baixa no Donbass como um todo. Mas isso não significa que os resultados sejam inúteis.


Como esperado, o bilionário pró-Imperialista “magnata do chocolate” Pyotr Poroshenko ganhou as eleições. Ele derrotou sua colega bilionária Yulia Tymoshenko, uma das principais figuras da Revolução Laranja, que era a candidata da extrema direita do Partido da Frente Patriota. Ela defendeu um referendo sobre a questão do ingresso da Ucrânia na Otan na esperança de fazer uma exibição decente e talvez forçando Poroshenko para um segundo turno. Esta estratégia falhou completamente. Tymoshenko é impopular por causa de sua corrupção. Ela estava na verdade cumprindo uma sentença na prisão, quando ela foi libertada pelo levante do EuroMaidan.


Uma característica interessante dessa eleição foi o fraco desempenho dos partidos neofascistas. Os candidatos tanto do Svoboda quanto do Pravy Sektor tiveram cerca de 1% dos votos, ainda menos que o Partido neonazista Partido Democrata Nacional, recebe regularmente hoje na Alemanha.


Entre os principais candidatos, o Poroshenko vitorioso parece ter sido o mais "moderado". Isso indica que as manifestações do movimento EuroMaidan eram muito mais à direita do que a perspectiva da maioria das pessoas que vivem no oeste da Ucrânia. Enquanto os fascistas do Pravy Sektor foram capazes de emergir como a principal força no Maidan, como mostrado por terem sido capazes de expulsar a esquerda e sua liderança da marcha no parlamento que forçou o presidente Yanukovych a fugir, eles recebem muito pouco apoio do povo mesmo da Ucrânia Ocidental.


Outro sinal de que EuroMaidan goza de um apoio limitado, na melhor das hipóteses, entre as pessoas do oeste da Ucrânia tem sido a recusa das tropas ucranianas em lutar contra as forças antiMaidan do Leste. Em muitos casos, as forças ucranianas chegaram inclusive a se juntar aos rebeldes do Leste, ou simplesmente abandonaram a guerra. Apenas os neofascistas do Pravy Sektor mostraram possuir entusiasmo para lutar.


Os objetivos do Imperialismo na Ucrânia

O sistema imperialista dos EUA-UE-OTAN(3) está aproveitando ao máximo as tradições dos soldados "brancos" da Ucrânia durante a guerra civil que se seguiu à revolução de 1917. Essas tradições foram desenvolvidas por Stephan Bandera e seus seguidores durante a II Guerra Mundial —chamada de ”a Grande Guerra Patriótica” nas ex-nações soviéticas. Os líderes do "Império", isto é, os líderes do governo estadunidense, estão aproveitando estas tradições dos segmentos reacionários da população ucraniana para ganhar o controle dessa rica terra agrícola, que foi apelidada de "o cesto de pães da Europa". A Ucrânia também tem petróleo e gás natural e gasodutos que abastecem a Europa com gás natural russo.


Dentro do Império, há sinais crescentes de tensão entre a Alemanha atual, que agora domina a Europa economicamente, e gostaria de ser menos dependente do imperialismo norte-americano. O seu acesso ao gás natural russo dá a Alemanha e outros países europeus mais espaço de manobra dentro do Império dos EUA. Afinal, os EUA não lutaram duas guerras contra a Alemanha no último século para que a Alemanha pudesse ser independente dos EUA! Os EUA querem muito manter a relação básica de forças entre eles e os países da Europa Ocidental—acima de tudo a Alemanha—que surgiu após a Segunda Guerra Mundial.


Os chamados “nacionalistas” ucranianos do Maidan estão sendo incentivados pelos EUA a falar sobre a grandeza da nação ucraniana, assim como os brancos do sul depois da Guerra Civil e do período da Reconstrução foram incentivados a celebrar as grandes tradições dos brancos “povos sulistas” e aquilo que chamavam de nação.


Em nome da defesa das grandes tradições de Robert E. Lee e Jefferson Davis, brancos pobres foram incentivados a atacar os escravos negros libertados. Mas na Ucrânia, a quem pertence o papel dos negros? Uma vez que existem poucos ou nenhum povos africanos que vivem na Ucrânia, este papel cabe aos russos, ou àqueles ucranianos que falam o russo como sua língua nativa em vez de ucraniano. E quem faz o papel da Ku Klux Klan na Ucrânia? Claro, o Pravy Sektor. Não é coincidência o uso das “estrelas e barras” dos confederados e dos Klan aparecem lado a lado de símbolos nazistas. Mas, assim como os trabalhadores brancos do Sul são mais explorados e em piores condições do que os trabalhadores brancos de qualquer outra parte dos EUA, se o Império consolidar sua trilha, os trabalhadores ucranianos do oeste da Ucrânia que falam ucraniano ao invés de russo, estarão em piores condições do que a maior parte dos trabalhadores na Europa, com exceção dos russos ou ucranianos falantes de russo.


E quanto ao Imperialismo Russo?

Essa é a minha posição e também a de outros setores da esquerda. Mas muitos na esquerda nos Estados Unidos e na Europa rejeitam esta análise. Eles respondem a estes setores da esquerda com o qual estou de acordo, que estamos ignorando o "imperialismo russo." Afinal Marx, Engels e, acima de tudo Lenin, não eram fortes oponentes do imperialismo russo e de todas as formas de nacionalismo russo?


De acordo com este argumento, o imperialismo norte-americano tiraniza e explora a América Latina e outras partes do mundo, enquanto o imperialismo russo de maneira semelhante, tiraniza e busca dominação sobre os países da Europa Oriental, incluindo a Ucrânia. Eles apontam para a história da opressão muito real do czarismo russo contra a nação ucraniana nos dias de Catarina, a Grande, no século 18, bem como os excessos da campanha de coletivização de Stalin de 1930, que atingiu a Ucrânia de forma muito dura, resultando em uma fome generalizada. Eles acusam aqueles de nós à esquerda que veem o sistema imperialista mundial centrado nos EUA como os agressores reais na Ucrânia de serem apoiadores do imperialismo russo e do governo capitalista do presidente russo, Vladimir Putin.


Agora, mesmo se os nossos oponentes dentro da esquerda estão certo sobre a natureza imperialista da Rússia atual, ainda seria o dever daqueles de nós que vivem no Ocidente -especialmente os Estados Unidos, seguir uma política de “derrotismo revolucionário” contra “nossos” próprios governantes imperialistas. Não importa o quão poderoso e perigoso imperialismo russo supostamente é, ainda temos que ser guiados pela palavra de ordem de Lenin de “derrotismo revolucionário” e a de Karl Liebneckt “O inimigo principal está em casa!”.


Dito isto, é a Rússia realmente imperialista? A partir da década de 1990, quase toda esquerda concorda que hoje a Rússia é uma nação capitalista. Mas nem todas as nações capitalistas são nações imperialistas. Por exemplo, a Venezuela ainda é um país capitalista, mas é imperialista? Praticamente todos as pessoas de esquerda, incluindo aquelas que consideram a Rússia uma potência imperialista perigosa, apoiam fortemente a Venezuela e a sua Revolução Bolivariana na sua luta contra o imperialismo.


Da mesma forma, na década de 1930 os marxistas da época apoiaram a China na sua luta contra o Japão, apesar do fato de que a China era então governada pelo carniceiro reacionário Chiang Kai-Shek, que esmagou a revolução chinesa de 1925-27 no banho de sangue dos trabalhadores de Xangai. Portanto, se um determinado país capitalista é um dos países imperialistas ou é um dos países explorados não é uma mera questão acadêmica para os marxistas, mas pode ter consequências políticas graves.


“Anexação” russa da península da Crimeia

Por acaso a Rússia de Putin não anexou a Crimeia? Não seria isso um ato de agressão claro contra a Ucrânia? Na realidade, a península da Crimeia nunca foi predominantemente habitada por povos de idioma ucraniano em qualquer ponto da sua história, pelo menos de acordo com o que eu fui capaz de encontrar na Internet. Muitos povos viveram na península da Criméia ao longo de sua história registrada. Mas desde meados da década de 1860, a população predominante de Crimeia tem sido a russa.


Esta situação foi reconhecida pelos bolcheviques quando Criméia tornou-se parte da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, enquanto a grande minoria dos tártaros da Criméia tinha a sua própria República Socialista Soviética Tártara especial. Se tivesse havido qualquer motivo de fazer da Crimeia parte da Ucrânia, Lenin, que sempre se inclinou a tomar o lado da nações e povos que haviam sido oprimidos pelos Rússia czarista, certamente teria usado toda a sua influência para que Crimeia fosse integrada à República Socialista Soviética da Ucrânia, em oposição à República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Mas ele não o fez.


De fato, Putin como um nacionalista russo, se queixou de que os bolcheviques apoiaram a incorporação dos povos falantes de russo na Ucrânia oriental- o que o regime czarista chamou "nova Rússia" -para a República da Ucrânia, e não da República Russa.


Em 1945, o governo soviético, liderado pelo Premier Joseph Stalin dissolveu a república autônoma dos tártaros, por razões que serão examinadas a seguir. Apenas sob o período de Nikita Kruschev—que, como primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que chegando no poder havia emergido como o líder soviético mais influente depois da morte de Stalin no ano anterior— é que a Península da Crimeia passou a ser parte da República Socialista Soviética da Ucrânia. Isso foi feito para marcar o aniversário de 300 anos da conquista da Ucrânia pelo Império Russo sob a imperatriz Catarina, a Grande.


Talvez, isso tenha sido feito como uma medida de respeito e de compensação para a nação ucraniana, que realmente tinha sido oprimida pelo Império Russo e depois desproporcionalmente suportou todo o peso da guerra civil que eclodiu nela em decorrência da coletivização da agricultura no início dos anos 30. No entanto, o filho de Khrushchev, Sergei agora um cidadão dos EUA, afirmou na Rádio Nova Zelândia que foi uma decisão puramente administrativa após a construção de um canal para fornecer água da Criméia da Ucrânia.


O governo Putin estava mais do que disposto a aceitar o status quo estabelecido pela história-sendo ou não ele justo—desde que o direito da Rússia de manter a sua base naval em Sebastopol, seu único porto de águas quentes, fosse reconhecido por Kiev, e enquanto o governo ucraniano desempenhasse um papel amortecedor entre a Federação Russa e o império mundial dos EUA-OTAN-UE. Mas quando a extrema-direita ucraniana chegou ao poder em fevereiro de 2014 e Kiev deixou claro o seu plano para transformar os povos de língua russa na Ucrânia em uma minoria perseguida e bode expiatório, o governo Putin sentiu que não tinha outra alternativa senão permitir que os povos majoritariamente russos da Crimeia se juntassem à Federação Russa.


A alternativa teria sido entregar mais cedo ou mais tarde a base naval russa em Sebastopol à OTAN. Isso seria intolerável para o povo russo, especialmente à luz da expansão da OTAN desde a dissolução formal da União Soviética, em violação direta das garantias feitas a Mikhail Gorbachev por líderes dos EUA, quando ele concordou com a unificação da Alemanha nos termos americanos.


Supondo que o atual governo de Kiev se consolide e consiga colocar abaixo a resistência no leste, e mesmo supondo que a Crimeia permaneça parte da Rússia, o resultado líquido ainda será uma enorme extensão do poder do império mundial dos EUA-OTAN às custas da Rússia. Esta situação não tem semelhança com a anexação alemã da germanófoba Áustria em 1938, o que representou um enorme reforço da posição da Alemanha nazista na época. Por exemplo, as reservas de ouro da Alemanha foram dobradas pela transferência do ouro do banco central da Áustria para o Reichsbank, como o banco central do alemão era então chamado.


A atitude de Marx, Engels e Lenin em relação ao Império Russo

Mas não eram Marx, Engels e Lenin, fortes oponentes do nacionalismo russo? Como podemos apoiar o movimento antiMaidan no leste ucraniano, que é fortemente influenciado pelo nacionalismo russo, quando todos os líderes históricos do marxismo tão fortemente se opuseram a qualquer forma de nacionalismo russo?


Claro, nossos líderes históricos Marx, Engels e Lenin, viveram em um período histórico diferente do nosso. Na metade do século 19, o Império Russo lançou uma sombra negra pela Europa. A maioria dos camponeses dentro do Império Russo eram servos ligados à terra como era o caso na Europa Ocidental durante o feudalismo da Idade Média. As tropas russas esmagaram a revolução democrática húngara de 1848 no sangue salvando assim o reacionário Império Austríaco (depois de 1867 chamado de Império Austro-Húngaro). Por conseguinte, durante as revoluções de 1848, Marx e Engels advogaram a guerra contra a Rússia, bem como contra a Inglaterra, a "déspota do mercado mundial.".

A Inglaterra industrial no Ocidente e a Rússia autocrático-feudal no Oriente foram os dois pilares da reação europeia e global. Se as revoluções de 1848 alcançassem o nível da Grande Revolução Francesa de 1789-1794, para não falar da Revolução Russa de 1917, não restam muitas dúvidas de que a Europa revolucionária teria de lutar uma guerra mundial contra a Inglaterra e a Rússia.


Uso indevido dos escritos de Marx e Engels sobre a Rússia

A maneira que Marx e Engels trataram a questão russa refletia a realidade da época que viveram. Isso não impediu os socialistas renegados de reivindicar a autoridade dos dois fundadores do socialismo científico após as condições terem mudado fundamentalmente. Por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial, o Partido Socialdemocrata alemão alegou que, já que Marx e Engels haviam defendido guerra contra a Rússia, em 1848, eles só estavam aplicando a política de Marx e Engels quando votaram pela guerra em 4 de Agosto de 1914.


Mais tarde, durante a Guerra Fria, o ex-marxista reacionário Sidney Hook tentou colocar Marx e Engels como ambos ao lado do recém-criado sistema imperialista mundial centrado nos EUA contra a União Soviética. Hook fez isso retomando os chamados de Marx e Engels pela guerra contra a Rússia czarista. Na realidade, Marx e Engels estavam bastante crédulos em uma revolução russa se aproximando e destinada a conduzir a Rússia de um pilar da reação a uma fortaleza da revolução.

Rússia em 1914.


Às vésperas da "I Guerra Mundial", embora a revolução russa ainda não tivesse sido vitoriosa, já haviam grandes mudanças na Rússia, em relação ao que era em 1848. A servidão havia sido abolida formalmente em 1861, e no final do século XIX, havia uma moderna industrialização capitalista se consolidando na Rússia. Com a moderna indústria capitalista, surge também o movimento operário, que foi mais radical na Rússia do que em qualquer país europeu ou outro. Os vestígios remanescentes de relações servis foram gradualmente dando lugar a relações capitalistas na agricultura também.


Grande parte do capital investido em grandes empresas industriais na Rússia, bem como nos títulos públicos do governo czarista era de origem estrangeira. Esse capital veio da Inglaterra e mais ainda, da França— era menor da Alemanha, porque a indústria alemã estava crescendo muito mais rápido do que a indústria britânica ou francesa e, portanto, teve menos capital e dinheiro excedente para buscar investimento estrangeiro. As empresas industriais recém-criadas na Rússia, muitas vezes tomaram a forma de fábricas extremamente modernas— para os padrões de 1914-que eram muito maiores e empregadas por mais trabalhadores do que quaisquer fábricas no Ocidente.


No Ocidente, incluindo os Estados Unidos, havia muitas fábricas de menor escala que empregavam um número menor de trabalhadores. Isso refletia as relativamente pequenas empresas industriais que haviam dominado o capitalismo durante a época anterior da livre concorrência. Na época da livre concorrência, a Rússia não era ainda uma nação capitalista.


Os modus operanti do capitalismo ultramoderno na Rússia de 1914 formou enclaves no que ainda era uma sociedade que suportou muitas das marcas de seu passado feudal recente. Politicamente até a eclosão da primeira revolução russa de 1905, a Rússia era uma monarquia um pouco como a Arábia Saudita é hoje. Após a revolução de 1905, um parlamento com pouco poder real e sufrágio limitado chamado de Duma—mesmo nome do atual parlamento russo—foi criado, e uma Constituição, apesar de uma muito reacionária, foi proclamada.


O movimento operário, que “desfrutara” de nenhum direito democrático antes de 1905, tinha uma legalidade instável e muito limitada e alguns representantes no parlamento. Neste sentido, a Rússia em 1914 era realmente mais avançada politicamente do que os Estados Unidos é, em 2014, onde os trabalhadores enquanto classe não tem nenhum representante no Congresso dos Estados Unidos. Apesar destas reformas liberais que surgiram da revolução de 1905, a Constituição russa proclamou o czar o governante autocrático da Rússia. Portanto, por trás de alguma vitrine parlamentar, o essencial da monarquia absoluta permaneceu intacto.


Império czarista, a “prisão das nações”

Como todo império, a nação russa oprimiu e dominou diversas outras nações. As nações não-russas da Finlândia, maior parte da Polônia, Letônia, Lituânia, Estónia, Bielorrússia, Ucrânia, Arménia, Geórgia, Azerbaijão, o que era então chamado Turquestão (as nações atuais do Turquemenistão, Cazaquistão, Uzbequistão e Quirguistão) era controlada pelo Império Russo. Ademais, a Rússia nas vésperas da guerra, em 1914, estava em processo de partilhar o Irã com a Grã-Bretanha. A Rússia iria obter o Norte como uma "esfera de influência" e a Grã-Bretanha iria dominar o sul do Irã.


Hoje, nenhum dos países listados acima são parte do Estado russo—a atual Federação Russa. Todos são independentes da Rússia, embora não necessariamente do império mundial dos EUA, que é outra questão. Na verdade, a Polônia, a Letônia, a Lituânia e a Estônia são membros da OTAN. Como tal, os membros da OTAN, portanto, têm de ser considerados partes muito dependentes do sistema imperialista mundial centrado nos EUA.


Capital financeiro russo em 1914

Embora os russos tivessem algum capital financeiro definido em ações, títulos e depósitos bancários substanciais, o desenvolvimento do capital financeiro russo ficava muito atrás dos países que eram mais ricos em capital financeiro, que em 1914 eram a Grã-Bretanha, os EUA, a França e a Alemanha. O papel do capital financeiro francês era particularmente importante porque a indústria francesa naquele momento se encontrava estagnada. Capital na França tendia a ser acumulado na forma de capital monetário que estava procurando investimento de capital de empréstimo.


Portanto, em 1914 a Rússia possuía tanto elementos um país semicolonial e de uma nação imperialista em seu próprio direito combinado. Isso levantou a questão se os marxistas russos deveriam lutar contra o Imperialismo Russo ou defender a Rússia contra o Imperialismo estrangeiro, da mesma forma que os marxistas anos mais tarde iriam defender a China contra o Imperialismo Japonês nos anos 30.


Mas tomar uma posição similar em relação à Rússia em 1914 teria sido um erro político sério. Como vimos, a Rússia dominou e oprimiu muitas nações e nacionalidades. Suas políticas de "russificação" —forçar outras nações a usar somente o idioma russo e esquecer suas línguas e cultura— eram notórias. Assim era o cruel antissemitismo do regime czarista e seus pogroms. Um número até maior de muçulmanos foi oprimido pelo Império czarista, onde a religião oficial do Estado era o Cristianismo Ortodoxo.


Tais circunstâncias forçaram os marxistas russos a dedicar uma enorme importância para a questão nacional, mais do que os marxistas de qualquer outro país. O Imperialismo Russo de 1914 era na verdade uma combinação de dois regimes de diferentes origens de classe, um Imperialismo moderno razoavelmente desenvolvido baseado no capitalismo monopolista e capital financeiro, e um Imperialismo militarista-feudal enraizado em relações feudais pré-capitalistas presidida pela contínua autocracia czarista enraizada em relações feudais.


Como consequência, era uma necessidade dos marxistas russos tratar a Rússia como uma nação Imperialista e não um país colonial ou semicolonial oprimido. A guerra da Rússia contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro que explode em 1914 não era de nenhuma maneira comparável com a guerra em defesa da Independência que a China travou contra o Japão entre 1937 e 1945. Diferente do caso chinês, a situação demandou uma política de “derrotismo revolucionário” pelos marxistas russos, como seu líder Vladimir Lenin pontuou.


A Rússia de 1914, portanto, apresenta um quadro peculiar. Ela possuía muitas colônias, no entanto ao contrário dos impérios "marítimo" da Grã-Bretanha e França, as colônias da Rússia formavam uma única zona geográfica contínua. Rússia era uma potência terrestre e não uma potência marítima como a Grã-Bretanha. Uma vez que ficava muito atrás da Grã-Bretanha, para não falar dos Estados Unidos e da Alemanha no desenvolvimento industrial geral, a Rússia era muito mais fraca militarmente do que havia sido no meio do século 19. Em competição militar—guerra—exatamente como em competição econômica, é o relativo, e não o absoluto, a força das partes em conflito que é decisiva.


Isso foi mostrado pela derrota do Império Russo nas mãos do novo Império Japonês em 1904-1905, o que surpreendeu os observadores europeus da época. Eles não poderiam imaginar que uma nação branca como a Rússia poderia ser derrotada por uma nação não-branca que mal havia evitado se tornar uma colônia ou uma semicolônia. E isso seria enfatizado pelo próprio péssimo desempenho da Rússia na I Guerra Mundial.


O fim do Imperialismo Russo

Não é aqui o local adequado para escrever a história da Revolução Russa ou da União Soviética. Aqui nos limitaremos aos efeitos da revolução no Imperialismo Russo sob sua forma em 1914. A Revolução de Fevereiro, embora formalmente tenha convertido a Rússia de uma monarquia para uma república, deixou intacta tanto a estrutura militar-feudal do Imperialismo Russo quanto sua estrutura moderna de capitalismo monopolista imperialista.


Enquanto o Czar Nicolau II foi forçado a deixar o trono, a base de classe do czarismo—Grandes latifundiários semifeudais e a estrutura militar burocrática do Estado — permaneceu intacta. Portanto, a Rússia republicana que surge a partir da Revolução de Fevereiro continuou sendo uma potência Imperialista.


Refletindo sobre isso, o governo provisório criado pela Revolução de Fevereiro, seja sob seu primeiro-ministro, Príncipe Georgi Lvov, seja sob seu segundo primeiro-ministro “socialista” Alexander Kerensky, obstinadamente continuou os objetivos de guerra do czar, incluindo a exigência de que à Rússia fosse concedido o controle dos Dardanelos, que conectam o Mar Negro ao Mediterrâneo. Como resultado, os marxistas sob a liderança de Lenin —não sem um debate interno no partido— tomaram a posição de derrotismo revolucionário na república da mesma forma que tiveram durante o czarismo.


Revolução de Outubro destrói o Imperialismo Russo

Entretanto, o Imperialismo Russo em seus dois sentidos—uma máquina militar-feudal e capitalismo monopolista dominado pelo capital financeiro— foi decididamente derrotado pela Revolução de Outubro. Os Latifundiários, a espinha dorsal da estrutura militar-feudal do Imperialismo russo, foram derrotados e perderam suas terras para os camponeses no que foi o maior levante camponês antes da Revolução Chinesa de 1949. O capitalismo monopolista russo logo também desapareceu como resultado da vitória da primeira Revolução Proletária duradoura. Imperialismo russo era agora uma coisa do passado.


A União Soviética era Imperialista?

A propaganda imperialista ocidental e seus historiadores comprados e pagos afirmam que a União Soviética que emergiu da Revolução de Outubro era apenas uma continuação do Antigo Império Russo mas com uma nova roupagem. O termo “Império Soviético”, muitas vezes aparecendo na mídia burguesa, foi projetado para enfatizar esse ponto. As várias teses sobre “capitalismo de Estado” dentro do movimento socialista hoje ecoam as reivindicações desses historiadores Imperialistas. Por exemplo, a tendência socialista internacional fundada pelo falecido Tony Cliff apoia a visão que a economia soviética era uma forma de capitalismo, a qual eles chamam de “capitalismo de Estado”.


Essas teses insistem que a URSS era capitalismo de Estado porque quem controlava a indústria soviética era o Estado Soviético e não capitalistas privados, sejam particulares ou em empresas. No entanto, os seguidores de Cliff argumentam que da mesma forma que no capitalismo, a economia soviética era baseada em reprodução ampliada, ou crescimento econômico, e então eles formulam a conclusão que a economia soviética não era apenas capitalista, mas também imperialista.


Durante a “Guerra Fria”, a palavra de ordem dos “Cliffistas” era “nem Washington nem Moscou”. Quando a URSS foi completamente desmantelada sob Gorbachev e Yeltsin, os seguidores de Cliff saudaram isso como um grande avanço para a classe trabalhadora, já que segundo a lógica de “capitalismo de Estado” deles, uma das “potências Imperialistas” que haviam dominado o mundo pós-1945 havia caído.


Já que a União Soviética havia sido “imperialista”, praticamente todas as tendências do atual movimento “cliffista” enxerga a atual Federação Russa como simplesmente a continuação do Imperialismo soviético, que por sua vez, era visto como essencialmente a continuação do antigo Imperialismo czarista, que Lenin tão bravamente havia lutado contra.


A outra principal teorização de “capitalismo de Estado” no movimento socialista atual inspira-se na liderança do Partido Comunista da China, que a partir de 1968 em diante, muitas vezes se referiam aos líderes soviéticos da época como os “novos czares”. Ao usar o termo “novos czares”, a liderança chinesa a partir de 1968 desenhou uma equivalência direta entre a Rússia Imperialista do czar e a URSS após os “revisionistas kruschevistas” assumirem após o XX Congresso do PCUS em 1956.


Nenhum Imperialismo Soviético real

É verdade que sob a economia planificada da URSS, uma enorme quantidade de riqueza fora acumulada. Mas essa riqueza não era acumulada na forma de capital e, portanto, nem na forma de capital financeiro. Uma vez que não havia realmente nenhum capital legal após a NEP (Nova Política econômica) ter sido substituída pelo plano inicial de cinco anos a partir de 1928—e já que a “segunda economia” mesmo sob o regime flexível de Leonid Brezhnev (1906-1982) certamente não chegou nem perto do nível de capitalismo monopolista gerando seu próprio capital financeiro— não havia um centavo de capital financeiro soviético.


A Federação Russa como uma prisão de nações?

Lenin detestava qualquer forma de opressão nacional e racismo, e nomeadamente, o chauvinismo grão-russo que havia provado ser um aspecto do regime czarista. A âmbito pessoal, Lenin nunca chegou a contar “piadas étnicas”. Após a revolução, nenhuma nação foi forçada a continuar na Federação Soviética que havia se tornado a União Soviética. Por exemplo, Polônia e Finlândia nunca se tornaram membras da Federação Soviética. Nações que eram suficientemente desenvolvidas a existir enquanto países independentes mas escolhiam ser parte da Federação Soviética eram organizadas como Repúblicas Soviéticas, e que especificamente incluía o direito de separação. Mas o velho Império Russo além de incluir nações que eram perfeitamente capazes de existir enquanto países independentes também incluíam nacionalidades menores que por si próprias simplesmente não eram populosas o suficiente para funcionar viavelmente enquanto países independentes. Esses povos eram organizados em repúblicas soviéticas autônomas. Eram educados em seu próprio idioma, e em alguns casos, alfabetos tiveram que serem desenvolvidos para esses idiomas pela primeira vez.

Sob o comando de Lenin, eram feitos todos os esforços para desenvolver lideranças nas Repúblicas Soviéticas e nas repúblicas autônomas soviéticas, que fossem de suas próprias nacionalidades. Essa política era o posto da política czarista de “russificação”. Na Ucrânia, por exemplo, a política de “ucranização” era seguido onde não apenas o idioma ucraniano era usado em todas as funções oficiais mas a liderança ucraniana era construída tanto no Partido quanto no Estado.


Os sucessores de Lenin não acompanharam seus altos padrões. É bem conhecido que perto do fim de sua vida, Lenin denunciou o que ele via como políticas de mãos de ferro que refletiam o chauvinismo grão-russo por Joseph Stalin, Felix Dzerzhinsky e Sergo Ordzhonikidze no sentido da república de nascença da Geórgia de Stalin e de Ordzhonikidze. Deve ser apontado que Stalin; Felix Dzherzhinsky que era de nacionalidade polonesa; e Sergo Ordzhonikidze eram todos não-russos. Como não-russos, homens como Stalin, Dzerzhinsky, and Ordzhonikidze estavam sob pressão de elementos mais arcaicos de serem “mais russos que os russos”. Lenin odiava esse tipo de coisa.


A II Guerra Mundial estava para trazer problemas maiores para a frente nacional. Os mais variados graus de desenvolvimento econômico e estrutura de classe de diferentes nacionalidades e determinadas circunstâncias históricas especiais que decorrem da natureza do fascismo alemão, combinado com a política da liderança de Stalin da coletivização nem sempre voluntária da agricultura, quando os camponeses não concordavam em participar da fazenda coletiva, sua adesão era então feita praticamente obrigatória, o que contraria os princípios marxistas—criando mais colaboracionistas nazistas entre algumas nacionalidades do que em outras.


Uma circunstância peculiar aplicada à nacionalidade judaica soviética tradicionalmente falante de iídiche. Os judeus eram um povo comerciante na Rússia czarista, o que significa que muitos—não todos, claro— judeus eram fortemente ligados à propriedade privada. Apesar disso, houveram muito poucos colaboracionistas nazistas entre eles. Isso se deve ao fato que a política dos nazistas em relação à “Questão judaica” era muito simples. Era matar todo homem, mulher e criança judaica, seja por trabalho forçado até a morte ou os assassinando sem rodeios.


Portanto, dentro da nacionalidade de língua iídiche judaica todas as classes e estratos—trabalhadores que apoiaram o regime soviético por causa de sua posição de classe, os empresários mais ou menos ilegais que achavam muitas possibilidades de fazer dinheiro da carência da economia soviética mas que ansiavam por um retorno ao capitalismo para que pudessem explorar trabalhadores legalmente, e também intelectuais revolucionários e contrarrevolucionários— não tinham alternativa senão ao lado do poder soviético contra o invasor Imperialista que era a Alemanha Nazista. Durante a II Guerra Mundial, os judeus soviéticos eram a nacionalidade mais leal dentro da URSS, apesar do número relativamente grande de comerciantes operando mais ou menos ilegalmente que existiam entre esse povo tradicionalmente ligado ao comércio.


As coisas eram diferentes entre os chechenos, cuja estrutura social se assemelhava aos judeus em alguns aspectos. Como os judeus, os chechenos tinham sido um povo comerciante na Rússia czarista, e muitos chechenos, assim como muitos judeus, eram hábeis em jogar no “mercado negro” soviético. Mas os nazistas não tinham uma política de exterminar os povos chechenos, que tradicionalmente praticavam a religião islâmica. De fato, durante a guerra, a Alemanha posou como a salvadora dos povos muçulmanos muito igual ao Estados Unidos posou como defensor do povo chinês contra o Japão, e Japão posou como defensor do Povo Indiano contra a Inglaterra. Alemanha "defendeu" os interesses dos muçulmanos porque os inimigos imperialistas da Alemanha, especialmente a Grã-Bretanha, manteve grande parte do mundo muçulmano em servidão. Como parte de sua opressão geral da nação árabe, que faz parte do mundo muçulmano, o imperialismo britânico introduziu colonizadores sionistas judeus para a Palestina que começam com a proclamação da Declaração Balfour em 1917.


Pelas razões acima expostas, os chechenos muçulmanos produziram um número relativamente grande de colaboradores nazistas. O governo Stalin respondeu ao deportar os chechenos para regiões longe da guerra.


No despertar da Segunda Guerra Mundial, o governo de Stalin decidiu também que, à luz do que ele via como um grande número de colaboradores nazistas entre os tártaros da Criméia durante a ocupação nazista da península da Criméia—que como os chechenos são tradicionalmente muçulmanos— para remover os tártaros da Criméia e dissolver a sua república autônoma Soviética. Os tártaros foram removidos para a Ásia Central, que é a pátria histórica dos tártaros, do qual os tártaros da Criméia são apenas um subconjunto. Os povos tártaros como um todo formam a maior minoria nacional da Federação Russa atual e têm a sua própria república autônoma dentro da Federação Russa. A nacionalidade alemã Volga também foi exilada porque, à luz da sua nacionalidade compartilhada com a dos invasores, o governo Stalin duvidava de sua lealdade.


A remoção de nacionalidades inteiras e a abolição das suas repúblicas autônomas— em oposição a punição de indivíduos colaboradores— foram graves violações dos princípios de Lenin e da Revolução Russa e são, portanto, fortemente enfatizados pelos historiadores ocidentais que são pagos para colocar a Revolução Russa e União Soviética sob a pior luz possível.


No entanto, os defensores da imperialismo norte-americano têm pouca autoridade moral para questionar isso. O governo Roosevelt prendeu a população japonesa inteira dos Estados Unidos— homens, mulheres e crianças—em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, porque temia que alguns desse povo podia revelar-se fiéis à sua pátria ancestral, à vez dos EUA.


Além disso, durante a guerra, os pôsteres de propaganda do governo caracterizavam os japoneses de maneira extremamente racista e caricatural. Esses pôsteres eram colocados em fábricas e outros lugares, e tiveram o resultado de se criar uma histeria racista contra os japoneses e americanos de descendência japonesa. Esses pôsteres com a caricatura racista do povo japonês alertava os trabalhadores a ficarem quietos para não serem ouvidos por espiões. Presumivelmente, esses espiões japoneses estariam disfarçados de pessoas brancas.


Por mais que os EUA também estivessem em guerra com a Alemanha e Itália, não foram feitos pôsteres de propagandas similares com caricaturas dos alemães ou dos italianos. Afinal, alemães e italianos eram brancos, e o partido democrata de Roosevelt, até mais que os republicanos, naquela época era baseado no racismo branco, e não apenas no Sul das leis de Jim Crow. As máquinas democratas das grandes cidades eram compostas de grandes grupos brancos, e os Democratas do Norte posavam como defensores dos trabalhadores brancos contra os negros que competiam com os brancos pelos trabalhos mais pesados e menos desejados no mercado de trabalho capitalista. O aprisionamento da população japonesa realizado apesar do fato de que em nenhum momento durante a guerra nunca existiu qualquer possibilidade real de uma invasão japonesa dos Estados Unidos. De fato, a força aérea japonesa foi incapaz de lançar um único bombardeio contra o continente norte-americano durante toda a guerra. O famoso bombardeio da base naval americana em Pearl Harbor, localizado na colônia do Havaí, milhares de quilômetros a oeste do continente norte-americano, nunca mais se repetiu. Em contraste, os EUA lançaram uma campanha de bombardeios repetitivos contra as ilhas japonesas que reduziram suas cidades a escombros. Isso culminou no lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.


Em contraste com a incapacidade do Japão para invadir os EUA, a invasão da União Soviética pelos alemães sob a liderança nazista era muito real. Se o imperialismo alemão não tivesse invadido a União Soviética, as deportações das minorias nacionais que fizeram tanta violência à política nacional de Lenin e da Revolução Russa nunca teria ocorrido. Também, diferente do povo palestino, que foi exilado de sua terra natal para dar lugar a Israel sionista após a guerra, as nacionalidades soviéticas exiladas foram absorvidos em suas novas casas pela rápida expansão da economia planejada soviética.


Devido à exploração e opressão imperialista da nação árabe, suas economias não têm sido capazes de absorver muitas dos palestinos que foram deslocados. Como resultado, muitos palestinos ainda estão alojados em campos de refugiados 65 anos depois de terem sido expulsos de sua terra natal. Duas gerações inteiras de palestinos têm crescido nestes campos de refugiados, e agora uma terceira geração está crescendo conhecendo apenas campos de refugiados como casas. Nada como isso ocorreu na União Soviética.


Apesar de violações dos direitos nacionais de algumas nações decorrentes da invasão nazista e de uma política menos sensível para as nações não-russas em geral que prevaleceu sob os sucessores de Lenin, a posição das nacionalidades não-russas como um todo foi uma melhoria colossal em comparação com o que existia nos tempos czaristas.


A sobrevivência contínua das repúblicas autônomas hoje —que é o motivo da Rússia republicana atual ser uma federação em oposição a um Estado unificado — ainda que danificada pela restauração capitalista, é uma conquista democrática— e não socialista — remanescente da Revolução de Outubro. Isto não muda o fato que a condição de todos os povos não-russos, como é o caso do povo russo da Federação Russa, deteriorou-se consideravelmente desde a destruição da União Soviética e o retorno do capitalismo.


Ainda assim, mesmo hoje valeria a comparação das condições e direitos nacionais dos povos não-russos da Federação Russa com o equivalente mais próximo dos EUA das repúblicas autônomas russas, as condições dos povos nativos—comumente chamados de “Indígenas americanos” — dos Estados Unidos nas “reservas indígenas” que supostamente são para permitir aos povos nativos seu exercício dos direitos nacional dentro do panorama dos Estados Unidos da América.


Em dezembro de 1991, o Presidente da Federação Russa, Boris Yeltsin, declarou a independência da Rússia da União Soviética — uma medida que levou ao fim formal da União Soviética. Nacionalistas russos reacionários se queixavam por anos que a nação russa estava sendo oprimida pelas nacionalidades não-russas da URSS. Essa reclamação reflete a alegação dos racistas brancos dos EUA que os brancos americanos estão sendo oprimido pela “tirania” do Presidente negro Barack Obama, que está supostamente pondo os interesses dos povos do “Terceiro Mundo” acima dos “legítimos” — isto é, "brancos” — americanos.


Por acaso a existência de minorias nacionais que enfrentam a atual ou potencial opressão pela majoritária nacionalidade russa significa que devamos definir a atual Federação Russa como imperialista? Afinal de tudo, um dos motivos que fez Lenin descrever a Rússia czarista como imperialista era que a Rússia era uma prisão de nações. E não é hoje a Federação Russa, ainda que numa escala muito reduzida, ainda uma prisão de nações?


Se usássemos a presença de minorias nacionais e a possibilidade da opressão delas pela nação majoritária como critério para distinguir nações Imperialistas de nações oprimidas, seria difícil encontrar países não imperialistas em qualquer lugar do mundo.


Por exemplo, a China antes de 1949, seria “Imperialista”, já que possuía minorias nacionais que eram ou oprimidas ou potencialmente oprimidas pela nacionalidade “Han”. Síria, Iraque e Irã, possuem o ‘’problema curdo”. Índia, mesmo quando era uma colônia formal da Inglaterra, teria que ser considerada “imperialista” na sua forma, porque era composta de diversas nacionalidades que falavam vários idiomas e possuíam diferentes religiões além da Hindu. O famigerado conflito entre hindus e muçulmanos é apenas um aspecto da questão nacional extremamente complexa na Índia.


Com a vitória do Bharatiya Janata Party, sob liderança do ultradireitista Narendra Modi nessa eleição de Maio, que foi saudada com grande entusiasmo pela mídia imperialista, a questão nacional está a assumir uma nova agudez na Índia. No entanto, isso não significa que a Índia é hoje uma nação imperialista. Mesmo os países da África, os países mais oprimidos do mundo, contêm muitas nações diferentes dentro de suas fronteiras. Então, por esta lógica eles também teriam que considerar imperialista.


Concluindo, a questão nacional não é uma coisa do passado para a Federação Russa, mas é também verdade que a Federação Russa atual está muito longe da prisão de nações que a Rússia czarista era.


Não houve restauração do Imperialismo czarista

O imperialismo militar-feudal da Rússia pré-1917 foi restaurado? Com exceção do brasão da águia dupla que é popular entre os nacionalistas russos de hoje, a resposta é não. Nos dias atuais, a propriedade agrária da Rússia, é uma propriedade sobre a terra puramente de tipo capitalista, e não de tipo feudal. E mesmo se a reação na Rússia fosse aprofundar a ponto de que um dos herdeiros dos Romanov fosse restaurado ao trono—o que permanece apenas uma possibilidade teórica além de quase impossível—, a ordem feudal ainda estaria muito além de ser restaurada.


A reação contra a Revolução de Outubro, que já vinha se construindo por décadas, parece ter chegado a seu apogeu sob o regime de Boris Yeltsin. Mas a essência da política de Yeltsin foi a restauração não da velha ordem militar-feudal—deixando de lado a dupla águia que foi restaurada como o brasão de armas da Rússia—, mas do capitalismo. Por mais que Putin tenha seguido uma política mais nacionalista que a de Yeltsin, Putin também não possui nenhuma força para restaurar o Imperialismo militar-feudal do passado czarista, mesmo se ele pessoalmente quisesse. Portanto, embora você possa não perceber caso suas opiniões sejam regidas pela mídia do Imperialismo concreto e da concreta prisão de nações do mundo contemporâneo, o Imperialismo militar-feudal do passado czarista não foi restaurado na Rússia dos dias atuais, tampouco pode ser.


Um novo Imperialismo Russo moderno?

Mas o que dizer de um Imperialismo russo modernizado seguindo a lógica do domínio do Capitalismo Monopolista e do Capital Financeiro? O desenvolvimento de um Imperialismo russo moderno sob a lógica do capital monopolista regido pelo capital financeiro—os proprietários de grandes concentrações de ações, títulos e grandes depósitos bancários— não pode ser excluído de antemão, já que a Rússia é capitalista. O mesmo é verdade para todos os países capitalistas não imperialistas. Nós não podemos descartar um futuro imperialismo indiano, ou mesmo um imperialismo futuro centrado na África subsaariana.


Quem sabe, se o capitalismo for durar alguns séculos mais, se o Congo, com suas vastas riquezas minerais se tornar o centro de um sistema Imperialista global, da mesma forma que os EUA. — também rico em riquezas minerais— é hoje. Mas hoje, no ano de 2014, apesar do desenvolvimento capitalista que vem surgindo na África, estamos muito longe disso. De fato, nos Estados Unidos de 2014, qualquer um que fantasiasse sobre um possível futuro sistema Imperialista mundial congolense seria acusado de jogar água no moinho da histeria racista.


Crises, o capitalismo monopolista e o surgimento do capital financeiro

Nosso estudo das crises e dos ciclos industriais, demonstrou que a contradição básica do Capitalismo está em sua capacidade de aumentar o nível da produção industrial mais rápido que os mercados em aumentar a quantidade de mercadorias que pode produzir para expandir. Portanto, a competição entre os vários capitais que o capitalismo deve se constituir é como o jogo infantil da dança das cadeiras. Quanto mais o capitalismo se desenvolve, menos capitais independentes sobram. O capital, é, por conseguinte, condenado a se tornar mais centralizado até a sua existência futura tornar-se impossível.


Vimos também que cada crise sucessiva de superprodução, começando com a primeira em 1825, fez com que grandes quantidades de dinheiro ficassem fora de circulação e gerando um enorme acúmulo inativo em bancos. Certamente vemos isso hoje nas consequências da crise de 2008. Uma vez que a essência do capitalismo é D-M-D ', a enorme quantidade de dinheiro inativos criado por cada crise sucessiva deixa um vazio no bolso coletivo da classe capitalista. Inevitavelmente, a grande quantidade de dinheiro—capital potencial—liberado por sucessivas crises de superprodução procura investimento. Muito do dinheiro que vai para fora dos canais de circulação em cada crise é transformado em capital de empréstimo D—D’.


Desta forma, o capital financeiro moderno se desenvolve. Dentro de cerca de 75 anos—uma vida inteira—, após a crise de 1825, o capitalismo de livre concorrência foi transformado em Capitalismo monopolista (Imperialismo), com o mundo quase completamente dividido por um punhado de potências Imperialistas [Lenin]. O capitalismo monopolista produziu ‘’trustes” centralizados –que é a forma propícia para uma produção socialista planificada centralizada– lado a lado com a continuidade da livre concorrência em outros setores da economia. Ao longo do tempo, de crise em crise, o elemento de monopólio cresce mais forte enquanto a livre concorrência, embora não desapareça, tende a recuar.


Historicamente falando, a etapa monopolista ou imperialista do capitalismo é a primeira etapa da transformação do capitalismo regido pela propriedade privada e livre concorrência na economia comunista planejada dos produtores associados.


Capitalismo monopolista é, dessa maneira, a última etapa do capitalismo, ainda que como todo fenômeno social, o Imperialismo passa por um número de etapas dele próprio. Sob todas as etapas do Imperialismo, no entanto, um punhado de países surgiam que são muito ricos em capital financeiro, que exploram outros países que são relativamente pobres de capital financeiro. Para calcular quão rico é um país em capital financeiro, devemos levar em conta não apenas a quantidade absoluta de capital financeiro — que se mede como qualquer forma de riqueza sob o modo de produção de capitalista, em dinheiro ou unidades de pesos de barras de ouro que representam, por sua vez quantidades de trabalho humano abstrato medidos por alguma unidade de tempo — mas também sua magnitude em relação à população do país.


Os países que são os mais ricos em capital financeiro—não necessariamente os mais ricos em capital industrial— são os países imperialistas que economicamente exploram todos os outros países capitalistas do mundo.


Capital financeiro em relação a outras formas de capital

Sob o velho capitalismo de livre concorrência que atingiu o seu nível mais alto de desenvolvimento na Grã-Bretanha durante os primeiros três quartos do século 19, as empresas eram detidas por indivíduos ou por pequenos grupos de associados. Proprietários individuais de empresas muitas vezes falavam de "meus funcionários" ou "meus trabalhadores" ou "minhas mãos”, como se eles realmente possuíssem seus trabalhadores a título definitivo, embora sob o capitalismo só possuem sua força de trabalho comprada.


O que é hoje chamado de banco de investimento foi apenas se desenvolver no século 19 na Grã-Bretanha e foi geralmente realizada por empresas que eram separadas daquela realização bancária comercial. Os bancos comerciais eram relativamente pequenas empresas-humildes intermediários, como Lenin as chamou, muito longe dos bancos universais gigantes que dominam o capitalismo hoje. Uma empresa de propriedade de um único "chefe" ou um pequeno grupo de parceiros era típico do velho capitalismo industrial da era da livre concorrência. Essas relações podem ainda ser encontrados nos setores da economia capitalista atual onde a produção é realizada em uma escala relativamente pequena.


A situação é bem diferente com esses capitalistas que possuem apenas capital financeiro, que eu seguindo Marx e Engels os chamei de “capitalistas de dinheiro”. A propaganda dos bancos fala em fazer seu dinheiro trabalhar para você. Mas quem já viu uma barra de ouro, nota de dinheiro, ou um depósito bancário verificável realmente funcionar? O que os bancos estão falando na verdade ao “público com dinheiro”– donos de normalmente pequenas quantias de dinheiro– é que ao converter suas poupanças de dinheiro em capital, o banco irá providenciar a produção de mais valia da classe operária trabalhar um certo número de horas para seus clientes de forma gratuita. É apenas nesse sentido que o dinheiro "funciona".


Hoje em dia, ações, títulos e instrumentos do mercado monetário são frequentemente detidos por fundos de investimento geridos por gestores de dinheiro profissionais. Os proprietários individuais das participações em fundos de investimento, muitas vezes não possuem diretamente tais ativos. A razão para que os fundos mútuos sejam tão populares é que "escolha de ações" inteligente é difícil para os pequenos "investidores". Pequenos, e ás vezes não tão pequenos, capitalistas de dinheiro, não têm o conhecimento de distinguir quais ações são "supervalorizada" no mercado de ações daqueles que são "subvalorizadas". Enquanto o mercado de ações está muitas vezes equivocado sobre o valor das ações, seus participantes coletivamente são mais informados do que a maioria dos capitalistas individuais.


Um fundo mútuo incorpora o princípio dos bancos. Os indivíduos que têm dinheiro ou poupança excedentes não têm a capacidade de emprestar individualmente o seu dinheiro excedente, de modo que o depositam em um banco que faz o empréstimo e compartilha as ações da receita de juros com os seus depositantes. Um fundo mútuo aplica este princípio para ações, títulos, fundos do mercado monetário e assim por diante. Muitas vezes, os fundos de investimento são, na verdade, de propriedade de grandes bancos universais.


O mesmo é válido para os fundos de pensão. Um grupo de funcionários, em si não capitalistas, poupam para sua aposentadoria. Uma certa quantidade de seus salários ou salários é posta de lado e investida. Mas os funcionários não estão em posição de saber em que investir suas poupanças. Portanto, suas economias são reunidas e colocadas sob o controle de um gerente de dinheiro profissional que é esclarecido, ou supostamente bem informado, e em posição de investir as economias mais ou menos de forma inteligente.


Uma das mudanças no capitalismo monopolista desde a época de Lênin é que naquela época a grande massa de ações corporativas ainda era detida e gerida por indivíduos. Hoje, em contraste, a grande massa de ações, títulos e outros títulos é gerida por investidores institucionais, como fundos de gestão de bancos de confiança, fundos de pensão, fundos mútuos, fundos de cobertura, companhias de seguros e fundos do mercado monetário. Estas instituições, por sua vez, estão cada vez mais sendo propriedade ou controlada por poucos bancos universais. Desta forma, "capital-dinheiro” é transformado em capital financeiro controlado por algumas instituições bancárias gigantescas.


Em um país rico em capital financeiro, existe para além das pessoas extremamente ricas encontrados em todos os países capitalistas— por exemplo, os "oligarcas" russos e ucranianos— existe também um grande "classe média" de "poupadores modestos". E esta classe média passa a incluir os níveis superiores mais privilegiados da classe trabalhadora, que pode possuir alguns fundos mútuos ou ser beneficiários dos fundos de pensões através de vários planos de aposentadoria relacionadas ao trabalho.


É perfeitamente possível a um país ser pobre em capital financeiro mesmo sendo relativamente rico em capital industrial. Por exemplo, um número grande de fábricas, minas, e grandes fazendas capitalistas podem estar localizadas em tal país, o tornando rico em capital industrial. Inglaterra é o clássico exemplo de um país que à era da livre concorrência era rico em capital industrial—a oficina do mundo—, enquanto hoje a Inglaterra não é tão rica em capital industrial, mas muito rica em capital financeiro.


Os Estados Unidos evoluíram na mesma direção. Enquanto que um século atrás, os E.U.A. eram muito ricos em capital industrial, a desindustrialização de hoje reduziu drasticamente a considerável riqueza dos EUA em capital industrial. Contudo, EUA permanece sendo basicamente o país número um do capital financeiro.


Nem toda forma de poupança monetária representa capital financeiro. Na Índia e até certa extensão a China, poupança frequentemente consiste em joias de ouro—essencialmente material do dinheiro, e barras de ouro— que moldam para a forma de joias. Poupanças desse tipo não representam capital financeiro e nem capital sob qualquer forma. A mera posse de barras de ouro—dinheiro— não confere a seu dono nem um átomo de mais-valia. Geralmente, países oprimidos, com seu sistema bancários subdesenvolvido, são pobres em capital financeiro. Uma quantidade consideravelmente grande de poupanças é detido sob a forma de dinheiro que não se converte em capital. Nos países mais desenvolvidos, “poupanças” são detidas em bancos, fundos mútuos, fundos de mercado monetário, e por aí vai. Isso é uma das razões porque o empirista Keynes, que em sua juventude serviu como um funcionário colonial na Índia, considerava o ouro uma “relíquia bárbara”.


Ao contrário do ouro acumulado, cada unidade de capital financeiro—uma ação em um fundo mútuo, fundo de cobertura ou certificado de depósito emitido por um banco— um direito sobre uma quantia definida do total de mais-valia produzida pela classe operária global. Se você possui uma parcela do capital financeiro, sob qualquer forma, você tem uma certa porcentagem de escravos assalariados do mundo que trabalham para você. A posse desse "capital-dinheiro" está em grande parte centralizada nas mãos de instituições financeiras concentradas em determinados países. Os países que são ricos em capital financeiro exploram os países que são pobres em capital financeiro.


Algo intimamente ligado ao capital financeiro é a riqueza no mercado imobiliário. O mercado imobiliário é uma combinação de propriedade da terra e os edifícios construídos em cima dela. Ainda que não seja totalmente idêntica ao capital financeiro, o capital, imobiliário está intimamente ligado com o capital financeiro. Quanto mais rico é um país em termos de capital financeiro mais o preço da propriedade da terra sobre no país e, portanto, torna-se mais "valiosa”–em termos da quantidade de dinheiro que se troca no mercado. Em última análise, a valorização dos imóveis tem origem no trabalho não pago da classe trabalhadora global.


Portanto, o quão rico é um país em capital financeiro—ou o que aponta para a mesma coisa, em qual medida é um país explorador ou um país explorado — terá um efeito profundo na luta de classes nas políticas do país, uma vez que os setores privilegiados da classe trabalhadora podem deter pequenas quantias de capital financeiro, ou sendo beneficiárias de fundos de aposentadoria ou possuindo ações através de contas individuais de aposentadoria, ou detentoras de participações em fundos de investimento.


Esses trabalhadores mais privilegiados não controlam as pequenas quantias de capital financeiro que possuem e não tem capital suficiente para serem adequadamente capitalista, porque não podem viver a partir de seu próprio interesse ou receita de dividendos. Eles todos se apropriam de uma determinada quantidade, mesmo que apenas uma quantidade muito pequena, da mais-valia produzida pelos trabalhadores dos países oprimidos, bem como da parte produtiva (da mais-valia) dos trabalhadores do seu próprio país.


Este é um dos métodos pelos quais o imperialismo suborna as camadas superiores da classe operária e os de “funcionários” de colarinho branco. Nos países explorados, a classe operária é mais radical e movimentos de libertação nacional contra a espoliação da nação tendem a tornar-se aliados do movimento operário. Em contraste, quanto mais rico um país é em capital financeiro, mais é um país explorador, e mais fortemente reacionário o nacionalismo se torna e mais os “sentimentos nacionais” se tornam aliados dos exploradores.


Entretanto, quanto mais o Imperialismo se torna enfraquecido pela resistência das nações oprimidas, mais fraco o Imperialismo se torna, e cada vez mais se abre o caminho da radicalização da classe trabalhadora e até da classe média. Por exemplo, a sociedade estadunidense foi jogada em um profundo turbilhão a partir da resistência vietnamita nos anos 60 e começo dos anos 70.


Os movimentos antiguerra em países Imperialista, consequentemente, não são um desvio na luta de classes “real” — a luta sindical por salários maiores, menos horas de trabalho e melhores condições — mas são uma forma inevitável que a luta de classes deve tomar em países imperialistas devido à básica natureza econômica do Imperialismo por si só.


Por causa da tendência a longo prazo da concentração e centralização de capital, a base de apoio real das classes dominantes do capitalismo monopolista se reduz ao longo do tempo. A fim de defender a sua posição como classe dominante, bem como o seu império, o capitalismo monopolista (imperialismo) é obrigado a apoiar todas as tendências e forças reacionárias do mundo, a saber, o racismo, a misoginia, a homofobia, o neofascismo, monarquias absolutas, Estados policiais e sistemas de vigilância universais. É por isso que nas palavras de Lenin, o Imperialismo significa a “reação em toda a linha”.


O outro lado da moeda é que qualquer tendência e movimento democrático tanto nos próprios países imperialistas quanto nos países oprimidos entra em conflito com o Imperialismo enquanto capitalismo monopolista.


Está a China prestes a se converter na nação a líder o Imperialismo mundial? Tem sido documentado que até o fim do ano atual—2014— o PIB da China de acordo com o poder de compra—levando em conta os diferentes níveis de preços em diferentes países—vai exceder aqueles dos Estados Unidos(5). Agora, o PIB da China também relata exceder o PIB do Japão. Isso significa que a China nesse ano está em processo de substituir os Estados Unidos como a nação Imperialista de primeira ordem no mundo? E não está a Índia se emergindo como uma nação imperialista de primeira ordem—é certo que não tanto no nível “imperialista" da China—e em seu direito, superando o Japão?


Mas antes de saltar a estas conclusões, temos que tomar certas coisas em consideração. A população da China atual é de cerca de três vezes maior que a dos Estados Unidos. China, portanto, continua a ser relativamente pobre em capital industrial em relação aos Estados Unidos.


Mas o imperialismo, como vimos acima, não se baseia no nível relativo do capital industrial, mas do capital financeiro. Se eu como cidadão dos Estados Unidos possuo um montante x de capital financeiro em ações, títulos e depósitos bancários com taxa de juros X, isso não significa que eu tenho direito a uma quantia X de mais-valia produzida pelos trabalhadores dos Estados Unidos. Não, eu tenho direito a uma quantidade X de mais-valia produzida pelos trabalhadores de todo o mundo.


Bancos russos

Qual a posição no que tange os bancos russos hoje? Se a Rússia atual é não apenas capitalista, o que sem dúvida é, mas também imperialista, seria de se esperar que os bancos russos fossem cada vez mais proeminentes no mundo, já que os “grandes” bancos universais são as organizações mais importantes do capital financeiro. A revista Global Finance listou os 50 maiores bancos de 2012 em termos de ativos. Apesar do tamanho e das riquezas naturais da Rússia, nenhum banco russo apareceu na lista.


De acordo com a publicação de 31 de janeiro de 2014, do Wall Street Journal, com base em ativos dos 100 maiores bancos do mundo, apenas dois bancos russos, OAO Sherbank e OAO VTB, aparecem. Eles aparecem na posição 54 e 94, respectivamente. Sherbank evoluiu do antigo Sistema bancário de poupanças soviético—em russo, Sherbank significa banco de poupanças. Mesmo hoje 51% de suas ações são de propriedade do banco central russo, que por sua vez é propriedade do Estado. Segundo a Wikipedia, o Estado russo possui 60,9 por cento da OAO VTB. Embora ambos os bancos hoje sejam bancos universais, eles ainda são empresas semi-estatais.


Em si, a falta de um mero banco russo nos 50 maiores bancos, e apenas 2 entre os 100 maiores, é um indicativo, mas não decisivo. No mundo atual, o sistema bancário é altamente centralizado, e muitos dos países imperialistas menores possuem um sistema bancário de propriedade estrangeira— embora a Rússia não seja um país pequeno.


Além disso, Rússia não é membro da OTAN e nem da União Europeia e geralmente é vista como muito mais independente dos Estados Unidos do que os países imperialistas do “Ocidente”, como os países da Europa ocidental, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Já que o capitalismo russo “imperialista” teria se desenvolvido apenas nos últimos 25 anos de suas modestas raízes na “segunda economia” soviética pré-perestroika, seria esperado que fosse agudamente um país em contraste ao Sistema imperialista mundial centrado nos Estados Unidos.


À Rússia seria, portanto, esperado estar desenvolvendo suas próprias gigantes instituições bancárias. De fato, China está desenvolvendo alguns bancos bastante grandes, o que indica certo desenvolvimento de capital financeiro neste país, embora o funcionamento desses bancos continue em grande parte confiado dentro da China. Para além disso, China como um todo, como veremos adiante, ainda é muito pobre em capital financeiro para ser considerada qualquer coisa próxima de ser um país imperialista.


Rússia, ao contrário, que não viu nada que se aproxime do crescimento de capital industrial que a China experimentou ao longo dos últimos 25 anos, ainda tem que desenvolver um único banco, até mesmo um banco estatal, que ocupa lugar na lista dos 50 maiores bancos do mundo.


Outros aspectos que Lenin levou em conta para diferenciar países imperialistas de países dominados são menos significantes do que eram em 1914, porque já se passou um século de desenvolvimento capitalista que reduziu em grande parte o fardo de relações de produção pré-capitalistas e suas formas política, em comparação com 1914.


Por exemplo, quando Lenin escreveu “Imperialismo” em 1916, dois anos após a I Guerra Mundial ter começado e ainda sendo travada sem uma perspectiva de resultado definido, o Imperialismo militar-feudal czarista, ainda que em agonia mortal, ainda existia e não havia possibilidade de saber o quanto ele ainda resistiria. Rapidamente se industrializando, mas em relação à Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha ainda pouco industrializado, Japão era pobre em capital financeiro. Mas o Japão estava usando sua altamente desenvolvida máquina militar para anexar colônias. Japão havia anexado Taiwan em uma guerra contra a China em 1895, e a Coreia em 1910. Portanto, Lenin classificou o Japão entre as potências Imperialistas apesar de sua relativa pobreza em capital financeiro.


Imperialismo em 1914 comparado com o Imperialismo de 2014

Se tivéssemos que descrever em uma palavra a diferença entre o Imperialismo de 1914 e ele nos dias atuais, seria “OTAN”. Ao contrário de 1914, hoje existe uma máquina militar, um “czar”, que domina o mundo Imperialista. E suas raízes não estão em relações feudais, mas sim em relações puramente capitalistas. Essa máquina incluí as forças armadas não apenas dos Estados Unidos, mas também de outros países na “aliança” da OTAN, como Inglaterra, Alemanha, França e, ainda que formalmente parte de um tratado separado de segurança, Japão também. Também se incluem as forças armadas de países imperialistas “menores” como Canadá e países menores da Europa Ocidental, e da mesma forma, agora, do Leste Europeu.


As forças armadas de várias, ainda que não todas, nações oprimidas são minuciosamente controladas pela máquina militar global com sede no Pentágono e comandado pela Casa Branca. A situação onde o “czar” na Casa Branca domina o mundo no âmbito militar não durará para sempre. De fato, a lei do desenvolvimento acaba minando isso, mas é está a situação do mundo em 2014.


Se Imperialismo está fadado a durar algumas décadas mais, inevitavelmente mudará no futuro assim como se transformou ao longo do século que seguiu a erupção da I Guerra Mundial em Agosto de 1914. Nossa análise do Imperialismo em 2014 centrada no “czar” da Casa Branca” então estará datada, da mesma forma que os escritos de Lenin sobre o Imperialismo Russo estão datados hoje. Mas, a fim de nos orientar corretamente em 2014, “nossa casa no tempo”, assim por dizer, temos que compreender o mundo em que vivemos e não um mundo especulativo que pode ou não vir à existência em algum momento no futuro.


Os países imperialistas reais

O Imperialismo em 1914 ainda era mesclado com o Imperialismo de origens pré-capitalista. Enquanto isso era mais evidente na Rússia czarista, também se mostrava no Império Austro-Húngaro, este um resquício medieval do Sacro-Império Romano do povo Alemão. Como a Rússia czarista, Áustria-Hungria era uma prisão de nações — ainda que em menor grau que o czarismo.


O Imperialismo hoje, o contrário, está ausente de elementos pré-capitalistas ainda significantes que caracterizavam o Imperialismo em 1914. Um século de desenvolvimento capitalista, duas guerras mundiais, sucessivas crises de superprodução, incluindo a Grande crise de 29, e por último, mas não menos importante, as revoluções do século XX, incluindo a Revolução Russa de 1917 e a Chinesa de 1949, ainda que não tenham levado ao colapso do Imperialismo, em grande escala expurgaram os elementos pré-capitalistas que ainda eram significativos em 1914.


Capital Financeiro como o fator decisivo

Isso nos leva ao problema do capital financeiro. O databook da riqueza global do de 2012 divide os países do mundo em quatro categorias, de acordo com a riqueza—não a renda — por cabeça. É uma estimativa aproximada do montante geral de capital financeiro que é detido por indivíduos em cada país, já que capital financeiro—ações, títulos, fundos de tesouraria e contas bancária—formam a grande massa da riqueza mundial hoje.


Isso é verdade apesar do fato que a propriedade de capital financeiro é tudo exceto comparável aos países Imperialistas por si só. O grupo superior da lista, com mais de 100.000 dólares em média per capita, basicamente define os países imperialistas, incluindo a “colônia branca” de Israel. Esses países são os Estados Unidos (nenhuma surpresa), Canadá, todos os países da Europa Ocidental com exceção de Portugal, mas nenhum dos países do Leste Europeu. Austrália, Nova Zelândia, Japão, Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia também estão entre os países da lista. Esses países, a âmbito econômico estão explorando outros países e, portanto, são países imperialistas.


Apenas alguns países nesse “clube dos mais de 100 mil” não necessariamente encaixam na lista tradicional de países Imperialistas. Deixando de lado algumas monarquias Árabes do petróleo, que dificilmente são nações em algum sentido real (pelo seu caráter semicolonial), encontramos Taiwan. No entanto, Taiwan não é uma nação também, mas sim uma parte da China, que funciona como uma neocolônia dos Estados Unidos. Há também o caso da Irlanda, um país oprimido e explorado por séculos pela Grã-Bretanha, que se encontra na lista no grupo dos mais de 100.000 dólares. Coreia do Sul também não tem lugar no grupo superior dessa lista.


Com essas poucas ressalvas, a lista do Credit Suisse com renda média por cabeça que exceda os $100,000 é uma lista de países Imperialistas reais. Outro aspecto é que todos os países dessa lista têm em comum é que são todos aliados—na verdade satélites— de um país em específico, os Estados Unidos da América.


O segundo grupo de países tem uma renda média em algo entre $25.000 e $100.000 por cabeça. Nesse grupo, encontramos México, Colômbia, Chile, Uruguai, Arábia Saudita, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, países bálticos, Grécia, Turquia, Portugal e algumas monarquias árabes do petróleo. Maior parte desses países são semicolônias ou neocolônias. Talvez apenas Portugal, que teve um Império colonial na África até os anos 70, possa ser considerado imperialista.


O terceiro grupo, dos muito pobres em capital financeiro, incluí a maioria dos países da América Latina, Brasil, Argentina e assim por diante; África do Sul; os países da África do Norte; maior parte dos países do Leste Europeu, incluindo a Polônia e a Rússia; China; e Indonésia. Esses países, certamente não são imperialistas. E é aqui que encontramos a China apesar de seu memorável progresso industrial ao longo dos últimos vinte e cinco anos, totalmente incomparável com a Rússia. Muito pelo contrário. Nenhum dos países desta categoria podem chegar perto de ser considerados imperialistas.


Finalmente, temos os países que são os mais pobres em capital financeiro. Estes incluem os países da África Central; Índia, apesar de seu progresso industrial; Bolívia e Guiana na América do Sul; e Ucrânia. Ainda que a Ucrânia estivesse entre as regiões mais ricas da ex-União Soviéticas, agora está entre os países mais pobres em capital financeiro.


Nenhum Imperialismo Russo

Se usarmos o critério de uma poderosa máquina militar independente, existe apenas um poder imperialista, ou “czar”, no mundo atual, os Estados Unidos da América. Se usarmos o critério de países que são ricos em capital financeiro—ou seja, a participação na exploração dos países do mundo, mesmo quando são satélites político e militares dos Estados Unidos— não encontramos nem Rússia e nem China entre eles. E nem encontramos Rússia e China na segunda categoria. Em termos de capital financeiro, Rússia definitivamente pertence aos países que estão na metade inferior dos países que definitivamente não são imperialistas. A Rússia atual está de fato muito longe de se tornar um país Imperialista, e no máximo corre o risco de cair no quarto escalão do grupo, onde já reside a Ucrânia.


Outros argumentos sobre a Rússia ser imperialista

Apoiadores da posição de que a Rússia seja imperialista, apontam para o carater da Rússia de “grande potência”. A Rússia czarista era considerada uma grande potência nos séculos XVIII, XIX e XX, e a URSS era uma “superpotência” ao lado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Então, o argumento prossegue, e a Federação Russa de hoje também deve ser classificada como uma grande potência, senão uma superpotência. E não seriam grandes potências, imperialistas?


Esse argumento, como vimos acima, é baseado em analogias a-históricas onde períodos completamente diferentes são agrupados. Mas e quanto aos mísseis russos e armas nucleares que são herdados não da Rússia czarista de 1914 mas da União Soviética da segunda metade do século XX?Ainda que a capacidade nuclear da Rússia talvez tenha se deteriorado após a destruição do poder soviético, ainda aparenta ser capaz de transformar o mundo, incluindo os Estados Unidos, em poeira radioativa. Então, não é isso uma evidência do caráter imperialista da Rússia dos dias de hoje?


Durante a Guerra Fria, gradualmente tornou-se evidente que armas nucleares são extremamente perigosas para serem usadas em guerras modernas. Mesmo se uma potência nuclear lançasse um grande ataque nuclear contra um país não-nuclear, as consequências ambientais de usar tal arma devastariam o país agressor mesmo na ausência de alguma resposta do outro país. A mãe natureza mesmo lançaria uma resposta devastadora. A capacidade russa de destruir os Estados Unidos com armas nucleares sob o risco de destruir a própria Rússia, mesmo sem contra-ataque por parte dos Estados Unidos, não faz da Rússia um país imperialista.


O papel da semi-estatal Gazprol é algumas vezes citado como prova de que a Rússia seja um país imperialista. Entretanto, praticamente todos os países ricos em petróleo que não são imperialistas como México, Nigéria e Arábia Saudita tem empresas de Petróleo semelhantes. De fato, a Gazprom não é uma prova de que a Rússia seja imperialista. Apenas salienta o fato que a Rússia é um país fornecedor de matéria prima, o histórico papel de países oprimidos, e não imperialistas.


A própria Gazprom está longe de ser a maior petrolífera estatal ou semi-estatal do mundo. Seu lucro é menor do que outras como a Companhia Nacional Petrolífera Iraniana, e as petrolíferas estatais da Venezuela e Nigéria. Se Rússia é imperialista por causa da Gazprom, então também são imperialistas a Venezuela, Nigéria e Irã.


Às vésperas da Perestroika 30 anos atrás, a URSS liderava o mundo nos ramos fundamentais da Indústria—ainda que não em bens de consumo. Não surpreendentemente, a Rússia capitalista atual obteve sucessos em exportação de ferro, ferramentas de máquinas e mercadorias militares. Rússia em 2013 foi o quinto maior país produtor de ferro, um número bem distante da posição de maior país que a União Soviética gozava antes da perestroika.


O atual país líder da produção de ferro é República Popular da China, enquanto a Rússia está abaixo da Índia, que está em quinto. Estados Unidos, que antes da URSS era o país líder da produção mundial de ferro, agora está em terceiro. Em 2013, a Alemanha, um país muito menor que China, Rússia ou Estados Unidos, estava em sétimo.


Em 1914, a produção de ferro, o “coração” da indústria pesada, estava concentrada nos países imperialistas. Hoje existe uma tendência crescente desta produção ser “terceirizada” para países não-imperialistas como a China e Índia. Considerando esses fatores, a classificação relativamente alta da Rússia como quinto maior produtor de aço em 2007 dificilmente a torna imperialista,.


O veredito reside em

Durante as últimas décadas da União Soviética, economistas inspirados no marginalismo neoclássico, e especialmente a escola austríaca, desenvolveram uma crítica à economia soviética sob uma perspectiva marginalista. Os economistas que estavam para serem os arquitetos da perestroika eram enormemente influenciados por figuras como Ludwig von Mises, Frederich von Hayek e Milton Friedman.


Todos os problemas enfrentados pela economia soviética, e claro que eram muitos, esses economistas culpavam o planejamento central. A solução proposta por esses “reformadores-radicais” como eram chamados, era uma profunda descentralização da economia soviética, parcial ou completa descoletivização da agricultura, abolição do monopólio estatal sobre comércio internacional e um rublo conversível(6).


Apenas dessa forma, esses economistas argumentavam, a lei do valor poderia operar na economia soviética e tirar o maior proveito das “alavancas” de interesse material pessoal e relações monetárias-mercantis. Ainda que essas ideias fossem mascaradas com “socialismo de mercado”, na realidade, a nível geral, elas eram incompatíveis com a construção do socialismo. No final, para levar até o fim esse programa, seria necessário restaurar a propriedade privada dos meios de produção. Enquanto os governos soviéticos anteriores haviam tentado realizar fragmentos do "programa de reformas," a liderança de Mikhail Gorbachev abraçou o programa de reformas de todo o coração.


Essa “experiência” já se arrasta agora por mais de duas décadas—na verdade desde 1989, quando as reformas econômicas “radicais” de Gorbachev começaram a ser postas na prática a sério. Se a teoria marginalista está correta, sejam em suas versões neoclássica ou austríaca, as economias das nações ex-soviéticas libertas dos “grilhões” de planejamento centralizado e da propriedade estatal deveriam ter prosperado.


Mas se a crítica marxista da economia política burguesa está correta, a transição de um modo de produção superior para um inferior se espera que cause uma redução das forças produtivas e uma catástrofe política e social geral. Se nenhuma teoria está inteiramente correta e a verdade é algo entre elas, então se esperaria uma espécie de consequência intermediária. Os resultados da experiência agora estão aí. O que foi visto?


O veredito de Konstantinovka, Ucrânia

O jornal britânico The Guardian divulgou em 8 de Maio de 2014: “Diferente de várias das cidades mineradoras de carvão, Konstantinovka sempre foi conhecida por sua produção de vidro. Em seu auge, durante o período soviético, três fábricas de vidro da cidade empregavam mais de 15.000 pessoas entre elas… No final dos anos 80[pouco antes das reformas ‘radicais’ de Gorbachov passarem a agir], as fábricas produziam em torno de 150 milhões de garrafas de vidro por ano, para engarrafar champagne doce da Crimeia, que eram enviadas para longe para comemorar aniversários e casamentos por toda a União Soviética.


Isso na época. E agora?

Agora as fábricas estão em ruínas nos arredores da cidade. Apenas algumas matrizes estão funcionando, empregando apenas 600 pessoas. Até o centro da cidade está decaindo. O asfalto das estradas está rachado, e enormes ervas daninhas brotam entre os pavimentos. As estátuas de pedra de um camelo amarelo brilhante e de uma Branca de Neve e os sete anões no Parque Central possuem uma aparência um tanto sinistra, cercadas por grama à altura dos joelhos, que pareciam não ter sido cortadas por meses.


The Guardian cita um político local, observando: "Nada de novo foi construído, nada foi modernizado. Muitas pessoas estão chateadas e irritada com o seu destino."


É de se lembrar, os apoiadores da Perestroika, 25 anos atrás alegaram que suas “reformas econômicas radicais” seriam necessárias para “revigorar” a economia soviética e garantir sua modernização, que supostamente estava sendo entravada pelos “grilhões” da planificação central. Agora podemos ver quais foram os efeitos da “revigoração” para a cidade d eKonstantinovka na Ucrânia. E os resultados em Konstantinovka não são atípicos, mas são a regra geral não apenas para a Ucrânia, mas para todo o bloco ex-soviético.


Um punhado de “oligarcas”–a nova classe burguesa que tomou as fábricas, minas e fazendas que costumavam pertencer aos trabalhadores e camponeses– de fato ficaram mais ricos. Para eles e seus lacaios—e os lacaios são muito menores na Rússia, Ucrânia e outras nações ex-soviéticas do que nos países imperialistas—, a perestroika e as políticas até mais “radicais” pós-perestroika, foram com certeza um grande sucesso. A riqueza deles tem crescido muito além do que teria sido possível, mesmo nos dias finais do regime de Leonid Brezhnev com sua crescente "segunda economia". Mas para a grande maioria do povo ucraniano e os povos de todas as nações ex-soviéticas, os resultados têm sido um desastre desenfreado.


Esses resultados, assim como a Grande Recessão, mostram o quão falsas são as ideias do marginalismo. Deve-se lembrar que os marginalistas, sejam da escola austríaca e neoclássica, afirmam que o valor das mercadorias surge de sua escassez relativa aos desejos dos consumidores e não pela quantidade de trabalho socialmente necessário para produzi-los. Marginalismo pontua, em desacordo com Marx e os economistas clássicos, que o "interesse" —mais valia—advém do valor produzido pela escassez de capital e não do trabalho não pago dos trabalhadores.


Toda crise ocorrida na história do capitalismo, desde a crise de 1825 até a crise de 2008, é uma refutação na vida do marginalismo. Os desastres econômicos, sociais e políticos sem precedentes na antiga União Soviética, incluindo a crise atual na Ucrânia, é também uma refutação viva da teoria marginalista e uma confirmação da obra de Karl Marx. Infelizmente, a revolução socialista mundial precisou do açoite da contrarrevolução pra demonstrar para um grande número de pessoas na prática, não apenas em teoria o quão falsas são as alegações do marginalismo comparadas com a ciência econômica de Karl Marx.


E a solução

Paul Goble na edição de 24 de Abril de 2014 de “Window on Eurasia” noticiou: ”Como Aleksey Verkhpoyantsev da ‘Imprensa de Svobodnaya’ observou ontem, ‘intelectuais por muito tempo previram que a crise política na Ucrânia logo iria adquirir uma dimensão social e que a mistura desses dois elementos ‘poderiam levar’ a consequências imprevisíveis e potencialmente incontroláveis’”.


Quais consequências, por exemplo? ”Boris Shmelyov, um perito do Instituto de Economia de Moscou e Professor da Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores da Rússia," Goble prossegue, “contou a Verkhoyantsev que um dos motivos para isso é que ‘para a maioria dos cidadãos ucranianos que vivem no Sudeste, o termo ‘federalização’ não é muito bem compreendido”.

Verkhoyantsev perguntou ao Professor Shemlyov se o ódio crescente dos mineiros e outros trabalhadores levaria a reivindicações de nacionalização dessas empresas—em essência, devolvê-las a seus donos por direito que as construíram, os trabalhadores. Shemlyov respondeu que “não é apenas o crescente colapso do Estado ucraniano e a nitidez dos conflitos regionais na Ucrânia. Estamos vendo a destruição do modelo liberal-oligárquico de desenvolvimento socioeconômico sob o qual a Ucrânia estava se desenvolvendo nos anos recentes.”


O “modelo liberal-oligárquico” é, claro, a restauração do capitalismo, e os “anos recentes” são fundamentalmente os últimos 25 anos de 1989 em diante. E esse “modelo de desenvolvimento” se aplica não apenas para a Ucrânia, mas para a própria Rússia, bem como para os ex-países soviéticos.


O que muitos dos trabalhadores envolvidos no movimento antiMaidan querem não é a simples reversão do golpe de Fevereiro em Kiev. O que eles realmente querem é a restauração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Isso se nota a partir das bandeiras soviéticas que disputam com as bandeiras de três cores da capitalista República Russa e as duplas águias dos nacionalistas russos, as reclamações dos correspondentes ocidentais sobre uma generalizada “nostalgia soviética”, e a defesa das estátuas de Lenin pela população do leste ucraniano. Lenin é acima de tudo, o símbolo da Revolução de Outubro, o símbolo da revolução socialista, tão detestada pelos EuroMaidanistas mas tão defendida pelo movimento antiMaidan.


E é por isso que o movimento antiMaidan é uma ameaça tão grande não apenas para o Imperialismo, mas também para a burguesia russa e seu representante Vladimir Putin. Isso explica o porquê de Moscou estar fazendo tudo para esfriar o movimento. Putin surpreendeu os jornalistas ocidentais imperialistas que estavam o pintando como um novo Hitler e Rússia como um Terceiro Reich, quando ele anunciou a retirada das tropas russas da fronteira ucraniana, indicou apoio às eleições de 25 de Maio que a Junta de Kiev organizou a fim de atestar alguma legitimidade, assim como sua tentativa mal sucedida de convencer as Repúblicas Populares de adiar seu referendo de 11 de Maio acerca da autonomia do governo da Junta de Kiev.


A única solução real para a crise ucraniana é a restauração do poder operário e da propriedade de meios de produção dos trabalhadores, através de uma URSS revivida, que em si deve ser inevitavelmente ser parte de um movimento ainda maior que por fim, irá envolver os trabalhadores do mundo inteiro.


Nesse sentido, tanto as lutas dos trabalhadores na Ucrânia contra a Junta de Kiev, e as ações mundiais do meio de Maio, dos trabalhadores das redes de fast food apontam na mesma direção. É aí que reside a solução não apenas para a crise na Ucrânia mas para diversas outras crises que variam desde o desemprego crônico em massa até o aquecimento global que nos confronta hoje.



NOTAS

(1) Sentimentos de extrema-direita na Ucrânia são enormemente centrados na província da Galiza. Antes da I Guerra Mundial, Galiza, uma região rural com pouca indústria, era parte do Império Austro-húngaro ao invés do Império czarista, Após o término da guerra e a Revolução Russa, ela foi tomada pelo Marechal polonês Josef Pilsudski e se tornou parte do que era na prática um Império polonês—a parte polonesa da Polônia pré-Segunda Guerra, que se expandiu além do que era a Polônia étnica. Esse império incluía a Galiza, trechos da Bielorússia, além de trechos da Alemanha derrotada. Na Galiza, os donos de terras eram poloneses, mas os camponeses eram ucranianos. Os latifundiários poloneses frequentemente empregavam jdeus para agir como seus agentes em suas relações com o campesinato. A consequência dessas relações de tipo feudal, que persistiram até 1939 foi que tanto o sentimento antipolaco quanto o antijudaico eram fortes na Galiza entre as massas camponesas ucranianas. Por esses motivos históricos, a região é hoje a principal base para a extrema-direita na política ucraniana.


(2) ”Esquerdismo” se refere àquelas correntes políticas que cresciam dentro do movimento estudantil radical na Europa Ocidental do final dos anos 60 que se consideravam à esquerda dos Partidos Comunistas. Essa “extrema-esquerda” historicamente se dividiu entre diversas correntes anarquistas, trotskistas e maoístas.


(3) No meu blog, eu desenvolvi o conceito de Estados-satélite do Imperialismo. Esses Estados são subordinados às “instituições internacionais”–OTAN, OMC, e sistema monetário internacional centrado no dólar, e diferente dos países oprimidos, eles partilham dos superlucros gerados pelo Imperialismo e estão em uma posição que podem subornar seus trabalhadores mais privilegiados e sustentar uma enorme classe média de funcionários de “colarinho branco” que detém um certo montante de “capital-dinheiro” e terras dentro de seu próprio país. Entretanto, seus rendimentos de capital e da terra não são suficientes para se viver. Então eles tem que vender sua força de trabalho para compensar a diferença.. Diferente da tradicional pequena-burguesia, essas pessoas não tem seu próprio comércio. Em países imperialista, essas camadas médias são bastantes grandes e formam a base social para as políticas pró-imperialistas que dominam esses países.

Em 1914, no entanto, o sistema de “imperialismos-satélite” não estava nem perto de desenvolvido como é hoje—duas guerras mundiais depois. Mas, em “Imperialismo”, Lenin se refere à relação entre a Inglaterra e Portugal, que sob alguns aspectos, formava um protótipo do que são hoje os países satélite do Imperialismo.

Lenin escreveu: “O exemplo de Portugal mostra-nos uma forma um pouco diferente de dependência financeira e diplomática, ainda que conservando a independência política. Portugal é um Estado independente, soberano, mas na realidade há mais de duzentos anos, desde a Guerra da Sucessão de Espanha (1701- 1714), que está sob o protetorado da Inglaterra. A Inglaterra defendeu-o, e defendeu as possessões coloniais portuguesas, para reforçar as suas próprias posições na luta contra os seus adversários: a Espanha e a França. A Inglaterra obteve em troca vantagens comerciais, melhores condições para a exportação de mercadorias e, sobretudo, para a exportação de capitais para Portugal e suas colônias, pôde utilizar os portos e as ilhas de Portugal, os seus cabos telegráficos, etc. etc. (10*). Este gênero de relações entre grandes e pequenos Estados sempre existiu, mas na época do imperialismo capitalista tornam-se sistema geral, entram, como um elemento entre tantos outros, na formação do conjunto de relações que regem a "partilha do mundo", passam a ser elos da cadeia de operações do capital financeiro mundial.”

A diferença de 2014 comparado com 1914 o 1916 quando Lenin estava escrevendo, é que em comparação com os Estados Unidos, todas as outras nações imperialistas são “pequenos Estados”.


(4) As várias organizações “nacional-socialistas” ou neonazistas que estão em atividade nos Estados Unidos frequentemente exibem a bandeira dos confederados ao lado de suásticas e outros símbolos nazistas.


(5) Nos países não imperialistas com economias de maior parte sendo capitalistas, como China e Índia, os preços quando mensurados em termos de uma moeda como o dólar americano—e em última análise, pesos de barras de ouro—, incluindo os preços da força de trabalho, são mais baixos que nos países imperialistas. Por exemplo, supondo que o PIB da China supere o PIB dos Estados Unidos esse ano ou pouco depois, em termos de poder aquisitivo, o PIB dos EUA em termos absolutos, e não de per capita, ainda será relativamente menor em termos de dinheiro.

Dinheiro e dinheiro per se é a medida da riqueza social sob o modo de produção capitalista. Ouro enquanto moeda é a forma independente de valor de troca. E valor de troca, não valor de uso, é a forma de domínio na economia capitalista mundial. Portanto, apesar de seu notável progresso industrial nos últimos 25 anos, a China ainda está muito longe de ser uma potência imperialista. E o que acontece com a China é tanto mais verdadeiro na Rússia, que não fez o progresso industrial que a China tem feito ao longo dos últimos 25 anos desde que a "radical perestroika" foi lançada. Pelo contrário!


(6) Um rublo conversível no sentido de que o rublo poderia ser livremente comprado e vendido por indivíduos em troca de outras moedas, como o dólar norte-americano. Isso não significa conversibilidade em ouro a uma taxa fixa. Neste verdadeiro sentido da convertibilidade, nenhuma moeda é convertível hoje e nem tem sido desde agosto de 1971, quando o que restava da convertibilidade do dólar em ouro foi suspenso por um decreto do presidente dos EUA, Richard Nixon.



Artigo de Sam Williams, redator do blog A Critique of Crisis Theory (from a marxist perspective)

Tradução de Gabriel Duccini



Nota dos editores: nem todas as posições expressas neste texto ou pelo autor condizem necessariamente e/ou integralmente com a linha política de nosso site ou da União Reconstrução Comunista.

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