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"Peru: sangue outra vez"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • há 40 minutos
  • 5 min de leitura
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Quando, na noite de quarta-feira, 15 de outubro, caiu abatido na Praça França de Lima Eduardo Mauricio Ruiz Sáenz, artista da música e cantor popular dos coletivos de Hip Hop, soube-se que o sangue havia voltado à capital no marco de uma luta muito ampla que o povo trava contra uma máfia envilecida que se recusa a abandonar as posições de poder — mesmo tendo sido forçada a cortar a cabeça de Dina Boluarte, por considerá-la um membro inútil e até putrefato.

 

Foram milhares os moradores — jovens e idosos — que se reuniram nas ruas de Lima para expressar seu repúdio ao Congresso da República, que ainda mantém 95% de desaprovação popular. Mas a mobilização não abalou apenas Lima: ocorreu também nas principais cidades do país — Arequipa, Trujillo, Cusco, Huancayo, Ayacucho e outras — nas quais o grito foi unânime: “Que se vão todos”, isto é, o presidente empossado, os congressistas e os novos ministros do Gabinete Álvarez, que, como muitos disseram, não formam um governo de transição, mas de transação — isto é, uma estrutura na qual se verificou uma partilha em benefício da classe dominante.

 

É preciso admitir que o atual presidente — não se sabe se continuará sendo nos próximos dias — iniciou sua gestão com um “novo estilo”. Mostrou-se atento aos acontecimentos, foi a vários lugares, falou com o povo, recebeu delegações, e embora em alguns locais tenha sido bem recebido, em outros recebeu queixas e até insultos. E é que o chão deste país está rachado há anos por uma cúpula corrupta e derrotada.

 

Em Ayacucho, por exemplo, a manifestação foi “pacífica”, mas ali os familiares das vítimas do massacre de dezembro de 2022 exigiram justiça e investigação pela morte de seus entes queridos, bem como a prisão de Dina Boluarte. Em contrapartida, o Poder Judiciário autorizou a ex-mandatária a deixar o país quando quiser, sem restrição alguma, legitimando assim sua possibilidade de “asilo” — ou, mais precisamente, de fuga.

 

Em Arequipa, onde o Rei da Espanha presidia um Congresso Internacional da Língua Espanhola, as autoridades tentaram impedir a entrada dos manifestantes na Praça de Armas da cidade, e só permitiram as marchas populares quando Sua Real Majestade deixou o local. Submissão de vice-reinado, não é verdade?

 

As mobilizações que começaram na quarta-feira e continuaram nos dias seguintes se explicam em três níveis: contra o presidente Jerí, contra o Congresso da República e contra o Gabinete Ministerial. E em todos os três casos há fundamento sólido.

 

José Jerí chegou à presidência da República por um fato casual: era presidente do Poder Legislativo no momento em que Dina Boluarte foi destituída por unanimidade do Congresso — sem um voto contra e sem abstenções. Poderia — e deveria — ter havido uma mudança real e a eleição de um presidente que implicasse uma modificação na política oficial, mas isso não foi desejado. A maioria parlamentar quis jogar uma carta que significasse “mais do mesmo”. Portanto, não têm razão para se queixar hoje da ira popular.

 

Pode-se objetar que as mobilizações populares — inclusive a de 15 de outubro — tenham sido marcadas pela violência. A “grande imprensa” falou de “bombas Molotov” e pedras como “armas” dos manifestantes. Pois bem: aqueles de nós que já participamos dessas lutas e enfrentamos de peito aberto a repressão oficial sabemos que as “bombas Molotov” não são novidade. Elas se originaram nos anos da Segunda Guerra Mundial e chegaram ao Peru no final dos anos 1950 e início dos 1960. E nós as usamos porque eram a única maneira de enfrentar a brutalidade policial. Graças a elas, hoje existe o Corredor Universitário, o Cogoverno e a Autonomia Universitária.

 

O mesmo se aplica às pedras e paus usados pelos manifestantes acossados por robôs metálicos vestidos de aço. Nessas circunstâncias, os que lutam não têm outra alternativa. E, parafraseando Mariátegui, podemos dizer que, se geram violência, não haverá outra escolha senão estar com a violência — sem reservas covardes.

 

O senhor Jerí tem sérias acusações. Esteve envolvido em uma suposta violação sexual ainda não esclarecida; é acusado de negociações obscuras na Comissão de Orçamento do Congresso da República; tem vínculos com redes pornográficas e — sobretudo — votou a favor de todas as leis aprovadas pelo atual Congresso em benefício do crime organizado e da delinquência em seu auge.

 

Além disso, o senhor Jerí, sem pudor, votou por blindar Dina Boluarte nas seis ocasiões anteriores em que se pediu o fim de sua gestão. Assim, tornou-se cúmplice de seus roubos, mas também dos crimes cometidos por aquele regime entre dezembro de 2022 e março de 2023, e depois disso. Ademais, na noite do último dia 15, preocupou-se muito mais com a saúde dos policiais do que com a situação dos civis feridos pela repressão. Em outras palavras, o senhor Jerí, alto e bem vestido, está muito longe de ser uma mansa pomba.

 

O Congresso, por sua vez, foi cúmplice e beneficiário direto ou indireto de todos os roubos cometidos por Dina Boluarte. Tudo o que ela fez os beneficiou, ou lhes deu a oportunidade de “cobrar algo” em proveito próprio. Por isso se negaram a destituí-la, como deveriam ter feito em dezembro de 2022, após o assassinato de 67 peruanos. E por isso a blindaram em todos os debates, para que não prestasse contas e não pagasse por suas culpas. Cúmplices, portanto, são quase todos — com exceção de uma dezena de parlamentares que travaram uma luta desigual e corajosa para marcar com fogo a iniqüidade reinante.

 

E o novo Gabinete, porque está manchado desde a origem, mas também porque sua composição deixa muito a desejar. O próprio presidente do Conselho de Ministros, militante do Partido Popular Cristão, saiu das cavernas e se deu ao luxo de qualificar os integrantes da “Geração Z” como “herdeiros do MRTA”. E quando soube que se convocavam protestos em 15 de outubro, apressou-se em chamar os promotores de “sediciosos” e “subversivos”. É a velha linguagem da repressão brutal. Os outros membros do gabinete não são melhores — nem política nem profissionalmente. Não é verdade que sejam “técnicos qualificados”, como sugere candidamente certa “grande imprensa”, nem que formem uma “equipe em busca de soluções dialogadas”, como afirmam outros.

 

As “soluções” que oferecerem terão um claro selo de classe, e o diálogo será com os seus e com aqueles que possam neutralizar pelo caminho. Em nenhum caso haverá debate aberto, confronto de ideias ou concessões da classe dominante que este governo representa por sua própria natureza.

 

A luta está colocada, portanto, e o mundo será testemunha da natureza da confrontação que vive a pátria de Túpac Amaru e José Carlos Mariátegui. Que o sangue tenha voltado às nossas ruas não é apenas uma maldição: é também o selo que a classe dominante usa quando quer “dialogar” com o povo.

 

Do Resumen Latinoamericano

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