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"Nigéria: Boko Haram, o costume de matar"

  • Foto do escritor: NOVACULTURA.info
    NOVACULTURA.info
  • há 20 horas
  • 5 min de leitura
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No contexto da ofensiva que os grupos terroristas Boko Haram e Estado Islâmico Província da África Ocidental (ISWAP) lançaram no início do ano, depois de um silêncio de quase 18 meses, no dia 21, em um ataque coordenado por uma khatiba do Boko Haram contra a mesquita da localidade de Ungwan Mantau e várias casas próximas, no estado de Katsina, no noroeste do país, foram assassinados ao menos 50 civis, além de terem sequestrado outros 60.

 

O massacre provocou que milhares de vizinhos dos bairros Karfi, Marabar Kankara e Layin Minista marchassem até a cidade de Malumfashi, um centro comercial ao sul de Katsina, bloqueando por horas a estrada Funtua-Malumfashi, exigindo maior presença das agências de segurança diante da emergência.

 

Os primeiros sinais dessa nova ofensiva se deram em janeiro, com uma emboscada organizada pelo ISWAP, que matou cerca de 20 soldados nigerianos. Em outra ação, executaram 40 agricultores e causaram a perda de gado, víveres e ferramentas.

 

Enquanto isso, o Boko Haram, em uma série de ações coordenadas, atacou as aldeias cristãs de Njila, Banziir, Shikarkir e Yirmirmug, em Chibok, estado de Borno, onde incendiou casas, igrejas e assassinou meia dúzia de pessoas, além de obrigar várias dezenas a se converterem ao islã. Isso forçou o deslocamento de cerca de 4 mil pessoas.

 

No ataque recente à aldeia de Ungwan Mantau, um centenar de mujahidins chegou em motocicletas – um fato habitual em praticamente todas as bandas que operam no Sahel e no noroeste da Nigéria. Após entrarem na mesquita, abriram fogo contra os fiéis, enquanto outros terroristas faziam o mesmo dentro das casas próximas.

 

Alertadas, as forças de segurança da região conseguiram interceptar alguns atacantes e impedir investidas contra outras duas aldeias vizinhas.

 

O estado de Katsina, fronteiriço com a República do Níger, graças à falta de controles, permite que os milicianos circulem sem maiores dificuldades de um lado a outro, para operações transfronteiriças e em busca de refúgios seguros.

 

Essa área se converteu desde o início do ano em um corredor por onde circulam, sem obstáculos, tanto a violência wahabita quanto os bandos criminosos comuns: ladrões de gado, sequestradores extorsivos, traficantes de armas, drogas e bens saqueados, em ambos os lados da fronteira. Isso deu lugar ao surgimento de uma ativa economia paralela e independente de qualquer poder legal. O fato demonstra a incapacidade do governo em controlar suas fronteiras e os territórios onde os terroristas podem se instalar e recuar conforme suas necessidades táticas. Por isso, apesar da virulência das campanhas militares contra os terroristas, jamais foi possível, em 25 anos de insurgência no noroeste do país, desativá-los completamente.

 

Embora o governo do presidente nigeriano, Bola Tinubu, tenha herdado a crise de segurança, após pouco mais de dois anos no poder não conseguiu, além de alguns meses de tranquilidade, impedir que a crise continuasse. Apesar de alguns êxitos pontuais, como impedir a concretização de certos ataques, não conseguiram atingir o núcleo da violência.

 

Com estratégias equivocadas, como a de perseguir com grandes corpos de batalha grupos de alta mobilidade em regiões onde podem desaparecer rapidamente – além de se misturarem com a população em áreas florestais que fazem fronteira entre diferentes estados e países como Chade e Mali, já afetados por outros grupos terroristas que se expandem pelo Sahel –, a resposta estatal continua ineficaz.

 

No Chade, acaba de ser detido Muslim Mohammed Yusuf, junto a outros seis combatentes, pertencentes a uma célula do ISWAP. Muslim é filho de Muhammad Yusuf, fundador do Boko Haram, e irmão de Abu Musab Al-Barnawi, líder e fundador do ISWAP, morto em combate em outubro de 2021.

 

Impacto social da crise

 

Socialmente, a crise nas regiões afetadas se aprofunda: com quase três milhões de deslocados, comunidades camponesas literalmente arrasadas, milhares de mortos e sequestrados – que podem regressar a um alto preço pago por seus familiares ou permanecer cativos durante meses, sendo incorporados de maneira compulsória às fileiras terroristas. Desde 2009, muitos nunca regressaram.

 

Sem assistência sanitária, centenas de escolas fechadas, falta de abastecimento de produtos de uso cotidiano – combustíveis, pesticidas, ferramentas – tornam impossível o trabalho no campo, que em sua maioria foi abandonado. Isso deixa a população à beira da insegurança alimentar e de se converter em vítimas potenciais de qualquer tipo de epidemia.

 

Boko Haram em Camarões

 

A partir de maio, a presença do Boko Haram no norte de Camarões aumentou, o que acendeu os alarmes no governo do anquilosado Paul Biya, que, aos noventa anos, é o presidente mais velho do mundo.

 

No dia 7 de maio, em um trecho da estrada Guidjiba-Tcholire, seis pessoas foram sequestradas junto a um padre católico da paróquia “São João Batista Madingring”, da Arquidiocese de Garoua, na província Extremo Norte. Um dos reféns foi assassinado antes que os demais fossem libertados, com exceção do pároco, por cuja libertação os terroristas exigem cerca de 43 mil dólares.

 

Embora essas notícias tenham causado inquietação em todo o país, o impacto foi particularmente forte na província de Extremo Norte, onde pelo menos trinta pessoas foram mortas em diferentes ações dos terroristas nigerianos contra alvos civis e militares.

 

Nessas operações, o Boko Haram aplicou seu repertório: sequestros extorsivos – entre as vítimas, mulheres e crianças –, recrutamentos compulsivos e desestabilização de comunidades inteiras.

 

No último dia 11 de agosto, dois soldados camaroneses morreram no assalto ao posto militar em Kerawa, próximo à fronteira com a Nigéria. Após o ataque, os mujahideens nigerianos retornaram imediatamente ao seu país.

 

Prevendo a continuidade dos ataques, o alto comando do exército camaronês ordenou o envio de um contingente especial à província Extremo Norte para reforçar a fronteira e perseguir os extremistas.

 

Três dias depois da ação de Kerawa, o Boko Haram assaltou um ônibus da empresa camaronense Touristique Express, sequestrando seus 50 passageiros. A maioria foi libertada à medida que os familiares foram pagando os resgates exigidos, de cerca de 88 mil dólares por pessoa. Porém, no dia 18, cerca de dez crianças, entre 12 e 18 anos, continuavam em poder dos sequestradores, já que suas famílias não puderam pagar o valor exigido.

 

A oposição política ao presidente Biya criticou seu silêncio diante da crise e a inação para resolver a libertação das crianças e a atual situação de insegurança na fronteira com a Nigéria.

 

A população da província, cada vez mais aterrorizada pelas ações terroristas, ainda foi influenciada pelas palavras do popular pastor televisivo TB Joshua, que meses antes havia “profetizado” uma importante operação do Boko Haram em Camarões.

 

Segundo o governo de Biya, as tropas enviadas à região já teriam desmantelado o núcleo terrorista, informação difícil de confirmar no contexto de uma guerra contra o terrorismo que ultrapassa as fronteiras de Camarões e Nigéria, estendendo-se do Sahel até a costa do Golfo da Guiné – uma ameaça capaz de incendiar ainda mais regiões de um continente em plena disputa entre as grandes potências.

 

Por Guadi Calvo, no Línea Internacional

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