"Um País de jalecos brancos"
- NOVACULTURA.info

- 20 de ago.
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Conceber que a saúde não fosse um privilégio, mas um direito universal – porque “no campo não há médicos; nas cidades os médicos abundam, mas o povo pobre não pode pagá-los” – foi a máxima perene que percorreu toda Cuba; e seu promotor, como parte das linhas de seu depoimento de autodefesa “A história me absolverá”, não descansou até consegui-lo.
Naquele tempo, esse homem começou a semear as sementes de um país mais justo, com o ser humano no centro de suas políticas, e o sistema de saúde se converteria em farol.
No entanto, para ele não foi um caminho fácil. Herdou em 1959 um sistema fragmentado, privatizado e excludente, no qual mais de 60% dos médicos exerciam em áreas urbanas, enquanto milhões de camponeses viviam sem acesso a uma consulta médica. Mas sabia muito bem que “cuidar da saúde do povo, evitar seus sofrimentos e curar suas doenças é uma tarefa, principalmente, de ordem social e moral”, como expressou no II Congresso da Associação de Economistas do Terceiro Mundo; porque essa riqueza não se vende, se garante.
E com essa perspectiva, Fidel selou o desenvolvimento assistencial da saúde pública, gratuita e acessível, sob o pilar essencial da medicina preventiva; além de impulsionar as pesquisas biomédicas e a formação massiva de profissionais.
Por isso, sua grandeza foi ainda além, porque “nossa missão é criar uma doutrina com relação à saúde humana, demonstrar um exemplo do que pode ser feito nesse campo que é, sem dúvida, o mais sensível para qualquer pessoa do mundo”, confessou aos graduados do Instituto Superior de Ciências Médicas de Havana.
Então, em maio de 1963 um grupo de médicos viajou para a Argélia e iniciou uma trajetória inesquecível com mais de 605 mil especialistas combatendo epidemias, reconstruindo sistemas de saúde, salvando vidas na África, Ásia, América Latina e Caribe.
PROVER MÉDICOS
Atualmente, mais de 24 mil colaboradores continuam sua missão em 56 nações, enfrentando desafios e oferecendo atenção em lugares onde a saúde é um luxo inacessível.
Um dos maiores êxitos da cooperação, baseada no internacionalismo, foi a Operação Milagre, criada em 2004 por Cuba e Venezuela, mediante a qual – detalha um informe do Ministério da Saúde Pública – mais de 3.331.900 pessoas de baixos recursos recuperaram a visão.
Na linha de frente contra desastres e epidemias marcha o Contingente Internacional de Médicos Henry Reeve, criado em 2005 pelo Comandante em Chefe. Seus membros protagonizaram epopeias humanitárias ao salvar vidas, e isso “está de pé para hoje ou para amanhã, e será norma de Cuba com qualquer povo do mundo”, expressaria Fidel no discurso pronunciado no ato de constituição do Contingente.
Até hoje, 90 brigadas prestaram serviços em 55 países, com mais de 13.400 colaboradores. Não à toa, sobre essa obra sem precedentes, o doutor Michael Cabrera Laza, diretor da Unidade Central de Cooperação Médica em Cuba, reflete que a população, em qualquer país, reconhece a presença de Fidel “quando vê passar um médico cubano.
“Justamente, ele significa exemplo, e a nós, médicos, transmitiu seu altruísmo e o dever de fazer pela humanidade”.
ESSE FIDEL “QUE CONHECI”
Mostra dessa relação intrínseca é a gratidão que professam os graduados da Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), aquela que Fidel fundou com plena consciência do espírito de solidariedade e humanismo que legaria.
Os médicos formados ali são, como os qualificou no ato de inauguração em 1999: “zelosos guardiões do mais precioso do ser humano; apóstolos e criadores de um mundo mais humano”.
Bem o sabe María Elisa Chávez Mora, graduada chilena da primeira turma da ELAM (2005), que é, além disso, médica anestesiologista. Em conversa com o Granma, recorda os inícios de sua estadia em Cuba, “um país muito diferente do meu que, apesar das limitações econômicas e sociais, manteve-se livre, oferecendo oportunidades a jovens de outros povos para que se formassem como profissionais”.
O Líder Histórico que conheceu foi, para ela, um guia que sempre esteve presente em cada passo dos estudantes: “Ia verificar que não faltasse nada, que nos sentíssemos em casa e que a formação estivesse à altura dos padrões internacionais”, acrescenta.
Dialogar sobre ele é narrar um processo transformador que marcou toda a sua vida: depois de ler as palavras centrais no ato de graduação da primeira turma da ELAM, entregou duas medalhas e reconhecimentos especiais aos Comandantes Fidel e Hugo Chávez.
“Naquele ato Fidel disse a Chávez: “olha a tua sobrinha chilena”, e depois me perguntaram de que parte eu era e como me sentia”. Aqueles segundos, em que trocou palavras, relata, foram eternos.
Para outra chilena, Andrea Polanco Pineda, especialista em Psiquiatria Infantil e Adolescente, e membro da diretoria da Sociedade Médica Internacional da ELAM, o Comandante em Chefe profetizou com sabedoria que os que estudavam ali revolucionariam os sistemas de saúde em seus países.
“Se eu pudesse voltar aos meus 19 anos, voltaria a fazer parte desse projeto que tem sido o mais louvável deste século”.
Diz Andrea Polanco que a ELAM lhe mostrou um mundo diverso, cheio de cores e de línguas diferentes, mas com objetivos comuns: “Hoje somos esses irmãos de ciência e consciência, fruto da história da Revolução Cubana”.
María Esther Betanco Vázquez, nicaraguense e mais conhecida como “a menina da ELAM”, acrescenta que cada obra que realiza tem como princípio o que disse o Comandante ao expressar que o único que esperava era que nunca deixassem de atender aquele ser humano que necessitasse dos serviços, mesmo que não tivesse como pagar.
“Esse homem também estava consciente de que enfrentaríamos adversidades políticas, neoliberais, e que ali estaria um graduado da Escola, que jamais abandonaria sua trincheira de atenção médica”.
O doutor Luther Castillo Harry, graduado na ELAM e hoje secretário de Estado no Gabinete de Ciência e Tecnologia da República de Honduras, também não poupa palavras ao falar de Fidel:
“Tive a oportunidade de compartilhar com ele muitíssimas horas. Era tão próximo que ninguém podia imaginar como um homem, presidente de um país que enfrenta complexidades, que está bloqueado e que deve encontrar alternativas, podia deter-se a conversar com um rapaz de apenas 18 anos”, descreve.
Fidel o ajudou a fundar o primeiro hospital com serviços gratuitos em Honduras, corrigiu seu discurso, e foi, para ele, um pai e um amigo.
“O Fidel que eu conheci é um homem com um nível altíssimo de sensibilidade humana; que depositou nos estudantes da ELAM a veia da revolução”, e que afirmou que forjar médicos e não bombas é princípio inquebrantável.
Do Granma




















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