top of page
textura-03.png

"Mulher Trabalhadora e Mãe"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Mashenka, esposa do diretor da fábrica


Mashenka é esposa do diretor da fábrica. Mashenka está esperando um bebê. Apesar de todos na casa do diretor da fábrica estarem um pouco ansiosos, o clima é de festa. Isso não é uma surpresa, pois Mashenka vai presentear seu marido com um herdeiro. Haverá alguém a quem ele pode deixar toda sua riqueza - a riqueza criada pelas mãos de homens e mulheres trabalhadores. O médico pediu para que cuidassem, atenciosamente, de Mashenka. Não deixá-la cansada; não deixá-la levantar nada pesado. Deixá-la comer o que quiser. Frutas? Dê algumas frutas a ela. Caviar? Dê caviar a ela.


O importante é que Mashenka não se sinta preocupada ou estressada de forma alguma. Dessa forma o bebê nascerá forte e saudável, o parto será fácil e Mashenka manterá sua flor. É assim que funciona na família do diretor da fábrica. Essa é a maneira aceita de lidar com uma mãe gestante, em famílias em que as bolsas são repletas de ouro e de notas de crédito. Eles cuidam bem da senhora Mashenka. Não se canse Mashenka, tente não se mexer na poltrona. É o que dizem à senhora Mashenka. Os trapaceiros e hipócritas da burguesia afirmam que a mãe gestante é sagrada para eles. Mas será de fato?


Mashenka, a lavadeira


Nos fundos da mesma casa que a do diretor da fábrica, em um canto atrás de uma cortina de chita estampada, encolhe-se outra Mashenka. Ela lava a roupa e faz o trabalho doméstico. Mashenka está grávida de oito meses. No entanto, ela arregalaria seus olhos de surpresa se a dissessem: "Mashenka, você não deve: carregar coisas pesadas, você deve se cuidar, para o seu próprio bem, para o bem da criança e de toda a humanidade. Você está esperando um bebê e isso significa que a sua condição, aos olhos da sociedade, é 'sagrada'''. Masha acharia isso uma intervenção desnecessária ou uma piada de mau gosto. Aonde já se viu uma mulher da classe trabalhadora receber tratamento especial por estar grávida? Masha e as centenas de milhares de outras mulheres das classes sem propriedade, que são forçadas a venderem suas mãos trabalhadoras, sabem que os proprietários não têm compaixão quando veem mulheres necessitadas; e elas não têm outra alternativa, por mais exaustas que estejam, a não ser trabalhar.


“Uma futura mãe deve ter, acima de tudo, um sono tranquilo, boa comida, ar fresco e não muito esforço físico". Isso é o que o médico diz. Masha, a lavadeira, e as centenas de milhares de mulheres trabalhadoras, as escravas do capital, riem na cara dele. Um mínimo de esforço físico? Ar fresco? Comida saudável e o suficiente? Sono sem perturbações? Que mulher trabalhadora conhece essas bênçãos? Estas são apenas para a senhora Mashenka e para as esposas dos proprietários da fábrica.


Logo de manhã, antes que a escuridão dê lugar ao amanhecer, e enquanto a senhora Mashenka ainda está tendo doces sonhos, Mashenka, a lavadeira, levanta-se de sua cama estreita e vai para a lavanderia úmida e escura. Ela é recebida pelo cheiro fétido de roupa suja, escorrega no chão molhado das poças de ontem que ainda não secaram. Não é por vontade própria que Masha se escraviza na lavanderia, ela é conduzida por aquela supervisora incansável - a necessidade. O marido de Masha é trabalhador e seu salário é tão pequeno que duas pessoas não conseguiriam manter-se com ele. E assim, em silêncio, rangendo seus dentes, ela fica em pé sobre o tanque até o último dia possível, até o parto. Não se engane pensando que Masha, a lavadeira, tem "saúde de ferro", como as senhoras costumam dizer quando falam das mulheres trabalhadoras. As pernas de Masha estão pesadas com as veias inchadas, por ficar muito tempo no tanque, ela só consegue andar devagar e com muita dificuldade. Há olheiras em seus olhos. Seus braços estão inchados e ela não dorme direito há muito tempo.


Os cestos de linho molhado costumam ser tão pesados que Masha se apoia na parede para evitar que ela caia. Sua cabeça gira e tudo fica escuro diante de seus olhos. Muitas vezes parece que há um enorme e podre dente alojado em sua coluna e que suas pernas são feitas de chumbo. Se ela pudesse se deitar por uma hora... descansar um pouco... mas mulheres trabalhadoras não têm permissão para fazer tais coisas. Esses luxos não são para elas. Afinal, elas não são mulheres. Masha suporta, em silêncio, seu árduo trabalho. As únicas mulheres "sagradas" são as gestantes que não são conduzidas por esse patrão implacável, a necessidade.


Masha, a empregada


A senhora Mashenka precisa de outra empregada. O mestre e a senhora acolhem a camponesa. A senhora Mashenka gosta da gargalhada da menina e de sua trança que vai até abaixo do joelho, e do jeito que a menina voa pela casa como um pássaro voando, tentando agradar a todos. Uma joia de menina. Eles a pagam três rublos por mês e ela trabalha o suficiente para três pessoas. A senhora está cheia de elogios.


Então o diretor da fábrica começa a se insinuar para a garota. Suas cortesias crescem. A menina não vê o perigo; ela é inexperiente, ingênua. O mestre fica ainda mais gentil e amoroso. O médico o aconselhou a não exigir nada de sua esposa. Silêncio, diz ele, é o melhor remédio. O diretor da fábrica está disposto a deixá-la parir em paz, desde que ele não tenha que sofrer. A empregada também se chama Masha. As coisas podem ser organizadas mais facilmente, a garota é ignorante. Burra. Não é difícil assustá-la, ela tem medo de qualquer coisa. E então Masha engravidou. Ela para de rir e começa a parecer abatida. A ansiedade corrói seu coração dia e noite.


Masha, a senhora, descobre. Ela faz um escarcéu. A menina tem vinte e quatro horas para fazer as malas. Masha vagueia pelas ruas. Ela não tem amigos, nenhum lugar para ir. Quem vai empregar “aquele tipo de garota” em qualquer casa “honesta”? Masha vagueia sem trabalho, sem pão, sem ajuda. Ela passa por um rio. Ela olha para as ondas escuras e se afasta, tremendo. O rio gelado e sombrio a apavora, mas ao mesmo tempo parece acenar.


Masha, a tintureira


Há uma confusão no departamento de tingimento da fábrica; uma trabalhadora foi carregada como se estivesse morta. O que aconteceu com ela? Ela foi envenenada pelo vapor? Ela não podia mais suportar a fumaça? Ela não é novata. Já está na hora dela se acostumar com o veneno de fábrica.


“Não é absolutamente nada”, diz o médico. “Você entende? Ela está grávida. As mulheres grávidas tendem a se comportar de todas as maneiras estranhas. Não é necessário ceder a elas".


Então, eles mandam a mulher de volta ao trabalho. Ela tropeça como um bêbado pela oficina de volta ao seu lugar. Suas pernas estão dormentes e se recusam a obedecê-la. Não é brincadeira trabalhar dez horas por dia, dia após dia, em meio ao fedor tóxico, ao vapor e aos gases prejudiciais. E não há descanso para a mãe trabalhadora. Mesmo quando as dez horas se acabam. Em casa, está a mãe idosa e cega esperando pelo jantar dela, e o seu marido volta da fábrica cansado e faminto. Ela tem que alimentar a todos eles e cuidar de todos eles. Ela é a primeira a se levantar de manhã, está de pé ao nascer do sol. E ela é a última a dormir. E então, para coroar, eles implantaram horas extras. As coisas estão indo bem na fábrica, o proprietário está acumulando os lucros com as duas mãos. Ele dá apenas uns copeques extras para as horas extras, mas se você questionar, você sabe o caminho dos portões. Existem, graças a Deus, desempregados suficientes no mundo. Masha tenta uma licença, recorrendo ao próprio diretor.


“Vou ter meu bebê em breve. Preciso deixar tudo pronto. Meus filhos são pequenos e tem o trabalho doméstico; e ainda tenho a minha mãe idosa para cuidar". Mas ele não vai ouvir. Ele é rude com ela e a humilha na frente dos outros trabalhadores. "Se eu começasse a dar folgas a todas as grávidas, seria mais fácil fechar a fábrica. Se você não dormisse com homens, não estaria grávida".


Então, Masha, a tintureira, tem de trabalhar até o último minuto. É dessa forma que a sociedade burguesa valoriza a maternidade.