"A Solidariedade é uma ajuda mútua entre as forças que combatem pelo mesmo objetivo"
Reggio Emília, 25 de Março de 1973.
Senhor Presidente da Conferencia,
Amigos e Camaradas Dirigentes e Militantes das Forças Democráticas Italianas,
Amigos e Camaradas do MPLA e PAIGC,
Amigos e Camaradas Delegados e Observadores.
Esta manifestação de solidariedade é uma festa da amizade dos Povos, uma reafirmação, do princípio de que todos os Povos querem a Liberdade, a Justiça, o Progresso e a Paz e que estes são indivisíveis.
Esta magnifica celebração tem lugar na região da Emilia Romagna, onde em cada passo encontramos manifestações concretas de ódio contra o fascismo e a exploração, exemplos de determinação populares em defender os direitos do Povo.
Aqui a luta pela Independência e Unidade da Itália, viveu momentos altos. Aqui, nesta terra mártir e heroica, se estabeleceu um dos principais centros de combate contra o fascismo e o hitlerismo. Hoje, a Emília Romagna é uma das regiões da Itália onde se instalou o poder democrático e popular, defendendo assim conquistas da resistência italiana.
Interpretando os interesses e mantendo vivo o sentido profundo da resistência italiana, o Povo da Emília Romagna, transformou a sua região numa frente de solidariedade italiana para com a luta dos outros Povos.
Aqui em Região Emília se encontra o Hospital S. Marie Nuova, ligado ao Hospital Zambbuia, Zambezia, por um pacto de amizade. Ainda na Emília Romagna se encontra a Comuna de Bolonha, também ligada por um pacto de amizade com o nosso Centro Educacional de Tunduru.
São estas e inúmeras outras manifestações de solidariedade, carinho e amizade do Povo italiano, que hoje queremos aqui, solenemente saudar e agradecer em nome do Povo Moçambicano e da FRELIMO.
Para além do apoio concreto que ela representa a vossa solidariedade, é também uma ação política que nos ajuda a educar o nosso Povo.
Que esta Conferência se inaugure no dia do aniversário do massacre das Fosse Ardeatine é mais uma circunstância que recorda quanto a história dos nossos povos se liga, no passado e no presente à mesma experiência da brutalidade e crueldade da dominação nazifascista, mas, ao mesmo tempo, à coragem e determinação popular da luta comum.
O colonialismo e o imperialismo fizeram conhecer ao nosso Povo a face brutal da agressão, da exploração, da opressão.
A Pátria do renascimento da cultura europeia, da epopeia libertária de Garibaldi, da luta tenaz contra o fascismo, a Pátria do grande Povo Italiano, era-nos desconhecida. A vossa imagem era apenas os FIAT G-91 que semeiam a morte, as indústrias alimentares italianas que nas suas fábricas de descasque de caju em Moçambique exploram os nossos camponeses e trabalhadores.
Somente a guerra de libertação, que quebrou o isolamento a que estávamos submetidos, nos permitiu entrar em contato com o Povo Italiano e descobrir a sua verdadeira face.
A vossa ação de solidariedade, neste quadro, leva o nosso Povo a compreender duma maneira concreta, que não existem raças ou Povos inimigos. Que o inimigo do nosso Povo é o mesmo que de todos os outros Povos, o colonialismo que não tem raça, o imperialismo que não tem Pátria.
As visitas das vossas delegações ao Campo Educacional de Tunduru, ao Hospital Dr. Américo Boavida, às Regiões libertadas de Moçambique, foram lições políticas para o nosso Povo.
Ao iniciar-se esta Conferência nós saudamos todos os numerosos dirigentes, representantes e militantes das forças políticas, sindicais, culturais, laicas e de inspiração religiosa, socialistas, comunistas, democratas cristãos, republicanos, todas as forças antifascistas, aqui presentes, porque unidas na condenação e na recusa do apoio ao colonialismo e à opressão, unidas no apoio à nossa luta pela independência, pela liberdade e pela justiça. Que vocês saibam amigos e camaradas, quanto a vossa presença conosco, de vós representantes de um arco tão largo de forças democráticas, representa um encorajamento e inspiração no nosso combate unitário contra o inimigo comum.
Camarada Presidente da Conferência,
Caros camaradas,
A nossa Conferência realiza-se num momento de grande desenvolvimento da nossa luta.
Vivemos em Moçambique o nono ano de luta armada. Profundas transformações qualitativas e quantitativas operam-se no nosso País.
A luta armada estendeu-se para as zonas mais sensíveis do sistema económico de dominação colonial. Ela atinge os centros de implantação dos interesses vitais estratégicos e económicos, tanto do colonialismo português, como do imperialismo.
Ainda mais, este desenvolvimento da nossa luta afeta, quer os interesses inimigos em Moçambique, quer ainda o seu sistema de dominação do conjunto da África Austral.
Os 3.000 km de costas moçambicanas banhadas pelo Índico, abrigando excelentes portos como os de Lourenço Marques, Beira e Nacala, fazem do nosso País o acesso natural ao mar dum vasto hinterland, rico em minas e indústrias, com uma agricultura próspera e um comércio internacional florescente.
A localização geográfica de Moçambique, torna o nosso País um centro de controle da navegação circun-africana, entre a Ásia e o Médio Oriente por um lado e a Europa e América por outro.
O espírito de guerra fria que subsiste nos meios militaristas e reacionários, leva potências ocidentais a conceberem o nosso País como um elemento fundamental para a dominação da chamada rota do Cabo.
Fronteira do império branco da África Austral, Moçambique é considerado como zona de proteção dos regimes racistas de Pretória e Salisbúria.
País dispondo de uma população superior a 9 milhões de habitantes, isto é, o segundo país mais populoso da África Austral, Moçambique é o principal fornecedor da mão de obra para toda a África Austral. Nas minas da África do Sul e da Rodésia, nas plantações e indústrias do império racista, perto de um milhão de Moçambicanos, vendidos pelo governo português, conhecem a nova escravatura, para maior benefício dos senhores das minas e das terras.
As reservas imensas de energia hidroelétrica, carbonífera, os jazigos de petróleo e gás, urânio, ferro, cobre, bauxita, ouro e diamante, a fertilidade do nosso solo, tem atraído os interesses das grandes companhias multinacionais.
É este conjunto de interesses económicos e estratégicos que, identificando-se com o colonialismo português, lhe permitiram sobreviver até hoje.
É contra eles que a nossa luta se dirige, são eles que estão a ser destruídos pela nossa luta.
Dos fins de Outubro de 1971 aos inícios de Novembro de 1972, as forças armadas da FRELIMO empreenderam mais de 800 ações contra o exército colonial, no decurso das quais, 107 bases militares e acampamentos inimigos foram destruídos total ou parcialmente, mais de 3.000 soldados portugueses foram mortos, viaturas militares de toda a espécie foram destruídas.
Ainda durante este período, abatemos ou destruímos no solo 55 aviões e helicópteros, incluindo 1 helicóptero rodesiano, afundamos 15 embarcações de guerra no rio Zambeze. Dezenas de quilómetros de vias férreas foram destruídas, assim como 20 composições ferroviárias e 20 pontes. Mas mais importantes que as estatísticas, das batalhas são as transformações operadas no campo político e da reconstrução nacional.
Cabo Delgado era uma Província submetida à exploração das companhias algodoeiras. Muitas dezenas de milhares de famílias africanas eram forçadas pela administração colonial, a consagrarem os seus esforços à produção de algodão, para receberem em seguida preços de miséria pelas suas colheitas.
A opressão das companhias era de tal maneira brutal durante a dominação colonial, que centenas de milhares de pessoas preferiam atravessar o Rovuma e vir trabalhar nas plantações de sisal do então Tanganyika.
Hoje essas companhias algodoeiras já quase desapareceram de Cabo Delgado, porque largas regiões foram subtraídas à dominação colonial.
A ação presente dos nossos combatentes visa liquidar as poucas bases inimigas que ainda sobrevivem, isoladas nas nossas zonas e reforçar a proteção das populações contra os bombardeamentos aéreos. Foi assim que em 18 de Setembro de 1972, lançamos uma ofensiva simultânea contra 7 bases militares inimigas, incluindo a base estratégica aérea e terrestre de Mueda, centro do dispositivo militar português no centro da Província.
Em Mueda 18 aviões e helicópteros, incluindo 2 FIATS G-91 foram destruídos no solo. Além disso, diversas instalações militares foram destruídas ou danificadas, nomeadamente paióis, casernas, depósitos de combustível, pistas.
A ofensiva prossegue até hoje tendo já destruído várias bases inimigas. As mais recentes foram de Quinhantati, Nakatar, Nan Gade, Ulo e Pundanyar.
Em Niassa a opressão brutal dos colonialistas, a ocupação das terras férteis por colonos, a venda de mão de obra para as minas e plantações da Rodésia e África do Sul, o regime algodoeiro, a inexistência de assistência sanitária para o Povo, dizimaram as populações.
Com uma superfície superior a 120.000 Km2, um solo fértil, um clima ameno, Niassa no início da guerra, tinha uma população de 250.000 habitantes.
O colonialismo atiçava as divisões tribais o religiosas, entre essa escassa população. Assim era Niassa.
Hoje, não são apenas as companhias algodoeiras e a venda dos trabalhadores que cessaram de existir, também foi bloqueado o processo de implantação de novos colonos.
Os grupos linguísticos e religiosos descobrem a sua personalidade moçambicana, encontram a fraternidade que une os oprimidos. Os Comités populares de poder, designados democraticamente, substituíram a dominação feudal e despótica dos antigos régulos, ao serviço da administração colonial.
Como em Cabo, Delgado o inimigo encontra-se isolado com as estradas e vias férreas bloqueadas. Aqui também a nossa ação incide essencialmente na destruição das bases inimigas. Nos últimos meses atacamos e destruímos em todo ou em parte, Macaloge, Lunho, Messangulo, Valadin, campos de concentração como o de Maua, foram destruídos, tendo-se libertado centenas de pessoas.
A Província de Tete fornecia trabalhadores que eram vendidos para as minas, plantações de tabaco e fazendas da Rodésia, para as minas de carvão de Moatize. Os colonialistas faziam dos nossos homens animais de transporte para carregar o colono e os seus bens. Homens eram levados para a estiva da Beira, para as plantações de colonos.
A Província, fronteiriça da Rodésia e Malawi era um centro de comunicações internacionais.
Os jazigos de carvão, ferro, urânio, cobre, bauxite, ouro, atraíam sobre ela os interesses e ambições das grandes companhias. Mas sobretudo é o projeto gigante de Cabora Bassa, com implicações profundas para a África Austral, que concentrou a atenção dos grandes monopólios sobre o nosso País.
Cabora Bassa que se destinaria a fornecer energia elétrica barata à África do Sul e à África Austral, seria o ponto de partida da constituição dum mercado comum, que submeteria a totalidade da nossa zona à tutela de Pretória.
No vale do Zambeze a ser irrigado pela futura barragem, o colonialismo deseja instalar um milhão de colonos europeus, que constituiriam uma espécie de barragem humana, contra o desenvolvimento da luta de libertação. Mas em cinco anos Tete transformou-se profundamente.
Embora o inimigo tenha aumentado consideravelmente os seus efetivos e material e que estes sejam reforçados pelas intervenções militares de Salisbúria e de Pretória, a extensão rápida da luta armada a toda a Província e o seu avanço para Manica e Sofala destruiu os planos estratégicos e táticos do inimigo, impedindo-o de explorar a sua supremacia material.
A derrota militar colonialista concretizou-se pelo alto grau de paralisação das vias de comunicação terrestres incluindo às de projeção internacional, e resultou na cessação progressiva das atividades económicas portuguesas e estrangeiras, nos campos da agricultura, comércio, transporte e pesquisa mineira, na acentuação do isolamento de Cabora Bassa e da exploração carbonífera do Moatize, na liquidação do blucus do Zambeze.
O nosso Povo deixou de ser animal de transporte, deixou de ser vendido para o estrangeiro, o trabalho forçado cessou, as brutalidades e humilhações dos colonos e administração progressivamente relegada para o passado.
O colonialismo português aqui também, deixa de existir como administração e dominação económica, para assumir, o seu único e verdadeiro rosto, o de agressor e criminoso.
A opressão das companhias era de tal maneira brutal durante a dominação colonial, que centenas de milhares de pessoas preferiam atravessar o Rovuma e vir trabalhar nas plantações de sisal do então Tanganyika.
A ação presente dos nossos combatentes visa liquidar as poucas bases inimigas que ainda sobrevivem isoladas nas nossas zonas e reforçar a proteção das populações contra os bombardeamentos aéreos. Foi assim que em 18 de Setembro de 1972, lançamos uma ofensiva simultânea contra 7 bases militares inimigas, incluindo a base estratégica aérea e terrestre de Mueda, centro do dispositivo militar português no centro da Província.
Em Niassa a opressão brutal dos colonialistas, a ocupação das terras férteis por colonos, a venda de mão de obra para as minas e plantações da Rodésia e África do Sul, o regime algodoeiro, inexistência de assistência sanitária para o Povo, dizimaram as populações.
Com uma superfície superior a 120.000 Km2, um solo fértil, um clima ameno, Niassa no início da guerra, tinha uma população de 250.000 habitantes. O colonialismo atiçava as divisões tribais e religiosas, entre essa escassa população. Assim era Niassa.
Hoje, não são apenas as companhias algodoeiras e a venda dos trabalhadores que cessaram de existir, também foi bloqueado o processo de implantação de novos colonos.
Os grupos linguísticos e religiosos descobrem a sua personalidade moçambicana, encontram a fraternidade que une os oprimidos. Os Comités populares de poder, designados democraticamente, substituíram a dominação feudal e despótica dos antigos régulos, ao serviço da administração colonial.
Como em Cabo Delgado o inimigo encontra-se isolado com as estradas e vias férreas bloqueadas. Aqui também a nossa ação incide essencialmente na destruição das bases inimigas. Nos últimos meses atacamos e destruímos em todo ou em parte, Macaloge, Lunho, Messangúlo, Valadim; campos de concentração como o de Maua, foram destruídos, tendo-se libertado centenas de pessoas.
A Província de Tete fornecia trabalhadores que eram vendidos para as minas, plantações de tabaco e fazendas da Rodésia, para as minas de carvão de Moatize. Os colonialistas faziam dos nossos homens aninais de transporte para carregar o colono e os seus bens. Os homens eram levados para a estiva da Beira, para as plantações de colonos.