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Mao: "A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info


“A Revolução Chinesa e O Partido Comunista da China”, livro de texto escrito em Ienan pelo camarada Mao Tsé-tung, com o concurso doutros camaradas, no Inverno de 1939. O primeiro capítulo, “A Sociedade Chinesa”, foi escrito pelos demais camaradas e revisto pelo camarada Mao Tsé-tung. O segundo capítulo, “A Revolução Chinesa”, foi elaborado pessoalmente pelo camarada Mao Tsé-tung. Um terceiro capítulo, “A Construção do Partido”, foi deixado inacabado pelos camaradas que nele trabalhavam. Não obstante, a publicação dos dois capítulos, em especial o segundo, desempenhou um grande papel educativo no seio do Partido Comunista da China e entre o povo chinês. As ideias formuladas pelo camarada Mao Tsé-tung, no segundo capítulo, sobre a democracia nova, foram consideravelmente desenvolvidas por este no artigo intitulado “Sobre a Democracia Nova”, artigo que escreveu em janeiro de 1940.

CAPÍTULO I - A SOCIEDADE CHINESA

Seção 1. A Nação Chinesa


A China é um dos maiores países do mundo, o seu território perfaz quase as dimensões da Europa inteira. Nesse vasto território, imensas terras férteis proporcionam-nos vestuário e alimentação; cadeias de montanhas, grandes e pequenas, cruzam-no em todo o seu comprimento e largura, oferecendo-nos extensas florestas e ricas jazidas de minério; inúmeros rios e lagos tornam-nos fácil a navegação e a irrigação e uma longa linha de costa permite-nos comunicar com as nações que se situam para lá dos mares. Foi nesse vasto território que, em épocas de que já se não tem memória, trabalharam, viveram e multiplicaram-se os antepassados da nação chinesa.


A China tem fronteiras com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Nordeste, Noroeste e parte do Oeste; com a República Popular da Mongólia, a Norte; com o Afeganistão, índia, Butão e Nepal, em parte do Oeste e a Sudoeste; com a Birmânia e Vietnam, a Sul; com a Coreia, a Leste, sendo, ademais um próximo vizinho do Japão e das Filipinas. Externamente, a situação geográfica da China redunda em vantagens e desvantagens para a revolução do povo chinês. Constitui vantagem ter fronteiras com a União Soviética, encontrar-se bastante distante dos principais países imperialistas da Europa e da América, assim como estar rodeado por vários países coloniais e semicoloniais. É uma desvantagem que o imperialismo japonês, estando-nos geograficamente próximo, se aproveite disso para ameaçar constantemente a existência de todas as nacionalidades da China e a revolução do povo chinês.


Atualmente, a China tem uma população de 450 milhões, ou seja, quase a quarta parte da população mundial. Mais de nove décimos dos habitantes da China são de nacionalidade Han; além destes, existem várias dezenas de minorias nacionais, como a Mongol, a Huei, a Tibetana, a Uigur, a Miao, a Yi, a Tchuam, a Tchonquia e a Coreana, todas com longa história própria, mas em níveis distintos de desenvolvimento cultural. A China é um país de grande população, integrada por múltiplas nacionalidades.


O desenvolvimento da nação chinesa (tratamos sobretudo dos Han), semelhante ao de muitas outras nações no mundo, passou pela comunidade primitiva, sem classes, durante dezenas de milhares de anos. Uns quatro mil anos decorreram entre o colapso dessa comunidade primitiva e a respectiva conversão em sociedade de classes, primeiro em sociedade de escravos e, posteriormente, em sociedade feudal. Na história da civilização chinesa, a agricultura e o artesanato ganharam fama pelo seu alto grau de desenvolvimento. Houve entre nós inúmeros pensadores, cientistas, inventores, estadistas, soldados, homens de letras e artistas de grande vulto e dispomos duma rica galeria de obras clássicas. Há muito que se inventou a bússola na China.(2) O processo do fabrico de papel foi inventado há mil e oitocentos anos.(3) A imprensa de pranchas gravadas inventou-se há mil e trezentos anos(4) e a de caracteres móveis, há oitocentos(5). O emprego da pólvora foi iniciado pelo povo chinês bem antes de sê-lo pelos europeus.(6) A China tem de fato uma das mais velhas civilizações do mundo, com história escrita de cerca de quatro mil anos.


A nação chinesa é conhecida no mundo pela sua resistência e laboriosidade, e é uma nação que ama ardentemente a liberdade e possui uma riqueza de tradições revolucionárias. A história dos Han, por exemplo, demonstra bem que os chineses jamais se submeteram a dominação das forças tenebrosas, pelo contrário, recorreram sempre a via revolucionária para derrubar e substituir as tiranias. Nos milhares de anos da história dos Han, houve centenas de grandes e pequenos levantamentos camponeses contra a tenebrosa dominação, exercida pelos senhores de terras e pela nobreza. A maioria das mudanças de dinastias resultou de tais levantamentos. Todas as nacionalidades da China souberam opor-se a subjugação pelo estrangeiro, passando invariavelmente a resistência para liquidá-la. Elas aceitam a união na base da igualdade, sendo opostas a opressão duma nacionalidade por outra. Nos seus milénios de história escrita, a nação chinesa foi berço de inúmeros heróis nacionais e chefes revolucionários. A nação chinesa possui efetivamente uma gloriosa tradição revolucionária e uma brilhante herança histórica.

Seção 2. A Velha Sociedade Feudal


Sendo embora uma grande nação, embora possuindo um extenso território, uma população imensa, uma longa história, ricas tradições revolucionárias e uma brilhante herança histórica, o desenvolvimento econômico, político e cultural da China foi lento por muitos anos desde a passagem de sociedade de escravos a sociedade feudal. Formada no decurso das dinastias Tchous e Tchins, a sociedade feudal alongou-se por cerca de três mil anos.


As características principais do sistema econômico e político da China feudal eram as seguintes:


1) Predomínio da economia natural autossuficiente. Os camponeses produziam, para si próprios, tanto os géneros agrícolas como a maioria dos artigos artesanais de que necessitavam. O que os senhores de terras e a nobreza lhes extorquiam sob forma de renda da terra igualmente se destinava antes de mais ao consumo privado, não a troca. Embora se fosse desenvolvendo com o andar do tempo, a troca não desempenhava papel decisivo no conjunto da economia.


2) A classe dominante feudal — senhores de terras, nobres e imperador — detinha a propriedade da maior parte da terra, deixando os camponeses com pouca ou nenhuma terra. Os camponeses lavravam as terras dos senhores de terras, nobres e família imperial com os seus próprios instrumentos agrícolas e tinham ainda que fornecer-lhes, para consumo privado, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou mesmo mais de oitenta por cento das suas próprias colheitas. Os camponeses eram praticamente escravos.


3) Mas não somente os senhores de terras, os nobres e a família imperial viviam da renda extorquida aos camponeses, também o Estado, dominado pela classe dos senhores de terras, exigia a estes tributo