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A vitória da ordem na Colômbia



No dia 19 de Junho deste ano o candidato à presidência da Colômbia Gustavo Petro, membro da coalizão Pacto Histórico, venceu, no segundo turno, as eleições com 50,48% dos votos, contra 47,28% de Rodolfo Hernández, da Liga de Governadores Anticorrupção. (O primeiro turno teve Petro com 40,31% dos votos, Rodolfo Hernández com 28,20% e Federico Gutiérrez, da coalizão Equipe pela Colômbia, com 23,87%).


A vitória de Petro ocorreu em meio ao descontentamento popular devido ao aumento da violência desde 2016, incluindo uma greve geral (28 de Abril de 2021), cujo estopim foi um projeto de reforma tributária chamado “Lei da Solidariedade Sustentável” (Ley de Solidariedad Sostenible) que o governo do então presidente Ivan Duque tentou empurrar no Parlamento. O projeto previa taxar todos os colombianos, mesmo os mais pobres isentos até então, além de aumentos de tarifas de serviços essenciais como água, gás e energia elétrica. A greve de 2021, que teve como precedentes a grande greve do povo negro pelo reconhecimento de direitos básicos em 2017, e a greve geral de 21 de novembro de 2019, contra a violência policial, teve um saldo de mais de 50 assassinatos, mais de 520 desaparecidos, mais de 1600 feridos, prendeu mais de 1430 pessoas, além de terem sido registrados mais de 21 casos de abusos sexuais contra mulheres.


Posto avançado do imperialismo ianque


A Colômbia é um país em que quase 90% da população vive com menos de um salário mínimo, e a maioria, principalmente negros e indígenas, não tem acesso à saúde, educação, água ou eletricidade, além da insegurança alimentar que ameaça a todos. O país tem como característica política principal ser um posto avançado do imperialismo estadunidense na América Latina.


Desde o século XIX os dirigentes colombianos estiveram alinhados com a política imperialista ianque, chegando a ser proposta sua anexação aos Estados Unidos durante o mandato de Mariano Ospina Rodríguez (1857-1861). Um dos episódios mais simbólicos dessa subordinação foi a inércia e complacência no “Roubo de Panamá”, em que Washington, então sob o comando de Theodore Roosevelt, financiou uma guerra separatista exitosa, assegurando o controle estadunidense sobre a região para a construção do futuro canal do Panamá.


Internamente, a Colômbia historicamente aplica uma política de genocídio de sua população e de quaisquer ameaças à ordem da burguesia compradora e burocrática. Durante o mandato do famigerado presidente Álvaro Uribe (2002-2010), ocorreram assassinatos por parte de agentes do estado de aproximadamente cinco mil pessoas, denominados eufemisticamente ‘falsos positivos’, fazendo do aparelho estatal armado colombiano um destruidor da insurgência desse país. Uribe e seus sucessores, inclusive, aplicaram obedientemente a política do “estado mínimo” e “austeridade”, cujos resultados foram desastrosos: enquanto a taxação aos pobres aumentou, a dívida pública da Colômbia cresceu exponencialmente (como no restante da América Latina), porém os gastos militares foram o triplo da média latinoamericana.


A partir de 2016, quando as FARC sofrem um processo de capitulação e tentativa de transformação em um partido da ordem ao assinarem os acordos de paz com o farsante Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, as lideranças do grupo passaram a ser sistematicamente assassinadas e a violência contra lideranças indígenas e camponesas sofre aumento. Em 2019 o saldo era de 139 ex-combatentes das FARC-EP executados. Em 2021, o saldo já era de cerca de 1.200 assassinatos de lideranças sociais, defensores dos direitos humanos, ambientalistas, representantes estudantis, sindicalistas e autoridades indígenas.


Com relação aos países vizinhos, a Colômbia se coloca como centro operacional para controle de quaisquer desconfortos à Casa Branca na região. Em 2018, durante o mandato do mesmo Juan Manuel Santos, a Colômbia se tornou parceira global da OTAN, tendo inclusive enviado tropas para o Afeganistão e Síria, além de participar ativamente na sabotagem da estabilidade da Venezuela. Possui sete bases militares à disposição dos planos de guerra do Pentágono em seu Comando Sul.


O que é o chamado Pacto Histórico


A coalizão liderada por Gustavo Petro é uma aliança de centro-esquerda, que aglutinou os maiores partidos de oposição (Colômbia Humana, Polo Democrático Alternativo, Partido do Trabalho, Partido Comunista, União Patriótica, Comunes) e movimentos populares colombianos. Dentre suas propostas, estão os protocolares combate à fome, investigação dos casos de violência contra líderes sociais e camponeses, reconhecimento do direito ao território dos povos indígenas e quilombolas. Além disso, propõe reativar as negociações de paz com setores insurgentes e criar uma comissão independente de investigação, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), para investigar a situação de violência e os casos de "falsos positivos".


Embora seja a primeira vez que a “esquerda” vença as eleições da Colômbia, o que representa certo alívio para a repressão interna e externa (especialmente no caso das pressões contra a Venezuela), podemos verificar nas propostas do chamado Pacto Histórico que não há qualquer interesse em fazer frente ao imperialismo estadunidense.


Podemos concluir que a Colômbia segue na mesma tendência da América Latina de retorno de uma esquerda “da ordem” ao poder, porém muito mais enfraquecida e desalinhada com os interesses nacionais, ou seja, mantendo como prioridade a disputa eleitoreira em prejuízo a um programa de fato libertador para a América Latina.

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