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"O Excepcionalismo Norte-Americano"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info


Enquanto os marxista-leninistas do mundo celebram este ano o centenário do Manifesto Comunista escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, os grandes princípios do desenvolvimento social, estabelecidos naquele documento imortal, estão sendo dramaticamente confirmados pela história e pelo estado atual do mundo. Por um lado, o sistema capitalista internacional, arruinado e destroçado por suas próprias contradições internas incuráveis, está se afundando cada vez mais na crise geral, com vários grandes impérios prostrados e em decomposição e populações inteiras, morrendo de fome devido à crise econômica prolongada e à guerra devastadora. Por outro lado, a causa da democracia universal e o socialismo avançam irresistivelmente, como mostram a posição imensamente fortalecida da União Soviética, o desenvolvimento de tipos adiantados de democracia em muitos países da Europa, as tremendas lutas de libertação dos países coloniais, a grande expansão dos sindicatos em escala internacional, o grande crescimento dos Partidos Comunistas em diversos países e o rápido desenvolvimento da ideologia marxista-leninista entre os trabalhadores de todo mundo.


A descoberta, feita por Marx, das leis do desenvolvimento social em geral e da sociedade capitalista em particular, sua análise científica das contradições fundamentais do sistema capitalista que o levam ao colapso e ao estabelecimento inevitável do socialismo, fazem de Marx um dos maiores cérebros de todos os tempos.


Pareceria, no entanto, haver uma grande exceção à esta notável confirmação do marxismo-leninismo, a saber: a situação econômica e política predominante nos Estados Unidos (e no Canadá). O capitalismo americano pareceria estar isento das forças desagregadoras que minaram o capitalismo em outros países e que deram origem aos poderosos movimentos socialistas. Os Estados Unidos longe de estarem assolados pela crise, como o estão outros países capitalistas, estão atravessando, agora, a maior riqueza e prosperidade jamais conhecidas em qualquer parte na história universal. Os economistas capitalistas, ignorando alegremente as vastas áreas de pobreza entre nosso povo gritam, um mais alto que o outro, ufanando-se da riqueza e prosperidade deste país e das imensas realizações da produção alcançadas pelo nosso povo, o qual constitui apenas 6 por cento da população mundial e que ocupa somente 7 por cento da área mundial habitável. Em seu livro recente “O Comércio de Amanhã”, Stuart Chase declara:


“...os Estados Unidos estão produzindo cerca de 60 por cento dos produtos manufaturados do mundo... Possuem 67 por cento dos navios de guerra, 60 por cento dos aviões de combate, 70 por cento dos navios mercantes, 75 por cento dos aviões de transporte do mundo. Suas minas de carvão, poços de petróleo e represas produzem mais da metade da força em cavalos vapor do mundo”.


E mais, os Estados Unidos possuem os maiores excedentes em sortimentos de gêneros alimentícios, bem como cerca de três quintos das reservas de ouro do mundo e, coisa muito preciosa para os fazedores de guerras, também têm a temível bomba atômica.


O Presidente Truman, junta sua voz a este coro, elogiando os sucessos econômicos dos Estados Unidos. Em seu Relatório Econômico de julho de 1947, declara que com 60.000.000 de pessoas empregadas e uma média de produção nacional de 225 bilhões de dólares por ano (150 bilhões em dólares de 1938), os americanos desfrutam agora o mais alto padrão de vida já conhecido. O Presidente declara, com orgulho, que o nosso é “a mais rica e mais poderosa máquina de produção jamais inventada pela cabeça e mãos do homem”.


Os ideólogos capitalistas americanos apressam-se a tirar conclusões e teorias de longo alcance desta posição próspera dos Estados Unidos. Querem nos fazer crer que a “maneira americana” é fundamentalmente diferente, e superior, à “maneira” do capitalismo no resto do mundo e que, com seu característico “livre empreendimento” e produção em massa, o capitalismo americano não está sujeito à ruína e ao colapso que estão afligindo cada vez mais as outras partes do capitalismo mundial. As leis econômicas e políticas descobertas por Marx, dizem, não se aplicam aos Estados Unidos. Isto é, o “excepcionalismo” americano.


Além da concepção de que o capitalismo americano está livre da decadência característica do capitalismo mundial, os propagandistas do capitalismo, neste país também nos querem fazer crer que nosso sistema econômico é bastante forte para tirar o capitalismo do resto do mundo de suas profundas dificuldades atuais e fazê-lo funcionar; mais uma vez. Sem a ajuda americana, econômica e militar, acreditam que o capitalismo em muitos países estaria perdido e teria de ceder lugar ao socialismo; mas, com assistência americana, segundo os planos Truman e Marshall, pensam que o capitalismo pode ser posto de novo em funcionamento.


Acreditam estes “excepcionalistas” que a poderosa América do Norte pede derrotar o socialismo internacional e reconstruir o mundo, se não inteiramente à sua semelhança, pelo menos de forma razoável. Acreditam que o capitalismo americano é a força mágica capaz de salvar e regenerar o sistema capitalista internacional que de outra sorte está condenado. Estas teorias “excepcionalistas” têm também muitos adeptos entre os fascistas, monarquistas, monopolistas e reacionários na Europa geralmente, que esperam ardentemente que os ricos dos Estados Unidos venham salvá-los da democracia em ascensão e que dê, a eles, e ao seu sistema de exploração uma nova oportunidade.


Adotando este grandioso “excepcionalismo”, os capitalistas americanos estão numa ofensiva militante contra qualquer manifestação de democracia e socialismo. Em todas as partes estão procurando eliminar a ideologia marxista-leninista; estão procurando sufocar econômica e politicamente as novas democracias populares da Europa; estão lutando para desnacionalizar as indústrias na Europa e restabelecer o “livre empreendimento”, lutam febrilmente para unir e armar o mundo capitalista para uma guerra eventual contra a URSS, a mais forte cidadela do socialismo no mundo; atacam violentamente a democracia neste pais; são cruzados agressivos e insultuosos contra a chamada ameaça comunista. Neste centésimo aniversário do Manifesto Comunista, o mais audacioso desafio a tudo que o marxismo representa, tanto na teoria como na prática, vem dos capitalistas dos Estados Unidos.


Porém este desafio será em vão. O marxismo é impermeável aos ataques capitalistas americanos. A crença “excepcionalista” de que o sistema econômico e político dos Estados Unidos está estruturalmente ou de outra forma num plano diferente e mais alto do que o capitalismo em outros países, está baseada em premissas falsas. O capitalismo em qualquer parte do mundo está baseado nos mesmos princípios fundamentais. A maior força do capitalismo americano, comparado com os sistemas capitalistas decadentes de outros países, apenas significa que e desenvolveu sob condições historicamente mais favoráveis do que geralmente o capitalismo mundial. Embora isto dê ao capitalismo americano uma vantagem temporária sobre outros sistemas capitalistas, o capitalismo neste país sofre, no entanto, de todas as tensões e contradições que tantos estragos têm causado ao capitalismo no resto do mundo. Contém em si as sementes capitalistas características da decadência e do colapso. 0 capitalismo americano não pode fazer andar para trás as rodas do progresso socialista e democrático em outros países; não pode nem mesmo impedir a vitória eventual do socialismo nos Estados Unidos.


Condições Favoráveis ao Desenvolvimento do Capitalismo Americano


O capitalismo, se bem que fundamentalmente o mesmo em qualquer parte, entretanto, não se desenvolve de forma idêntica e num ritmo igual em todo o mundo. Seu crescimento e peculiaridades específicas nos vários países estão condicionados por muitas e variadas circunstâncias. Estas condições nacionais divergentes apressam ou retardam o desenvolvimento capitalista, dão-lhe força ou fraqueza desusadas, ou imprimiu-lhe características particulares. Consequentemente, há um tipo de capitalismo superficialmente diferente que predomina nas várias partes do mundo. Foi uma das maiores contribuições de Lenin ao marxismo ter formulado a lei deste desenvolvimento desigual do capitalismo e ter mostrado seu profundo significado revolucionário.


Os Estados Unidos são para o mundo o mais notável exemplo de um sistema capitalista que se desenvolveu historicamente sob condições ultra-favoráveis. O Canadá está na mesma situação, porém em escola menor. Estas muitas vantagens facilitaram enormemente o crescimento do capitalismo americano, em contraste com os sistemas capitalistas menos favorecidos de outros países. Somente examinando algumas das mais importantes condições favoráveis é que se pode compreender a maior força atual do capitalismo americano em comparação com outros países capitalistas e também suas características especificamente americanas. Assim, também ficará clara a origem das teorias “excepcionalistas” que conferem aos Estados Unidos o papel de organizador internacional de um novo e fundamentalmente saudável sistema de capitalismo universal. Vamos, portanto, indicar, pelo menos rapidamente, algumas das muitas condições peculiarmente favoráveis que contribuíram para a presente posição vantajosa do capitalismo americano.


1) Ausência de um passado nacional político feudal:


Os Estados Unidos, devido a duas revoluções, a de 1776 e a de 1861, libertaram-se muito antes dos remanescentes retrógrados do feudalismo (tais como: uma nobreza poderosa de senhores de terra, uma igreja de estado, etc.) que tão seriamente infestam e restringem o capitalismo em muitas partes do mundo. O Sul é naturalmente uma exceção. A Rússia tzarista forneceu um exemplo clássico de como as forças feudais, de posse do poder político, dificultam e diminuem o desenvolvimento de um sistema industrial capitalista. Livre destes fatores de atraso, nosso país, especialmente desde a Guerra Civil, tem sido a força capitalista mais completa.


2) Imensos recursos naturais:


Os Estados Unidos são dotados de quase todas as matérias vitais de guerra necessárias à construção de um grande país industrial. Possuem carvão, minério de ferro, petróleo, madeira de construção, cobre, ouro, força hidráulica e terras cultiváveis em grandes quantidades. Este grande sortimento de matérias primas, que nenhum outro país possui igual, a não ser a União Soviética, muito acelerou e fortaleceu o desenvolvimento do capitalismo nos Estados Unidos, tomado em comparação com os outros países. Ao lado de suas grandes reservas de recursos naturais este país também tem em geral um clima muito propício a vida de uma sociedade industrial.


3) Vasta e unificada extensão de terra:


O capitalismo americano foi também especialmente favorecido, conseguindo conquistar, através de uma política expansionista implacável, uma imensa extensão de terra, da largura do continente, que cobre mais de 7.841.000 quilômetros quadrados. Consequentemente, não sofre dos efeitos enfraquecedores das redes de fronteiras nacionais, com seu comércio interminável, viagens e barreiras industriais como as que mutilam o capitalismo na Europa.


4) Necessidade insaciável de mão de obra:


Durante muitas décadas o capitalismo americano, crescendo rapidamente num continente vazio, sofreu de falta crônica de trabalhadores (exceto nos períodos de depressão), que muitos milhões de imigrantes europeus mal davam para aliviar. Esta escassez, quase crônica, de trabalhadores funcionou dinamicamente para- desenvolver o capitalismo americano em crescimento. Não somente lançou a base do atual padrão de vida americano, relativamente alto, aumentando o poder aquisitivo das massas, e assim ajudando a criar um mercado interno grande, mas, mais importante ainda, a falta prolongada de trabalhadores forçou os empregadores americanos a procurarem, como nenhum outro empregador jamais o fez, todos os meios possíveis de poupar a mão de obra. Esta situação deu um profundo impulso ao gênio inventivo americano, à propagação da mecanização, e geralmente à eficiência industrial que é uma característica tão marcante do moderno capitalismo americano e que dá aos Estados Unidos uma vantagem tão grande no mercado mundial.


5) Posição geográfica altamente estratégica:


Outra grande vantagem do capitalismo americano é a própria situação geográfica estratégica dos Estados Unidos. Com muitos milhares de quilômetros de litoral e dezenas de bons portos tanto no Pacífico como no Atlântico, este país tem livre acesso a todas as linhas comerciais e mercados principais do mundo. Nenhuma outra potência pode ser igualada aos Estados Unidos quanto a este aspecto geral.


6) Livres dos estragos de guerra:


A situação estratégica dos Estados Unidos favoreceu ainda mais o capitalismo americano fazendo desnecessária, por muitas décadas, a manutenção de um imenso exército, e protegendo este país da tremenda devastação produzida pelas duas guerras mundiais de nosso tempo. Enquanto os outros países capitalistas estavam sendo arruinados por estas guerras, os Estados Unidos faziam-se fortes, com elas. Esta vantagem pode dificilmente ser super-estimada. As duas guerras mundiais foram um enorme fator de estímulo à atividade e crescimento industrial americano durante a geração passada. De 1914 a 1918, a indústria americana prosperou e se expandiu através da produção de munições de guerra. Depois da primeira Guerra Mundial, a execução de gigantescos pedidos para a reconstrução da Europa (financiados por empréstimos americanos) foi um fator importante para a “prosperidade” febril dos anos que se seguiram a 1920. O abandono gradual da reconstrução do pós-.guerra da Europa ajudou ao desencadeamento da crise de 1929, quando a indústria americana afundou-se na crise econômica mais profunda que o mundo já conheceu, com a produção deste país caindo de 47 por cento, uma queda também sem precedentes em nossa história. E a baixa continuou até 1940, sendo apenas parcialmente vencida (1937) por Roosevelt, ou até que as indústrias foram novamente alimentadas com o sangue vermelho da guerra, desta vez, da 2ª Guerra Mundial. Uma vez mais, enquanto os outros países capitalistas eram devastados pelo conflito militar, o capitalismo americano, devido à sua posição estratégica, longe da guerra, cresceu e prosperou. Alimentada pela necessidade de mercadorias de todos os tipos provocada pela nova guerra, a indústria americana, de novo, se expandiu rapidamente. Durante a guerra mais de 15 bilhões de dólares foram empregados em fábricas novas e a produção nacional foi dobrada, a base principal da atividade febril atual do capitalismo americano é a reparação dos enormes danos e a falta de produtos causados aqui e no estrangeiro pela 2ª Guerra Mundial. Este tem sido o papel vital da guerra no crescimento do sistema capitalista altamente desenvolvido dos Estados Unidos nas últimas décadas.


Estas muitas e grandes vantagens especiais de que goza o capitalismo americano — a ausência relativa de remanescentes feudais econômicos e políticos, a expansão continental dos Estados Unidos, a posse de imensos recursos naturais, o caráter unificado do estado americano, a situação estratégica do país, suas imunidades relativas contra as devastações das guerras mundiais, e sua real prosperidade com estas guerras — todas elas aceleraram o crescimento e o fortalecimento do capitalismo neste país. Após a Guerra Civil a marcha do crescimento industrial aqui não teve rival, até que eventualmente foi ultrapassado pelo da nova URSS socialista. Embora chegassem atrasados no campo do capitalismo mundial, os Estados Unidos, por volta de 1890, alcançaram e ultrapassaram a Grã-Bretanha, por muito tempo a força industrial principal do mundo. A Alemanha e o Japão, tendo também chegado atrasados e sendo igualmente países capitalistas em franco desenvolvimento, não podiam nem chegar perto dos Estados Unidos, que cresciam rapidamente. Como resultado, o capitalismo americano, gozando de muitas vantagens, continuou a se expandir e hoje a produção industrial deste país é muito maior do que a do resto do mundo capitalista junto. Porém, é preciso acentuar novamente que este sucesso do capitalismo americano não foi causado por nenhuma superioridade intrínseca de sua estrutura e natureza; é uma situação temporária provocada pelas vantagens especiais de que o capitalismo neste país vem gozando tão largamente, das quais algumas das mais importantes foram indicadas acima.


Ilusões “Excepcionalistas”


São as seguintes algumas das principais ilusões, cultivadas pelos “excepcionalistas” americanos, quanto à suposta superioridade inerente ao capitalismo americano sobre o capitalismo não-americano.


1) Produção em massa:


Um dos mais importantes aspectos do capitalismo americano, que segundo os “excepcionalistas”, coloca-o aparte, como basicamente diferente do capitalismo mundial e dá-lhe uma força estrutural que o último não possui, são os métodos de produção em massa, tão típicos da indústria americana. Na realidade, porém, estas técnicas não indicam nenhuma peculiaridade distinta da indústria americana, a não ser as condições especialmente favoráveis, apontadas acima, sob as quais, o sistema econômico deste país se desenvolveu. Outros países podem empregar e empregam métodos de produção em massa na medida que lhes permitem seus sortimentos de matérias primas e a capacidade dos mercados de que dispõem.


Além de não serem “excepcionalmente” americanos, os métodos de produção em massa também não emprestam força estrutural à economia capitalista deste país. Do mesmo modo, não podem ser uma panaceia, para um capitalismo mundial doente. O contrário é verdadeiro. A produção em massa sob as condições capitalistas, aumentando a exploração dos trabalhadores, tende agudamente a aumentar a desproporção entre sua capacidade produtora e aquisitiva.


De um modo geral, a produção em massa capitalista intensifica os efeitos mutiladores da contradição fundamental do sistema econômico capitalista: o conflito entre o caráter social da produção e o caráter particular da apropriação. Consequentemente, em vez de ser o meio de eliminar crises econômicas cíclicas, a produção em massa inevitavelmente torna-as mais profundas, mais frequentes e mais prolongadas. É significativo que tenham sido precisamente os Estados Unidos e a Alemanha, onde as técnicas de produção em mossa estavam mais desenvolvidas, os mais afetados pela crise econômica mundial que se seguiu a 1930. Aquela grande crise originou-se nos Estados Unidos e durante sua duração a economia americana mutilada tendia a arrastar o resto da economia mundial cada vez mais profundamente na depressão.


2) Não-imperialismo:


Outra grande ilusão dos que acreditam no “excepcionalismo” americano é que o capitalismo dos Estados Unidos não é imperialista, ou mesmo, é anti-imperialista. Sua teoria é que este país, contrariamente a todas as outras grandes potências capitalistas, segue uma política de “internacionalismo democrático”. Tais pessoas sustentam que os Estados Unidos, nas suas relações exteriores, aplicam uma política que não resulta na obtenção de grosseiras vantagens materiais para os capitalistas americanos às expensas de outras nações, mas que contribui para melhorar o bem estar e a liberdade dos povos do mundo inteiro. Segundo estes “excepcionalistas”, os Estados Unidos, portanto, industrializando e democratizando as áreas atrasadas do mundo, exercem uma influência estabilizadora, única e poderosa, na economia e na política do mundo e são uma grande força em favor da paz.


Esta concepção, que é quase universalmente corrente na imprensa americana conservadora, liberal e sindical, é pura tolice. Na realidade, os Estados Unidos não são apenas um país imperialista, mais o mais forte e mais agressivo de todos. Este país tem todas as qualidades de uma força imperialista, tal como foi definido por Lenin. Sua indústria e bancos são altamente monopolizados e estão sob o controle geral do capital financeiro; são, consideravelmente, o maior exportador de capital do mundo; e sistematicamente realizam uma política implacável de dominação dos mercados e dos povos do mundo. É verdade que os Estados Unidos não têm um sistema colonial elaborado, igual ao dos outras grandes forças imperialistas. Sobre este fato os “excepcionalistas” baseiam, em grande parte, seu argumento de que os Estados Unidos imperialistas estão representando um papel internacional progressista. A ausência de colônias norte-americanas é explicada, entretanto, por duas razões básicas que nada têm em comum com o assim chamado “internacionalismo democrático”. Primeiro, o capitalismo neste país, muito ocupado, por muitas décadas, em desenvolver Seu imenso mercado interno e seus ricos recursos naturais, não entrou na luta pelo controle dos mercados mundiais, matérias primas e territórios estratégicos, senão depois que o mundo estava quase completamente dividido entre as forças imperialistas mais antigas, como a Inglaterra, França, etc. Segundo, por meio de seus vastos sortimentos de capital, sua “diplomacia do dólar” e “diplomacia da bomba atômica”, os Estados Unidos puderam estabelecer controles imperialistas efetivos sobre muitos povos, fazendo com que seus sistemas políticos e econômicos se subordinassem ao seu. Fazem isto sem transformar formalmente os países em colônias. Os Estados Unidos são mestres na técnica de implantar governos títeres, pseudo-independentes, nos seus países satélites. Seu objetivo atual não é nada menos do que subordinar o mundo inteiro, por pressões econômicas, políticas e militares, ao seu poderio e ao seu próprio sistema característico de imperialismo. O Plano Marshall não é senão a amarga Doutrina Truman coberta de açúcar a fim de estabelecer a dominação imperialista americana sobre a Europa. Em vez de serem uma força política estável e portanto, industrializando e democratizando o mundo, os Estados Unidos, impelidos pela necessidade irresistível de encontrar mercados para cerca de 25 bilhões anuais de capital excedente e para montanhas de mercadorias, de outra forma não vendáveis, são realmente o fator mais arrasador, restritivo e reacionário da situação política e econômica do mundo. Sua política conduz, não à paz, mas sim à guerra. Se há alguma coisa “excepcional” sobre o capitalismo de Wall Street na arena mundial, é, portanto, ser o maior, o mais poderoso e o mais ambicioso sistema de imperialismo que o mundo já conheceu.


3) Uma classe trabalhadora não socialista:


Outra característica específica da situação nos Estados Unidos, que os “excepcionalistas” usam muito para dar força à sua causa, é o fato de que a grande massa de trabalhadores americanos não é socialista, é até mesmo, antissocialista. Os trabalhadores não só não colocam o socialismo como seu objetivo final, como nem mesmo geralmente, levantam “slogans” pela nacionalização das indústrias básicas.


O pensamento da maioria dos trabalhadores americanos está contaminado pelas ilusões capitalistas, particularmente a de Lorde Keynes, uma forma do reformismo, ou sua versão rooseveltiana. A imprensa trabalhista, com exceção da ala esquerda, exala propaganda capitalista, com líderes sindicais procurando se exceder aos monopolistas, hipotecando lealdade ao assim chamado sistema de livre empreendimento. Também, contrariamente aos trabalhadores de outros grandes países capitalistas, a classe trabalhadora americana, não organizou um partido de massa próprio, mas segue os partidos Democrático e Republicano, controlados pelos capitalistas. Tudo isto é interpretado pelos “excepcionalistas” como significando que o capitalismo americano é tão sólido que a classe trabalhadora está imune às concepções marxistas. 0 mundo inteiro pode se tornar socialista ou comunista, dizem estes profetas do livre empreendimento, mas os trabalhadores americanos permanecerão inabalavelmente fieis ao sistema capitalista.


Esta é uma conclusão injustificada. Até agora, o fracasso da classe trabalhadora americana em desenvolver uma consciência de classe marxista e uma perspectiva socialista, em formar um partido de massa próprio, como fizeram outras classes trabalhadoras, apenas significa que grandes massas de trabalhadores neste país, particularmente os trabalhadores especializados, como resultado da situação favorecida do capitalismo americano, tem vivido sob condições econômicas melhores do que as dos trabalhadores em outros países. É tolice, portanto, dizer que a classe trabalhadora, como uma classe explorada está desaparecendo nos Estados Unidos, tal como proclamam muitos “excepcionalistas”. Não esqueçamos, como Roosevelt mostrou, que um terço de nosso povo (principalmente os trabalhadores), anda mal vestido, mal alimentado e mora mal. Além do mais, o grau de exploração dos trabalhadores americanos está constantemente aumentando e estes recebem uma parte cada vez menor de sua produção total. O abismo, fatal para o capitalismo, entre sua capacidade produtiva e aquisitiva, está se alargando. “Labor Fact”, livro 8, preparado pela Labor Research Association, diz a este respeito:


“O trabalhador em manufaturação, embora tenha mantido sua posição relativa durante os anos de guerra, vem perdendo terreno há muito tempo.