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Quando o imperialismo decide o que te emociona



Nas últimas semanas, pudemos acompanhar incessantemente nas telas que dominam cada vez mais a nossa vida, seja a da TV ou do telefone celular, as notícias que chegavam da Ucrânia e as dezenas de milhares de pessoas que fugiam de suas casas para as regiões e países vizinhos para escapar da guerra em andamento entre russos e ucranianos.


Como toda guerra, esse novo conflito gerou mais uma multidão de refugiados que precisam abandonar suas casas para tentar sobreviver, com mulheres, crianças e idosos apenas com a roupa do corpo fugindo para as fronteiras.


Contudo, uma coisa chama atenção, a consternação e solidariedade dos grandes meios de comunicação da mídia burguesa brasileira para com aqueles refugiados ucranianos, de pele e olhos claros, é bastante diferente do teor das notícias sobre as ondas de refugiados que todo ano se amontoam na África, na Ásia e na América Latina.


Todo o noticiário que recebemos estão encaminhados a nos fazerem ficar sensibilizados com aquelas pessoas diante de toda a tragédia que uma guerra causa aos civis de um país e claro, sentir uma repulsa e um ódio a quem está realizando tais ataques.


Há alguns anos, o filósofo italiano Domenico Losurdo já afirmava que “Marx fala da classe dominante burguesa que, com o controle dos modos de produção intelectual tem o monopólio da produção e da difusão das ideias. Mas hoje as coisas mudarem porque com a televisão e as novas mídias, a classe dominante não tem somente esse monopólio de produção de ideias, mas também, o que é muito importante, o monopólio da produção das emoções. Transmitem-se imagens horríveis que podem ter sido escolhidas em uma série de outras imagens propositalmente ou que pode até ser falsa. [Através desse artifício] se consegue provocar uma indignação geral [na opinião pública] e esse monopólio de produção de emoções que é muito importante para o início das guerras”.


Ou seja, mais uma vez se confirma aquilo que Marx também disse, que as ideias dominantes de uma época, são as ideias da classe dominante. E na época atual, é o grande monopólio da mídia burguesa, cujo centro são os EUA, que decidem não só o que será informado a nós, mas chega ao ponto de determinar, a partir desse controle, quais emoções e sentimentos devemos ter diante do que é nos apresentado como notícia.


E uma guerra como a que está se desenrolando no território ucraniano e no Donbass evidencia ainda mais como isso acontece. Basta ver o noticiário para sermos orientados a sentir compaixão pelos ucranianos e admiração pela sua resistência (até mesmo daqueles que são neonazistas e criminosos) e a odiar os invasores russos (mesmo aqueles ucranianos de etnia russa que são oprimidos há alguns anos no leste do país).


Assim o foi no passado, como por exemplo a invasão do Iraque no começo dos anos 2000 pelos Estados Unidos. Naquela ocasião, a mídia internacional (repetida a exaustão pela brasileira) afirmava que Saddam Hussein, então presidente daquele país, possuía armas de destruição em massa, que ele poderia empregá-las a qualquer minuto. O mesmo tipo de mentira daquela dos anos 90, na primeira Guerra do Golfo, quando se dizia que o ditador iraquiano matava milhares de bebês.


Mesmo sem nenhuma comprovação das acusações e sem aprovação da Organização das Nações Unidas (ONU), os EUA invadiram o país e o ocupou por longos anos, graças a indignação generalizada de parte da opinião pública produzida por esse monopólio de emoções.

Losurdo já atentava para essa nova dimensão das ideias e emoções, com uma tecnologia e psicologia muito refinadas e sofisticadas, com a qual o aparelho militar do imperialismo ficou mais forte não só no domínio militar clássico, mas no plano midiático.


E hoje, podemos ver como isso funciona em mais um conflito, mas dessa vez para desacreditar o inimigo.


Independentemente do juízo de valor que possa se ter acerca das motivações da Rússia e seu presidente Vladimir Putin, não se pode deixar de perceber como a mídia trata de forma diferente o problema da guerra na Ucrânia.


Os ataques aéreos russos realizados contra as cidades ucranianas, não são diferentes dos que aconteceram, também nesses primeiros meses de 2022, em outros conflitos pelo mundo. Mas como em outros casos se tratam de aliados, os ataques de Israel contra a Faixa de Gaza na Palestina ou da coalização liderada pela Arábia Saudita contra o Iêmen, por exemplo, não recebem a mesma condenação pela virtuosa mídia que agora se veste com cores de “antiguerra”.


Tampouco o tratamento dado aos refugiados ucranianos, recebidos pelos países vizinhos e acolhidos por toda a União Europeia, em uma onda de solidariedade que nos parece bastante diferente do que ocorre com os milhares de refugiados que nos últimos anos tentam buscar uma vida melhor ou mesmo fugir de conflitos em outros continentes. Basta ver como foram tratados os refugiados sírios, que buscaram fugir dos terroristas do Daesh e das bombas ianques e israelenses, ao chegar na Polônia, ou os imigrantes da América Central que ao tentar entrar nos EUA encontram um muro ou pior, um campo de concentração, ou ainda, os refugiados do Norte da África que se afogam no mar Mediterrâneo tentando chegar a Europa. Todas essas pessoas são consideradas como problemas aos países mais ricos e nada se fala do que causou sua desgraça.


Dessa forma, se permitirmos, vamos achar natural que milhares de asiáticos, africanos e latino-americanos sejam tratados como ameaças ao mundo Ocidental, como se fossem culpados por suas próprias tragédias, enquanto nos sensibilizamos e emocionamos com o drama dos refugiados ucranianos. Caso não questionemos esse aspecto da luta ideológica, seremos guiados mais uma vez pelo imperialismo, a nos guiar pela cor da pele de quem sofre, e assim, o racismo vencerá mais uma vez.




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