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"1939: O tratado de não agressão entre a URSS e a Alemanha"



Passaram-se mais de 60 anos desde a assinatura do "Tratado de Não Agressão Mútua" entre a União Soviética e a Alemanha em agosto de 1939, também conhecido como Tratado Molotov-Ribbentrop. Este Tratado tem sido deturpado e utilizado na guerra fria das potências ocidentais para desinformar sobre a política da União Soviética, tentando os desinformadores transformar este país num aliado da Alemanha nazista.


Estas campanhas de desinformação continuam ainda hoje com toda a força embora a União Soviética já não exista e os jornais da burguesia tenham dado o comunismo por morto milhares de vezes. Mas a verdade é que o comunismo está bem vivo! O que se pretende com as campanhas contra a União Soviética é combater as simpatias comunistas existentes nas classes trabalhadoras do mundo em que vivemos e defender as injustiças do capitalismo. Por esta mesma razão é importante dar ao público a história do passado e as circunstâncias em que o Tratado de Não Agressão Mútua foi assinado.


Europa em 1939

A situação da Europa de 1939 era dominada por uma grande tensão política e militar, provocada pelos ataques militares e as ocupações levados a cabo pelos países fascistas durante esse decênio. Em outubro de 1935, a Itália fascista invadiu a Abissínia (Etiópia), que foi totalmente ocupada pelos italianos em 1936 depois de grandes massacres da população. Em 1936, em Espanha, os fascistas iniciaram a guerra civil contra o povo espanhol, que vieram a ganhar dois anos mais tarde depois de receberem uma ajuda militar massiva da Itália fascista e da Alemanha nazista. Em 1936 a Alemanha assinou com o Japão o chamado Pacto Anti-Comintern contra a União Soviética, um pacto ao qual a Itália se juntou pouco tempo depois. Em março de 1938 a Alemanha nazista anexou a Áustria, que deixou de existir como país independente.


A traição à Tchecoslováquia

A próxima vítima dos nazistas alemães foi a Tchecoslováquia. Em maio de 1938 Hitler concentrou as tropas alemãs na fronteira com a Tchecoslováquia e exigiu que fossem entregues à Alemanha todos os territórios onde existia população de língua alemã. Nestes territórios, os chamados Sudetas, estavam concentradas todas as defesas militares checoslovacas contra intervenções vindas do ocidente, da Alemanha, e a sua perda significaria deixar a passagem livre a uma invasão alemã. A União Soviética, que tinha um pacto de ajuda mútua com a Tchecoslováquia, mobilizou nessa altura 40 divisões das suas tropas para defesa da Tchecoslováquia, deslocou-as para a fronteira soviética com a Polônia e propôs à França que esta mobilizasse as suas tropas para a fronteira com a Alemanha. A França tinha uma aliança militar com a Tchecoslováquia e a defesa deste país ficava assim preparada em duas frentes. Mas a França traiu o seu aliado. Em 29 de Setembro de 1938 em Munique, na Alemanha, foi assinado um tratado pela França, Inglaterra, Alemanha e Itália que deu à Alemanha o direito de ocupar e anexar os Sudetas. A ocupação foi feita passados alguns dias sem resistência militar da Tchecoslováquia, depois deste país ter recusado a ajuda militar da União Soviética (pouco depois e com a autorização de Hitler, a Polônia e a Hungria, onde a reação tinha o poder, ocuparam partes da Tchecoslováquia no Teschen e na Eslováquia).


Qual “Paz no nosso tempo”?

Quando da sua chegada à Inglaterra, depois da assinatura do tratado que entregava os Sudetas aos nazistas, o primeiro-ministro inglês Chamberlain proclamou a célebre ”Paz no nosso tempo”. No aeroporto acenou às multidões à sua espera com um papel, uma declaração de paz entre a Alemanha e a Inglaterra, assinado por ele mesmo e Hitler. Esta ”Paz” era garantida para todo o futuro! Esta declaração de não agressão, um tratado de não agressão entre a Alemanha e a Inglaterra, tinha sido proposta por Chamberlain a Hitler e assinada no dia seguinte ao Tratado de Munique, em 30 de setembro de 1938, por Chamberlain e Hitler no apartamento de Hitler. A declaração estipulava que “os dois povos (alemão e inglês) nunca mais entrariam em estado de guerra” e que “todas as questões entre os dois países se resolveriam através de conversações”. Pensa-se por vezes que o papel que Chamberlain mostrou às multidões à sua espera foi o Tratado de Munique e que a “Paz no nosso tempo” se referia a uma paz para toda a Europa. Assim não foi. O papel era o tratado de não agressão entre a Inglaterra e a Alemanha, e a paz, uma paz para a Inglaterra. Como de costume o Império Britânico reservava-se uma posição à parte, deixando os problemas para outros.


Não à política soviética de segurança coletiva

A traição da França é também digna de se notar. Embora a França tivesse uma aliança militar com a Tchecoslováquia para a defesa mútua no caso de agressão alemã, o governo checoslovaco nunca foi consultado sobre a divisão do país ou convidado a participar nas conversações de Munique. Na realidade a única coisa que foi permitida aos representantes do governo checoslovaco foi esperar pelos resultados fora dos locais das conversações, onde mais tarde lhes foi entregue o documento com os resultados da traição da França e da Inglaterra. A União Soviética, que também tinha um tratado de ajuda militar com a França e era uma das grandes potências militares da Europa, não foi convidada a participar nas conversações de Munique. A razão era de que a União Soviética queria uma política de segurança coletiva para todos os países da Europa e por várias vezes tinha proposto uma frente antifascista para pôr fim à política de guerra de Hitler. A proposta de uma frente antifascista era totalmente oposta à política dos países ocidentais de colaboração com Hitler e Mussolini.


Tratado de não agressão entre a França e a Alemanha

Em dezembro do mesmo ano de 1938 a França seguiu o exemplo da Inglaterra e assinou também uma declaração mútua de não agressão com a Alemanha. Estes acordos de paz e não agressão feitos pela França e Inglaterra com Hitler isolaram a União Soviética como defensora da luta antifascista e como única oposição militar a Hitler. Mas apesar do Tratado de Munique e das declarações de não agressão, as potências ocidentais foram todas envolvidas numa guerra mundial. Na realidade, a expansão nazista não tinha sido planejada para terminar nos Sudetas. Isso era só a ilusão a que a França e a Inglaterra queriam se agarrar. Os nazistas queriam o mundo inteiro. Em 15 de Março de 1939 os alemães quebraram os acordos de Munique, invadiram e ocuparam a Tchecoslováquia e dividiram o país em dois protetorados alemães, a Boémia e a Morávia, e um estado às suas ordens, a Eslováquia. A Tchecoslováquia deixou assim de existir. Uma semana depois a Alemanha ocupou a região da cidade de Klaipeda (Memel) na Lituânia e apresentou novas reivindicações territoriais, desta vez com respeito à Polônia. Os nazistas exigiam que o chamado “corredor polaco”, uma região entre a Prússia oriental e o resto da Alemanha, a única saída da Polônia para o mar, fosse integrada na Alemanha.


França e Inglaterra contra a União Soviética

A guerra da Alemanha nazista continuava para oriente na direção da União Soviética. Já em 1925, Hitler tinha indicado no seu livro Mein Kampf que a Alemanha sob o regime nazista teria como objetivo destruir o comunismo e conquistar novas regiões para a Alemanha nos territórios da União Soviética. Mas entre Hitler e a União Soviética estava a Polônia, um estado com uma aliança de defesa com a França e a Inglaterra. O risco de um grande conflito com várias potências de grande poder militar envolvidas tornou-se um fato. O fato é que seria impossível para os políticos franceses e ingleses entregar a Polônia à Alemanha nazista como tinham feito com a Tchecoslováquia. Depois da traição em Munique contra a Tchecoslováquia, a situação política interna nos países ocidentais tinha-se modificado radicalmente, de tal maneira que, no caso de se efetuar uma agressão alemã contra a Polônia, os chefes políticos em França e Inglaterra seriam obrigados a intervir para não ficarem totalmente desacreditados ante os seus povos. Por outro lado, se os governantes na França e na Inglaterra pudessem transformar os acontecimentos numa situação em que a União Soviética fosse a única potência obrigada a defender a Polônia e a enfrentar a Alemanha nazista, poderiam evitar a crítica do povo dizendo que o conflito era um ajuste de contas entre “dois países não democráticos”. Foi esta tática que os governos francês e inglês se decidiram a empregar nos seus desígnios de fazer a Alemanha nazista atacar a União Soviética.


O Japão invade a Mongólia

Ao mesmo tempo que estes acontecimentos se passavam no ocidente, verificava-se uma situação muito grave na fronteira oriental da União Soviética. Em 1931 o imperialismo japonês tinha invadido a Manchúria e transformado esta região do norte da China numa colónia japonesa, da mesma maneira que a Coreia foi transformada em colónia em 1910. A Manchúria foi utilizada para novas agressões. No verão de 1937 o Japão invadiu o norte da China e atacou Xangai com um exército de 100.000 homens. Depois disto, a ameaça dos imperialistas japoneses voltou-se contra a cidade de Vladivostok, na costa soviética do pacífico e contra a república da Mongólia com a qual a União Soviética tinha uma aliança militar. Em maio de 1939 iniciou-se a invasão japonesa da Mongólia na zona do rio Chalchin-Gol. A União Soviética veio em defesa do seu aliado e no final de agosto de 1939, depois de quatro meses de guerra atroz, os japoneses foram totalmente vencidos e obrigados a se retirarem com pesadas baixas.


Nova proposta soviética

Durante o decênio de 1930, a União Soviética lutou firmemente para que todos os países que eram contra o fascismo e o nazismo se unissem num sistema de segurança coletiva para pôr fim a todos os planos de guerra. Dois dias depois da tomada de Praga pelos alemães, em 17 de abril de 1939, quando a realidade já tinha mostrado aos povos do mundo a inutilidade de tratados que não impunham condições aos fascistas e nazistas, a União Soviética propôs mais uma vez um acordo militar à França e à Inglaterra para uma aliança contra a Alemanha. Uma opinião pública muito ampla nos países ocidentais apoiava esta proposta. Num inquérito feito no verão de 1939 em França, verificou-se que 76% dos franceses eram a favor do uso da força contra a Alemanha se este país invadisse a Polônia, e 81% apoiavam uma aliança entre a França, a Inglaterra e a União Soviética. Em Inglaterra a opinião pública era neste caso ainda maior, sendo 87% a favor duma aliança com a França e a União Soviética.


Este fator foi importante na situação política da Europa ocidental. Em 25 de Julho de 1939 os governos francês e inglês foram obrigados a aceitar uma proposta soviética de conversações para uma aliança militar entre os três países. Nesta altura, o exército alemão já tinha concentrado uma grande parte das suas tropas na fronteira polaca e o risco de guerra crescia sem parar. Os coronéis polacos no governo respondiam a estes preparativos de invasão dizendo que o exército polaco podia vencer qualquer invasão, viesse ela do ocidente ou da União Soviética. A União Soviética nunca tinha ameaçado a Polônia, sendo a declaração dos coronéis polacos para os ouvidos nazistas. Os coronéis queriam mostrar de que lado estavam, esperando assim que fosse possível chegar a um acordo com Hitler.


Proposta alemã para acordo de não agressão

No dia 26 de julho de 1939, o dia seguinte à resposta positiva dos governos francês e inglês, o governo da União Soviética foi contatado pelo governo alemão com uma proposta de conversações para negociar um acordo entre os dois países. A União Soviética não deu resposta à proposta alemã, sendo novas propostas enviadas à União Soviética nas semanas seguintes, com termos sempre mais favoráveis à União Soviética. Entre outras coisas, a Alemanha considerava agora que os estados bálticos eram parte da esfera de influência da União Soviética e que as tropas alemãs não seriam estacionadas nesses países. Isto referia-se ao fato de a Alemanha ter ocupado a cidade porto de Klaipeda (Memel) na Lituânia, o que a União Soviética considerava como uma ameaça para a sua segurança.


18 dias para chegar a Moscou!

As negociações entre a União Soviética, a França e a Inglaterra iniciaram-se finalmente em 12 de agosto de 1939, no mesmo dia em que as delegações francesa e inglesa chegaram a Moscou. É interessante observar que numa situação internacional em que o perigo da explosão de uma grande guerra na Europa aumentava todos os dias, as delegações francesa e inglesa levaram 18 dias a chegar a Moscou! Não há dúvida de que este atraso foi uma parte da tática das potências ocidentais para empacar as negociações e provocar uma situação em que a União Soviética sozinha seria obrigada a enfrentar uma guerra contra a Alemanha nazista. No tom ameaçador de Hitler para com a Polônia, podia-se facilmente compreender que a invasão estava para breve. O único que teria podido pôr fim aos planos conquistadores de Hitler era uma aliança imediata da União Soviética, França e Inglaterra, seguida de grande concentração de tropas desses países nas fronteiras da Alemanha. Mas a França e a Inglaterra não tinham pressa.


Sem poderes para negociar!

Quando as negociações das três potências se iniciaram em Moscou no dia sábado 12 de agosto de 1939, verificou-se que as delegações francesa e inglesa eram chefiadas por diplomatas de categoria inferior (o general francês Doumenc e o ajudante do rei inglês, o almirante Drax) que não tinham recebido dos seus governos os poderes necessários para negociar e assinar uma aliança militar ou qualquer outro pacto com a União Soviética! Isto causou grande admiração e transtorno entre os componentes da delegação soviética. Qual era na realidade a intenção da ida a Moscou de delegações sem poderes para negociar e assinar uma aliança militar? A delegação soviética, que era chefiada pelo marechal Vorochilov, o comissário do povo para a defesa, tinha recebido do governo soviético plenos poderes para negociar e assinar a aliança militar com a Inglaterra e a França. Veio a verificar-se que a missão das delegações inglesa e francesa era de discutir uma aliança militar com a União Soviética “somente como uma hipótese”. Mais uma vez se provava que as delegações tinham sido enviadas a Moscou para empacar as conversações, ou seja, mais uma jogada dos países ocidentais para fazer com que Hitler atacasse a União Soviética, estando este país só e isolado. Seguindo uma proposta soviética, os delegados das delegações estrangeiras enviaram telegramas aos seus países pedindo aos seus governos os poderes necessários para a negociação e conclusão de uma aliança militar. A resposta a este pedido, nestes dias dramáticos em que os exércitos de Hitler se concentravam nas fronteiras da Polônia e a paz mundial estava ameaçada, demorou três dias! Quando a resposta chegou, no dia 15 de agosto, verificou-se que as delegações francesas e inglesa não tinham recebido os poderes necessários dos seus governos.


Proposta soviética nunca respondida

Entretanto e apesar de tudo, as conversações continuaram. A delegação soviética tentava fazer com que os governos dos países ocidentais vissem que a situação na Europa tomara um carácter muito sério e que uma aliança militar entre as três potências seria positiva para todos. Para demonstrar que assim era, a União Soviética apresentou nas conversações que se seguiram propostas concretas dos efetivos militares que punha ao dispor da aliança militar com a França e a Inglaterra se a Alemanha nazista iniciasse outra guerra na Europa. A União Soviética disponibilizava para a defesa coletiva da Polônia, 136 divisões, 5 000 canhões pesados, 9 000 tanques e 5 000 aviões de combate. Além disso a União Soviética também apresentou um plano de guerra para a união das três potências contra a Alemanha nazista. A delegação soviética pediu também aos representantes da França e da Inglaterra que apresentassem propostas sobre os seus efetivos militares que tomariam parte na luta, uma questão nunca respondida. Os soviéticos queriam também que as delegações ocidentais entrassem em contato com os seus aliados, a Polônia e a Romênia, para estes darem livre passagem às tropas soviéticas que iriam de encontro ao exército invasor alemão.


Conversações com o governo alemão

As delegações ocidentais não mostraram nenhum interesse pelas propostas soviéticas. Também não apresentaram nenhumas propostas concretas, apenas se dedicando nas conversações a discussões sobre detalhes sem importância para uma aliança, como por exemplo o número de efetivos alemães e a sua colocação atual. Um tempo precioso para a União Soviética estava a passar. Durante estes dias dramáticos, o exército invasor alemão tomava posições para o ataque nas fronteiras da Polônia. A guerra era quase inevitável e a estrada dos alemães para invadir a União Soviética estaria aberta em breve. Nestas circunstâncias, o governo soviético decidiu aceitar as conversações propostas pelo governo alemão. O primeiro contato consultivo tinha sido feito a 12 de agosto quando se verificou que as delegações inglesa e francesa não tinham poderes para negociar uma aliança militar com a União Soviética. Nessa altura, a União Soviética tinha aberto uma discussão de um tratado de não agressão com o governo alemão. Tratados deste tipo tinham sido assinados pelos governos franceses e ingleses com a Alemanha em 1938. O governo soviético compreendia que a guerra com a Alemanha era inevitável e queria desta maneira ganhar tempo valioso para aumentar o poder defensivo do país. Um tratado de não agressão poderia dar ao país um período de tempo da maior importância. Mais tarde verificou-se que assim foi.


Fim das conversações

No dia 22 de agosto de 1939, as conversações em Moscou entre as três potências, Inglaterra, França e União Soviética chegaram a um fim definitivo. O chefe da delegação francesa, o general Doumenc, tinha então obtido poderes para assinar uma aliança militar com a União Soviética, documento que entregou ao marechal Vorochilov. O interesse repentino da França pelas negociações (e a proposta renovada pela Alemanha de um tratado de não agressão…) terá talvez a sua origem no fato de que nesta altura o exército imperial japonês invasor da Mongólia estava a ser totalmente aniquilado pelos exércitos da União Soviética e da Mongólia. Entretanto, no ato da entrega dos seus novos poderes ao marechal Vorochilov, o general Doumenc foi obrigado a reconhecer que a delegação inglesa não tinha obtido plenos poderes do seu governo e que a sua participação na aliança militar não iria se verificar. Além disso, as potências ocidentais não tinham obtido dos seus aliados polacos e romenos a autorização para que as tropas soviéticas passassem por esses países para ir de encontro ao invasor alemão. Esta questão tinha uma importância fundamental. A nova posição da França era positiva, mas sem a Inglaterra, a aliança não tinha grande valor. No ano anterior a França, numa situação idêntica, tinha traído a Tchecoslováquia. A questão da Polônia e da Romênia era também importante. A Polônia ameaçava a União Soviética com guerra se o exército soviético entrasse na Polônia para ajudar a defender o país contra a invasão alemã! Estava à vista que a Polônia nesta altura já não tinha salvação. As negociações de Moscou acabaram sem que as delegações estrangeiras mostrassem vontade de resolver os problemas que se punham. O desinteresse desses países para formar um poder conjunto contra os planos de guerra alemães atirou o mundo para uma catástrofe terrível.


Inglaterra preparava a traição

No que respeita à falta de plenos poderes da delegação inglesa e ao total desinteresse mostrado nas conversações de Moscou, existe hoje uma explicação conhecida. A meio de agosto de 1939, o governo soviético tinha suspeitas de que o governo inglês estava a preparar um acordo de paz com a Alemanha apesar da ameaça existente contra a Polônia. Nova investigação histórica feita pelo escritor inglês L. Mosley veio a mostrar que as suspeitas soviéticas eram corretas. Segundo Mosley, se a União Soviética não tivesse tomado a iniciativa em 22 de agosto, Herman Göring, o braço direito de Hitler, teria viajado de avião para Inglaterra em 23 de agosto para as negociações finais do tratado de paz com o primeiro-ministro inglês Chamberlain. Por isto mesmo a delegação inglesa transformava as conversações de Moscou numa discussão interminável de detalhes sem importância. O que o governo inglês queria e estava a planear era uma aliança de todas as potências imperialistas europeias contra a União Soviética. Declarações feitas pelo embaixador dos Estados Unidos da América em Londres, J. Kennedy, de que os Estados Unidos “devem ter as mãos livres em questões econômicas no Leste e no Sudeste”, indica que os Estados Unidos estavam a par da conspiração inglesa contra a União Soviética e das conversações entre a Inglaterra e a Alemanha. A política soviética em relação às potências imperialistas destruiu totalmente os planos da Inglaterra.


Tratado de não agressão com a Alemanha

No dia 20 de agosto chegou ao governo soviético uma nova proposta da Alemanha para a assinatura de um tratado de não agressão. No dia 22 de agosto, depois das conversações com o chefe da delegação francesa que punham em evidência que uma aliança militar da União Soviética, França e Inglaterra nunca se realizaria, o governo soviético decidiu aceitar a proposta alemã. No dia seguinte, em 23 de agosto de 1939, o ministro alemão dos negócios estrangeiros Ribbentrop, chegou a Moscou de avião e assinou o tratado de não agressão mútua com o ministro soviético dos negócios estrangeiros, Molotov. A imprensa burguesa ainda hoje afirma que União Soviética foi o único país a assinar um tratado com a Alemanha nazista. Isto é totalmente falso! Em 1933, pouco depois de Hitler ter tomado o poder, a França e a Inglaterra propuseram e assinaram um tratado de “compreensão e colaboração” com a Itália fascista e a Alemanha nazista. A Polônia, um aliado da Inglaterra, assinou um tratado de não agressão com a Alemanha nazista em 1934, sendo para isso aconselhada pela Inglaterra. Em 1935 a Inglaterra assinou um tratado com a Alemanha sobre a tonelagem permitida à Marinha de Guerra alemã, tratado que dava o direito à Alemanha de aumentar a sua Marinha de Guerra quase para a mesma tonelagem que a França, o que era completamente ilegal segundo os acordos de Versalhes. Em setembro de 1938 a Inglaterra e a Alemanha assinaram uma declaração em que se estabelecia que estes países nunca mais entrariam em guerra. A França fez o mesmo em dezembro de 1938. Na realidade, a União Soviética foi a última potência a assinar um tratado de não agressão com os nazistas.


Zona de segurança militar

O tratado de não agressão soviético-alemão, para além de declarar que estes países não entrariam em guerra, estabelecia também as relações entre os dois países no que diz respeito a outras questões relacionadas com aspectos militares. Essas questões na imprensa burguesa são geralmente chamadas de “anexo secreto”. O nome “secreto” dado pela imprensa burguesa é para causar suspeita. Na realidade, a maior parte do texto de tratados internacionais entre países, em especial em tempos de guerra, é sempre secreto. No chamado “anexo secreto” estabeleceu-se uma linha de demarcação entre a Alemanha e a União Soviética que indicava as zonas de segurança militar a respeitar pelos dois países. A linha de demarcação passava pelos rios Narew, Wistula e San na Polônia. Além disso, estabeleceu-se também que a Alemanha não teria influência militar sobre a Finlândia, a Letónia e a Estónia. Esta parte do tratado de não agressão levantava uma barreira através da Europa Central que segundo Churchill em 1 de outubro de 1939, era “absolutamente necessário para a segurança da Rússia em relação à ameaça nazista. A linha existe e faz uma frente no oriente que os nazistas não ousam atacar”.


A Linha Curzon

O interesse da União Soviética sobre as regiões da Polônia a oriente da linha de segurança referida vem dos acordos de Versalhes depois da primeira guerra mundial. Nesta altura o estado da Polônia não existia. A Polônia tinha deixado de existir em 1795 quando o que restava do país depois de duas anexações feitas anteriormente pelos países vizinhos foi dividido pela Prússia, Áustria e Rússia. O último monarca da Polônia, Stanislav II foi então obrigado a abdicar. 113 anos mais tarde, nos acordos de Versalhes em 1918, os países reunidos decidiram-se por dar um novo estado ao povo polaco, construir uma nova Polônia. Esta decisão levantava problemas no que diz respeito à questão das fronteiras, especialmente a oriente, onde durante os séculos passados, a fronteira tinha sido mudada segundo o poder militar dos países da região em determinado momento histórico. Nos acordos de Versalhes foi por isso dada a missão ao ministro dos negócios estrangeiros inglês, general Curzon, de estabelecer a linha da fronteira da nova Polônia a Oriente. O general Curzon propôs uma linha de fronteira que respeitava a divisão linguística, a língua polaca de um lado e as línguas ucraniana e bielorussa (russa branca) do outro lado.


Esta linha fronteiriça, chamada Linha Curzon, foi aceita por todas as potências presentes nos acordos de Versalhes com exceção da nova Polônia. O novo chefe polaco Pilsudski exigia maiores concessões territoriais a oriente e para esse efeito iniciou uma guerra para fazer conquistas territoriais na Rússia Soviética. O novo país soviético encontrava-se numa situação muito fraca a seguir à primeira guerra mundial e sem possibilidades de levantar uma defesa efetiva. Com armas e dinheiro francês e o apoio de oficiais de diversos países europeus, Pilsudski entrou na Ucrânia e na Bielorússia (Rússia Branca) e depois de uma guerra tremenda, conquistou grandes territórios à esses países. A Rússia Soviética foi obrigada a aceitar uma fronteira que estava muito para oriente da Linha Curzon, centenas de quilometros dentro das zonas linguísticas ucraniana e bielorussa. Esta questão histórica viria a desempenhar um papel muito especial na situação existente em 1939.


A “guerra ridícula” da França e Inglaterra

Na última semana de agosto de 1939, a Inglaterra tentou descartar-se da responsabilidade que tinha para com o seu aliado militar, a Polônia. Propôs a este país que deixasse a Alemanha anexar as regiões entre a Prússia Oriental e a Alemanha, o chamado corredor polaco, que os alemães exigiam. Era um novo tratado do tipo de Munique que tinha levado a Tchecoslováquia ao extermínio. Mas neste caso, a Polônia não aceitou a proposta inglesa de se render sem guerra. A máquina de guerra alemã conhecedora da resposta polaca continuou os preparativos para a invasão da Polônia segundo os planos previstos. No dia 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia. Três dias depois a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha, mas não iniciaram nenhuma resposta militar aos alemães em ajuda do aliado polaco. No entanto as forças militares da França, da Inglaterra e do exército polaco eram de 173 divisões e da Alemanha somente de 103! Na própria zona fronteiriça entre a França e a Alemanha, a França e a Inglaterra tinham 110 divisões contra 25 divisões alemãs! A França e a Inglaterra permaneceram passivas vendo o aliado polaco morrer e a Polônia ser dividida e destruída pelos alemães. A esta situação de “guerra” francesa e inglesa, que se prolongou por muitos meses, deu na história o nome de “guerra ridícula” [“la drôle guerre” em francês]. Mas a guerra ridícula contra os alemães não impediu os governos francês e inglês de, quatro meses mais tarde, em Dezembro de 1939, se declararem dispostos a enviar um exército de 150.000 homens para apoiar a Finlândia na guerra contra a União Soviética.


A Alemanha invade a Polônia

Na invasão da Polônia, o exército alemão ganhou rapidamente uma série de batalhas decisivas. Em 3 de Setembro os alemães estavam já no rio Vistula, a 9 de setembro em Varsóvia e a 11 de Setembro nas margens do rio San. O exército polaco foi forçado a retirar-se em toda a linha. A Polônia estava derrotada. Na parte oriental do país não ocupada pelos alemães, deixou de haver poder político e militar. Uma semana mais tarde a União Soviética entrou na Polônia, nas regiões da Ucrânia e da Bielorússia que a Polônia tinha anexado em 1920, parando na Linha Curzon, a fronteira entre a Polônia e a União Soviética aceita em Versalhes em 1918. É importante observar que o exército soviético ocupou somente as regiões a oriente da Linha Curzon, e não toda a zona referida como zona de segurança militar soviética no anexo ao tratado de não agressão com a Alemanha. A União Soviética impediu desta maneira à Alemanha de conquistar as regiões da Polônia que a Polônia anteriormente tinha roubado à Rússia Soviética.


21 meses de paz para preparar a defesa

O Tratado de Não Agressão, ou pacto Molotov-Ribbentrop, como a imprensa burguesa chama ao documento, foi um passo necessário na política de paz da União Soviética. O Tratado de Não Agressão Soviético-Alemão destruiu a frente imperialista que a Inglaterra estava a formar contra a União Soviética e obrigou a França e a Inglaterra a entrar na luta antifascista. O Tratado de Não Agressão deu 21 meses de paz à União Soviética, um tempo muito necessário para os soviéticos prepararem a defesa perante a invasão nazista. Durante esses meses de trabalho duro, a produção industrial total da União Soviética aumentou em 13% por ano, tendo a indústria de defesa aumentado em 39% por ano! Do princípio de 1940 até à invasão nazista em junho de 1941, o valor total das reservas materiais do estado soviético aumentou de 4 biliões de rublos para 7,6 biliões de rublos e o exército transformou-se num exército moderno mecanizado com 5 milhões de homens em armas. O Tratado de Não Agressão foi a base que possibilitou à União Soviética vencer a segunda guerra mundial, destruir a Alemanha nazista e libertar o mundo da barbárie nazista.


26 de agosto de 1999


Escrito por Mário Sousa


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