"Os Estudantes Soviéticos"
Em 1938, a União Soviética tinha 716 universidades, colégios e outras instituições de ensino superior com um número estudantil de 601 mil pessoas. Este número supera o de estudantes de colégios e universidades de 23 países europeus juntos, incluindo a França, a Itália e a Polônia; além do Japão.
Existem instituições de ensino superior em cada uma das Repúblicas da União e Regiões Autônomas da União Soviética. O Quirguistão, que não tinha uma única instituição de ensino superior antes da Revolução, agora tem quatro; o Turcomenistão tem cinco; o Tadjiquistão também tem cinco e o Cazaquistão, 19. E cada uma dessas instituições educativas conta com laboratórios modernos, salas de leitura e bibliotecas que estão na vanguarda na questão de equipamento escolar.
Antes da Revolução, os colégios e universidades da Rússia Tzarista tinham um total de 112 mil alunos matriculados, dos quais 35% eram filhos da nobreza e dos chefes de governo, 10% eram filhos de grandes empresários e comerciantes e 14% filhos de camponeses ricos. Portanto, 70,8% dos alunos pertencia às classes dominantes, como filhos das grandes fortunas. O alto custo de admissão, além das restrições de classe e de normas estabelecidas tornavam impossível aos trabalhadores darem uma educação superior aos seus filhos.
O governo soviético deu acesso às escolas de ensino superior a todos os cidadãos da URSS. As portas dos colégios e universidades da URSS estão abertas a todos os graduados do ensino secundário. Não existe a mínima restrição de nacionalidade, raça, condição social ou econômica nas instituições de ensino soviéticas. As mulheres desfrutam dos mesmos direitos que os homens para ingressar em qualquer instituição de ensino superior da URSS. Na União Soviética, 43% dos estudantes colegiais e universitários são mulheres.
A verba estabelecida pelo governo soviético para o desenvolvimento da educação superior aumenta ano após ano. Por exemplo, a verba instituída pelo Governo para a educação superior aumentou de 86 milhões de rublos em 1934 para 219 milhões de rublos em 1938.
Apesar do enorme aumento do número de instituições de ensino superior e da massa estudantil, o rápido desenvolvimento da economia nacional da URSS requer, ainda, um número maior de pessoas capacitadas em todas as áreas do conhecimento.
As instituições de ensino superior da URSS preparam especialistas em 178 áreas da ciência, da tecnologia e das artes. Dentre as 716 instituições de ensino superior soviéticas estão 119 institutos industriais, 29 institutos de transporte e comunicações, 84 escolas de agricultura, 71 escolas de medicina, 27 institutos econômicos, 11 escolas de direito, 24 universidades gerais, 211 institutos pedagógicos e de preparação de professores, conservatórios de música, institutos de literatura, de arquitetura, etc.
Além das instituições regulares de ensino superior, foi estabelecida na URSS uma nova classe de escolas de ensino superior: academias ligadas a determinados ramos da indústria, do transporte, da agricultura, do comércio, etc. Essas academias, que estão sob a jurisdição dos correspondentes comissários do povo, são visitadas pelos executivos das fábricas - como por exemplo, diretores, subdiretores e superintendentes, por trabalhadores de estabelecimentos soviéticos que possuem ampla experiência prática, bem como trabalhadores stakhanovistas, que desenvolvem novas e melhores formas de trabalhar. Três ou quatro anos de academia proporcionam ao estudante uma educação geral e, por sua vez, uma formação especializada de tal maneira que, quando se gradua, é um especialista de alta qualificação.
Alexei Stakhanov, o famoso mineiro de carvão de Donbass, estudou na Academia Industrial “Stalin” em Moscou. Busijgin, forjador da fábrica de automóveis “Gorki”, a tecelã Eudokia Vinogradova, Tatiana Fiodorova, trabalhadora do “Metrô” de Moscou e muitos outros trabalhadores destacados da União Soviética foram também a essas academias industriais. A pioneira do movimento stakhanovista na agricultura, a camponesa coletivista Maria Demchenko, atualmente estuda na Academia Agrícola de Kiev. Outros stakhanovistas destacados na agricultura também ingressaram nas academias agrícolas, incluindo Pasha Kovardak, Konstantin Borin e Pasha Angelina. Todas essas pessoas estão culminando o conhecimento teórico, a fim de melhorar e enriquecer sua ampla experiência prática.
Os estudantes que ingressam nessas academias não perdem o contato com seus lugares anteriores de trabalho. Todas as academias industriais enviam seus estudantes ao trabalho duas vezes ao ano. Assim, por exemplo, Stakhanov, Busijgin e Borin, que são estudantes de academias industriais, puderam estabelecer novos registros na produção em seus antigos postos de trabalho durante seus períodos de prática.
Como regra geral, os estudantes que são recebidos nessas academias desempenham cargos executivos. Por exemplo, o pioneiro do movimento stakhanovista na indústria leve, Nikolai Smetanin, que trabalhou na fábrica de sapatos “Skorokhod” e estudou na Academia Industrial “Kirov” em Leningrado, é, agora (1939), auxiliar do Comissário do Povo da indústria leve. O pioneiro do movimento stakhanovista nas ferrovias, Piotr Krivonoss, foi nomeado diretor geral da linha férrea do Sul de Donetsk. Musinski, destacado stakhanovista na indústria têxtil, foi eleito vice-presidente do Comitê Executivo Regional de Arkhangel. O que se conhece como Universidade de Fábrica, é muito comum na URSS. Essas instituições de ensino superior técnico são estabelecidas pelas fábricas, e a elas vão os trabalhadores, os funcionários e outros empregados de uma fábrica, depois das horas de trabalho. Especialistas altamente qualificados de diferentes departamentos da fábrica dão conferências e veem o trabalho prático dos estudantes. Assim como todas as demais instituições de ensino da URSS, essas universidades de fábricas têm laboratórios modernos, aulas e bibliotecas muito bem preparadas. O trabalho prático é realizado nas oficinas e departamentos da própria fábrica. Dessa maneira, os trabalhadores que passam vários anos de formação nessas universidades se convertem em especialistas altamente qualificados – engenheiros e técnicos –, ainda que muitos deles tenham entrado na universidade como simples trabalhadores. Entre essas universidades de fábricas, o Instituto de Trabalho “Stalin”, de Leningrado, goza de grande renome. Essa universidade de fábrica preparou centenas de especialistas de primeiro nível em seus poucos anos de existência.
Os cursos por correspondência de ensino superior também fizeram muito pela preparação dos trabalhadores qualificados que o país precisa.
Estes cursos são gratuitos e frequentados, em seu tempo livre, por funcionários, técnicos e demais trabalhadores e empregados da fábrica que tenham recebido uma educação secundária.
Há cerca de 200 mil pessoas participando dos cursos por correspondência de ensino superior na URSS. As pessoas que completam esses cursos conseguem um equivalente ao do ensino presencial nas escolas e universidades.
De acordo com o artigo 121 da Constituição da URSS, o ingresso às escolas soviéticas, incluindo colégios e universidades, é gratuito. Mais de 88% do corpo estudantil das instituições de ensino superior recebem salários do governo. Os salários são, geralmente, de 130 rublos por mês durante o primeiro ano de estudo e chega a 200 rublos por mês durante o último ano. Essa quantidade é o salário médio de um trabalhador não-qualificado. Os estudantes das academias dos Comissários do Povo recebem salários de 450 a 700 rublos por mês, uma quantidade correspondente ao salário mensal de um trabalhador altamente qualificado. Mas o Governo não reduz sua ação, no que se refere à massa estudantil, na distribuição de salários. Todos os estudantes que solicitem moradia recebem-na gratuitamente do Governo, que gasta 10 milhões de rublos por ano na construção e manutenção das moradias estudantis. Nas grandes cidades, existem bairros inteiros compostos de residências estudantis chamadas “cidades estudantis”, construídas pelo Governo. Em Moscou, existem várias “cidades estudantis” com uma população muito elevada.
Junto às residências, encontram-se restaurantes, lavanderias, barbearias, etc., cujos serviços são oferecidos a preços menores aos estudantes.
Os estudantes têm direito ao serviço médico e tratamentos gratuitos. Fora os gastos na construção e manutenção das residências, o Governo também gasta grandes quantidades ao ano proporcionando vantagens culturais, esportes, férias, etc., aos estudantes. Praticamente, cada instituição de ensino superior tem um clube próprio e seu estádio para os estudantes, mantidos pelo Estado e os sindicatos. Os estudantes, que estavam trabalhando em alguma empresa antes de entrar no instituto de ensino superior, mantêm seus direitos sindicais e são simplesmente transferidos ao sindicato que agrupa os trabalhadores da profissão ou ofício que corresponde a determinada escola ou instituição específica. Os jovens, ao sair da escola secundária, entram diretamente em um instituto de educação superior e podem ser parte do sindicato de seus respectivos institutos. Os sindicatos dão entradas grátis aos estudantes para os teatros e concertos, ou entradas a um preço menor.
Durante as férias (os estudantes soviéticos desfrutam de férias duas vezes ao ano - dois meses no verão e duas semanas no inverno), os estudantes podem se alojar em casas de repouso ou se tratar em sanatórios, à custa dos sindicatos. Muitos estudantes passam suas férias viajando às diferentes regiões do vasto território da União Soviética a fim de conhecer melhor seu país, e para se familiarizarem com sua beleza e suas riquezas naturais. Nesses casos, o Estado também ajuda os estudantes proporcionando-os reduções consideráveis no transporte, guias, baixos preços nos alimentos nas regiões turísticas, etc.
A atenção multiforme proporcionada aos estudantes pelo Estado permite-os dedicar toda sua atenção, sua disposição e sua energia ao estudo.
Os estudantes se dedicam aos seus estudos nas instituições soviéticas de ensino superior de uma maneira que difere radicalmente do modo como estudavam os estudantes nos estabelecimentos correspondentes na Rússia Tzarista. A segurança material dos estudantes, a grande capacidade de corpo docente, o fato de que os estudantes contam com serviços escolares e de literatura, criam todas as condições necessárias para a realização de um trabalho excepcionalmente fértil pelos estudantes.
Um espécime conhecido por todas as velhas escolas da Rússia Tzarista era o “eterno estudante” - economicamente inseguro, em uma eterna caça por pequenas contribuições financeiras, levando uma existência de fome quase completa, sem nenhuma possibilidade de estudar com regularidade. Ano após ano, esse “eterno estudante” permanecia no mesmo nível escolar e, por fim, muitas vezes abandonava a escola sem terminar os estudos.
Nas escolas da URSS, onde os estudantes são providos pelo Estado de tudo o que necessitam, não existem esses “eternos estudantes” nas instituições de ensino superior. O estudante soviético considera como uma questão de honra estudar com todas as forças e se graduar no prazo estabelecido. É muito raro, entre os estudantes soviéticos, repetir um semestre, e nesse caso, geralmente é o resultado de uma exceção à regra, como uma doença, etc.
A emulação socialista se estende pelas instituições soviéticas de ensino superior da mesma forma que é estendida pelas fábricas. Grupos de estudantes desafiam-se uns aos outros; classes inteiras, departamentos e inclusive universidades inteiras lançam desafios recíprocos para colocarem seus alunos no quadro de honra, para ajudar a maior quantidade de camaradas atrasados em seus estudos, etc.
O corpo docente também se dedica voluntariamente a preparar estudantes dignos do quadro de honra.
As relações entre estudantes e professores nas instituições soviéticas de ensino superior são totalmente diferentes do que eram antes da Revolução. Anteriormente, os professores raramente se interessavam - quase que nada faziam - pelo trabalho dos estudantes, pelas razões que o estudante poderia ter para ter se atrasado na matéria, se os estudantes entendiam seus ensinamentos ou necessitavam de mais ajuda de sua parte, etc. Nas instituições soviéticas de ensino superior, o corpo estudantil e o corpo docente são uma única família. Ambos estão igualmente interessados em que os estudantes recebam o máximo que essas possam lhes proporcionar, em que o estudante graduado seja um especialista soviético completamente preparado.
Os estudantes e os professores têm relações que se estendem para além do trabalho em sala de aula. Os mestres e instrutores frequentemente participam de diversas reuniões estudantis, e passam suas férias com os estudantes. Tal unidade entre a massa estudantil e o corpo docente só pode servir para melhorar o trabalho educativo e a preparação dos estudantes, que encontram no professor ou instrutor um camarada de idade mais avançada.
Outra característica das instituições soviéticas de ensino superior é seu estreito e inquebrantável contato com a indústria, que se manifesta de várias formas, principalmente na formação industrial bem organizada dos estudantes através do trabalho prático. Cada instituição técnica e agrícola de educação superior envia seus estudantes a períodos de prática de dois meses e meio a três meses e meio, durante o ano. Os estudantes de escolas técnicas seguem certo treinamento prático durante o qual, geralmente, familiarizam-se com a área da indústria que devem seguir para completar seus estudos. Em seus trabalhos práticos, recebem uma formação ainda mais especializada, e aprendem o que devem saber sobre determinada máquina e suas propriedades. Por último, em seu último ano de estudos, trabalham como engenheiros em suas sessões práticas, desempenhando muitas vezes as tarefas de auxiliares do chefe da oficina.
Depois de terminar sua prática industrial, o estudante é obrigado a apresentar um relatório ao professor que sintetize suas experiências na prática do trabalho, e recebe uma qualificação determinada para o trabalho que se especializou. Se não apresenta o relatório, ou se esse não for considerado satisfatório, terá que repetir seu período de prática industrial.
Os estudantes são enviados a empresas de uma determinada área da indústria para sua prática de trabalho, empresas essas que possuem um equipamento de primeira classe e trabalham com os últimos avanços da técnica. O estudante recebe uma orientação acadêmica e metodológica na sua prática de trabalho por parte dos chefes do departamento correspondente. Sua prática de trabalho na fábrica é supervisionada pelos melhores e mais qualificados técnicos da empresa em questão.
As teses e trabalhos dos estudantes estão estreitamente relacionados às tarefas práticas do desenvolvimento econômico do país. Inúmeras teses apresentadas por estudantes que se graduaram são postas em prática e, dessa maneira, não são apenas trabalhos acadêmicos, mas ao mesmo tempo, planos de trabalho prático. Depois de serem recebidas, os autores dessas teses geralmente participam de sua aplicação.
Por outro lado, os laboratórios e as aulas das instituições de ensino superior frequentemente resolvem diversos problemas que a indústria e a agricultura apresentam ter.
Dessa maneira, os estudantes também são postos em contato com suas futuras atividades práticas.
O trabalho de pesquisa científica levado a cabo por esses colégios é um fator importante na vida das instituições soviéticas de ensino superior. O corpo docente e científico dessas instituições chegam a mais de 40 mil pessoas, incluindo 5 mil professores e 11,5 mil professores auxiliares. A jornada laboral do corpo pedagógico científico das instituições de ensino superior é de cinco horas, dedicando a metade deste tempo à pesquisa científica.
Cada departamento das instituições soviéticas de ensino superior conta com seus estudantes de pós-graduação. Há mais de 10 mil estudantes de pós-graduação na URSS. Em 1938, 6 mil pessoas se inscreveram nos cursos de pós-graduação da URSS. Depois de três anos de curso, os estudantes graduados apresentam uma tese que devem defender e, logo, recebem um diploma acadêmico. Os cursos de pós-graduação costumam ser cursados por estudantes que se graduam com mérito em uma instituição de ensino superior.
No trabalho de pesquisa científica, que tem lugar nessas instituições de ensino superior, solucionam-se os problemas apresentados pela indústria e pela agricultura. Por exemplo, os estudantes graduados no Instituto de Metais Inoxidáveis de Moscou estão fazendo um excelente trabalho no campo das novas ligas (mistura de metais). A Escola de Estruturas Subterrâneas do Instituto Ferroviário do Trem de Moscou participa da construção do metrô da cidade.
Uma parte importantíssima da vida das instituições soviéticas de ensino superior é desempenhada pelas organizações sociais dos estudantes: Partido Comunista, Liga Comunista e Sindicatos. Os comitês do sindicato estudantil existentes em todas as instituições de ensino superior possuem um papel ativo na vida acadêmica das escolas superiores. Eles mesmos se interessam pelo trabalho dos estudantes, eliminam qualquer coisa que dificulte o estudo de um estudante, estão atentos ao trabalho prático, prestam atenção às necessidades materiais dos alunos, ajudam-lhes a passar suas férias de uma maneira que sejam, por sua vez, úteis, interessantes, etc.
Em 1939, 183 mil novos estudantes se matricularam nas universidades e colégios da URSS.
Os colégios e as organizações sociais começam desde muito cedo a fazer companha para atrair novos estudantes.
O Museu Politécnico de Moscou organiza consultas para os jovens que terminam sua educação secundária, para a escolha de sua futura profissão. Esses jovens têm conversas informativas com professores e acadêmicos, mestres e instrutores das escolas secundárias, os quais lhes dão todo tipo de informação acerca de suas instituições: essas reuniões se converteram em uma verdadeira tradição na escola secundária de Moscou.
O artigo 118 da Constituição da URSS estabelece que “Os cidadãos da URSS têm direito a trabalhar”. De acordo com esse artigo, cada graduado de um instituto de ensino superior tem trabalho garantido em seu campo de atividade. Seis meses antes de terminar o último ano, o estudante já sabe onde vai trabalhar, que salário receberá e quais serão suas obrigações. O Estado determina, de acordo com um planejamento, o lugar onde o graduado trabalhará. Obviamente, isso não significa de maneira nenhuma que o graduado é obrigado a trabalhar em uma determinada empresa. É apenas um dos elementos de planificação e o método mais comum no trabalho de todas as instituições soviéticas. O jovem especialista, depois de se graduar, forma um contrato com a organização correspondente ou empresa. Quando entra na fábrica ou estabelecimento fixo, o jovem especialista ingressa a um meio que já lhe é familiar. Não vê nele nenhum competidor, cada um lhe ajuda a assimilar seu trabalho o mais rápido possível. Em 1938, 93 mil estudantes foram recebidos nas escolas da URSS. Cada um deles foi enviado a um trabalho correspondente a sua especialidade.
Durante o período do Terceiro Plano Quinquenal, a educação superior se desenvolverá numa proporção ainda maior. Está previsto que o número de estudantes passe de 601 mil, em 1938, a 650 mil, em 1942.
A educação superior na URSS se estende e se desenvolve conjuntamente com o crescimento e desenvolvimento de toda a vida econômica e cultural do país.
De “Divulgação Marxista”, Nº 6, setembro de 1946.