A Amazônia, o Pantanal e o interesse estratégico dos militares
Já não é de hoje que os militares voltam seus olhos para a Amazônia, mas possuem um interesse histórico, que remonta do século XVII, no período da expulsão holandesa, francesa, e a delimitação da fronteira do que viria à ser o Brasil e o Peru, como também a Colômbia portanto naquela época até onde ia a América espanhola e até onde ia a América portuguesa. Existe o mito do exército brasileiro de “Guararapes”, que é o mito de “união das três raças” apregoado no Exército Brasileiro, de que africanos, indígenas e colonialistas portugueses teriam se unido para a expulsão dos holandeses e demais países europeus. Porém, no período da colonização do Brasil denominado “Drogas do Sertão” em que os indígenas foram levados à exploração feudal por especiarias (coleta de drogas do sertão, e pagamento de tributo feudal para as companhias da coroa, dos senhores de terras, recebimento em espécie de algodão, que era remetido em maior parte para a manutenção das igrejas jesuíticas), houveram grandes choques, e a dizimação das comunidades de indígenas manaus e maiapenas, com o conhecido e aguerrido indígena Ajuricaba, e a fundação militar de Belém no Pará, São Luís no Maranhão e Manaus no Estado amazonense. Muitas comunidades indígenas eram armadas por esses ou aqueles países colonialistas, mas o fato é que houve um grande embate sangrento nestas regiões. Os franceses, holandeses e ingleses acabaram por colonizar parte da Amazônia, onde se encontram as Guianas e hoje o Suriname, onde hoje ainda na Guiana francesa existe uma colônia de fato juridicamente, um território francês no nosso continente, e Portugal fundou as Capitanias do Cabo Norte, e de São José do Rio Negro, e a Capitania separada do Pará, que dariam origem aos Estados do Amapá, Amazonas e Pará, o Brasil já independente só viria a se acertar com Peru no segundo reinado em 1851 e com a Colômbia em 1907.
Portanto, como o exército brasileiro, é o herdeiro das empreitadas militares portuguesas, como também é a força armada que governa o Brasil oficialmente desde a época da Independência, existe um mito tanto de união quanto de “desbravadores”, pela questão fronteiriça que se formou por um longo período, em que o Exército Brasileiro é a força e a arma geopolítica do Brasil. De fato por muito tempo todos os nacionalistas, sejam eles de direita ou de esquerda, se uniram ao exército quando o assunto era a Amazônia, que no século XX em sua primeira metade principalmente tinham grandes quadros patrióticos e democráticos, e até comunistas, mas o exército a partir da década de 50 (já germinado nos anos anteriores) dá uma guinada no sentido norte-americano, algo evidente no Golpe em Vargas no ano de 1954 realizado pelo comandante mais importante Dutra, e também mais do que evidente no Golpe de 1964 e a ditadura militar-fascista, com apoio norte-americano, o Brasil adotando militarmente as doutrinas de Segurança Nacional estadunidenses, e por fim aplicando uma ditadura terrorista contra seu próprio povo. Durante esse período além da veia democrática ter se perdido completamente (além do Exército sempre ter sido o braço armado da reação, mas possuía fortes contradições internas), qualquer pensamento minimamente popular foi suprimido, transformando o exército em nada mais do que apoio para as forças norte-americanas em nosso continente.
Hoje presenciamos uma volta dos Generais à política, capitaneada pelos governos principalmente de Temer (com Etchegoyen) e Bolsonaro, em que diga-se de passagem, já se desenhava desde antes do Golpe ter se manifestado mais concretamente, com Bolsonaro participando da formatura da Academia Militar das Agulhas Negras em 2014, sendo aclamado como Líder, e prometendo “endireitar” o Brasil, ou seja, colocar o Brasil no eixo EUA-OTAN, de apoio subserviente. A AMAN que é a mais importante escola militar do Brasil, onde se reúnem aqueles que virão a ser Generais, da qual saiu o próprio Bolsoaro em 1977, e também boa parte de seus aliados do governo traidor da pátria. A base de Alcântara , que se entregou aos norte-americanos, enterrando de um vez por todas as pretensões espaciais do Brasil, como ja havia feito Collor com sua pá de cal, é a demonstração clara e manifesta do entreguismo e traição à que se submetem nossos militares, colocando nas mãos de nosso maior inimigo, aquele causador da nossa miséria, que domina todos os setores de nossa economia, que espiona a Petrobras e presidentes do Brasil, que nos deu golpes atrás de golpes, uma das mais importantes áreas estratégicas do Brasil.
Recentemente Bolsonaro aparece no Documentário O Fórum, no Fórum Econômico Mundial em Davos, em uma conversa com Al Gore (ex vice-presidente dos Estados Unidos) em que ele diz querer “explorar a Amazônia junto aos americanos”, após Al Gore externalizar preocupação com a situação ambiental, ele que é um conhecido advogado da ideia de “soberania limitada” e internacionalização da Amazônia, fato que faz muitos patriotas se unirem ao discurso dos militares que as vezes “acenam” na defesa da Amazônia. Também recentemente o site oficial das Forças Armadas o defesa.net, foram publicados artigos de autoria desconhecida, que são editoriais do site, um dedicado ao 7 de Setembro, data da primeira e limitada independência do Brasil, que fez do País uma semicolônia inglesa, em que o Presidente Jair Bolsonaro, e os militares que compõem seu governo são criticados, por não haverem ainda modernizado as forças armadas, com destaque para o General Hamilton Mourão, chamado no editorial de “Vice-Rei” da Amazônia (referência clara às capitanias hereditárias), o qual é encarregado do Conselho da Amazônia, órgão criado por Bolsonaro no começo do ano, para supostamente defender a “região amazônica”, dando ela de bandeja para os norte-americanos, e também sobrepujando o Exército Brasileiro com a força norte-americana, possivelmente até em outros países amazônicos.
O significado do vídeo do Documentário O Fórum, para os Generais, e para o Golpe Militar em Curso no Brasil, é não a questão do entreguismo de Bolsonaro, que de acordo com Mourão foi apenas um “mal entendido”, um “aceno diplomático do Brasil”, mas a comprovação de que o Al Gore e o que eles chamam de “ambientalismo-indigenista” mundial, tem relação com os “comunistas Alfredo Sirkis” e a confirmação portanto do plano ambientalista-indigenista-comunista gramsciano de internacionalização da Amazônia. De fato, o imperialismo, ao mesmo tempo que ele financia madeireiras clandestinas e garimpo ilegal na Amazônia, ele também financia ONGs que dizem combater o desmatamento, e defender os direitos humanos das comunidades indígenas. Muitos rentistas internacionais, donos de imensos fundos de dinheiro, em grande parte lavado, dizem que para investiram no Brasil este deve regularizar a situação Amazônica, de aumento inaceitável das queimadas, expansão da fronteira agrícola, e opressão violenta aos povos indígenas. O Exército diz criticar tais medidas também em artigos publicados no defesa.net, porém em outros artigos diz que a saída para a crise no Brasil, tanto a de hoje, como a de amanhã, com a possível bancarrota do Dólar como marco financeiro internacional, e o desemprego em massa que vivemos hoje, é o garimpo na Amazônia, e o estoque de ouro com isso. Defendendo até abertamente o garimpo que seria realizado “legalmente” por indígenas, remontando a situações de atraso colonial e feudalismo das Drogas do Sertão.
Com isso remontam até às batalhas de expulsão estrangeiras, compreendendo que o novo “aliado” do Brasil seria os EUA, e que o Brasil seguiria segundo os militares as tradições ocidentais, em oposição às ONGs Norueguesas e a China, países nos quais o Brasil se torna cada vez mais dependentes, que foram os grandes compradores do Leilão de Libra, uma das maiores bacias de petróleo, e tem os olhos abertos para a Amazônia.
A isso se junta o fato já passado, porém presente de expansão da fronteira agrícola sulista, dos grandes barões de arroz latifundiários, que há alguns anos no governo Lula desejavam expandir suas fronteiras para Roraima, e pestanejaram à demarcação das terras dos Ianomami, na área indígena Raposa Serra do Sol. Em que os militares ficaram obviamente do lado dos latifundiários feudais e semifeudais, por um “interesse estratégico” fronteiriço que em seu entender ficaria desprotegido, não das potências estrangeiras mas das quais o Brasil é signatário, os Estados Unidos.
E então chegamos ao Pantanal Mato-Grossense, atualmente vítima de grandes queimadas, em que o Centro Integrado de Multiagências de Coordenação Operacional, um órgão do Estado, que constata que as queimadas foram propositais para expandir a fronteira agropecuária, e o presidente Bolsonaro publica um vídeo ao lado de uma criança em que dá risadas sobre a situação, devastação sem tamanho para a fauna e flora brasileira, região com maior contingente de onças pintadas do mundo, que seria o símbolo do Exército, se o exército representasse o Brasil de fato, e não interesses alienígenas. Com a conivência do governo e do Estado burguês-latifundiário, os latifundiários atearam fogo ao Pantanal, e agora Bolsonaro envia caças das forças aéreas para apagá-lo, com a fronteira agropecuária já aumentada e com a fauna e flora destruídas, as forças armadas aparecem como salvadoras para apagar as chamas das quais elas mesmas foram coniventes.
E isso se repetirá pela estratégia militar dos Generais golpistas e do governo protofascista de Bolsonaro, a pinça de serem tanto oposição quanto situação.
O objetivo dos militares portanto, ainda que haja bravatas “nacionalistas” é entregar as terras ancestrais dos indígenas, e as matas do Pantanal, a Caatinga, da Amazônia e demais biomas brasileiros para o latifúndio e o imperialismo especificamente norte-americano. Querem supostamente fazer o Brasil andar ao “lado dos ricos” como Estados Unidos, e defender as “riquezas”, mas defendem a nossa pobreza que é latifúndio semifeudal, que possui um forte aspecto colonial, direciona nossa produção para a exportação, abastecendo os centros industriais dos países capitalistas desenvolvidos e deixando o nosso centro ou inexistente, ou desnacionalizado. Além disso, curvar todas as forças e povos que vivem da Amazônia, à nova metrópole os Estados Unidos, ainda que de uma maneira mais polida na fala do que Bolsonaro. A única saída para tal traição à pátria é a Refundação do Partido Comunista do Brasil, e a Revolução Democrática ininterrupta ao Socialismo, a união de fato dos povos que vivem da Amazônia e do Pantanal, com o povo brasileiro, para que fundem uma Nova Democracia, proclamem a independência do Brasil segunda e definitiva. Não há caminho institucional e nem pacifico, necessitará de uma prolongada Guerra Popular, mas a tendência à vitória das forças populares é objetiva e a certeza da vitória do proletariado e do povo brasileiro no futuro é mais do que real.