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"As forças guerrilheiras na Segunda Guerra Mundial"


Entre os fatores mais básicos para a vitória na Segunda Guerra Mundial, estiveram as guerrilhas, ou forças armadas semirregulares. Estas eram conhecidas na Europa e na Ásia como “a resistência,” como “partisans” ou simplesmente “guerrilheiros.” As guerrilhas tiveram um imenso papel para inspirar os povos e golpear as tropas regulares inimigas. Elas operavam em áreas ocupadas e semi-ocupadas. Em novembro de 1870, Engels apontou o significado e a importância deste tipo de guerra popular, que estava sendo então conduzida pelas massas na França derrotada, contra a Alemanha vitoriosa. Ele apontou que: “Desde a Guerra de Independência Americana à Guerra Civil Americana, na Europa como na América, a participação da população na guerra não foi a exceção, mas a regra.” Engels descreveu as selvagens represálias feitas contra as guerrilhas pelos prussianos, mas apontou também que, ainda assim, “os ingleses na América, os franceses sob Napoleão na Espanha, os austríacos de 1848 na Itália e na Hungria, foram logo compelidos a tratar a resistência popular como uma forma de guerra perfeitamente legítima.” Na Segunda Guerra Mundial, porém, os fascistas bárbaros da Alemanha, Itália e Japão tratavam os guerrilheiros capturados quase sempre como bandidos e foras da lei. Não houve guerra na qual os guerrilheiros operaram de forma tão ampla, sistemática e vitoriosa como a Segunda Guerra Mundial. Suas atividades se estenderam da França, no Ocidente, à China, no Oriente. As guerrilhas, frequentemente, mas nem sempre, trabalhavam em cooperação organizada com tropas regulares. Este desenvolvimento extensivo da resistência, marcado pelo movimento guerrilheiro, indicava o caráter progressista e popular da guerra. Dando-se conta desde o início da importância fundamental da ação armada das próprias massas, Stálin, em 3 de julho de 1941, apenas onze dias após o início da invasão alemã na URSS, fez um chamado pela organização de forças guerrilheiras em todos os lugares. Disse ele: “Nas áreas ocupadas pelo inimigo, as unidades guerrilheiras, montadas e a pé, devem ser formadas. Grupos diversionistas devem ser organizados para combater as tropas inimigas, fomentar a guerra de guerrilhas, explodir pontes e estradas, danificar linhas telegráficas e telefônicas, incendiar florestas, lojas e transportes. Nas regiões ocupadas, deve-se impor condições insuportáveis para o inimigo e todos os seus cúmplices. Eles devem ser sondados e aniquilados passo a passo, e todas as suas manobras devem ser frustradas.” Posteriormente, até mesmo as forças militares ocidentais burguesas lançariam mão de forças guerrilheiras. Em todo o cenário da grande guerra, a política guerrilheira militante, que requeria força e coragem, foi aplicada pelas massas dos povos. Neste perigoso trabalho, é uma questão de recordação histórica lembrar que os comunistas eram, em quase todos os lugares, líderes guerrilheiros. Era uma situação que acentuava completamente a bravura, organização e disciplina naturais dos comunistas, sua devoção à causa e ódio ao inimigo capitalista. Na organização das forças guerrilheiras, nas cidades ou nos campos, a ampla experiência dos comunistas no desenvolvimento de uma vida política clandestina foi de enorme valor para evitar perseguições policiais. Geralmente, a resistência era organizada com base numa frente única nacional, sendo elegíveis todos aqueles dispostos a lutar contra o fascismo. Foi mais uma vez a aplicação da tática básica da frente popular antifascista desenvolvida no sétimo congresso do Comintern. Muitos elementos socialdemocratas e burgueses participaram, mas caracteristicamente, a linha geral de seus líderes era desestimular a militância das forças de resistência, com base na noção de que as represálias selvagens dos alemães retirariam o apoio popular à resistência – o que foi uma ilusão. Os comunistas, por outro lado, colocavam-se por uma política combativa, sem a qual todo o movimento de resistência não teria valor como força militar, uma política que as massas operárias e camponesas apoiavam. O Comintern e os partidos comunistas deram uma forte liderança ao movimento guerrilheiro. Caracteristicamente, no manifesto do Primeiro de Maio de 1942, a Internacional Comunista declarou: “Os trabalhadores dos países ocupados por Hitler afirmarão sua determinação em cumprir seu dever proletário e nacional. Todas as energias e habilidades serão dirigidas para interromper a produção de guerra e o transporte de suprimentos militares para os inimigos. Por meios diversionistas, incluindo incêndios e explosões, eles destruirão as máquinas e equipamentos a serviço dos invasores.” Partidos comunistas e ligas das juventudes comunistas levavam a cabo tal política de forma vigorosa. Quanto aos partidos da II Internacional, eles praticamente desapareceram nos países ocupados. A resistência, ou movimento guerrilheiro, além de cumprir um tremendo papel na derrota militar das potências do Eixo, também tiveram muito a ver com as revoluções nacionais no final da guerra e na conformação da situação política do período pós-guerra. É o que veremos posteriormente. 1. Partisans russos O povo russo possui uma longa e rica tradição de ação guerrilheira na resistência às tiranias. Durante os últimos séculos, houve muitos levantes camponeses contra os czares brutais, e estes levantes sempre assumiam o caráter de movimentos guerrilheiros. Napoleão, em sua terrível marcha para Moscou, em 1812, foi também duramente golpeado pelas guerrilhas russas. Durante a guerra civil de 1918-1921, a guerra de guerrilheiras assumiu uma dimensão generalizada. Assim, durante a invasão de Hitler de 1941, o povo soviético possuía uma imensa experiência guerrilheira para guiá-lo. A chamada de Stálin para a ação guerrilheira e a política de “terra arrasada” deu enorme ímpeto para tal forma de luta por toda a Europa. Estimulou especialmente o crescimento de poderosos movimentos partisans nos Estados Bálticos e nos Bálcãs, bem como na URSS. O amplo movimento partisan não se desenvolveu na URSS apenas espontaneamente, ao contrário, foi tremendamente organizado. Tudo foi preparado: homens, mulheres e jovens, suas armas, treinamento e moral. As forças guerrilheiras eram integradas com o Exército Vermelho. A guerra partisan era também parte constitutiva da grande estratégia político-militar de Stálin que venceu a guerra e salvou o mundo do fascismo, o que incluía a concepção de “guerra profunda”, que consistia no combate conduzido pelo Exército Vermelho na zona do front; o Exército Guerrilheiro, por sua vez, espalha a guerra de guerrilhas para toda a retaguarda alemã; o povo em armas, por sua vez, impede os alemães de penetrarem na retaguarda soviética. O sistema de coletivização agrícola foi especificamente adaptado ao desenvolvimento da guerra de guerrilhas, com cada fazenda se tornando um centro da resistência patriótica. O espírito de ação unificada, inerente a toda a ordem social soviética, foi outra forte contribuição à poderosa organização da guerrilha. O capitalismo não poderia desenvolver defesa tão sólida e experimentada. Os corpos guerrilheiros, que frequentemente incluíam destacamentos do Exército Vermelho separados das forças principais, controlavam de fato imensos territórios por trás da retaguarda alemã. Assim, em 1942, havia um território de 3 mil quilômetros quadrados, próximo a Leningrado, ocupado, controlado e administrado pelas guerrilhas, que enviavam suprimentos pelas linhas alemãs para a cidade beligerante e sitiada. Semelhantes “ilhas” controladas pela guerrilha existiam em muitas outras partes do país, que se encontrava ocupado pelos alemães. As guerrilheiras destruíam sistematicamente ferrovias, estradas, pontes, linhas telegráficas e telefônicas, etc. Eram necessários destacamentos inteiros de tropas alemãs para realizar trabalhos de reparação, com os pequenos destacamentos sendo aniquilados enquanto faziam tais trabalhos. Pat Sloan, economista inglês, assim descreve como as cooperativas agrícolas aplicavam a política de “terra arrasada”: “As trabalhadoras leiteiras da cooperativa agrícola conduziam as vacas para as lavouras de milho e destruí-las. As mulheres cortavam os pés de milho com foices, e tratores eram usados para jogá-los ao chão. Porcos eram abatidos e colocados nas proximidades dos regimentos do Exército Vermelho. Os chiqueiros e estábulos eram demolidos. Os melhores cavalos eram levados para os bosques para serem usados por combatentes guerrilheiros. Os maquinários agrícolas eram destruídos, as represas e cisternas esvaziadas, e uma refinaria local de açúcar foi inutilizada.” Os partisans causaram um imenso dano ao inimigo fascista. Num curso de dez meses, os guerrilheiros da região de Leningrado aniquilaram cerca de 21 mil soldados e oficiais alemães e destruíram 117 tanques leves e pesados, 25 carros blindados, 91 aviões, mais de 100 tanques de combustível, e mais de 2 mil caminhões. De acordo com informes de apenas 28 unidades da região de Smolensk, os guerrilheiros executaram 15,8 mil soldados, oficiais, espiões alemães, bem como traidores, e destruíram 27 aviões, 34 tanques, capturando enorme quantidade de materiais de guerra. É estimado também que, apenas na Bielorrússia, os guerrilheiros executaram cerca de 150 mil alemães. Multipliquemos tais dados pelos muitos fronts e teremos alguma ideia do imenso dano causado pelas guerrilhas. O dano psicológico causado pelos combatentes guerrilheiros não foi menos importante que os danos físicos. Lucien Zachkaroff, autor de “The Voice of Fighting Russia,” diz: “Os partisans causam tamanho terror aos corações nazistas que o inimigo teme acampar pela noite nos limites das aldeias, bem como passar a noite fora delas.” Numa carta escrita por um oficial alemão capturado, lê-se: “Malditos! Nunca passei por nada antes como isso na vida. Não consigo lutar contra fantasmas na floresta. Enquanto escrevo esta carta, observo o pôr do sol com medo e temor. É melhor não pensar. A noite está chegando, e sinto que em meio à escuridão, as sombras se movem silenciosamente. Um horror sem tamanho atravessa meu coração.” Um dos grupos partisans mais famosos, liderado por um idoso, era chamado de “Unidade do Vovô.” Os alemães, por sua vez, recorriam às medidas mais ferozes para reprimir os guerrilheiros. Se capturassem um combatente guerrilheiro numa aldeia, frequentemente incendiavam-na toda. Frequentemente, levavam metade dos habitantes de uma aldeia como refém e os metralhavam nas valas. O reino de terror que prevaleceu nos distritos soviéticos temporariamente ocupados pelos fascistas foi sem precedentes na História. Este terror, porém, não conseguiu quebrar o espírito de aço do povo soviético, como se fez ver na amplitude da ação partisan. Hitler subestimou grosseiramente a força de todas as etapas da “guerra profunda” do povo soviético – o poder de combate sem precedentes do Exército Vermelho, a esplêndida organização de retaguardas, de apoio ao esforço de guerra, e a magnífica capacidade de combate dos guerrilheiros. Hitler quebrou seu pescoço na rocha sólida de um sistema social que, seja no campo da produção, da liberdade humana ou da ação militar, era incomparavelmente superior ao decadente sistema capitalista, do qual ele era o representante mais notório. 2. Guerrilhas na China Em nenhum país as guerrilhas foram uma força mais decisiva que na China Popular. Foi uma forma de guerra altamente adaptável às condições prevalentes no país. Mao Tsé-Tung diz: “O que é a guerra de guerrilhas? Num país atrasado, num grande país semicolonial, será a forma mais duradoura e indispensável de luta conduzida pelas forças armadas populares para superar o inimigo armado e criar sua própria fortaleza.” O povo chinês fez uso desta arma natural para desarmar seus inimigos. Desde o período da traição de Chiang Kai-Shek em 1927, que resultou na guerra civil, o Partido Comunista pôde manter forças guerrilheiras em operação de forma duradoura. Nos anos seguintes, estas forças tomariam proporções imensas e se tornariam uma ameaça aos invasores japoneses, algo com o qual os reacionários de Chiang não conseguiriam lidar. Em 1938, Chu De, líder militar as forças populares, declarou que: “Há milhões de galantes e testados combatentes chineses nas fileiras dos destacamentos guerrilheiros.” Ao longo de décadas de luta guerrilheira, o povo revolucionário chinês, dirigido pelo Partido Comunista, pôde controlar imensas áreas territoriais e manter um exército organizado em operação. Estas foram as bases da qual emergiu um imenso sistema guerrilheiro. Houve também movimentos guerrilheiros anti-japoneses, embora menores e de menor importância, nas Filipinas, Burma, Indochina, Indonésia e outros países do Extremo Oriente. As guerrilhas eram compostas principalmente por camponeses, e eles eram a expressão armada direta da revolução agrária. Havia também muitos operários e outros elementos nestas unidades. Chu De diz que: “O povo chinês, independentemente de sua origem social, luta nas fileiras dos destacamentos guerrilheiros.” A juventude foi da importância mais vital nestas heroicas formações. Nas atividades guerrilheiras, e em muitas outras etapas da revolução, a Liga Juventude Comunista cobriu-se de glória. As mulheres e idosos também cumpriram papeis muito importantes. As guerrilhas chinesas eram também uma importantíssima força econômica, política e militar. Ao mesmo tempo em que fustigavam o inimigo, ajudavam também os camponeses locais, que eram seus irmãos, amigos e vizinhos, a cultivar e colher as lavouras; trabalhavam, também, como efetivos propagandistas, e tomavam parte ativa na organização política das localidades. Foram, de forma geral, uma grande escola para o desenvolvimento da liderança revolucionária, principalmente entre o campesinato.

Acima de tudo, as guerrilhas eram um exército popular. Toda sua efetividade dependeu da vontade das amplas massas do povo, e no caso chinês, especialmente do campesinato. As formações guerrilheiras eram parte da própria estrutura da vida do povo. Chen Lin diz que: “Antes de instalarem seus homens nas casas dos habitantes locais, os comandantes sempre requisitam seu consenso. Se qualquer propriedade é danificada [...], os proprietários são indenizados em dinheiro. [...] Durante os confrontos, a população local ajuda a transportar os feridos e os recursos capturados.” Tal cooperação, do maior valor militar, era o coração do sistema guerrilheiro, e jamais poderia ser conformada por imperialistas estrangeiros ou reacionários locais. Longe de serem grupos dispersantes, as guerrilhas populares na China eram altamente disciplinadas e organizadas. Mao Tsé-Tung, por exemplo, recorda que: “as unidades guerrilheiras do Exército Vermelho deixadas para trás, ao longo Rio Yang-Tsé, foram reorganizadas e nomeados Novo Quarto Exército do Exército Nacional Revolucionário.” A partir destas unidades guerrilheiras, desenvolveram-se formações regulares do Exército Vermelho. Mao assim descreve este processo nas localidades, ao chamar pela “rápida expansão das forças armadas populares, através do desenvolvimento, nesta ordem, das Guardas Vermelhas ao nível de aldeia, e então as Guardas Vermelhas de distrito. Posteriormente, as Guardas Vermelhas municipais, as Guardas Vermelhas Locais, e em seguida, o Exército Vermelho regular.” A China Popular foi o país clássico da ação guerrilheira, com tais formações se desenvolvendo sistematicamente num exército revolucionário grande e solidamente organizado. Os exércitos regulares dos japoneses e de Chiang Kai-Shek, mesmo com seus equipamentos militares muito superiores, não puderam lidar com as guerrilhas revolucionárias que se encontravam em suas retaguardas. Com sua imensa mobilidade, estas forças, armando-se por meio da tomada de armas do inimigo, evitando confrontos diretos, e atacando subitamente à noite, causaram danos incalculáveis ao destruírem pequenos destacamentos militares, varrendo linhas de transporte, sabotando indústrias, etc. Chu De diz que: “A guerra de guerrilhas rebaixa o espírito de luta dos soldados inimigos, dando assim enorme ajuda a nosso exército regular. Numa guerra de movimentos, os destacamentos guerrilheiros fornecem as mais importantes condições para a vitória do exército regular.” Isso foi amplamente demonstrado na China.

Durante a grande incursão japonesa, principalmente de 1931 a 1945, os invasores foram completamente incapazes de controlar as áreas imensas que ocupavam com seus exércitos. Embora tenham conseguido controlar as ferrovias e os principais centros populacionais, as vastas áreas rurais eram mais ou menos dominadas pelas guerrilhas. Isso foi uma imensa dificuldade para os japoneses, representando uma imensa perda de homens e, mais desastrosamente ainda, impediu os exércitos invasores de saírem do país. Chiang, na longa guerra civil de 1927 a 1935, passou pela mesma experiência. Durante o período da última guerra civil, contudo, de 1945 a 1950, os exércitos populares, imensos, bem organizados e armados com os equipamentos americanos tirados das tropas de Chiang, puderam capturar até mesmo as maiores cidades, e o fizeram. Tanto Chiang quanto os japoneses combateram as guerrilhas por meio de métodos terroristas extremos, torturando e matando camponeses indiscriminadamente, e incendiando suas aldeias. Mas este terror falhou em seu propósito, pois o espírito revolucionário derrotou o massacre. A enorme difusão do movimento guerrilheiro e sua importância decisiva na vitória completa sobre os invasores japoneses e os reacionários de Chiang Kai expressaram a bravura dos inumeráveis heróis camponeses. 3. Partisans na Europa Central e Oriental Na Europa Oriental, onde a influência do Exército Vermelho era particularmente forte e o papel dirigente dos partidos comunistas era mais acentuado, os movimentos partisans foram vigorosos, amplos e eficientes. Isso incluiu a Grécia, Iugoslávia, Polônia, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia, Hungria e os Estados Bálticos. De forma geral, estes movimentos se desenvolveram logo no início da guerra, e tornaram-se também forças vitais na série de revoluções que acompanhou a posterior libertação de toda a região pelo Exército Vermelho. Tais movimentos foram apoiados ativamente pelo combativo governo soviético, e em menor nível, pelos governos capitalistas ocidentais. Os movimentos de resistência foram formados com base numa ampla frente nacional, com os comunistas, em todas as instâncias, assumindo posições dirigentes no estabelecimento de organizações e nos próprios campos de batalha. A movimento de resistência grego foi típico em sua formação, conformando os partidos Agrário; Socialista, e Comunista; a União da Democracia Popular; a Juventude Liberal; Confederação Sindical Geral do Trabalho; várias organizações femininas; a Organização da Juventude Pan-Helênica; mais alguns bispos, e até mesmo outrora monarquistas. A organização iugoslava era também composta pelos partidos comunista, esloveno, socialista-cristão, socialdemocrata, camponês e croata-camponês, sindicatos, sokols (grupos esportivos juvenis), e pela esquerda do Partido Democrata Sérvio e do Partido Agrário Sérvio. Onde quer que houvesse elementos trotskistas, estes sempre cumpriam um papel disruptivo. Geralmente, os programas dos movimentos de resistência possuíam um caráter amplo, antifascista e de frente única. O programa iugoslavo era típico, propondo: “A libertação do país das forças de ocupação, a conquista da independência, dos direitos verdadeiramente democráticos e das liberdades para todos os povos da Iugoslávia. [...] Todas as importantes medidas na vida social e nas organizações do Estado serão decididas após a guerra por representantes verdadeira e livremente eleitos pelo povo. [...] O Movimento de Libertação do Povo concorda com o completo reconhecimento dos direitos nacionais da Croácia, Eslovênia, Sérvia, bem como da Macedônia e outras nações.” Os movimentos guerrilheiros na Europa Oriental causaram grandes danos às potências do Eixo e seus agentes de Quisling. [1] Na Bulgária, por exemplo, um informe da polícia do mês de junho de 1944 mostra 82 casos de sabotagem e 415 ataques armados por parte das forças partisans. Na Polônia, Hungria e Romênia, os guerrilheiros controlaram imensas extensões dos territórios dos países e tomaram a atenção das divisões alemãs e italianas. Na Iugoslávia, o movimento partisan, controlando a maior parte do país, aniquilou cerca de 20 divisões alemãs, e o movimento nacional grego, que derrotou o exército de Mussolini e destruiu a Wehrmacht, ocupava três quintos do território do país quando o exército britânico entrou na Grécia durante o final da guerra. Na Tchecoslováquia, houve grandes atividades clandestinas durante a guerra, a despeito do terror nazista. Isso também ocorreu na Áustria, onde havia a ampla Frente pela Liberdade. Mesmo na própria Alemanha, havia uma atividade clandestina anti-hitlerista muito maior do que realmente se conhece. Allen Dulles, funcionário do governo dos Estados Unidos na Europa, informou em 1944: “Há na Alemanha um Comitê Central comunista que dirige e coordena atividades comunistas na Alemanha. Este Comitê possui contatos com o Comitê por uma Alemanha Livre em Moscou, e recebe apoio do governo russo. Seu poder é bastante fortalecido pela presença de milhões de prisioneiros de guerra e trabalhadores russos. [...] A guinada à extrema esquerda assumiu proporções imensas e ganha força pouco a pouco.” Em todos esses países, contudo, a influência socialdemocrata de direita foi um forte empecilho para a atividade guerrilheira militante. 4. Movimentos de resistência na Europa Ocidental Todos os países da Europa Ocidental ocupados por forças fascistas tiveram movimentos de resistência mais ou menos desenvolvidos – Noruega, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Espanha, Itália e França. O caráter político de mais movimentos era amplo, incluindo comunistas, socialistas, liberais, católicos e outros grupos, principalmente juvenis. Muitos elementos socialdemocratas e burgueses, observando os desenvolvimentos políticos futuros, uniram-se aos movimentos de resistência, e sua influência tendia a matar a rebaixar a ação militante. Foi então característico que nos contingentes mais combativos e no verdadeiro trabalho guerrilheiro os comunistas assumissem um papel de liderança. Isso explica por que o anticomunista Borkenau teve de dizer que, na França, os comunistas “assumiram o controle efetivo da maior parte das forças militares da resistência.” Os governos aliados capitalistas reconheceram a legitimidade da guerra de guerrilhas e a encorajaram, fornecendo certo apoio em armas e fundos. Os governos em exílio, reunidos em Londres, fizeram esforços enérgicos para controlar os movimentos de resistência de seus respectivos países. Na Itália, por mais de vinte anos, o Partido Comunista lutou heroicamente contra o regime fascista. Nesta dura luta, pereceu Antonio Gramsci, líder do partido, e vários outros. De cerca de 140 mil presos políticos sentenciados pelos tribunais de Mussolini, 85% eram comunistas. A luta antifascista se baseou numa forte cooperação entre os partidos socialista e comunista desde seu acordo de 1934. A luta foi muito fortalecida pela entrada da URSS na Segunda Guerra Mundial. Uma ampla frente nacional antifascista foi estabelecida em dezembro de 1942, e o Comitê Nacional de Libertação foi formado em setembro de 1943, que abrangia os partidos comunista, socialista, democrata-cristão, ativista, liberal e democrático-trabalhista, e buscava fortalecer o movimento clandestino. O Vaticano esteve presente em ambos os lados: ao mesmo tempo em que apoiava vigorosamente o regime de Mussolini, também filiou seu Partido Democrata-Cristão à frente nacional por conta da pressão das massas católicas. Em março de 1943, os operários de Milão, Turim e outras cidades do norte iniciaram uma greve geral, que mobilizou 3 milhões de trabalhadores, e entre 24 e 25 de abril, o movimento culminou numa insurreição geral em todo o norte da Itália. Em julho do mesmo ano, Mussolini foi forçado a renunciar, e em 28 de abril de 1945, no Lago de Como, os operários enforcaram ele e sua amante publicamente. Na derrota militar da Itália fascista, o movimento de resistência teve importância decisiva. Na França, com um Partido Comunista também forte e bem dirigido, o movimento de resistência era correspondentemente forte e agressivo. Desde o início da guerra, o movimento clandestino conduziu greves (em maio de 1941, 120 mil mineiros de Pas de Calais pararam o trabalho) e foi ativo em desacelerar e sabotar a produção de munições, os transportes e comunicações dos nazistas. Também buscou golpear os traidores de Vichy. [2] Todas essas atividades foram fortalecidas com a mudança do caráter da guerra devido à entrada da União Soviética nela em junho de 1941. Os comunistas foram os iniciadores do movimento de resistência francês. Durante a grave crise de guerra, despontaram como verdadeiros líderes da nação francesa. Em maio de 1941, o Partido Comunista fez sua primeira chamada pela formação de uma frente nacional para lutar pela independência do país. Em março de 1943, treze grupos clandestinos, que incluíam comunistas e gaullistas [3], fizeram um chamado semelhante, e em março de 1944, foi fundado o Conselho Nacional de Resistência (CNR), composto pelos partidos comunista, socialista, socialista-radical, Aliança Radical e Federação Republicana, pela Confederação Geral do Trabalho, sindicatos cristãos, grupos armados partisans, e claro, por organizações juvenis. O programa geral da CNR propunha a “libertação de nossa pátria, em forte cooperação com as operações militares conduzidas pelos exércitos patrióticos franceses e aliados.” Os comunistas chamaram por uma política de ação militante, pois apenas ela poderia realmente golpear os nazistas. Os líderes gaullistas e socialdemocratas, porém, preocupados muito mais em controlar politicamente o movimento de resistência que em arriscar suas vidas combatendo os fascistas, rebaixaram toda a militância, argumentando que ela provocaria sérias represálias. A política destes grupos era a da passividade, de apenas organizar as expectativas e esperar pelo “grande dia” da vitória que chegaria num futuro vago. As represálias nazistas eram terríveis, de fato, com o próprio Partido Comunista tendo 75 mil militantes seus assassinados pelos nazistas durante a ocupação. Mas o espírito combativo do movimento de resistência se manteria mesmo diante deste terrorismo. A primeira guerra de guerrilhas aberta na França se desenvolveu em Savoy, sendo logo seguida pelas guerrilhas do Maciço Central e dos Pireneus. Tais guerrilhas ficaram conhecidas como os famosos “maquis,” organizados na “Francs-Tireurs-Partisans,” dirigida pelos comunistas. No início de 1944, havia cerca de 30 mil guerrilheiros maquis em operação. Este movimento teve uma grande importância para as forças de resistência. O general Eisenhower declarou que o movimento de resistência francês equivalia a quinze divisões, mas outros estimavam um número duas vezes maior que esse. Em setembro de 1944, havia 500 mil guerrilheiros armados na resistência. O movimento inteiro, que incluía grande número de mulheres, era orientado para a derrubada do fascismo. Assim, não é exagero dizer que, durante a batalha final contra os nazistas, Paris tenha sido libertada principalmente por suas próprias forças de resistência.

Notas [1] O autor se refere a Vidkun Quisling, fantoche norueguês a serviço das potências fascistas que ocupara os países da região e reprimira seus respectivos povos. (Nota do tradutor) [2] Durante a ocupação nazista na França, Vichy era de fato a sede do governo francês, títere da Alemanha. (Nota do tradutor) [3] Partidários do general nacionalista francês De Gaulle. (Nota do tradutor)

Excerto da obra de William Z. Foster, "History of the Three Internationals: The World Socialist and Communist Movements from 1848 to the Present" que em breve será publicada pelo selo Edições Nova Cultura

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