"As forças guerrilheiras na Segunda Guerra Mundial"

Entre os fatores mais básicos para a vitória na Segunda Guerra Mundial, estiveram as guerrilhas, ou forças armadas semirregulares. Estas eram conhecidas na Europa e na Ásia como “a resistência,” como “partisans” ou simplesmente “guerrilheiros.” As guerrilhas tiveram um imenso papel para inspirar os povos e golpear as tropas regulares inimigas. Elas operavam em áreas ocupadas e semi-ocupadas. Em novembro de 1870, Engels apontou o significado e a importância deste tipo de guerra popular, que estava sendo então conduzida pelas massas na França derrotada, contra a Alemanha vitoriosa. Ele apontou que: “Desde a Guerra de Independência Americana à Guerra Civil Americana, na Europa como na América, a participação da população na guerra não foi a exceção, mas a regra.” Engels descreveu as selvagens represálias feitas contra as guerrilhas pelos prussianos, mas apontou também que, ainda assim, “os ingleses na América, os franceses sob Napoleão na Espanha, os austríacos de 1848 na Itália e na Hungria, foram logo compelidos a tratar a resistência popular como uma forma de guerra perfeitamente legítima.” Na Segunda Guerra Mundial, porém, os fascistas bárbaros da Alemanha, Itália e Japão tratavam os guerrilheiros capturados quase sempre como bandidos e foras da lei. Não houve guerra na qual os guerrilheiros operaram de forma tão ampla, sistemática e vitoriosa como a Segunda Guerra Mundial. Suas atividades se estenderam da França, no Ocidente, à China, no Oriente. As guerrilhas, frequentemente, mas nem sempre, trabalhavam em cooperação organizada com tropas regulares. Este desenvolvimento extensivo da resistência, marcado pelo movimento guerrilheiro, indicava o caráter progressista e popular da guerra. Dando-se conta desde o início da importância fundamental da ação armada das próprias massas, Stálin, em 3 de julho de 1941, apenas onze dias após o início da invasão alemã na URSS, fez um chamado pela organização de forças guerrilheiras em todos os lugares. Disse ele: “Nas áreas ocupadas pelo inimigo, as unidades guerrilheiras, montadas e a pé, devem ser formadas. Grupos diversionistas devem ser organizados para combater as tropas inimigas, fomentar a guerra de guerrilhas, explodir pontes e estradas, danificar linhas telegráficas e telefônicas, incendiar florestas, lojas e transportes. Nas regiões ocupadas, deve-se impor condições insuportáveis para o inimigo e todos os seus cúmplices. Eles devem ser sondados e aniquilados passo a passo, e todas as suas manobras devem ser frustradas.” Posteriormente, até mesmo as forças militares ocidentais burguesas lançariam mão de forças guerrilheiras. Em todo o cenário da grande guerra, a política guerrilheira militante, que requeria força e coragem, foi aplicada pelas massas dos povos. Neste perigoso trabalho, é uma questão de recordação histórica lembrar que os comunistas eram, em quase todos os lugares, líderes guerrilheiros. Era uma situação que acentuava completamente a bravura, organização e disciplina naturais dos comunistas, sua devoção à causa e ódio ao inimigo capitalista. Na organização das forças guerrilheiras, nas cidades ou nos campos, a ampla experiência dos comunistas no desenvolvimento de uma vida política clandestina foi de enorme valor para evitar perseguições policiais. Geralmente, a resistência era organizada com base numa frente única nacional, sendo elegíveis todos aqueles dispostos a lutar contra o fascismo. Foi mais uma vez a aplicação da tática básica da frente popular antifascista desenvolvida no sétimo congresso do Comintern. Muitos elementos socialdemocratas e burgueses participaram, mas caracteristicamente, a linha geral de seus líderes era desestimular a militância das forças de resistência, com base na noção de que as represálias selvagens dos alemães retirariam o apoio popular à resistência – o que foi uma ilusão. Os comunistas, por outro lado, colocavam-se por uma política combativa, sem a qual todo o movimento de resistência não teria valor como força militar, uma política que as massas operárias e camponesas apoiavam. O Comintern e os partidos comunistas deram uma forte liderança ao movimento guerrilheiro. Caracteristicamente, no manifesto do Primeiro de Maio de 1942, a Internacional Comunista declarou: “Os trabalhadores dos países ocupados por Hitler afirmarão sua determinação em cumprir seu dever proletário e nacional. Todas as energias e habilidades serão dirigidas para interromper a produção de guerra e o transporte de suprimentos militares para os inimigos. Por meios diversionistas, incluindo incêndios e explosões, eles destruirão as máquinas e equipamentos a serviço dos invasores.” Partidos comunistas e ligas das juventudes comunistas levavam a cabo tal política de forma vigorosa. Quanto aos partidos da II Internacional, eles praticamente desapareceram nos países ocupados. A resistência, ou movimento guerrilheiro, além de cumprir um tremendo papel na derrota militar das potências do Eixo, também tiveram muito a ver com as revoluções nacionais no final da guerra e na conformação da situação política do período pós-guerra. É o que veremos posteriormente. 1. Partisans russos O povo russo possui uma longa e rica tradição de ação guerrilheira na resistência às tiranias. Durante os últimos séculos, houve muitos levantes camponeses contra os czares brutais, e estes levantes sempre assumiam o caráter de movimentos guerrilheiros. Napoleão, em sua terrível marcha para Moscou, em 1812, foi também duramente golpeado pelas guerrilhas russas. Durante a guerra civil de 1918-1921, a guerra de guerrilheiras assumiu uma dimensão generalizada. Assim, durante a invasão de Hitler de 1941, o povo soviético possuía uma imensa experiência guerrilheira para guiá-lo. A chamada de Stálin para a ação guerrilheira e a política de “terra arrasada” deu enorme ímpeto para tal forma de luta por toda a Europa. Estimulou especialmente o crescimento de poderosos movimentos partisans nos Estados Bálticos e nos Bálcãs, bem como na URSS. O amplo movimento partisan não se desenvolveu na URSS apenas espontaneamente, ao contrário, foi tremendamente organizado. Tudo foi preparado: homens, mulheres e jovens, suas armas, treinamento e moral. As forças guerrilheiras eram integradas com o Exército Vermelho. A guerra partisan era também parte constitutiva da grande estratégia político-militar de Stálin que venceu a guerra e salvou o mundo do fascismo, o que incluía a concepção de “guerra profunda”, que consistia no combate conduzido pelo Exército Vermelho na zona do front; o Exército Guerrilheiro, por sua vez, espalha a guerra de guerrilhas para toda a retaguarda alemã; o povo em armas, por sua vez, impede os alemães de penetrarem na retaguarda soviética. O sistema de coletivização agrícola foi especificamente adaptado ao desenvolvimento da guerra de guerrilhas, com cada fazenda se tornando um centro da resistência patriótica. O espírito de ação unificada, inerente a toda a ordem social soviética, foi outra forte contribuição à poderosa organização da guerrilha. O capitalismo não poderia desenvolver defesa tão sólida e experimentada. Os corpos guerrilheiros, que frequentemente incluíam destacamentos do Exército Vermelho separados das forças principais, controlavam de fato imensos territórios por trás da retaguarda alemã. Assim, em 1942, havia um território de 3 mil quilômetros quadrados, próximo a Leningrado, ocupado, controlado e administrado pelas guerrilhas, que enviavam suprimentos pelas linhas alemãs para a cidade beligerante e sitiada. Semelhantes “ilhas” controladas pela guerrilha existiam em muitas outras partes do país, que se encontrava ocupado pelos alemães. As guerrilheiras destruíam sistematicamente ferrovias, estradas, pontes, linhas telegráficas e telefônicas, etc. Eram necessários destacamentos inteiros de tropas alemãs para realizar trabalhos de reparação, com os pequenos destacamentos sendo aniquilados enquanto faziam tais trabalhos. Pat Sloan, economista inglês, assim descreve como as cooperativas agrícolas aplicavam a política de “terra arrasada”: “As trabalhadoras leiteiras da cooperativa agrícola conduziam as vacas para as lavouras de milho e destruí-las. As mulheres cortavam os pés de milho com foices, e tratores eram usados para jogá-los ao chão. Porcos eram abatidos e colocados nas proximidades dos regimentos do Exército Vermelho. Os chiqueiros e estábulos eram demolidos. Os melhores cavalos eram levados para os bosques para serem usados por combatentes guerrilheiros. Os maquinários agrícolas eram destruídos, as represas e cisternas esvaziadas, e uma refinaria local de açúcar foi inutilizada.” Os partisans causaram um imenso dano ao inimigo fascista. Num curso de dez meses, os guerrilheiros da região de Leningrado aniquilaram cerca de 21 mil soldados e oficiais alemães e destruíram 117 tanques leves e pesados, 25 carros blindados, 91 aviões, mais de 100 tanques de combustível, e mais de 2 mil caminhões. De acordo com informes de apenas 28 unidades da região de Smolensk, os guerrilheiros executaram 15,8 mil soldados, oficiais, espiões alemães, bem como traidores, e destruíram 27 aviões, 34 tanques, capturando enorme quantidade de materiais de guerra. É estimado também que, apenas na Bielorrússia, os guerrilheiros executaram cerca de 150 mil alemães. Multipliquemos tais dados pelos muitos fronts e teremos alguma ideia do imenso dano causado pelas guerrilhas. O dano psicológico causado pelos combatentes guerrilheiros não foi menos importante que os danos físicos. Lucien Zachkaroff, autor de “The Voice of Fighting Russia,” diz: “Os partisans causam tamanho terror aos corações nazistas que o inimigo teme acampar pela noite nos limites das aldeias, bem como passar a noite fora delas.” Numa carta escrita por um oficial alemão capturado, lê-se: “Malditos! Nunca passei por nada antes como isso na vida. Não consigo lutar contra fantasmas na floresta. Enquanto escrevo esta carta, observo o pôr do sol com medo e temor. É melhor não pensar. A noite está chegando, e sinto que em meio à escuridão, as sombras se movem silenciosamente. Um horror sem tamanho atravessa meu coração.” Um dos grupos partisans mais famosos, liderado por um idoso, era chamado de “Unidade do Vovô.” Os alemães, por sua vez, recorriam às medidas mais ferozes para reprimir os guerrilheiros. Se capturassem um combatente guerrilheiro numa aldeia, frequentemente incendiavam-na toda. Frequentemente, levavam metade dos habitantes de uma aldeia como refém e os metralhavam nas valas. O reino de terror que prevaleceu nos distritos soviéticos temporariamente ocupados pelos fascistas foi sem precedentes na História. Este terror, porém, não conseguiu quebrar o espírito de aço do povo soviético, como se fez ver na amplitude da ação partisan. Hitler subestimou grosseiramente a força de todas as etapas da “guerra profunda” do povo soviético – o poder de combate sem precedentes do Exército Vermelho, a esplêndida organização de retaguardas, de apoio ao esforço de guerra, e a magnífica capacidade de combate dos guerrilheiros. Hitler quebrou seu pescoço na rocha sólida de um sistema social que, seja no campo da produção, da liberdade humana ou da ação militar, era incomparavelmente superior ao decadente sistema capitalista, do qual ele era o representante mais notório. 2. Guerrilhas na China Em nenhum país as guerrilhas foram uma força mais decisiva que na China Popular. Foi uma forma de guerra altamente adaptável às condições prevalentes no país. Mao Tsé-Tung diz: “O que é a guerra de guerrilhas? Num país atrasado, num grande país semicolonial, será a forma mais duradoura e indispensável de luta conduzida pelas forças armadas populares para superar o inimigo armado e criar sua própria fortaleza.” O povo chinês fez uso desta arma natural para desarmar seus inimigos. Desde o período da traição de Chiang Kai-Shek em 1927, que resultou na guerra civil, o Partido Comunista pôde manter forças guerrilheiras em operação de forma duradoura. Nos anos seguintes, estas forças tomariam proporções imensas e se tornariam uma ameaça aos invasores japoneses, algo com o qual os reacionários de Chiang não conseguiriam lidar. Em 1938, Chu De, líder militar as forças populares, declarou que: “Há milhões de galantes e testados combatentes chineses nas fileiras dos