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Morre compositor brasileiro Aldir Blanc aos 73 anos


O compositor partiu na madrugada desta segunda feira (04), no Rio de Janeiro, aos 73 anos de idade. Estava com Covid-19.

Aldir Blanc Mendes nasceu em 1946. Carioca, viveu a infância em Vila Isabel para depois se estabelecer na Tijuca.

O adjetivo genial talvez ainda seja pouco para descrever a obra de Blanc. O homem de grande quilate criativo fazia parecer fácil a arte de compor, bem como a de traduzir os contextos políticos em canções.

Ao lado de Maurício Tapajós, João Bosco, Claudio Tolomei e na voz de Elis Regina, MPB 4, Moacyr Luz e tantos outros, Blanc deu alento a um Brasil machucado pela ditadura militar de tipo fascista que vigorava nos anos de seu maior fôlego produtivo.

Sabemos que neste Brasil de pouca valorização do produto nacional, ao compositor que quase não interpreta, como era o caso de Blanc, são reservadas injustiças de várias ordens. Uma delas é o esquecimento. Blanc faleceu à míngua, com sua filha tendo que pedir ajuda financeira para amigos e fãs na internet nestes últimos meses de sua vida. Vítima de uma doença negligenciada pelos gerentes de turno do velho Estado. O mesmíssimo velho Estado que criticou durante toda a sua trajetória artística.

Acontece que a importância de sua obra é tamanha que, mesmo se a trancafiarmos a sete chaves, ela insistirá e avançará à força sobre nossas vidas, sobretudo por tua atualidade e correspondência com a realidade de um país semi-colonial reprimido pelas forças imperialistas.

Exprimia como poucos, através da arte, as pautas do campo democrático e popular à época da ditadura militar patrocinada pelos grandes burocratas capitalistas. Das épocas mais cruentas do regime ao abrandamento da "redemocratização", ele compôs e converteu sentimento político em letra e música. "O bêbado e a equilibrista" (um hino quando do período da anistia) e "O Mestre-Salas dos mares" (uma homenagem a um dos líderes da Revolta da Chibata, João Cândido Felisberto) marcaram este momento. Cria, porém, que mesmo após o suposto restabelecimento da "democracia", vivíamos sob uma "ditadura com luvas de pelica, fedendo a fezes", referindo-se, certamente, ao Estado burguês-latifundiário dissimulado na forma de democracia representativa.

Importava-se muito com a condição marginalizada dos compositores, assim como a dos músicos independentes, cocriando e/ou participando das Sociedade de Artistas e Compositores Independentes (Saci) e Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes (Amar).

Denunciava, através do jargão "Jabaculê", as estratégias dos departamentos de marketing das multinacionais do som de "subornar" os grandes meios de comunicação, fazendo-os dar preferência à este ou aquele artista em detrimento de outros de menor vendagem. [1]

Além da profícua parceria com Bosco, que cedeu à Elis Regina as suas canções de maior repercussão nacional, destacam-se as parceria de Blanc com Moacyr Luz, Guinga, Paulo Emílio e Maurício Tapajós. Suas armas, a tinta e a pena, trouxeram a lume o Brasil dos boias-frias, dos camponeses e de todo o conjunto do proletariado urbano. Ademais deu vida a sambas, lundus, maxixes, polcas, baiões e bossas, numa obra que representa um fidedigno "mapa" musical brasileiro.

Outras canções incontornáveis de tua autoria são "Carta de pedra", com Guinga; "Pianinho", com Edu Lobo; "Siameses", com João Bosco; "Na orelha do pandeiro", com Bororó e Lúcia Helena; "Vim sambar", com João Bosco e Cacaso; "Mastruço e catuaba", com Cláudio Cartier; "Nação"; "Querelas do Brasil"; "Saudades da Guanabara"; "Reencontro"; "Paris: de Santos Dumont aos Travestis" e tantas outras.

Os predicados que Dorival Caymmi o atribuiu, em 1996, quando da ocasião de seu aniversário de 50 anos, sintetizam bem sua eterna notabilidade:

"Aldir Blanc é compositor carioca. É poeta da vida, do amor, da cidade. É aquele que sabe como ninguém retratar o fato e o sonho. Traduz a malícia, a graça e a malandragem. Se sabe de ginga, sabe de samba no pé. Estamos falando do Ourives do Palavreado. Estamos falando de poesia verdadeira. Todo mundo é carioca, mas Aldir Blanc é carioca mesmo". [2]

NOTAS

[1] "Aldir Blanc à Carta Capital: Estamos vivendo uma diradura de luvas de pelica", de setembro de 2017. Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/aldir-blanc-a-cartacapital-estamos-vivendo-uma-ditadura-com-luvas-de-pelica/

[2] "Aldir Blanc" - Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em http://dicionariompb.com.br/aldir-blanc/dados-artisticos

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