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"A biologia soviética"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

I. A Biologia, base da agronomia

A biologia trata dos corpos vivos — plantas, animais, micro-organismos.

Uma base teórica em agronomia tem, portanto, que incluir o conhecimento das leis biológicas. E quanto mais profundamente a ciência da biologia revela as leis da vida e do desenvolvimento dos corpos vivos, mais eficiente é a ciência da agronomia.

Em suma, a ciência da agronomia é inseparável da biologia. Quando falamos da teoria da agronomia, referimo-nos às leis descobertas e compreendidas da vida e do desenvolvimento das plantas, dos animais e dos microrganismos.

O nível metodológico do conhecimento biológico, o estado da ciência que trata das leis da vida e do desenvolvimento das formas vegetais e animais, isto é, principalmente da ciência conhecida há meio século como genética, é de importância essencial para nossa ciência agrícola.

II. A história da biologia: uma história de controvérsias ideológicas

Aparecimento da doutrina de Darwin, exposta em seu livro A Origem das Espécies, marcou o início da biologia científica.

O ponto principal da doutrina de Darwin é sua teoria sobre a seleção natural e artificial. A seleção de variações favoráveis ao organismo produziu a objetividade que observamos na natureza viva, na estrutura dos organismos e em sua adaptação às suas condições de vida. A teoria da seleção de Darwinforneceu uma explicação racional de objetividade observada na natureza viva. Sua ideia da seleção é científica e verdadeira. Em substância, sua teoria sobre a seleção é um resumo das seculares experiências práticas dos criadores de plantas e animais que, muito tempo antes de Darwin, produziram espécies de plantas e raças de animais pelo método empírico.

Darwin investigou os numerosos espécimens obtidos por naturalistas na natureza viva e analisou-os através do prisma da experiência prática. A prática agrícola serviu a Darwin de base material para a elaboração de sua teoria sobre a Evolução, que explicou a causalidade da adaptação que observamos na estrutura do mundo orgânico. Isso representou um grande progresso no conhecimento da natureza viva.

Na opinião de Engels três grandes descobertas permitiram que o conhecimento humano da interconexão dos processos naturais progredisse de maneira fabulosa: primeiro a descoberta da célula; segundo a descoberta da transformação da energia; terceiro

"a prova, que foi Darwin o primeiro a desenvolver de maneira conexa, de que o conjunto de produtos orgânicos da natureza que hoje nos cercam, inclusive a espécie humana, é resultado de um longo processo de evolução de uns poucos germes unicelulares originais, e de que estes, por sua vez, se originaram do protoplasma ou albúmen que existiu por meios químicos".(1)

Os clássicos do marxismo, embora apreciassem toda a importância da teoria darwiniana, assinalaram os erros em que Darwin incorreu. A teoria de Darwin, embora inquestionavelmente materialista em seus principais aspectos, não está isenta de graves erros. Um dos erros principais, por exemplo, é o fato de que, paralelamente ao princípio materialista, Darwin introduziu em sua teoria da evolução reacionárias ideias malthusianas. Hoje em dia esse erro está sendo agravado pelos biologistas reacionários.

O próprio Darwin confessou que aceitava a teoria malthusiana. Em sua Autobiografia, escreveu ele:

"Em outubro de 1838, isto é, quinze meses depois que começara minhas pesquisas sistemáticas, li por acaso e como distração o "Ensaio sobre a teoria da população", de Malthus e, estando muito bem preparado para apreciar a luta pela existência, que em toda parte se trava conforme se evidenciava da longa e constante observação dos hábitos dos animais e das plantas, veio-me logo a ideia de que nessas circunstâncias as variações favoráveis tenderiam a ser preservadas e as desfavoráveis a ser destruídas. Havia, afinal, conseguido uma teoria sobre a qual poderia basear meu trabalho. (Grifo do autor).

Muita gente pode ainda acentuar o erro de Darwin transferindo para sua doutrina as absurdas e reacionárias ideias de Malthus sobre a população. O verdadeiro cientista não pode e não deve ignorar os aspectos errôneos da doutrina de Darwin.

Os biologistas devem sempre refletir sobre as seguintes palavras de Engels:

"Toda a doutrina darwiniana sobre a luta pela existência não faz senão transferir da sociedade para o reino da natureza viva a doutrina de Hobbes sobre bellum omnium contra omnes e a doutrina econômica burguesa sobre a concorrência, justamente com a teoria de Malthussobre a população. Depois dessa mistificação (cuja justificativa absoluta eu nego, principalmente no que diz respeito à teoria de Malthus) as mesmas teorias são novamente transferidas da natureza orgânica para a história, alegando-se então que ficou provado que elas têm a força de leis eternas da sociedade humana. A infantilidade desse procedimento é óbvio e não vale a pena gastar palavras com ele. Mas se eu tivesse que dispensar a esse assunto maior atenção, começaria por demonstrar que eles são antes de tudo, péssimos economistas e, só depois, péssimos naturalistas e filósofos".(2)

Para fazer propaganda de suas ideias reacionárias Malthus inventou uma suposta lei natural.

"A causa a que aludo", escreveu, "é a tendência constante em toda vida animada a crescer além do sustento que lhe foi preparado".(3)

Deve ser claro a todo darwinista progressista que, embora Darwin tenha aceito a teoria reacionária de Malthus, esta contradiz basicamente o princípio materialista de sua própria doutrina. O próprio Darwin, como pode ser facilmente notado, sendo como foi um grande naturalista, o fundador da biologia científica, cuja atividade assinala uma época na ciência, não podia satisfazer-se com a teoria malthusiana, que está, de fato e fundamentalmente, em contradição com os fenômenos da natureza viva.

Sob o peso da vasta quantidade de elementos biológicos que acumulou, Darwin sentiu-se forçado, em numerosos casos, a alterar radicalmente o conceito da "luta pela existência", a ampliá-la a ponto de declarar que era simplesmente uma figura de retórica.

O próprio Darwin, em sua época, foi incapaz de se libertar dos erros teóricos em que incorria. Foram os clássicos do marxismo que revelaram esses erros e que os denunciaram. Hoje não há justificativa para que sejam aceitos os aspectos errôneos da teoria darwiniana, os quais se baseiam na teoria de Malthus sobre a superpopulação, com a inferência de uma luta que presumivelmente se processaria dentro da espécie. Mais inadmissível ainda é apresentar esses aspectos errôneos como a pedra angular do darwinismo (como o fazem I. I. Schmalhausen, B. M. Zavadovsky e P. M. Zhukovsky). Essa interpretação da teoria de Darwinprejudica o desenvolvimento criador de sua essência científica.

Mesmo na ocasião em que a doutrina de Darwin apareceu pela primeira vez tornou-se logo claro que sua essência científica, materialista, sua doutrina relativa à evolução da natureza viva, era antagônica ao idealismo que imperava na biologia.

Os biologistas progressistas, tanto em nosso país como no estrangeiro, viram no darwinismo o único caminho certo para o futuro desenvolvimento da biologia científica. Consideraram sua tarefa defender o darwinismo contra os ataques dos reacionários, chefiados pela Igreja, e dos obscurantistas da ciência, como Bateson.

Biologistas eminentes como V. O. Kovalevsky, I. I. Mechnikov, V. M. Sechenov, e principalmente K. A, Timiryazev, defenderam e desenvolveram o darwinismocom toda a paixão de verdadeiros cientistas.

K. A, Timiryazev, esse grande pesquisador, percebeu distintamente que somente à base do darwinismo poderia a ciência da vida das plantas e dos animais desenvolver-se satisfatoriamente, que somente com o maior desenvolvimento do darwinismo, elevando-o a novas alturas, a ciência biológica conseguiria ajudar o lavrador do solo a obter duas espigas de milho onde hoje só cresce uma.

O darwinismo, como foi apresentado por Darwin, contradisse a filosofia idealista, e essa contradição aumentou com o desenvolvimento de sua doutrina materialista. Os biologistas reacionários têm feito, por isso, todo o possível para esvaziar o darwinismo de seus elementos materialistas. As vozes individuais de biologistas progressistas como K. A, Timiryazev foram afogadas pelo coro dos anti-darwinistas, dos biologistas reacionários de todo o mundo.

No período post-darwiniano a esmagadora maioria dos biologistas — longe de desenvolverem a doutrina de Darwin — fizeram todo o possível para desacreditar o darwinismo, para destruir seus fundamentos científicos. A mais evidente manifestação de descrédito do darwinismo é encontrada nas doutrinas de Weismann, Mendel e Morgan, os fundadores da mais recente genética reacionária.

III. Dois mundos — duas ideologias na biologia

O weismanismo, seguido pelo mendelismo-morganismo, que surgiu no começo deste século, foi dirigido principalmente contra os fundamentos materialistas da teoria da evolução de Darwin.

Weismann intitulou sua concepção de neodarwinismo, mas, de fato, era ela a completa negação dos aspectos materialistas do darwinismo. Introduzia na biologia o idealismo e a metafísica.

A teoria materialista da evolução da natureza viva compreende o reconhecimento da necessidade de transmissão hereditária de características individuais adquiridas pelo organismo nas condições de sua vida; ela é incompreensível sem o reconhecimento da hereditariedade de caracteres adquiridos. Weismann, entretanto, dispôs-se a refutar essa proposição materialista. Em suas Conferências Sobre a Teoria da Evolução, ele afirma que "não só não há provas de uma tal forma de hereditariedade, como é esta teoricamente inconcebível".(4)

Referindo-se a afirmações anteriores no mesmo teor, diz ele que "assim foi declarada a guerra ao princípio de Lamarck de efeito direto de uso e desuso e que, de fato, marcou o início da luta que prossegue hoje em dia, a luta entre os neolamarckianos e os neodarwinistas, como são chamadas as partes litigantes".

Weismann, como vemos, diz ter declarado guerra ao princípio de Lamarck; mas é fácil notar-se que ele declarou guerra a uma coisa sem a qual não pode haver teoria materialista da evolução, que sob o disfarce do "neo-darwinismo" ele declarou guerra aos fundamentos materialistas do darwinismo.

Weismann negou a hereditariedade dos caracteres adquiridos e elaborou a ideia de uma substância hereditária especial a ser procurada no núcleo.

"A procura do elemento portador da hereditariedade", declarou ele, "está contida na matéria do cromossoma".

Os cromossomas, disse, contêm unidades, cada uma das quais "dá origem a uma parte determinada do organismo em seu aparecimento e forma final".

Weismann afirma que há "duas grandes categorias de matérias vivas, a substância hereditária, ou idioplasma, e a "substância nutritiva", ou trofoplasma".

E prossegue declarando que os portadores da substância hereditária, "os cromossomas, representam uma espécie de mundo à parte", um mundo independente do organismo e de suas condições de vida.

Na opinião de Weismann, o ser vivo não é senão um terreno nutritivo para a substância hereditária que é imortal e nunca gerada uma segunda vez.

Afirma, assim, que "o plasma germinativo nunca é gerado uma segunda vez; apenas cresce e se multiplica continuamente, transmitido de geração em geração... Consideradas do ponto de vista apenas da propagação, as células germinativas são o elemento mais importante no indivíduo, pois que só elas preservam a espécie, enquanto o corpo reduz-se praticamente à condição de mero terreno gerador das células germinativas, local em que se formam e, em condições favoráveis, se alimentam, multiplicam e amadurecem".

O ser vivo e suas células, na opinião de Weismann, não são senão o receptáculo e meio nutritivo da substância hereditária; não podem, eles próprios, produzir nunca esta última, "não podem nunca produzir células germinativas".

Weismann dota pois, a fabulosa substância hereditária com a propriedade de existência contínua; é uma substância que não se desenvolve, ela própria, e que ao mesmo tempo dá origem ao desenvolvimento do corpo mortal.

Ainda mais:

"... a substância hereditária da célula germinativa, anterior à divisão por redução, contém potencialmente todos os elementos do corpo".

E embora Weismann declare que "no plasma germinativo não há determinantes de um "nariz adunco", como não há determinantes da asa de uma borboleta com todas suas partes e partículas", prossegue acentuando que, contudo, o plasma germinativo "...contém um certo número de determinantes que dão origem sucessivamente ao desenvolvimento de todo um grupo de células em todas as suas fases, levando à formação do nariz de maneira a resultar num nariz adunco, exatamente como a asa de uma borboleta, com todas as suas pequenas veias, células, formas de escamas, e depósitos de pigmentos, surge através a ação sucessiva de uma multidão de determinantes no curso da proliferação das células".

Por conseguinte, segundo Weismann, a substância hereditária não produz novas formas, não se desenvolve com o desenvolvimento do indivíduo, e não está sujeita a quaisquer modificações dependentes.

Uma substância hereditária imortal, independente das características qualitativas que acompanham o desenvolvimento do ser vivo, que dirige o corpo mortal mas não é produzida por este — eis a concepção de Weismann, francamente idealista, essencialmente mística, e que ele disfarçou sob o "neodarwinismo".

A concepção de Weismann foi totalmente aceita e, podemos dizer, ampliada pelo mendelistas-morganistas.

Morgan, Johannsen o outro expoente do mendelismo-morganismo, declararam de início que pretendiam investigar os fenômenos da hereditariedade, independentemente da teoria darwiniana da evolução. Johannsen, por exemplo, escreveu em seu principal trabalho:

"... um dos objetivos essenciais de nossa pesquisa foi acabar com a prejudicial dependência das teorias hereditárias nas especulações sobre a evolução".(5)

O propósito dos morganistas ao fazerem tais declarações era completar suas investigações com afirmativas que em última análise negavam a evolução na natureza viva, ou reconheciam-na como um processo de modificações puramente quantitativas.

Como foi notado acima, a controvérsia entre os pontos de vista materialista e idealista na ciência biológica vem ocorrendo através de toda sua história.

No época atual de luta entre dois mundos, as duas correntes opostas e antagônicas que penetram nos fundamentos mesmos de quase todos os ramos da biologia estão definidas de maneira particularmente aguda.

A agricultura socialista, o sistema de fazendas coletivas e do Estado, deu lugar a uma ciência biológica soviética, fundada por Michurin — uma ciência nova em princípio, desenvolvendo-se em íntima ligação com a prática agronômica, com a biologia agronômica.

Os fundamentos da ciência agro-biológica soviética foram lançados por Michurin e Williams, que generalizaram e desenvolveram o que de melhor a ciência e a prática haviam acumulado no passado. Seu trabalho enriqueceu nossos conhecimentos da natureza das plantas e dos solos, nossos conhecimentos da agricultura, com muita coisa nova em princípio.

O íntimo contacto entre a ciência e a prática nas fazendas coletivas e nas fazendas do Estado cria oportunidades inesgotáveis para o desenvolvimento do conhecimento teórico, permitindo-nos aprender sempre mais sobre a natureza dos seres vivos e do solo.

Não é exagero declarar que a fraca "ciência" metafisica de Morgan a respeito da natureza dos seres vivos não pode resistir a uma comparação com nossa eficaz ciência agro-biológica michurinista.

A nova, e vigorosa corrente no biologia, ou mais exatamente a nova biologia soviética, a agrobiologia, enfrentou forte oposição de parte dos representantes da biologia reacionária no estrangeiro, bem como de alguns cientistas em nosso país.

Os representantes da ciência biológica reacionária — os neodarwinistas, weismannistas ou, o que é a mesma coisa, os mendelistas-morganistas — sustentam a chamada teoria de hereditariedade dos cromossomas.

Segundo Weismann, os mendelistas-morganistas sustentam que os cromossomas contêm uma "substância hereditária" especial que reside no corpo do organismo como num estojo e que é transmitida às novas gerações independentemente das características qualitativas do corpo e da suas condições de vida. A conclusão tirada dessa concepção é que novas tendências e características adquiridas pelo organismo sob a influência das condições de sua vida e seu desenvolvimento não são herdadas e não podem ter significação evolutiva.

Segundo essa teoria, os caracteres adquiridos pelos organismos vegetais e animais não podem ser transmitidos, não são herdados.

A teoria mendelista-morganista não inclui no conceito científico de "ser vivo" as condições de vida do corpo. Para os morganistas, o ambiente é apenas o fundo indispensável, admitem — à manifestação e à operação das várias características do ser vivo, de acordo com sua hereditariedade. Sustentam, portanto, que as variações qualitativas na hereditariedade (natureza) dos seres vivos são totalmente independentes do ambiente, das condições da vida.

Os representantes do neodarwinismo, os mendelistas-morganistas, sustentam que os esforços dos pesquisadores para regulamentar a hereditariedade dos organismos por meio de modificações nas condi