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"Um golpe dentro do golpe?"


Quase um mês se passou desde que Michel Temer deixou a alcunha de vice-decorativo para se tornar Presidente interino, o que já foi suficiente para que o governo cambaleasse. A tese do “golpe dentro do golpe” se fortalece a cada novo áudio divulgado, editorial de jornal internacional ou senador arrependido - que forças seriam capazes de desestabilizar Temer?


Já ficou claro que Temer não tem a finesse brasiliense (ou seria mineira?) de gente que tem seus esquemas “conhecidos por todo mundo” e ainda consegue permanecer blindada. Ele e sua gangue ministerial já demonstraram descuidar das aparências; um crime grave no mundo político. Primeiro, ao não nomear nenhuma mulher e nenhum negro aos ministérios. Segundo, por recuar nas questões do Ministério da Cultura e Minha Casa, Minha Vida, em meio a um cenário em que se propagandeava firmeza. Terceiro, por aplicar medidas de austeridade preparatórias - ou seja, de caráter simbólico, que têm por objetivo final o desmonte do aparato do estado para os mais pobres - ao mesmo tempo que se expande gastos monumentais com o funcionalismo público. Por último, é claro, por alguns de seus capangas falarem por aí, em gravações vazadas, o que já se sabia há muito tempo: o impeachment tinha como objetivo, entre outras coisas, garantir a impunidade a certos setores da política brasileira, frente à operação Lava Jato.


O governo não parece ter decidido qual mensagem quer passar: é o “punho firme que o Brasil precisa”, ou o jovem emotivo que se abala frente às primeiras pressões sofridas? As mãos de tesoura à FMI, ou o coronel da vez? A limpeza do Brasil, ou a expansão absoluta e oficialização institucional do ganguismo parasitário? Temer não consegue, é claro. Não porque não tem um projeto, mas porque não tem capacidade política; agora é questão de tempo até que seus aliados percebam isso de uma vez por todas.


O vice-Presidente conquistou a Presidência com 55 votos favoráveis ao afastamento da Presidenta legítima, Dilma Roussef. Destes, sinalizam alguns senadores, perdeu três - o que, se confirmado na votação final do impeachment, traria Dilma de volta, já que 54 votos são necessários para retirá-la definitivamente. Além disso, perdeu a aliança com o PV, que agora se diz “independente.”


Foi isso o que motivou a última escaramuça entre Temer e Dilma, na última semana. Sabendo de suas limitações, Temer tentou adiantar em vinte dias a votação do impeachment. Dilma tinha outra perspectiva: dar corda pra Temer se enforcar. Dilma acabou vencendo. Mas o Presidente interino tem utilizado outras manobras para limitar a oposição a seu governo: cortou o avião da FAB de Dilma, mandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) espionar o Partido dos Trabalhadores e chegou ao seu ápice da puerilidade, da provocação vazia, ao cortar o fornecimento de comida para o Palácio da Alvorada.


Agora, uma semana depois, o governo interino recebe mais um duro golpe: o ex-Presidente da Transpetro, Sérgio Machado, delata Temer na Lava Jato, e o acusa de fazer parte de um esquema de proprina para conseguir financiamento a Gabriel Chalita em 2014 - à época candidato à prefeitura de São Paulo.


Novas eleições: uma estratégia para a esquerda?

Por essas e outras, a proposta de novas eleições Presidenciais para 2016, formatada na PEC 20/2016, já conta com o apoio de pelo menos trinta senadores - originalmente eram seis; Walter Pinheiro (sem partido-BA), Randolfe Rodrigues (Rede–AP), Paulo Paim (PT-RS), João Capiberibe (PSB-AP), Lídice da Mata (PSB-BA) e Cristovam Buarque (PPS-DF). Para ser aprovada, terá de passar por uma comissão especial, duas votações no Senado e mais duas na Câmara dos Deputados. Setores no PT e PCdoB já aprovam a ideia. Nos movimentos populares, a coisa é um pouco diferente; CUT e MST não apoiam. Boulos diz que “pode ser uma saída”, mas não defenderá o projeto sem a aprovação dos outros movimentos.


A perspectiva é eleger Lula em novas eleições, já que o Presidente tem vantagem nas pesquisas. Na última pesquisa Datafolha, lidera com cerca de 20% (com variações de cenário), ao lado de Marina. Na pesquisa CNT/MDA, divulgada na semana passada, ganha no primeiro turno, mas perde para Aécio no segundo. Ainda de acordo com o Datafolha, Lula lidera também no índice de rejeição: 53% disseram que não votariam no ex-Presidente de maneira alguma.


Cabe perguntar, no entanto: os setores que conseguiram dilacerar o governo Dilma com uma acusação tão pobre como a das pedaladas fiscais e que montaram o cerco da condução coercitiva, deixariam, ao menos, que Lula concorresse?


É improvável. A proposta de novas eleições, apesar de adornada pelo manto democrático, não trará nada, senão a licitação do golpe. Uma vez embarcados nela, os setores progressistas não mais poderiam reclamar um governo legítimo - ele o seria, pelas urnas. Além disso, sem uma mudança geral no Congresso, mesmo que todas as previsões não se concretizarem, seria virtualmente impossível governar à esquerda - tão impossível quanto os congressistas aprovarem a perda de seus mandatos por meio da PEC 20.


A saída pela esquerda, tão defendida no último ano, não virá de canetadas institucionais ou das urnas: somente a mobilização popular permanente enterrará os ataques à classe trabalhadora. Não foi ela, afinal, a única que fez Temer recuar, até agora?


por Pedro Marin

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