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Os 50 anos do Hip Hop e o rap no Brasil



No ano de 2023, comemoram-se 50 anos do surgimento do movimento hip-hop e de sua expressão musical, o Rap. Trata-se de um movimento cultural legitimamente popular, carregado da expressão de revolta e denúncia daqueles que sentem na pele diariamente a opressão do capitalismo, a violência do Estado contra os elementos marginalizados da sociedade e do desdém cultural da ideologia dominante.


As primeiras expressões do Rap, cujo nome é uma abreviação de rhythm and poetry (ritmo e poesia), surgiram na Jamaica, na década de 60, mas foi somente no início dos anos 70 quando Jamaicanos levaram esse estilo para os bairros pobres de Nova Iorque (O bairro do Bronx é considerado o berço do Rap nos EUA), que o Rap se consolidou de fato como expressão cultural popular do povo negro e latinoamericano.


Nos anos 80, o Rap começa a se misturar com outros estilos musicais e alcança as periferias do mundo todo. É na segunda metade dessa década, em 1986, que a música chega ao Brasil, inicialmente na cidade de São Paulo. Mas é na década de 90 que o Rap tem sua “época de ouro” no país, com o surgimento de diversos expoentes no país todo.


Censura e violência policial


Como toda expressão cultural do povo oprimido, o Hip-hop sofreu e sofre duras repressões por parte do monopólio de violência do Estado. De acordo com o portal Nonada, entre 2020 e 2021 pelo menos 17 artistas do grafite, rap e funk foram alvos de abordagens policiais ou judiciais. Essa cifra é apenas dos artistas que foram ouvidos pela organização, e podemos assumir com segurança que o número real de casos de violência contra a cultura de periferia é exponencialmente maior. Vejamos alguns relatos:


Rappin’ Hood lembra dos tempos de início do Rap no Brasil: “A gente corria da polícia só porque fazia rap. Eles chegavam na estação e quebravam nossos discos”


Elieser Pereira, rapper e artista plástico, sofreu abordagem da PM de Ribeirão Preto e teve uma arma apontada para sua cabeça quando pintava um mural ao ar livre. Os policiais duvidaram que ele tinha autorização para a criação da obra. Data: junho de 2020.


O MC Salvador da Rima foi detido pela PM de São Paulo com a alegação de desacato à autoridade e sofreu violência. O cantor é autor de diversas músicas sobre violência policial.


Caelaine Cristina dos Santos conta que “Em várias batalhas de rimas em que participei, a polícia foi chamada, por pessoas preconceituosas ou mal informadas. Chegaram agressivos, nos revistando e falando coisas como: ‘Sua mãe sabe que você está usando droga aqui a essa hora? Você chama isso de cultura?”


Longe de serem casos isolados ou anomalias da sociedade moderna, a criminalização e repressão da cultura do povo é um procedimento sistemático na sociedade de classes, tomando a forma específica de repressão policial no Capitalismo. No Brasil, essa “tradição” possui um fio condutor que passa pelas batidas (literalmente) policiais em terreiros, criminalização da capoeira, controle dos cordões de carnaval, entre diversos outros exemplos. No caso do funk, chegou-se a propor um projeto de lei criminalizando a expressão cultural (Ideia Legislativa nº. 65.513, de 17 de maio de 2017). Cabe, portanto, a todos os defensores da cultura popular denunciar a opressão, formal ou não, do hip-hop.


Discriminação estética do Rap


Além do combate direto, explícito, através da violência, a cultura de periferia é combatida no campo ideológico através de teorias estéticas, de debates sobre a legitimidade cultural de suas expressões.


Tomemos o exemplo do Rap. Por ter como característica marcante a centralidade da poesia, de sua mensagem em palavras, acima da invenção musical “pura”, o Rap costuma sofrer ataques por sua inadequação aos moldes da música ocidental europeia.


Até mesmo dentro do próprio movimento Hip-hop esse debate ocorreu por algum tempo. MV Bill, por exemplo, lembra que o Rap “Avançou bastante, principalmente em uma discussão que, para mim, era totalmente infundada: se o rap é ou não uma música”.


Dentre as críticas dos estetas burgueses, vemos ataques diretos, vulgares como o do conservador e filho de teórico musical Ben Shapiro:


“Na minha opinião, e na visão do meu pai, teórico da música, que frequentou a escola de música [erudita e burguesa], há três elementos na música [erudita e burguesa]. Há harmonia, há melodia e ritmo” [...] “O rap só cumpre um desses aspectos., a seção rítmica [...] E, portanto, [...] não é uma forma de música.


Há, também opiniões mais amenas, sutis, como a expressa pela revista “Música Brasileira” em 2007, que categorizou o Rap como “nem música nem não-música”, também por não se adequar à santa trindade da música culta europeia: harmonia, melodia e ritmo (diga-se de passagem, algo considerado ultrapassado até mesmo por estetas burgueses mais avançados).


Ora, uma expressão que não se origina da cultura dominante europeia dificilmente se adequará a suas premissas teóricas. Os estetas burgueses, por seu lado, não conseguem enxergar além de suas próprias teorias, ou seja, consideram que os aspectos teóricos que definem sua música são de alguma forma universais, aplicando-se indiscriminadamente a qualquer expressão musical.


A cultura dos povos, na realidade, está cheia de expressões em que a poesia aparece como elemento principal apoiado por música: o repente no Brasil e até mesmo a prática dos cantos monódicos da Grécia antiga são exemplos. Além disso, a surdez dos “teóricos” burgueses parece ignorar a prática dos DJs, que não apenas foram responsáveis por importantes criações musicais na cultura do hip-hop, como desenvolveram uma prática virtuosa de mixagem e montagem musical em tempo real com os “turntables”.


Na verdade, essas “teorias” musicais nada mais são do que discriminação e racismo embelezados por princípios estéticos da ideologia das classes dominantes. Celebremos, portanto, o Hip-Hop e o Rap como legítimas expressões culturais do povo.


Por Caio Barros


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HISTÓRIA DAS
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