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"Pela Paz, a Independência Nacional e a Democracia"



Camaradas:


Ao examinar a situação de nosso país e suas perspectivas depois das grandiosas lutas da última primavera, e em relação às consequências que, para a Espanha, se derivam da política de guerra e de submissão do governo franquista ao imperialismo ianque, devemos fazer isso compreendendo a Espanha não como um todo isolado e independente, mas sim em estreita relação e dependência da situação internacional.


De distinta índole são os problemas políticos que deveremos examinar para chegarmos a conclusões pertinentes sobre a política que nosso Partido deve seguir.


Problemas de ordem nacional e problemas de ordem internacional, estreitamente ligados ao desenvolvimento da vida política e econômica da Espanha, ligados à sobrevivência da Espanha como país independente e soberano.


Depois da derrota dos hitleristas em 1945, e quando o mundo acreditava haver assegurado a paz, levanta-se sobre os povos a terrível ameaça de uma nova guerra - uma guerra monstruosamente destruidora, uma guerra atômica, ameaça que surge do imperialismo estadunidense, que, embriagado de seu poder e de seu ouro, sonha loucamente em impor ao mundo a sua dominação.


O centro da reação mundial foi transferido da Alemanha hitleriana aos Estados Unidos. Os planos de Hitler, de fazer do mundo uma colônia sua, foram recolhidos pelos imperialistas americanos, que podem desenvolver sua política a­gres­siva apoiados na cumplicidade de governos vassalos que atuam de costas para os interesses de seus povos, renunciam a soberania e a independência de seus países e os colocam a serviço e sob a dependência direta dos incendiários de guerra. Sob a pérfida cobertura do Plano Marshall - que foi desmascarado a tempo pela URSS como um plano de escravização e de guerra - e atualmente com o agressivo Bloqueio Atlântico, os imperialistas americanos submeteram economicamente os países participantes nessas alianças agressivas. Intervém brutalmente nos assuntos internos desses países e apoiam as forças mais reacionárias em todas as partes.


O chamado tratado de paz com o Japão; o rearmamento da Alemanha ocidental; a aliança com a camarilha franquista e a proteção aberta ao Judas Tito e aos fascistas gregos; a continuação da guerra na Coreia; a transformação da ONU em uma oficina de negócios americanos, onde só as vozes da União Soviética e dos países de democracia popular se levantam para defender o direito dos povos e os princípios da Carta das Nações Unidas; as constantes provocações dos americanos e de seus agentes contra a União Soviética e a China, contra as democracias populares e a Alemanha democrática; a criação de bases militares americanas em territórios alheios e a negativa sistemática dos governos americano às proposições soviéticas para um acordo pacífico das discrepâncias existentes sobre diferentes questões mostram claramente o caminho da guerra empreendido pelos imperialistas americanos, que arrastam fatalmente os países cujos governos foram colocados a seu serviço.


Não há dúvida - e a experiência histórica demonstra plenamente - que a política de armamentos conduz à guerra. Mas, nas condições atuais, com a existência da União Soviética, da China Popular, da Alemanha Democrática e das democracias populares que não necessitam da guerra, e que defendem sistematicamente a paz, a guerra pode ser evitada.


A reação internacional e, à sua frente, os imperialistas americanos querem destruir a União Soviética, não porque ela ameace a segurança de algum país, mas sim porque a União Soviética é o primeiro país socialista do mundo. O capitalismo mundial quer destruí-la porque a União Soviética é, para a classe trabalhadora e para as massas oprimidas dos países capitalistas e coloniais, um exemplo vivo de liberdade e democracia, estímulo permanente na luta libertadora contra as suas opressões.


O capitalismo mundial e sua cabeça, o imperialismo americano, odeiam brutal e ferozmente a União Soviética porque a Revolução de Outubro de 1917, dirigida pelo Partido Comunista Bolchevique, pelo Partido de Lenin e de Stalin, subiu ao poder e fez as massas trabalhadoras e camponesas donas de seus destinos, que sob a dominação do capitalismo viviam escravizadas.


Pela primeira vez na história da humanidade os escravos foram livres; o homem deixou de ser o lobo do homem, e com o esforço heroico do povo russo, conduzido pelo Partido Comunista, iluminou o nascimento de uma nova era, a era do Comunismo.

A Grande Revolução de Outubro na Rússia arrancou do sistema capitalista um sexto do mundo.


A Segunda Guerra Mundial, que foi preparada perfidamente pelas forças da reação internacional contra a União Soviética e que se desenvolveu diferentemente de como propuseram seus promotores, agravou e estendeu a crise do capitalismo, debilitando, logicamente, o sistema capitalista como um todo. Com a Primeira Guerra Mundial o capitalismo perdeu o grande império czarista e, assim, surgiu o primeiro Estado proletário; com a Segunda Guerra, o capitalismo perdeu vários países europeus, perdeu a imensa China, e está perdendo a sua influência e debilitando seu poder em todos os países coloniais.


Essa debilidade constante do imperialismo o faz mais agressivo e, por isso, o perigo da guerra está a cada dia mais ameaçador e mais perto de nós. Porém, o problema da paz e da guerra não depende, hoje, exclusivamente dos imperialistas, mas sim das massas, dos povos. O camarada Stalin tem mil vezes razão quando declara que “a paz será mantida e se consolidará se os povos tomarem em suas mãos a causa da manutenção da paz e a defenderem até o fim”.


Se as massas, sem as quais não se pode fazer guerra, dizem “não!” aos planos dos imperialistas e lutam contra a guerra, a paz pode ser salva.


A manutenção da paz é um golpe de morte para os escravizadores dos povos. A paz contribui com o impetuoso desenvolvimento das forças progressivas em todo o mundo, e a­juda a consolidar as conquistas democráticas dos povos, mina os alicerces do imperialismo, fazendo mais profunda a crise do capitalismo, e com isso acelera em grau extraordinário a marcha dos povos até o socialismo. Salvar a paz é salvar a democracia, é destruir todos os planos escravizadores da reação internacional.


É possível que certos dogmáticos e doutrinários, cujas posições, no fim das contas, servem para levar água ao moinho do imperialismo, discordem de nossa afirmação de que a guerra pode ser evitada, dizendo que tal afirmação é contrária ao princípio marxista de que o capitalismo leva em si a guerra como as nuvens levam a tempestade.


Contudo, como não somos dogmáticos nem doutrinários, mas sim marxista-leninistas, somos os primeiros a declarar que: sendo certa em princípio a afirmação de que o capitalismo é gerador de guerras de agressão, de guerras anexionistas, na situação atual do mundo, quando já não existe a hegemonia do capitalismo e grande parte da Terra está indo em direção ao Comunismo, é possível, pela ação das massas, frear a loucura agressiva dos imperialistas, é possível impedir a guerra.


Passou o tempo em que os governantes burgueses dispunham à vontade da vida e da segurança dos povos.


Hoje contamos, e a cada dia contaremos mais, com a vontade e a opinião das massas, que não estão dispostas a se deixar matar para aumentar os lucros dos milionários ianques ou de qualquer outro país.


É o acontecimento contemporâneo mais importante, sem precedentes na história da luta dos povos por sua existência, o grandioso movimento de defesa da paz, que abarca todo o mundo e que já colocou de pé metade da humanidade, disposta a fechar a passagem para os agressores.


As massas trabalhadoras e forças progressistas de todos continentes se levantam audazmente em defesa da paz, em defesa da democracia e se reagrupam em torno da União Soviética, onde todos os povos veem o principal bastião da paz e da civilização contra a barbárie destruidora dos imperialistas, que cinicamente se vangloriam de estarem dispostos a lançar o mundo em uma guerra atômica para salvar seu podre sistema de exploração, de opressão e de rapina.


Em torno da União Soviética, o mais consequente defensor da liberdade e da independência dos povos, se reagrupam centenas de milhares de pessoas de todos os países que apoiam a política soviética de paz e expressam sua vontade de fazer frente aos promotores da guerra e de deter a mão dos agressores.


A frente mundial da paz cresce, se estende pelo mundo e é hoje uma potência indestrutível, porque indestrutível é a vontade de paz da União Soviética e de todos os países que têm liquidado o capitalismo e que participam, junto com a União Soviética, do grande campo da paz e da democracia.


Reforçar esse campo, fazer participar mais milhares de pessoas até chegar a englobar em suas fileiras a maior parte de toda a humanidade, isolando os incendiários de guerra, deve ser a aspiração e o dever de todas pessoas que não perderam nem o instinto de conservação, nem o amor pela independência da pátria, nem o sentido da liberdade e da dignidade humanas.


Cada um dos participantes desta frente mundial da paz deve ser um ativo propagandista de seus fins, de seus objetivos; deve ser um acusador implacável da política de agressão e de guerra dos imperialistas anglo-americanos e seus agentes em cada país.


Isso, para nós, comunistas espanhóis, como para todo o povo espanhol, é uma obrigação de primeira ordem; é um dever indesculpável porque a Espanha está praticamente incorporada ao campo dos agressores.


Um pouco de história

Durante certo tempo, existiu entre algumas pessoas de nosso país a crença demasiado simplista de que o restabelecimento da República e da democracia só poderia ocorrer com a ajuda anglo-americana.


Ao propagarem tal ideia, tanto os próprios imperialistas quanto seus lacaios, os dirigentes socialistas e anarquistas, os nacionalistas bascos e catalães e certos grupos republicanos, estavam e estão interessados em propagá-la, porque essa ideia da ajuda anglo-americana é paralisadora da resistência popular; porque querem impedir a intervenção da classe trabalhadora como força dirigente na luta pela democratização da Espanha; porque a política desses grupos é dirigida para favorecer os planos dos imperialistas e sua política de guerra; porque, com isso, pensavam desterrar do coração do povo o sentimento de carinho e de adesão direcionado a União Soviética, e cobrir com o despertar de falsas ilusões democráticas, com suas posições contrarrevolucionárias, antissoviéticas e anticomunistas, as massas.


Os acordos dos estadunidenses com Franco trouxeram confusão ao grupo de cantores da democracia americana que, presos nas redes de sua própria degeneração política, tratam agora de justificar a colonização da Espanha pelos americanos, atribuindo a essa colonização virtudes democráticas.


Os impressionantes protestos realizados pelo povo espanhol na última primavera dizem claramente qual é a vontade das massas trabalhadoras espanholas.


As ilusões que a propaganda interessada dos agentes anglo-americanos pode semear entre eles foram varridas pela brutalidade dos fatos. Perante o povo espanhol e a opinião democrática internacional, a política dos imperialistas americanos e seus vergonhosos cúmplices ingleses e franceses - que fazem um pacto com Franco, que se aliam ao carrasco do povo espanhol, que procuram na Espanha bases estratégicas e balas de canhão para seus exércitos agressores - aparecem em contraste brutal com a atividade consequente e firme da União Soviética e dos países de democracia popular, que em todos os momentos têm defendido os direitos do povo espanhol e mantêm, consequentemente, sua política invariável de hostilidade com o regime franquista e de simpatia com a democracia espanhola.


Se nos concentrarmos em examinar a atitude dos imperialistas somente no momento atual, no que diz respeito ao governo franquista, não teríamos um quadro completo da política hostil dos ianques diante do povo espanhol e da democracia espanhola.


A hostilidade dos imperialistas americanos diante da República foi expressa abertamente desde o primeiro dia da sublevação fascista do general Franco. Esse é um detalhe digno de levarmos em conta para jugarmos, em toda a sua magnitude, a degeneração política daqueles que trataram de apresentar os ianques como amigos da República espanhola.

Da “simpatia” dos imperialistas ianques com a Espanha Republicana, falam, entre outros, os seguintes episódios:


Primeiro: O governo norte-americano, presidido por Roosevelt, no início e no decorrer da nossa guerra, negou-se, assim como os Blum e os Chamberlain, a vender ao governo legítimo da República, com o qual tinha relações e acordos, as armas que necessitava para se defender.


Segundo: Nos dias da sublevação fascista, avançavam pelo Atlântico vários navios-tanque americanos com petróleo para o governo republicano da Espanha; em alto mar, receberam ordens para não desembarcarem em portos republicanos, mas em portos ocupados pelos fascistas, assim, entregaram o petróleo como um presente da “democracia” americana ao fascista Franco e seus protetores hitleristas.


Enquanto durou a nossa luta, Franco continuou a receber dos Estados Unidos a gasolina de que sua máquina de guerra precisava - a gasolina que os aviões fascistas que destruíram Guernica e Nules, que bombardearam Madri e Barcelona, ​​Bilbao e Valência, precisavam; os aviões que destruíram nossas aldeias e cidades, que mataram as nossas mulheres e nossas crianças.


Depois da derrota da República e no curso da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos ajudaram Franco, aconselharam-no, expressaram sua amizade, como aberta e publicamente têm escrito, em documentos oficiais, os representantes americanos que estiveram na Espanha franquista e que, segundo eles mesmos confessam, fizeram tudo o que estava ao seu alcance para consolidar e para assegurar o regime de Franco. É sabido também que, na ONU, se as medidas de um boicote econômico e uma ruptura em todos os tipos de relações contra o regime de Franco, propostas pelos representantes soviéticos e pelas democracias populares, não foram tomadas desde o início, foi por causa da oposição dos americanos, que mobilizaram seus agentes para impedir a aceitação de propostas contrárias ao regime franquista.


Portanto, a atual política estadunidense com relação a Franco não é um fato acidental, é a culminação lógica e natural de sua política hostil ao povo espanhol, hostil à democracia espanhola, mantida, invariavelmente, pelo imperialismo ianque.


Os imperialistas americanos necessitam das bases espanholas no Atlântico e Mediterrâneo. Aos imperialistas americanos interessam as riquezas e as matérias-primas da Espanha; interessa-lhes a península como trampolim para suas agressões; interessa-lhes os espanhóis como mão de obra barata e como bala de canhão.


Para conseguir isso, apoiam o regime franquista, uma vez que a condição essencial para os americanos desenvolverem seus planos colonizadores, predatórios e agressivos é a existência, em cada país, de regimes terroristas como o regime de Franco, que esmagam brutal e sangrentamente a resistência popular, amordaçando a classe trabalhadora e as forças democráticas, facilitando a expansão do imperialismo americano, fazendo de cada país uma colônia ianque, onde os Trujillos e os Quirinos, os Francos e os Titos e outros Quislings de peles iguais ou diferentes servem com vil submissão aos mestres americanos.

E quando, no campo republicano, vozes infames afirmam ou insinuam perfidamente que a penetração americana é conveniente porque democratizaria a Espanha, não existe, não pode existir, um único espanhol ou um único democrata que mereça esse nome, que aceitem a vilania da colonização de nosso país, mascarada em uma mentira cujos verdadeiros fins são, mais uma vez, o amordaçamento dos protestos populares, o enfraquecimento das forças da resistência antifranquista e o assalto à terra pelos traficantes da morte aos imperialistas incendiários da guerra.


O povo não se submeteu

Duas linhas bem determinadas se apresentaram no campo republicano espanhol depois da vitória do franquismo em nos­so país, em 1939.


De um lado, os comunistas - afirmando que a derrota das forças democráticas e populares era temporária e que, por isso, era indispensável restabelecer a unidade das forças operárias e democráticas para a continuação da luta em novas condições – e, de outro lado, a maioria dos dirigentes republicanos, socialistas e cenetistas (ligados à Confederação Nacional do Trabalho, anarcossindicalistas) – declarando que tu­do estava perdido e que tudo o que eles deveriam fazer era renunciar e aceitar a derrota. A resignação e a aceitação da derrota das quais falaram os líderes socialistas e anarquistas significa a cessação da resistência ao franquismo, a submissão do povo espanhol à reação fascista espanhola e a aceitação do jugo imperialista; a colaboração com o atual governo franquista ou outro parecido, no desenvolvimento dos planos de agressão e de guerra dos americanos; significa a aceitação da transformação da Espanha em uma base de agressão contra a União Soviética, e a entrega da juventude espanhola co­mo bala de canhão do Estado Maior do Bloqueio Atlântico; significa deixar de mãos livres os colonizadores ianques.


Nós, comunistas, não nos resignamos, nem aceitamos essa derrota, nem renunciamos a luta pelo restabelecimento da República democrática, muito menos renunciamos a soberania e a independência nacionais. Lutamos e continuaremos lutando contra o franquismo seguros de nossa vitória, seguros da vitória do povo espanhol e das forças democráticas.


O Partido Comunista da Espanha afirmar e continua sustentando que o regime fascista do general Franco é um regime precário, temporal e que o povo, com sua luta, impedirá sua consolidação.


Os quinze anos de franquismo em uma parte do país e seus doze anos em toda a Espanha, com seu monstruoso cortejo de terrorismo policialesco, de ruína, de miséria, de fome, de empobrecimento geral do país evidenciam a quebra do sistema. Nenhum dos problemas que secularmente assolam a Espanha e que, com a República, começaram a se resolver foram resolvidos; e não foram por conta das próprias características do regime – suporte da oligarquia financeira – que, ansiosa para compensar o breve freio que a intervenção das massas colocou em sua ambição insaciável, nos primeiros anos da República lançou-se, quando o franquismo triunfou, como um abutre faminto sobre a economia nacional, montando grandes empresas com fundos do Estado que levaram ao atual desequilíbrio e abriram o caminho para uma catástrofe ainda maior.


O povo espanhol, que com admirável heroísmo e dignidade resistiu durante cerca de três anos a agressão das forças fascistas nacionais, aliadas aos governos fascistas da Alemanha e da Itália e auxiliada pela cumplicidade tácita e expressa dos chamados governos democráticos, levantou-se com toda a sua consciência. O povo espanhol não se curvou – nem por causa do terror fascista bárbaro, nem por traições e deserções, que não foram poucas, de pessoas que apareceram outrora com um rótulo político que não lhes correspondia e que hoje, pela própria força dos acontecimentos, foram obrigadas a se desmascarar e retornar publicamente ao serviço policialesco, aos quais estão unidos pelo cordão umbilical de um passado de infâmias e maldades que haviam escondido cuidadosamente.


É na firmeza de nosso povo, essa hostilidade ao franquismo que impediu a consolidação do regime fascista do general Franco – nela está a chave da vitória das forças democráticas.

O povo espanhol com a classe operária à frente continuou a luta iniciada em julho de 1936, enfrentando as selvagens incursões policiais, a denúncia e a provocação que dizimavam as fileiras da classe trabalhadora e das forças democráticas, e que entregavam à tortura e à morte seus melhores filhos.


A luta do povo nesses anos de horror e de sangue, de desolação e de miséria, esteve dirigida fundamentalmente pelo Partido Comunista, contra o qual moviam a raiva dos cães de caça e dos provocadores e a vilania de seus pretensos resistentes que, de distintas e bem conhecidas embaixadas, levavam às fileiras dos partidos e forças operárias e democráticas o veneno da desesperança, do desalento e da mentira, do entreguismo e do anticomunismo raivoso, com o consentimento da matilha policial falangista que, satisfeita e contente, os ajudava em sua miserável tarefa.


As greves e manifestações populares de protesto da primavera passada - iniciadas com a grande greve geral de Barcelona, da qual participaram todas as classes sociais hostis ao franquismo; greves e manifestações que se estenderam para zonas fundamentais do país - expressaram eloquentemente a vontade de lutar da classe operária e do povo, e a o­posição ao regime franquista por parte de setores importantes da burguesia, que não caíram do céu. São o resultado natural do descontentamento criado pela política de miséria e de guerra do governo franquista, e são também fruto do trabalho tenaz, perseverante, heroico, abnegado do Partido Comunista da Espanha e do Partido Socialista Unificado da Catalunha, para educar a classe operária no espírito da resistência e impedir que o franquismo deformasse ou matasse sua consciência de classe.


As lutas de fevereiro, março, abril e maio mostram que o trabalho dos comunistas não foi em vão, que seus sacrifícios à serviço do povo, à serviço da Espanha, são compreendidos pela classe operária; mostram também que, no seu seio, vai penetrando a ideia de que a luta é possível e de que só com a luta poderá defender seus direitos, melhorar sua situação material e abrir o caminho e preparar o terreno para as batalhas decisivas a serem travadas em nosso país.


Essas grandes lutas da última primavera – lutas que unem o presente do proletariado catalão às velhas tradições revolucionárias da classe trabalhadora catalã e que são como um degrau inicial na ascensão até a conquista da liberdade; essas lutas que são expressão da rebeldia da classe trabalhadora navarra; que iniciam o renascimento da classe trabalhadora basca e mostram que o espírito de 7 de novembro de 1936 não morreu em Madri – foram para o franquismo um golpe do qual não poderá se recuperar.


Não importa que sinistros augúrios de desespero digam que depois das greves tudo segue igual. Isso é mentira. Depois das greves não permanece tudo igual. Depois das greves há, na classe trabalhadora de toda a Espanha, mais confiança, mais segurança de si mesma. As greves ensinaram os trabalhadores a conhecer sua força e os fizeram ver a fragilidade do regime franquista. Ensinara-os, também, que para lutar vitoriosamente devem organizar a luta, realizar a unidade.


As greves mostraram ao mundo o abismo existente entre a camarilha franquista e a maioria do país.


Os protestos populares realizados em nosso país, depois que a ONU, por imposição dos americanos, levantou sanções ao regime franquista, são a resposta viril de uma classe trabalhadora e de um povo que não se sentem vencidos, que não renunciaram à liberdade e que não aceitam ser convertidos em soldados mercenários do imperialismo anglo-americano. Essas greves e esses protestos foram uma grande contribuição para a causa da paz, realizados no exato momento que os americanos se gabavam de ter um aliado no Ocidente da Europa que poderia facilitar dois milhões de soldados. O povo espanhol disse não! à guerra e de maneira decidida se colocou no campo da paz, advertindo os imperialistas americanos fomentadores da guerra que não será no povo espanhol que eles encontrarão as balas de canhão que necessitam para realizarem seus planos agressivos.

Ao examinar e recordar a extraordinária importância que essas greves e protestos populares têm para as futuras lutas do povo espanhol e para a derrubada do franquismo, é necessário que cada comunista não esqueça as causas que motivaram algumas das falhas observadas no desenvolvimen­to dos eventos e, sobretudo, que eles não se aproximaram de outras populações e de outros núcleos operários, fazendo mais geral e combativo o protesto das massas.


Em meu artigo A luta do povo espanhol contra o franquismo, assinalo algumas dessas causas, coloco o acento sobre algumas das principais, como a falta de unidade das forças antifranquistas e a debilidade de organização dos movimentos de protesto.

Mas, naturalmente, não são todas as causas. Não esqueçamos que, desde que existe o franquismo, o povo e massas trabalhadoras foram privados de todo o direito democrático. Que todas as liberdades democráticas conquistadas pelo povo depois de longos anos de luta foram esmagadas pelo franquismo. Que a classe trabalhadora e forças populares em geral carecem de meios de expressão; que são proibidas organizações de trabalhadores e de profissionais independentes, assim como a imprensa e as publicações democráticas. A falta de costume de exercer os direitos democráticos faz com que os primeiros passos na conquista desses direitos sejam vacilantes. Ao Partido Comunista, em primeiro lugar, cabe dar firmeza e solidez para a marcha iniciada pelas massas.


O franquismo assassinou centenas de milhares de proletários, de camponeses, de intelectuais e de homens da ciência do cam­po democrático - homens maduros politicamente, formados nos sindicatos, nos partidos democráticos e nas organizações dos profissionais liberais, que eram como o fermento espiritual que levantou, desenvolveu e uniu o passado e o presente do movimento progressista espanhol, que abriu caminho para novos avanços em direção a um futuro de justiça, progresso e liberdade.


A falta desses homens dificulta e torna mais difícil o desenvolvimento da consciência política das massas, principalmente nas duras condições do regime fascista. Isso deve ser levado em consideração no desenvolvimento de nossas atividades a fim de valorizar, tanto a disposição das massas em lutar, quanto sua confusão em diferentes questões.


Nestes anos de dominação terrorista fascista, formou-se uma nova geração de trabalhadores e intelectuais que aparece com grande força, mas que ainda não tem clareza suficiente dos objetivos e que busca ansiosamente horizontes para suas aspirações.

Conquistar tais forças, incorporá-las à luta ativa contra o franquismo – esclarecendo suas dúvidas, mostrando-lhes o caminho, explicando pacientemente o conteúdo de nos­sa política - é um dever indesculpável para os comunistas na preparação das novas lutas contra o regime franquista.


É necessário aproximar-nos das massas, conhecer os seus sentimentos, pensamentos, aspirações, para não marchar a reboque delas, para não seguir a cauda dos acontecimentos.

Na elaboração de nossa tática e de nossos slogans, devemos saber prever e valorizar a realidade objetiva em suas verdadeiras dimensões para não irmos além do que é possível, para não nos separarmos das massas, para não ficar para trás em relação à sua radicalização e às possibilidades de luta.


Informe de Dolores Ibarruri pronunciado em 25 de outubro de 1951


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