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Peru: uma semicolônia contra o povo



No último mês de dezembro, o nosso vizinho Peru vive mais uma crise política, como virou comum nesta semicolônia que há décadas é dominada por uma burguesia burocrática corrupta e pelos interesses imperialistas. O presidente Pedro Castillo, professor de origem camponesa, foi eleito em 2021 vencendo a reacionária herdeira do clã Fujimori, com um discurso anti-neoliberalismo, que nunca se materializou na prática do seu governo até então, mas no dia 7 de setembro, depois de enfrentar alguns dos tradicionais processos de impeachment como todos os seus antecessores no cargo, tentou se antecipar e tomar medidas para dissolver o parlamento. Contudo, o seu plano fracassou rapidamente, Castillo foi preso e retirado da presidência, assumindo em seu lugar a sua vice, Dina Boluarte.


Apesar das limitações do seu governo, a queda de Castillo gerou alguns protestos de movimentos sociais, que diante da brutal e desmedida repressão do novo governo guiado pelo Congresso reacionário peruano, se tornou em uma onda de revolta das massas peruanas, com protestos massivos e paralisações e greves por todo o país. Entre as principais reivindicações estão o fim da repressão generalizada, a renúncia de Dina Boluarte, a criação de uma Assembleia Constituinte e eleições gerais antecipadas. Evidentemente, todas estas já foram negadas ao povo pelo Estado reacionário peruano.


Os manifestantes estão presentes não somente na capital Lima, mas nas principais cidades peruanas, realizando protestos, fechamento de estradas, bloqueios e outras ações. Os peruanos e peruanas nas ruas estão sofrendo uma brutal repressão das forças de segurança, política e Exército, que já deixaram mais de 60 mortos e centenas de feridos e detidos.


No dia 15 de dezembro, membros do Exército nacional do Peru a bordo de helicópteros abriram fogo e mataram civis na periferia da cidade de Ayacucho. Naquele dia, centenas de estudantes universitários, comerciantes, vendedores ambulantes, trabalhadores agrícolas e ativistas se reuniram no centro de Ayacucho para protestar contra a remoção de Castillo, e seguiram em direção ao aeroporto para se reunir com grupos vindos de outras áreas da cidade. Quando a manifestação se aproximou do aeroporto, membros das Forças Armadas abriram fogo e atiraram gás lacrimogêneo. Os disparos do Exército realizados a partir dos helicópteros foram os mais letais. Segundo os números oficiais da Defensoria do Povo do Peru, ao menos dez pessoas foram mortas em decorrência da violência do Exército, e outras dezenas ficaram feridas. As autópsias realizadas nos dez mortos em Ayacucho mostram que seis das vítimas morreram em decorrência de disparos que atingiram seus peitos. O mais jovem deles tinha somente 15 anos.


Já no dia 21 de dezembro, a polícia invadiu a Universidade Nacional de San Marcos, em Lima, a maior e mais antiga do país, para intimidar os estudantes que demonstraram apoio às reivindicações camponesas e populares. O ocorrido foi um recado claro do Estado semicolonial que qualquer tentativa de protesto seria duramente reprimida. Dessa forma, buscava-se desmobilizar os grandes contingentes de camponeses do país que se somariam aos protestos na capital peruana, depois das grandes mobilizações nos dias anteriores, também duramente reprimida e que registrou mais de 60 detidos.


Em Puno, no sul do país, os protestos ganharam força desde dezembro, impulsionados pela participação ativa dos movimentos indígenas, com o fechamento de estradas, interrupção de abastecimento e manifestações cada vez mais numerosas. Em 9 de janeiro deste ano, a polícia peruana promoveu o Massacre de Juliaca, no qual ao menos 17 pessoas foram assassinadas durante os protestos.


O Peru, há mais de 30 anos, segue a mesma agenda econômica neoliberal, impulsionada pelo reacionário Alberto Fujimori entre 1990 e 2000 – que possibilitou a aplicação da agenda econômica do capital monopolista, além de perseguir, torturar e exterminar trabalhadores e lideranças populares durante os anos de chumbo em que dirigiu o governo nacional. A Constituição Federal de 1993, aprovada sobre a ditadura de Fujimori, que definiu o papel de subordinação do país ao capital monopolista e às oligarquias locais e entregou mais de 220 empresas públicas à iniciativa privada, segue em voga, assim como a partilha da miséria e da violência reacionária entre as classes trabalhadoras.


Entre 2002 e 2016, desenvolveu-se no Peru um imenso esquema de corrupção denominado “Clube da Construção”, que envolvendo grandes empresas capitalistas (ligadas principalmente ao ramo da construção civil), altos funcionários e políticos (para se ter uma ideia, a amplitude deste esquema de corrupção chegava ao ponto de envolver até mesmo a presidência: os quatro últimos presidentes peruanos, Pedro Pablo Kuczinsky, Ollanto Humala, Alan García e Alejandro Toledo, foram todos presos, ou fugiram, ou mesmo se suicidaram, devido a envolvimentos com o Clube da Construção). Tal esquema consistia no fornecimento de propinas (em forma de fortunas de mesadas, propriedades e demais benefícios) para tais funcionários públicos por parte destas empresas capitalistas. Em troca, tais funcionários, valendo-se de seus cargos públicos, forneciam facilidades ou exclusividade para que tais empresas operassem, vencessem licitações de forma fraudulenta, etc. Desta forma, tais empresas logravam superlucros por meio da cobrança de elevadíssimos preços para os consumidores peruanos. Como rastro, deixavam uma casta de políticos milionários.


Mesmo diante da brutal repressão do Estado semicolonial e corrupto peruano, não resta outra alternativa ao povo do Peru senão a luta pela sua sobrevivência, ameaçada mais uma vez. Por isso é dever nosso prestar solidariedade aos peruanos e peruanas em luta e denunciar mais uma vez a repressão do Estado contra seu povo em nosso continente.





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