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"Conto lendário sobre a equipe de futebol Chollima da RPDC"




A equipe de futebol da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) chegou em Middlesbrough, onde seriam realizados os jogados da equipe. Middlesbrough é uma cidade litorânea no nordeste da Inglaterra, a 400 quilômetros de Londres. Fazendo bom uso de seus portos, a localidade desenvolveu indústrias químicas e siderúrgicas há muito tempo, sendo operários a maioria de seus habitantes. O time de futebol da RPDC se instalou em um hotel a cerca de 20 quilômetros do Estádio de Middlesbrough.


A estreia do time de futebol da RPDC nas fases finais da Copa do Mundo gerou diferentes respostas e sentimentos entre o futebol mundial, com a FIFA enxergando os jogadores como um time enigmático do Oriente, e algumas pessoas subestimavam o time pela baixa estatura de seus jogadores, enquanto outras faziam chacotas com os coreanos, atribuindo sua estreia à fraqueza dos times enfrentados.


A situação da época pode ser compreendida ao simplesmente observar os bolões feitos, apostando-se em quem venceria os jogos. As apostas na vitória eram de 9:2 para a Inglaterra, 11:2 para a Alemanha Ocidental, 6:1 para a Argentina, 6:1 para Portugal, 7:1 para o Brasil, 10:1 para a Itália, 16:1 para o Uruguai, 40:1 para a Espanha, 200:1 para o Chile, 500:1 para a França, 1000:1 para a RPDC, 1000:1 a Bulgária e 1000:1 para o México. Isso significava que quem apostasse duas libras no time inglês ganharia 18 libras se o time inglês realmente vencesse, e quem apostasse 1 libra que o time da RPDC vencesse, conseguiria 1000 libras se o time da RPDC saísse vitorioso.

Em outras palavras, a possibilidade de o time da RPDC era muito remota. Mesmo que a proporção fosse organizada por motivos especulativos, refletia parcialmente o apreço público e o interesse do momento.


Em 13 de julho de 1966, o primeiro jogo do grupo D ocorreu entre a RPDC e a URSS, no Estádio de Middlesbrough. A maioria dos jogadores soviéticos era desconhecida, exceto pelo goleiro Yashin. Às 19h30, o juiz deu o apito que anunciou começo do jogo. O jogo era frequentemente interrompido pelos apitos do juiz, pois os jogadores soviéticos estavam trapaceando com o uso da força, principalmente contra o meio-de-campo.


Menos de dez minutos após o início do primeiro tempo, muitos atacantes do time coreano estavam seriamente machucados, mas não podiam ser substituídos, conforme regra da época.


O técnico Myong Rye Hyon, muito nervoso, apertou a testa. O time soviético mobilizou jogadores mais fortes, altos e ousados que aqueles que já eram experientes e conhecidos. Eles conheciam a composição dos jogadores e as táticas do time da RPDC. Consequentemente, o time coreano perdeu por 3 a 0.


Assim, tornou-se um problema muito sério para o time da RPDC sobre como lidar com o jogo contra o time chileno, o segundo do grupo. Durante os treinos para o jogo, Myong Rye Hyon enfatizou a aplicação da tática coreano baseada no trabalho em grupo. O time chileno vencera os italianos por 2 a 0, assim, estavam se preparando fortemente para o jogo, pois apenas passariam para a próxima etapa como segundo lugar do grupo D se vencessem os coreanos.


Os coreanos fizeram uma reunião para discutir a estratégia um dia antes do jogo. Myong apontou todos os problemas, detalhou as táticas e composição dos jogadores a serem aplicadas no jogo contra os chilenos.


Às 19h30, 15 de julho de 1966, iniciou-se o jogo entre a RPDC e o Chile no Estádio de Middlesbrough.


Desde o início do jogo, os coreanos estavam com uma moral elevada, e cada momento de suas manobras era dinâmico e ousado. Varridos pelas táticas dos coreanos, os chilenos estavam perdidos em como lidar com a situação.


Na batalha para assumir o comando do meio de campo, os coreanos estavam à frente. Conseguiram atingir a área próxima ao gol, mantendo uma conexão forte e coletiva, e conduziram ataques poderosos.


As torcidas gritavam “Vai, Coreia!” incessantemente. Saudavam os coreanos por suas habilidades, dizendo que estavam longe de serem um time ruim, e que estavam iniciando uma nova época no futebol mundial.


O jogo se tornava mais disputado à medida que se desenvolviam as jogadas ofensivas e defensivas. Com o passar do tempo, os coreanos assumiam cada vez mais a posse de bola, e pareciam ter caído diante de uma mentalidade violenta. Por volta dos 26 minutos do primeiro tempo, os coreanos cometeram um pênalti, pois não souberam lidar com o ataque do oponente. Assim, os chilenos acertaram o primeiro gol do jogo.


Prosseguindo o jogo em uma situação tão desfavorável, nenhum dos jogadores coreanos parecia desapontado. O número de ataques coreanos aumentou e cenas de tirar o fôlego aconteciam na área do gol do time chileno. Impressionados com a performance dos coreanos, os espectadores aplaudiam.


O primeiro tempo terminou com um gol do time chileno. No segundo tempo, os coreanos mostraram aos espectadores o poder de um ataque geral, mas ainda assim, não conseguiram acertar um gol.


Os chilenos mudaram sua tática. Colocam mais esforços na defesa do que no ataque, parando de atacar sob a ideia de que já haviam feito um gol. Tal forma de jogar era uma tendência geral nos círculos de futebol europeus e sul-americanos da época. Após acertarem um gol, tentavam ganhar o jogo por meio da defesa.


Com o passar dos segundos, a preocupação começava a prevalecer sobre os coreanos, apreensivos com o possível resultado do jogo. Tal mudança psicológica se refletiu na forma como lidavam os jogadores com a partida – perderam a paciência a ponto de perderam uma oportunidade de ouro de acertarem um gol quando se encontraram frente a frente com o goleiro oponente. Tentativas de gol fracassadas desapontavam os espectadores e outros jogadores coreanos.


Quando o segundo tempo chegava ao fim, os espectadores reclamavam que o futebol coreano era inovador, embora faltasse habilidade para fazer gols. Alguns impacientes saíram do estádio antes mesmo do fim da partida.


Naquele momento, Pak Sung Jin, meio de campo do time coreano, dominou a bola com a perna esquerda. Ele correu para a retaguarda do oponente em cooperação com um atacante próximo, e chutou a bola de uma só vez para o gol quando a recebeu do atacante. Ele estava a 20 metros do gol, uma distância mais ou menos longe, mas o ângulo de ataque estava aberto. Ele chutou a bola tão rapidamente que o goleiro chileno sequer reagiu e apenas viu a bola voar. Quando a bola saiu do canto esquerdo e entrou na rede do gol, o goleiro colapsou.


Sons de aplausos e gritos chocaram o estádio. Faltava apenas dois minutos para o fim do segundo tempo. Os coreanos conduziram um ataque ferrenho por dois minutos, mas era um tempo muito curto em comparação com noventa minutos.


O apito declarou o fim do jogo, mas os espectadores não saíram e gritavam em apoio ao time coreano. O gol feito por Pak Sung Jin era significativo a ponto e ser lembrado na história da FIFA como o centésimo gol das finais da Oitava Copa do Mundo, e que foi o primeiro gol da RPDC a participar da fase final da Copa do Mundo para honrar a Ásia, África e Oceania.


O time de futebol coreano foi organizado para competir com o rival italiano no final das preliminares do grupo.


O time italiano participou de quase todas as outras sete partidas anteriores da fase final da Copa do Mundo, e conquistou duas vezes o troféu de campeão. Após se qualificar para a Oitava Copa do Mundo, viajaram para a Bulgária, Áustria, Argentina, Dinamarca e outros países pela Europa e América do Sul para partidas amistosas, quando venciam por 3 a 0 ou 5 a 0 sem uma única derrota. Como time de excelência mundial, a grande mídia esperava que fosse o vencedor a oitava Copa do Mundo. Durante os jogos, o time, que pertencia ao grupo D, venceu o time chileno por 2 a 0 e perdeu da URSS por 1 a 0 antes de enfrentar o time coreano no último dos jogos do qual dependiam para passar às quartas de final.

Um jornalista britânico encarregado de notícias esportivas se dirigiu ao alojamento do time italiano para entrevistar seu técnico antes do jogo entre os dois países. Disse ele: “Quero saber sobre como você entende as táticas do time coreano.” Assim respondeu o técnico italiano: “Suas táticas são inovadoras para o futebol mundial. Os dribles e a velocidade de seus jogadores são uma ameaça. Dado que eles atacam e defendem de forma agressiva, estou preocupado. É um time enigmático. Treinaremos nosso time com muita disposição para o jogo. O time italiano está ainda em boas condições e avançará para a vitória.”


Às 19h30, 19 de julho de 1966, os times da RPDC e da Itália se apresentaram no Estádio de Middlesbrough. À frente do time italiano estavam jogadores altos e fortes. É possível que tenham imitado o meio pelo qual o time da URSS conquistou um bom resultado. O jogo finalmente começou com o apito.


Desde o início, o time coreano manteve a iniciativa e pressionou a linha de defesa do time italiano por meio de uma cooperação organizada e passes entre dois e três, com grande velocidade.


Após ter passado por momentos perigosos devido à atitude ativa por parte dos coreanos, os italianos pareciam confusos e preocupados diante de uma derrota inesperada.


Durante os 34 minutos do primeiro tempo, Pak Sung Jin, meio de campo do time coreano, levou habilmente a bola para o gol do oponente, mas foi interrompido por um meio de campo italiano que colocou sua perna no meio das pernas de Pak por trás. No momento mais crítico, Pak conseguiu pular, perdendo o equilíbrio e caindo com o rival italiano. O juiz apitou para parar o jogo e declarar que o comportamento do jogador italiano receberia uma falta, e o time coreano, um tiro livre direto. O jogador italiano que cometeu a falta se feriu no joelho e foi carregado para fora do estádio em uma maca. Muitos espectadores do estádio aplaudiram o tiro livre direto do jogador coreano feito ao sinal do apito.


O time italiano tinha um espaço por ter mantido seu meio de campo sem qualquer mudança na linha de defesa. Mantiveram uma linha de cinco na defesa sem nunca permitir uma mudança.


Após três minutos antes do fim do primeiro tempo, Pak Tu Ik, que correu para a última linha de defesa do oponente, recebeu a bola. Ele estava a 16 metros da linha do gol, no lado direito. Mas seu caminho foi bloqueado por um cabeça de área outro zagueiro à frente do goleiro. À sua frente, não havia outros colegas em posições melhores que ele. Ele decidiu lidar sozinho com a situação, driblando os zagueiros italianos e chutando a bola para o lado esquerdo do gol, que entrou em cheio. A bola entrou sem que os zagueiros e goleiro tivessem tempo para reagir.


“Gol! Viva!” O estádio transbordou com alegria por um momento. Não paravam os gritos e aplausos por parte dos espectadores. Cada rosto dos cidadãos de Middlesbrough que apoiaram o time coreano estava cheio de alegria. Neste dia, em particular, dezenas de milhares vestiam camisas com a bandeira da RPDC – até então, não se sabe quem foi o primeiro a fazê-lo – e torciam para o time coreano de forma organizada.


O dirigente de um grupo de torcedores visitou o time coreano em seu alojamento imediatamente após o fim do primeiro tempo, dizendo francamente: “O futebol coreano nos atrai por sua velocidade, técnica, força, intensidade e poder coletivo, e os jogadores também nos atraem por seu espírito, vigor, moral, força, senso de justiça e traços morais. Todos são impressionantes.”


O segundo tempo foi ainda mais disputado. O time italiano, que perdeu um gol, partiu à contraofensiva rapidamente. O time coreano, que se antecipou a esta situação do segundo tempo, nunca desencorajou seu ataque por um só momento. Fazia parte da tática da Coreia colocar o oponente na defensiva por meio de ataques contínuos, mantendo a iniciativa e se aproveitando da condição favorável na qual já havia feito um gol. Com a visão de que mesmo o mais poderoso ataque é possível defender, conseguiram conduzir o jogo.


À medida que passava o segundo tempo, o time italiano gradualmente quebrava a forte defesa coreana e conduzia uma ofensiva geral para recuperar a perda do gol. A tática do time italiano de colocar atacantes altos em cima da linha de defesa oponente e atacar das laterais a partir do meio de campo era ameaçadora. Não foi fácil para os zagueiros coreanos manter o gol a salvo, tendo que enfrentar rivais entre 15 e 20 centímetros maiores que eles.


O capitão do time coreano e seus zagueiros, O Yung Gyong e Rim Jung Son, impediram o ataque do oponente ao preverem o passe de bola, reagiram e pularam antes do oponente fazer o movimento.


Cerca de 40 minutos após o início do segundo tempo, o atacante italiano chuta forte a bola, que voa para a direita do escanteio oponente. O caminho feito pela bola sugeria um gol. Mesmo os jogadores coreanos, cujos olhos seguiam o caminho da bola para a rede, imaginavam que tomaria o gol. Foi quando o goleiro Ri Chan Myong, que estava no meio do gol, pulou para o lado, para a trave, e pegou a bola com a mão direita. A maneira pela qual o goleiro pulou e esticou seu braço num ângulo de 45º lembrava um acrobata num trapézio voador. Ele desenhou uma parábola ao segurar a bola e caiu, na linha do gol, a 5,5 metros da trave, o que significava que ele pulou uma distância de mais de 8 metros para pegar a bola. O movimento do goleiro foi recebido pelos espectadores com uma salva de palmas.


Um especialista estrangeiro em futebol deu suas impressões, dizendo: “O goleiro Ri Chan Myong dá bons exemplos de movimentação rápida, postura aérea impecável e técnica de captura de bola. Ele estará entre os dez melhores goleiros da oitava Copa do Mundo.” Ri Chang Myong, então, ficou conhecido como o “gato asiático.”


A partida, então, seguiu entre ofensivas e defensivas, sem hesitação. No final da partida, a atmosfera do estádio ficou tensa. Alguns dos torcedores italianos jogaram pedras no campo. A polícia prendeu os vândalos, aliviando assim a situação, mas a tensão ainda prevalecia no estádio – ninguém sabia o que aconteceria. A disputa entre os dois times se tornava mais acirrada à medida que a partida chegava ao fim.


Por fim, quando o apito do juiz anunciou o término da partida, os torcedores da RPDC se atiraram ao campo. Os cidadãos de Middlesbrough se uniam aos jogadores coreanos para cantar o hino “Canção do General Kim Il Sung”, e dançavam com o ritmo da música. A grande mídia britânica não poupou elogios ao time coreano, com manchetes intituladas “O futebol estrela da Coreia faz sua estreia”, “O futebol coreano sacode o mundo”, “Círculos do futebol mundial admiram o futebol coreano”, “O milagroso time de futebol Chollima” e “Leão oriental.” Muitos britânicos parabenizavam o time de futebol coreano por sua vitória, fosse no estádio, nas ruas e no hotel, dizendo: “Só as cenas das táticas e dribles durante o jogo nos permitiram enxergar como a Coreia derrotou os Estados Unidos durante a guerra.”


Em 20 de julho de 1966, o time de futebol da RPDC se dirigiu para Estádio Sunderland, a 40 quilômetros do hotel. Derrotando a Itália, o time coreano teve a perspectiva de avançar para as quartas de final, mas não havia ainda obtido a qualificação. O resultado da partida entre URSS e Chile, naquele dia, decidiria quais times do grupo D poderiam avançar para as quartas de final. A União Soviética já havia vencido dois jogos, estando assim qualificada para passar às quartas de final, independentemente de vencerem ou não o Chile. Mas se os chilenos vencessem os russos, assumiriam o segundo lugar na equipe. O time coreano só poderia passar para as quartas de final se a URSS vencesse ou empatasse com os chilenos.


ÀS 19h30, os dois times se apresentaram no estádio. O time soviético permitiu que seus novos jogadores, que não haviam participado de partidas anteriores, participassem deste jogo para ganhar experiência em competições internacionais, enquanto preparavam seus jogadores principais para as partidas da próxima etapa.


O primeiro tempo da partida terminou com um empate de 1 a 1, mas durante o segundo tempo, os soviéticos acertaram outro gol, vencendo o jogo.


Após as partidas, o comitê organizador dos finais da oitava Copa do Mundo anunciou os seguintes times como qualificados para as quartas de final, como vemos a seguir:


Equipe A: Inglaterra, primeiro lugar, Uruguai, segundo lugar.


Equipe B: Alemanha Ocidental, primeiro lugar, Argentina, segundo lugar.


Equipe C: Portugal, primeiro lugar, Hungria, segundo lugar.


Equipe D: URSS, primeiro lugar, RPDC, segundo lugar.


Data: 15h, 23 de julho de 1966.


Estádios: Wembley, Inglaterra e Argentina; Sheffield, Alemanha Ocidental e Uruguai; Liverpool, RPDC e Portugal; Sunderland, URSS e Hungria.


Forma de competição: Torneio.


O time da RPDC teve de se dirigir a Middlesbrough para lutar contra os rivais portugueses. A distância de Middlesbrough, no leste da Inglaterra, para Liverpool, no oeste, era de 240 quilômetros, e a longa distância da viagem despertaria nos coreanos uma grande fadiga física e mental para a importante partida que se aproximava. Ademais, tiveram de se preparar para as quartas de final passando por cima de muitas dificuldades, como as más condições de acomodação. Por fim, o dia de competição começou com um grande calor. Os jogadores coreanos, que tossiam e não conseguiram dormir durante a noite, devido às más condições de acomodação, só foram adormecer no início da manhã. Assim, tiveram tão pouco tempo para dormir que se encontravam em péssimas condições físicas. O tempo passou, e só foram levantar durante o horário do almoço. Contudo, perderam o apetite. Alguns deles, com relutância, comeram arroz com molho de kimchi, enquanto outros comeram arroz com molho de feijão apimentado.


Dado que o estádio se encontrava a cerca de dez quilômetros de onde estava o time coreano, decidiram sair às 14h para terem tempo para descansar após o almoço. Pouco após as 13h, porém, uma voz desesperada quebra o silêncio do hotel.


“Já são 13h, e por que diabos vocês, jogadores, ainda estão na cama? Por que não saíram para o estádio? Se não conseguirem chegar a tempo, dirão que seu time perdeu a partida!”

Perguntaram: “Será que são necessárias duras horas para atravessar dez quilômetros de ônibus?”


Em resposta: “Vocês não conhecem Liverpool. As ruas são estreitas e há muitos pedestres. Vocês entenderão no caminho para o estádio. As ruas estão superlotadas com os torcedores se encaminhando para o estádio, há um engarrafamento de carros, bondes e ônibus. Só conseguirão entrar no estádio quando as ruas estiverem bem menos cheias.”


“Você quer dizer que é mais rápido se formos andando?”


“Com certeza. É difícil até mesmo dar um passo à frente. Apressem-se!”


Quando o ônibus da seleção coreana chegou na entrada da cidade, as ruas engarrafadas de carros e pedestres. Havia cinquenta ou sessenta mil pessoas à frente, sendo impossível ver até mesmo onde estava o fim do trânsito. Felizmente, o trânsito abriu o caminho ao ver que o ônibus carregava jogadores estrangeiros, conseguindo então passar pelo engarrafamento. Quando os jogadores coreanos chegaram no estádio, tinham apenas meia hora para o aquecimento. Seus movimentos pareciam lentos. Observando o aquecimento sem que os jogadores tivessem dormido o suficiente na noite anterior, o técnico nada podia fazer a não ser se preocupar.


Às 15h, iniciou a partida entre Coreia e Portugal com o apito do juiz israelense. Desde o início os jogadores coreanos, de acordo com sua tática, lutaram pela posse da bola no meio de campo. Assim, não demorou para que a assumissem. Passou de Pak Sung Jin, meio de campo, para Han Pong Jin, lateral direito. Pong Jin conseguiu uma oportunidade de ouro de driblar a bola rapidamente para a área do gol do oponente. Foi quando um zagueiro português correu em sua direção, tentando bloqueá-lo desesperadamente. Naquele momento, Sung Jin também foi em sua direção. Pong Jin passou a bola para Sung Jin, que estava indo para uma posição melhor. Por meio deste trabalho de dupla bem organizado, Sung Jin assumiu o controle da bola numa área vazia, a trinta metros do gol do oponente, e chutou a bola para o gol, que estava completamente aberto para o chute, embora sem mirar.



A bola seguiu pela trave direita do gol. Os olhos do goleiro, que não sabia se a bola entrava, apenas seguiram sua trajetória. O goleiro não sabia se a bola estava dentro ou fora da rede, apenas dando-se contra quando o apito do juiz anunciou o gol.


“Gol! É gol!”, aplaudiram os espectadores diante do gol feito pela Coreia menos de um minuto após o início do primeiro tempo. Os membros da seleção coreana de futebol, que estavam ansiosos em seus lugares, se abraçaram e choraram. O fato de o gol ter sido feito justo no início da partida colocou o time oponente em desvantagem. Mesmo quando assumiam a posse de bola, se atrapalharam ao verem que os coreanos se esforçavam para assumir novamente a posse de bola. Todos os movimentos dos jogadores coreanos, como passes e interceptação da bola, em trabalhos de duas ou três pessoas, avançando para espaços vazios pela linha de defesa, movimentações da retaguarda para apoiar os ataques, etc., pareciam vigorosos e harmônicos. Eram dinâmicos e rítmicos. Algumas vezes, os jogadores portugueses assumiam a posse de bola, mas seus ataques eram sempre frustrados quando tentavam penetrar na linha de defesa coreana. Ao contrário, sempre que assumiam a posse de bola, os jogadores coreanos partiam para um ataque geral, quebrando a linha de defesa do oponente para leva-lo próximo à área do gol.


Cerca de 22 minutos após o início do primeiro tempo, Ri Tong Um, centroavante e o mais alto entre os jogadores coreanos, correu para a retaguarda da defesa portuguesa e chutou a bola para o gol. Abismado, o goleiro português sequer conseguiu assumir qualquer postura defensiva contra a postura ousada do rival coreano, que fazia agora o segundo gol. Ao fazê-lo, o time coreano afundava Portugal na vergonha, pelo fato de o time ser visto como o favorito da Copa do Mundo. Contudo, ainda faltava bastante tempo para o fim do jogo. Já tendo conquistado um placar de 2 a 0, o time coreano continuou a ameaçar a área do gol portuguesa sem reduzir a velocidade do ataque. Fascinado pelos movimentos dos jogadores coreanos, a audiência aplaudia e torcia com entusiasmo.


Os portugueses tentavam compensar as perdas, estimulando uns aos outros e, às vezes, gritando entre si. Porém, os ataques eram sempre frustrados, sem conseguirem quebrar a linha de defesa, pois os jogadores coreanos tinham um grande controle do meio de campo e assumiam a iniciativa do jogo. Como bem quisessem, poderiam lançar ataques pelas tais esquerda ou direita. Aos 25 minutos do primeiro tempo, tentaram lançar um ataque pela lateral esquerda. Mantendo posições e fazendo investidas rápidas, penetrava no centro da área do gol do oponente, e Yong Song Guk, asa esquerda do time, moveu-se rapidamente para uma posição mais favorável ao ataque. Quando a costa do oponente tentou impedir seu avanço, Yong o deixou 3 metros para trás ao virar seu corpo em sentido anti-horário, e enfrentou o goleiro rival de cara. Yong fingiu que chutaria a bola para a esquerda, para depois chutá-la levemente para o lado direito do gol. O goleiro português tombou com as pernas espalhadas, observando a bola atingir levemente a rede. Os espectadores de Liverpool, que assistiram a vitória do time português na partida final da Equipe C, ficaram boquiabertos.


Os jogadores portugueses, com grande esforço, colocaram a bola na linha central e trabalharam para uma virada no jogo. Com três gols perdidos, lançaram um ataque geral numa tentativa de quebrar a linha de defesa rival. Até mesmo zagueiros e meios de campo participaram do ataque. Aos 27 minutos do primeiro tempo, Eusébio, demonstrando sua força, avançou em conjunto com o lateral esquerda e, sem parar, acertou um gol. Isso marcou um ponto de virada na partida do time português, sendo o primeiro gol feito a menos de dois minutos depois de o time coreano ter marcado seu terceiro gol, o que afetou negativamente a moral dos jogadores coreanos.


A situação a partida se tornou cada vez mais favorável para o time português, e um minuto antes do fim do primeiro tempo, o juiz israelense apitou a favor de um chute de pênalti de para o time português. Os torcedores coreanos protestaram, mas o juiz, obstinadamente, recusou-se a cancelar o chute do pênalti. Ri Chan Myong, goleiro coreano, teve de enfrentar Eusébio, grande nome do time lusitano. No estádio, prevalecia o silêncio.

Após colocar a bola no ponto do pênalti, Eusébio andou muito para trás e correu para chutar a bola. Ri Chang Myong logo compreendeu a direção da bola e pulou para alcança-la, mas fracassou em empurrá-la para fora da trave. Assim, o primeiro tempo terminou com o placar de 3 a 2 para o time coreano. Durante o segundo tempo, a situação se mostrou desfavorável para o time coreano. Aos 12 minutos do segundo tempo, o time português acertou outro gol, empatando o placar em 3 a 3. Dois minutos depois, o juiz anunciou um chute de pênalti, mais uma vez, para o time português. Assim, a Coreia estava um ponto atrás do seu rival. O juiz israelense, que se torno um vendido numa sociedade em que o dinheiro é tudo, não agiu com espírito esportivo. O termo “juiz israelense” passou a ser usado como sinônimo para qualquer juiz injusto.


Os jogadores coreanos, desmoralizados, não puderam jogar como pretendiam. Até o fim da partida, a Coreia levou outro gol. Como resultado, o placar terminou em 5 a 3 para Portugal.


Mesmo que o time coreano tenha fracassado, as cenas de seu bom desempenho causaram sensação. Um jornalista britânico, que cobria atividades esportivas, disse que “o juiz israelense foi subornado por Portugal. Os coreanos não perderam.” A agência de notícias AP dizia que uma nova força do futebol aparecia no Extremo Oriente. O jornal francês Tresse noticiava: “Os coreanos mostraram quão leais são ao espírito esportivo. Aqui, dão um exemplo a ser seguido pelo futebol.” Um canal de TV britânico fez uma matéria especial para exibir as cenas das quartas de final entre Portugal e Coreia, dizendo: “Devemos nos ater aos novos aspectos do futebol coreano. Não há outro time que se tornou tão popular quanto a Coreia nas partidas finais da Copa do Mundo.” Um jornal matinal britânico levava um artigo que dizia justamente o seguinte: “Um pequeno time do Extremo Oriente surpreende o futebol mundial. Sua participação foi heroica.” O jornal britânico Sunday Times noticiava que a partida entre Coreia e Portugal foi a melhor da então Copa do Mundo.


Comparando a força do futebol coreano com aquela dos times mais fortes do mundo, futebol mundial buscou compreender o segredo da ascensão da Coreia em seus aspectos novos e originais. De fato, o time coreano não hesitou em atacar por medo de um contra-ataque ou de deixar a defesa vazia. Sempre que assumia a posse da bola, partia para um ataque geral. Quando a perdia, assumia a defesa geral. Apoiando-se num ataque rápido, mantinham-se combinando ataque e defesa. Trava-se de um time de ação rápida e movimentos fortes e combinados. As formas de jogo sempre variavam, demonstrando criatividade e vigor. Com a partida intensamente disputada, os coreanos transformaram-na num campo de batalha. Os aspectos originais e chocantes do futebol coreano despertavam a admiração do mundo.


O chamado “Observemos o futebol coreano! Aprendamos com o futebol coreano!” aparecia entre todos os fãs do futebol da Europa e América do Sul. Inesperadamente, muitos estrangeiros começaram a visitar o hotel onde permanecia a seleção coreana no mesmo dia do jogo entre Portugal e Coreia. A seleção coreana não tinha ninguém para receber e conversar com os visitantes estrangeiros e cumprir o papel de relações públicas. Um corretor de futebol sueco apareceu com um intérprete, dizendo: “Vocês criaram uma sensação mundial.

Atualmente, muitos países da América do Sul estão lhes convidando para partidas com seus jogadores. Pessoas ligadas ao futebol brasileiro me fizeram uma requisição formal para negociar com vocês uma visita ao país. Caso seja difícil para vocês estabelecer agora uma data e horário, podem ao menos confirmar se tal visita seria possível neste ou no próximo ano? Lidarei então com todas as outras questões. Caso respondam positivamente ao convite brasileiro, Uruguai, Argentina e outros países vizinhos também lhes convidarão. Vocês ganharão muito dinheiro dessa forma. O próprio Brasil, que se considera uma potência esportiva, nunca convida times fracos.”


Um operário comum de Middlesbrough, que enriqueceu do dia para a noite com apostas de futebol, expressou sua sincera admiração pelo time coreano, dizendo: “Vocês mostraram uma imagem verdadeira dos coreanos, e apareceram como esportistas exemplos com semelhantes performances. O povo daqui se orgulha de lhes ter apoiado.”


O mundo inteiro se atraiu pelos novos aspectos do futebol coreano, que refletem as particularidades da nação, e fascina pela validade de suas táticas.


A Coreia recebeu calorosamente seus jogadores ao retornarem para casa. Mesmo ocupado com suas visitas de trabalho numa região montanhosa, distante de Pyongyang, o Presidente Kim Il Sung garantiu que os jogadores coreanos fossem bem recebidos após honrarem a Coreia Chollima diante dos povos do mundo.


Os jogadores expressaram seu agradecimento ao Presidente Kim Il Sung por terem sido recebidos como generais vitoriosos, mesmo que não tenham ganhado a Copa do Mundo e tenham ficado apenas entre os oito primeiros times da Copa de 1966.


Décadas se passaram deste então. Porém, a história de como o futebol coreano surpreendeu o mundo deixou para sempre sua marca entre os especialistas e fãs do futebol mundial.

Escrito por Ry Tong Gyu e Pak Chol Il

Publicado em 2018, pela Casa de Publicações em Línguas Estrangeiras da República Popular Democrática da Coreia.


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HISTÓRIA DAS
REVOLUÇÕES

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